Notas da Autora:
Se Dumbledore conhecia a verdadeira natureza de Riddle Riddle desde a abertura da Câmara dos Segredos, por que não impediu que ele se tornasse o Lord das Trevas enquanto havia tempo, enquanto ele não passava de se um jovem aluno de Hogwarts?
Essa pergunta surgiu com o décimo sexto capítulo de "Cogitari Ancilla", uma fic pós-Hogwarts que narra a luta de Harry Potter para destruir seu maior inimigo, com a ajuda do poderoso mago Dumbledore.
Na tentativa de responder a essa questão, nasceram personagens e acontecimentos que se tornaram pequenos demais para pertencerem a uma simples lembrança do Lord das Trevas e que por isso ganharam uma história própria; o relato dos últimos três anos de Riddle Riddle em Hogwarts.
Capítulo 1 – O Diário de Riddle
– Diretor, o senhor mandou me chamar? – o jovem Alvo Dumbledore perguntou ao entrar na sala de Armando Dippet.
– Sente-se, Alvo – ofereceu o diretor. – Como foi a volta às aulas?
– Tudo transcorreu normalmente, Dippet.
– Algum aluno comentou o assunto?
O diretor nem precisou elaborar a resposta; o "assunto" era, certamente, a abertura da Câmara dos Segredos, algo que o corpo docente de Hogwarts e o Ministério da Magia tentaram reduzir a um simples boato e que poderia ter trazido danos imprevisíveis à imagem da famosa escola de magia.
Apesar de não concordar com essa decisão Riddleada por seus superiores, Alvo Dumbledore já aprendera que não adiantava mais contestá-la. O assunto estava encerrado e pedir mais justificativas somente serviria para açular mais a curiosidade daqueles que não acreditavam realmente na versão oficial do acontecido.
– Todos eles – respondeu Dumbledore, ao lembrar-se do burburinho que não cessara durante toda a aula de Transfiguração. – Pude notar que estavam curiosos, mas como o senhor pediu, evitei que os comentários equivocados se espalhassem.
– E você, fez alguma colocação?
– Disse apenas que o Ministério da Magia autorizou Hogwarts a manter as aulas, que a Câmara dos Segredos é uma lenda, que a garota morreu acidentalmente e que devemos deixar esse episódio para trás e continuarmos nossas vidas. Hogwarts não pode parar.
– Obrigado, Alvo. Eu sabia que poderia contar com você. Agora, quanto ao... – Dippet franziu o rosto.
– Rúbeo? – Dumbledore antecipou.
– Sim, o garoto... eu estive pensando sobre o seu pedido e... tem certeza de que deveríamos dar uma nova chance a ele?
– O senhor tem poder de decisão sobre as terras de Hogwarts, mas na minha opinião, não há problema em deixar que um garoto que tanto adora os animais fique cuidando deles. Inclusive facilitaria a vida do professor de Trato das Criaturas Mágicas.
– Você mencionou a cabana perto da Floresta Proibida, disse que ele poderia ficar lá e ser treinado como Guarda-Caças. Acha que ele aceitaria isso?
– Com toda a certeza. Rúbeo já passou por muitas situações difíceis esse ano; foi julgado, foi expulso da escola e teve sua varinha de condão quebrada. Qualquer coisa que tenha feito, se é que fez, acho que já pagou o suficiente.
– Você me convenceu, Alvo, mas devo adverti-lo de que Hagrid é sua responsabilidade. Qualquer problema que ele venha a causar, as conseqüências recairão sobre você. Está disposto a aceitar isso?
– Eu confio em Rúbeo o suficiente para aceitar essa condição.
– Ótimo. Era só isso, pode se retirar.
– Com licença, diretor.
O professor de Transfiguração deixou a sala de Armando Dippet, o diretor da maior escola de magia e bruxaria do mundo, Hogwarts. Dumbledore foi um dos únicos professores a ficar do lado de Rúbeo Hagrid, um aluno do terceiro ano acusado de ser o causador de uma série de eventos misteriosos, ocorridos entre das paredes do castelo onde a escola funcionava.
Esses eventos tiveram conseqüências catastróficas, culminando com a morte de uma das alunas e o quase fechamento da escola. Tudo estava relacionado a uma lenda antiga, contemporânea ao surgimento de Hogwarts, que dizia que um dos quatro fundadores da escola construiu uma câmara, da qual os outros não tinham conhecimento, e nela escondido um monstro terrível.
Séculos e séculos após a morte de Salazar Slytherin – o construtor da câmara secreta – o herdeiro de sua linhagem poderia abri-la novamente e usar o poder do monstro a seu favor. O Ministério da Magia não conseguiu provar que Rúbeo Hagrid abrira a Câmara dos Segredos – tão pouco se acreditava que ele pudesse ser o herdeiro de Slytherin – mas o bruxo foi flagrado ocultando um monstro dentro da escola, denunciado por um dos monitores, expulso de Hogwarts e condenado à perda da varinha.
A garota que morreu durante o episódio tornou-se um fantasma e passou a assombrar o banheiro feminino do terceiro andar, deixando-o constantemente inundado, fato que fez com que as alunas se acostumassem a não usá-lo mais. Era chamada de Murta Que Geme, devido ao som irritante de seu choro eterno.
O Monitor que denunciou o suposto responsável pelo horror em Hogwarts recebeu um prêmio por serviços especiais prestados à escola, foi cumprimentado pelo Ministro da Magia em pessoa, e obrigado a esconder toda a verdade, em nome da segurança de seus colegas. Era um garoto de boa aparência, educado, respeitoso e muito inteligente. Nomeado Monitor da Sonserina naquele mesmo ano, seu quinto na escola, era um forte candidato a vaga de Monitor-Chefe quando chegasse ao sétimo e aquele episódio só aumentou suas chances. Entre os professores, Riddle era lembrado como um aluno disposto a qualquer sacrifício para aprender cada vez mais.
De fato, Riddle tinha uma grande capacidade para absorver qualquer tipo de informação que chegasse aos seus ouvidos. Ele não fazia questão da fama de estudioso, nem era muito popular. Na verdade, tinha um seleto grupo de amigos, e esses amigos eram muito mais fiéis do que grande parte dos desocupados que passavam os dias venerando os alunos "da elite".
Alana era uma dessas populares que ele só não ignorava completamente porque tinha alguma serventia para ele. A Monitora do sexto ano da Corvinal era conhecida por ter amigos em todas as casas de Hogwarts, inclusive na Sonserina – cujos membros eram famosos pela antipatia e preconceito contra alunos da Lufa-Lufa, Corvinal e, principalmente, Grifinória. Além disso, Alana aprendia rápido como ele; não somente a matéria passada pelos professores da escola, mas qualquer coisa que lhe fosse dita. A terceira serventia de Alana aos propósitos dele só seria revelada dois anos mais tarde, quando os planos de Riddle para se tornar o bruxo mais poderoso de todos os tempos já estivessem bem adiantados.
Com todo o estado de alerta pelo qual Hogwarts estivera nos meses anteriores – devido à abertura da Câmara dos Segredos – os monitores tiveram uma certa aproximação entre si, pois ajudaram os professores a conter o pânico que se instaurara na escola. Riddle observava aquela garota alta, de cabelos castanhos, profundos olhos azuis claros, gestos delicados e expressões fortes, sem deixar que ninguém percebesse. Alana tinha o poder de atrair o centro dos acontecimentos para si.
Era de conhecimento de todos que ela ainda não se decidira entre ser professora, como o pai, ou ser Medi-Bruxa – como fora a mãe. Para Riddle, havia uma terceira possibilidade. Alana tinha talento e capacidade para ser muito mais do que os outros cogitavam; ele estaria disposto a conceder o poder que ela merecia alcançar. É claro que tudo tem seu preço...
Três semanas depois da expulsão de Rúbeo Hagrid, Alvo Dumbledore dava aula para os sextos anos da Corvinal e da Lufa-Lufa. Eles estavam começando a estudar o tipo de Transfiguração envolvida na metamorfose dos Animagos, um assunto que não interessava nada às duas alunas – uma de cada casa – que conversavam no fundo da sala.
– Quer dizer que você não conseguiu arrancar nada do seu pai?
– Nenhuma palavra, Dauren. Parece que a versão oficial é mesmo que a Murta morreu num acidente e que a Câmara dos Segredos não passa de uma lenda...
– E você acredita nisso, Alana?
– Talvez. Na verdade, o que eu gostaria mesmo é investigar essa história. Afinal de contas, por que expulsaram aquele garoto do terceiro ano?
– Vai ver ele abriu a câmara – disse Dauren.
– Não. Não foi ele. A Câmara dos Segredos só pode ser aberta pelo herdeiro de Slytherin. O garoto era da Grifinória – disse Alana.
– E se isso não fizer diferença? – perguntou Dauren.
– O herdeiro de Slytherin está na Sonserina. Eu sei disso!
– E como você pretende investigar?
– Sei de alguém que pode ajudar. Influente o suficiente para descobrir muita coisa.
– Quem?
– Minerva KendlerRS1 , a Monitora-Chefe.
– Ahn? Aquela sabe-tudo metida à mandona que nunca desobedeceu a uma regra na vida?
– Ela mesma, Dauren.
– O que te faz pensar que ela pode ajudar?
– Ela gostava da Murta. Não chegavam a ser amigas, mas se conheciam bem. Como a garota era deslocada, excluída por suas colegas, humilhada pela Olívia Homby, se trancava no banheiro e ficava o resto do dia chorando. Por ser Monitora, sobrava para a Kendler a tarefa de consolá-la. Parece que ela foi a única que realmente sentiu a morte da Murta.
– Que horror. Quando você pretende falar com ela?
– Hoje à noite. Ela vai ter treino de Quadribol depois das aulas. Peguei o horário com o Fawcett.
– Fawcett? – sorriu Dauren, maliciosa. – Desde quando o capitão da Grifinória está dando os horários dos treinos de Quadribol para uma Corvinal?
– Hum. Não é nada do que você está pensando, Dauren.
– Então como foi que você conseguiu?
– O truque de sempre, amiga: disse que a informação era para o papai. O que temos depois de Transfiguração? – perguntou ela, mudando de assunto.
– Eu tenho Poções, com a Grifinória. Você tem... Feitiços.
– Ah é, lembrei. O professor O'Neil prometeu nos ajudar a aperfeiçoar o feitiço-escudo.
– Isso deve ser muito útil na semana da final do Quadribol... não sei como é que os garotos agüentam aqueles sonserinos chatos azarando todo mundo.
– Não só os sonserinos... o Swift me contou que eles também fazem isso.
– Swift? O batedor da Corvinal?
– Ele sim, por quê?
– Não sabia que vocês se davam bem – comentou Dauren.
– Eu andei me interessando por Quadribol nos últimos tempos.
– Notei. E por Defesa Contra Artes das Trevas também... está pensando em fazer carreira no Ministério?
– Não estou pensando em nada, Dauren. Só estou procurando coisas diferentes para fazer.
– Como o quê, por exemplo?
– Sei lá, estou conversando com outras pessoas, estudando outros assuntos, lendo livros que eu nunca li.
– Algum motivo específico para essa mudança?
– Não realmente. Vamos, a aula acabou. Nos vemos no Salão Principal, no jantar, certo?
– Até, amiga.
Alana caminhava calmamente em direção ao Salão Principal. Tivera uma enfadonha aula de Feitiços, mas nem por isso desfizera o sorriso que sempre trazia no rosto. Encontrou-se com um grupo de calouros da Lufa-Lufa que pediu uma informação ao ver o distintivo de Monitora preso em suas vestes, depois cumprimentou alguns alunos da Grifinória e finalmente sentou-se à mesa da Corvinal.
Muitos olhares a acompanharam no caminho desde a porta até o banco. Ela respondeu com acenos tímidos para os que mal conhecia, sorrisos abertos para os amigos e piscadelas para alguns deles, além de beijos no ar para os mais chegados.
– Æthelind, você tem visto aquele seu amigo da Sonserina ultimamente? – perguntou ela.
O garoto, do quinto ano da Corvinal, afogou-se com o suco de abóbora, ficou vermelho, depois roxo e, por último, branco.
– P... por quê? – gaguejou ele, olhando para os lados.
– Por nada. É que faz dias que eu não vejo o Riddle na hora do jantar – comentou Alana, sorrindo.
– Ele perguntou por você também – disse o garoto, corando.
– Ah é? – surpreendeu-se Alana. – Que ótimo – sorriu e concentrou-se na refeição.
Riddle, Ormand e Sorrel subiam juntos uma das escadas de Hogwarts.
– Onde está o Æthelind? – perguntou Riddle.
– Foi fazer o que você pediu – respondeu Ormand.
– Perfeito. Ouçam, quero que os dois subam na frente, ainda tenho um assunto para resolver. Me encontrem na mesma sala de sempre. Vou ver se levo Æthelind.
– Certo – disse Sorrel.
– Ah, é você, Tom. Entre – convidou o Dippet ao ver o jovem Monitor bater à porta.
– Com licença, diretor.
– Você disse que queria falar comigo. O que é?
– Vim saber o que foi que o senhor resolveu sobre o Rúbeo.
– Hum. O garoto foi-
– É que eu me preocupo – interrompeu Riddle –, afinal de contas, fui eu quem o denunciou e...
– Fique tranqüilo, Riddle. Você fez a coisa certa, meu filho. E o Rúbeo não será injustiçado sua por causa.
– Que bom – comentou Riddle, soltando um suspiro de alívio quase verdadeiro, com um brilho no olhar.
– Muito me surpreende que você se preocupe com ele depois de tudo o que o Rúbeo fez. Você é um menino de ouro, Riddle. Um menino de ouro...
– Obrigado, diretor.
– Era só isso?
– Era sim, diretor. Desculpe atrapalhá-lo.
– Não é incômodo, Tom. Estarei sempre aqui quando você precisar falar comigo.
– Certo. Vou para o Salão Comunal, então.
– Faça isso, Tom, e tenha uma boa noite.
– Igualmente, diretor Dippet. Com licença.
Riddle deixou a sala do diretor de Hogwarts com um sorriso cínico nos lábios. Ao contrário do que dissera a Dippet, não se dirigiu ao Salão Comunal da Sonserina. Encontrou-se com Æthelind nas escadas, seguiram juntos para a Torre de Astronomia e lá ficaram por boa parte da noite, com Ormand e Sorrel.
– Trouxe o meu diário, Ormand?
– Está aqui.
– Ponha-o sobre a mesa – ordenou Riddle. – Vamos começar de uma vez.
– O que vamos fazer hoje? – perguntou Æthelind.
– Nenhum feitiço novo, por enquanto. Quero ouvir de vocês o que pretendem fazer para cumprir minhas ordens.
– Quais, Riddle?
– Conseguir os sangue-ruins que precisamos. De preferência, grifinórios...
– Estive observando alguns deles, como você pediu – disse Sorrel –, mas o desgraçado do Fawcett percebeu. A minha sorte foi que ele achou que eu estava espionando para o Quadribol.
– Idiota – disse Riddle. – Acho que vou ter que tirar esse Monitor-Chefe do meu caminho antes do previsto. Depois penso nisso.
Riddle ergueu a varinha, murmurou um feitiço simples, fazendo com que uma pena levitasse, mergulhasse num tinteiro e depois passasse a escrever algumas palavras nas páginas em branco do diário, que estava aberto sobre a mesa.
Æthelind, Ormand e Sorrel notaram que, embora muitas frases tivessem sido escritas, as páginas do diário nunca eram viradas. A tinta depositada no papel brilhava por um segundo após formar uma palavra e então – como se fosse absorvida pelo papel – desaparecia completamente da página, absorvida pela magia do livro que Riddle parecia prezar muito.
Já passava da meia-noite quando os quatro voltaram aos respectivos dormitórios, um pouco cansados pela prática avançada de magia. Riddle estava mais satisfeito do que de costume, ultimamente seus seguidores haviam feito progressos consideráveis.
Eles evitavam andar juntos pelos corredores ou formarem grupos durante as aulas. Riddle era esperto o suficiente para não subestimar a inteligência de seus professores e por isso não dava a eles nenhuma chance de descobrir seus planos. Porém, um deles parecia não estar sendo enganado. Parecia seguir Riddle com os olhos para onde quer que ele fosse, parecia estar sempre um passo à frente. Era Alvo Dumbledore, o professor de Transfiguração.
Riddle esquivava-se dele como uma cobra se esquiva do predador por entre a relva; desviava sua atenção, tomava o máximo de cuidado diante dele, mas não podia deixar de notar que as precauções eram inúteis. Era preciso neutralizar Dumbledore de outra forma...
Para levantar os ânimos em Hogwarts, depois dos terríveis acontecimentos e da morte de uma aluna, o diretor Dippet fez questão de retomar a rotina da escola tal como ela era antes de tudo, tentando esquecer o mais rápido possível aquele episódio lamentável.
Isso fez com que Alana se preocupasse com seus estudos. Até ali, estava absolutamente certa de que os exames seriam cancelados e, como isso não aconteceu, passou a semana seguinte praticamente inteira dentro da biblioteca.
O torneio de Quadribol também recomeçou e isso agradou muito a todos os alunos. Alguns porque iriam jogar a final, outros porque gostavam de torcer. A Riddle, aquilo agradava porque era uma forma de desviar a atenção de todos, uma forma de facilitar suas atividades. Nem ele, nem Ormand, nem Sorrel e muito menos Æthelind, gostavam de Quadribol; sem contar que preferiam continuar estudando Arte das Trevas nas horas vagas.
A seção restrita da biblioteca de Hogwarts abrigava alguns dos livros mais procurados do mundo bruxo. Por causa dos feitiços, poções e encantamentos que ensinavam, esses livros também eram muito perigosos e, assim sendo, desejados por Tom Riddle, que queria usar alguns deles na construção de seu império.
– Tom, é você? – perguntou uma bruxa, vendo-o de costas.
– Alana, como vai? – cumprimentou Riddle, extremamente formal, sem deixar se ser simpático e ao mesmo tempo sem perder o ar tímido e introvertido.
– Fazia tempo que eu não o via na biblioteca.
A pergunta dela soou-lhe estranha, quase como uma acusação, mas ele duvidava que fosse realmente isso.
– Talvez tenhamos nos desencontrado.
– Ah é, pode ser... – disse ela, sorrindo. – À procura de alguma coisa em especial?
– Na verdade, acho que só o professor Wallace pode me ajudar – disse Riddle, encarando profundamente os olhos azul-claros dela.
– Hum... está me dispensando, Tom? – perguntou ela, arqueando as sobrancelhas.
– Você acha que eu seria capaz de dispensar a companhia mais agradável de toda Hogwarts? – disse ele, ainda sem mover um músculo do rosto além dos que precisou para falar.
– Você mente muito bem, Tom, mas eu vou te deixar fazer suas coisas, também tenho que estudar – falou Alana, voltando para sua mesa.
– Alana, você veria algum problema em acompanhar o Æthelind e juntar-se a nós para jantar na mesa da Sonserina? – perguntou ele, fazendo-a parar no meio do caminho, ainda de costas.
– Acho que não. Eu nunca liguei muito para essa disputa idiota entre as casas.
– Que ótimo, então. Com licença.
– Até a noite, Tom.
– Sim, claro. Até a noite...
Alana jantou com os Sonserinos aquela noite, mas Æthelind não estava entre eles. Ficou na mesa da Corvinal, a pedido de Riddle, observando a reação do professor de Transfiguração.
– Olhem só – disse um Monitor do sexto ano da Sonserina – uma ave de rapina entre as cobras...
– Olá, Black – cumprimentou ela, ignorando a ironia.
– O que a traz à nossa mesa, Alana? – perguntou ele, sorrindo e sentando-se ao seu lado.
– Nenhum motivo especial, mas se a minha presença lhe incomoda, eu posso me retirar.
– Não – antecipou ele. – Não precisa se incomodar. Você é bem-vinda na mesa da Sonserina. Aliás, acho que estou começando a compreender por que é que você está aqui – disse Black, piscando para Riddle.
– É mesmo, William? – perguntou Riddle, sem emoção alguma na voz. – Então, por que você não aproveita e vai procurar um lugar melhor para se sentar?
Ormand e Sorrel, que se sentaram juntos, alguns metros distantes de Riddle e Alana, prenderam a respiração para esperar a resposta do Monitor. William Daniel Black era uma espécie de líder da Sonserina, adorado por causa de suas façanhas contra os grifinórios, as quais narrava em discursos inflamados proferidos durante as festas, regadas à cerveja amanteigada, que aconteciam toda semana no salão comunal.
Riddle gostava dele, apesar de não concordar com algumas de suas atitudes. William vinha de uma família de linhagem pura, nobre e milenar no mundo bruxo, todos conhecidos por seus gênios e personalidades fortes. Os Black não costumavam misturar-se com mestiços ou sangue-ruins, mas William parecia fechar os olhos para essa regra quando o assunto era garotas e Riddle definitivamente abominava aquele tipo de comportamento.
– A minha presença atrapalha alguma coisa, Tom? – devolveu William, ainda com voz amistosa.
"Por que é que esse paspalho sempre vê segundas intenções em conversas com garotas? Otário..." Pensou Riddle, encarando-o e finalmente dizendo:
– Faça o que achar melhor, William. E arque com as conseqüências...
Ao terminar a frase, Riddle sorriu timidamente com os lábios. Seu rosto cândido voltou-se para Alana, a fim de continuar a conversa interrompida, mas seus olhos frios continuavam encarando Black. Este, após refletir por alguns segundos, pediu licença e foi sentar-se em outro lugar. Ormand e Sorrel, que o observavam discretamente, perceberam que ele estava um pouco mais quieto do que de costume. Talvez ainda refletindo sobre as palavras de Riddle Riddle; talvez ainda lembrando do olhar completamente vazio que ele lançou na sua direção.
Alana notou que alguma coisa estava errada, mas não quis desviar sua atenção perguntando o que acontecera. Se tivesse observado melhor os acontecimentos, teria percebido que Riddle atingira William com um feitiço. Um feitiço que ele aprendeu estudando Arte das Trevas.
– O que a Alana está fazendo na mesa da Sonserina? – perguntou Beth, outra amiga que ela tinha na Lufa-Lufa.
– Sei lá, ela tem amigos lá, deve estar conversando com eles, assim como janta com a gente de vez em quando – respondeu Dauren.
– Ela anda estranha ultimamente ou é só impressão minha? – perguntou Beth.
– Só impressão.
– E você também... estão aprontando alguma coisa?
– Nadinha.
– Alguma coisa que tenha a ver com as tardes que ela passa enterrada nos livros da biblioteca? Livros sobre... Hogwarts?
– Quer saber, Beth, eu vou falar com você porque estou preocupada com ela.
– Fale – disse Beth.
– A Alana colocou na cabeça que vai descobrir quem é o herdeiro de Slytherin e por que ele abriu a Câmara dos Segredos.
– Essa história não é só uma lenda?
– Aí que está a questão. Ela jura que não.
– Bem, se é só isso mesmo que ela quer, acho que está fazendo a coisa certa. Se eu fosse procurar o herdeiro de Slytherin, a primeira coisa que faria seria investigar os Sonserinos.
– Só que eu tenho medo das conseqüências disso, Beth. Uma garota já morreu. A Alana está obcecada, pode acabar indo longe demais.
– Ela é esperta, Dauren. Vai saber que é hora de parar quando essa hora tiver chegado.
– E se não depender mais somente dela?
Depois daquele jantar na mesa do Sonserina, não foram raras as ocasiões em que Alana foi vista na companhia de Tom Riddle; em conversas rápidas nas escadas, em bate-papos nos corredores entre o horário das aulas e ocasiões assim. Nunca eram encontros marcados, mas ele tinha a impressão de que ela se esforçava para que o acaso trabalhasse mais do que o normal e, cada vez. Mais, achava que aquilo não o incomodava; pelo contrário, aos poucos notou que aguardava ansiosamente pelo próximo "esbarrão ocasional".
Quando as férias de verão chegaram, Riddle e Alana se despediram antes de entrar no trem. Tudo não passou de um aceno e um desejo de boas férias, seguido de um sorriso recíproco, mas os dois estavam certos de que depois daqueles meses de afastamento, as coisas seriam bem diferentes entre eles. Por isso, trataram de aproveitar muito suas últimas férias antes do passo definitivo que dariam.
Ainda no Expresso de Hogwarts, Riddle fez a última coisa que tinha programado para o seu quinto ano, procurando um primeiranista da Sonserina para uma conversa reservada dentro de uma das cabines do trem.
– Você quer que eu faça um favor para você, Riddle? – perguntou o garoto de olhos acinzentados e cabelos loiro-platinados.
– Exatamente. Quero que você entregue uma coisa para o seu pai.
– Mas... – o garoto estava dividido entre a honra de ser procurado pelo Monitor mais inteligente da Sonserina e o medo de não poder atender seu pedido à altura.
– Dê isso a ele, diga que retribuirei o favor em breve. Não se preocupe, eu já mandei uma coruja para ele antes de sair de Hogwarts, contendo todas as informações que ele precisa saber para cuidar desse diário corretamente.
– Diário? – perguntou o garoto.
– Esse é o meu diário, Biron. Ficará com o seu pai até que lhe seja oportuno usá-lo. Caso isso não aconteça em breve, ele o passará para você.
– Você conhece o meu pai, Riddle?
– Quem não conhece o Sr. Malfoy? Correspondo-me com ele desde que entrei nesta escola, Biron. Ele vai saber exatamente o que fazer com o diário, basta que entregue a ele e... que jamais comente isso com quem quer que seja. Esse é um segredo entre o Lord e os Malfoy, certo?
– Quem é o Lord?
– Um dia, quando chegar a hora, todos saberão. Mas quem for fiel desde o princípio não tem motivo para temer esse tempo. Pelo contrário...
– Certo, vou entregar, então.
– Obrigado, Biron.
P.S. "Cogitari Ancilla" foi escrita por Ainsley Haynes, de fevereiro a novembro de 2004 e publicada no fanfiction . net. É precedida por "Departamento de Mistérios" e sua continuação – "Regillus Avernus" –, deverá ser publicada em breve. Aos fãs de H² e D/G, aconselho que leiam-nas! -recebendo dinheiro da autora para dizer isso- ops...
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