Título: Cry your tears with love
Ficwriter
: Kaline Bogard
Classificação
: yaoi, comédia
Pares
: 1x2
Resumo:
Uma aventura virtual pode trazer complicações ao relacionamento de Heero e Duo. O americano terá que arrumar uma boa explicação...


Cry your tears with love
Kaline Bogard

CAPITULO 2
Pessoalmente é assim... apenas surpresas.

Duo ia caminhando satisfeito e incrédulo.

(Duo) Pensei que eles fossem brigar mais comigo... he, he... aposto que vão me pegar quando eu voltar... paciência.

Havia grande movimento na rua aquele horário. Crianças indo pra escola, pessoas indo almoçar, ou apenas indo para algum compromisso importante.

(Duo) Mas que calor...

E era verdade... o dia estava lindo, com um céu azul estonteante (e raro naquela cidade...) Poucas nuvens branquinhas pareciam flutuar bem alto naquele mar suspenso. E no centro disso tudo, o sol.

A esfera de fogo que garantia a vida na Terra, mas que nesse momento apenas fazia Duo sentir muito calor, principalmente por usar roupas escuras, e abafadas.

(Duo) Ter esse visual style custa caro...

Passou por uma sorveteria, e pensou em comprar um sorvete.

(Duo) Com esse calor, que mal tem? E é melhor que água...

Depois de comprar quase uma bola de cada sabor, ele saiu, tentando se equilibrar.

Faltava pouco pra chegar na praça.

(Duo) Que delicia de sorvete! Eu nunca tinha comprado daquela sorveteria, mas agora vou ficar freguês! Vou fazer o Hee-chan me trazer ali qualquer dia desses...

Pensamentos gulosos passavam pela sua mente. Já se imaginava pedindo outro sorvete parecido com aquele que tomava agora, com muitas bolas de sabores diferentes... bolas que começavam a se derreter por causa do calor excessivo.

(Duo) Drooooga!!

O sorvete que derretia ia escorrendo por sua mão e parte do braço, melando toda a pele.

(Duo) Até que enfim!

Avistou a praça do centro da cidade, que apesar do calor fervilhava de gente. Pessoas conversando, casais, grupos de jovens, crianças...

(Duo) Caramba! Quanta gente!!

A praça era bem grande, daquelas a moda antiga, antes da colonização. Tinha até um chafariz encantador no centro.

Alguns bancos de ferro, pintados de vermelho, e outros de cimento, sem encosto, também pintados de vermelho.

Um senhor, funcionário da prefeitura, usava uma longa mangueira, presa a uma bomba d'água, para molhar e refrescar os canteiros de flores.

(Duo) É, eu gosto daqui...

Olhou ao redor preocupado.

(Duo) E agora?

Sentou-se em um dos poucos bancos que estavam desocupados e continuou tomando o sorvete calmamente. No momento estava mais preocupado em terminar aquilo e limpar as mãos, que estavam meladas e sujas de sorvete.

(Duo) Eu sou um desastrado mesmo!

"Que idéia mais idiota essa!" Ele se recriminava. Devia ter ouvido o bom senso ao invés do estomago.

"Porque não me conformei com uma garrafinha de água?!"

Agora era tarde demais. Antes de procurar a moça, tinha que dar um jeito de se limpar, e ficar pelo menos apresentável.

"Que papelão!!". Com certeza ela ia achar que ele era um porquinho, se o visse todo melado e sujo de sorvete.

Deu a ultima mordida no sorvete, e ergueu a cabeça, procurando um lugar onde pudesse se lavar... talvez o senhor da bomba...

Mal virou a cabeça para a direita, e seu coração disparou... uma garota estava caminhando em sua direção, toda sorridente...

"Será que é ela?"

A moça usava uma calça justa preta, e blusa branca, sem alças, tinha cabelos longos e negros, que desciam abaixo do ombro. Os olhos castanhos eram grandes e expressivos.

Parecia um pouco magrinha demais, e era evidentemente mais alta que Duo. Talvez um palmo mais alta. Trazia as mãos escondidas atrás das costas, e caminhava com calma.

Parou perto de Duo, com um ar de interrogação nos grandes olhos castanhos.

(Louise) Dr. Duo Shinigami?

Nova acelerada. O coração parecia que ia quebrar as costelas de tão forte que batia.

"Será que ela está ouvindo? Ela não parece muito nervosa..."

(Duo sorrindo) Ao seu dispor!

(Louise envergonhada) Eu apertaria a sua mão, mas...

Mostrou as mãos lambuzadas de sorvete.

(Louise) Sofri um acidente... não resisti aos apelos desse meu estomago...

Duo arregalou os olhos surpreso, e depois mostrou as próprias mãos, que se encontravam em estado igual de sujeira.

(Duo) Puxa... olha só...

Eles se olharam, e riram muito, um do outro, e de si mesmos.

O clima se descontraiu, e depois disso as coisas foram mais fáceis...

Ela pareceu esquecer das mãos lambuzadas, e sentou-se ao lado dele.

(Louise) Puxa, que mico!!

(Duo) O que foi?

(Louise) Faz uma meia hora que eu cheguei, e já perguntei pra uns três garotos, se eles eram você...

(Duo divertido) Sério?!

(Louise) É... os dois primeiros me olharam como se eu fosse louca... o terceiro achou que fosse uma cantada, e disse que teria o maior prazer de ser o "meu" doutor Shinigami...

Balançava a cabeça pesarosa.

(Duo) Eu ainda estava me decidindo sobre como ia fazer pra encontra-la, mas primeiro eu ia limpar as minhas mãos...

(Louise) Sabe que é uma boa idéia?

Levantaram-se e caminharam em silencio até o senhor da bomba. Ele olhou pra eles, entre curioso e divertido.

(Duo) Er... será que o senhor não poderia emprestar um pouco da água pra gente?

(Louise) É só pra tirar o melado...

(Senhor sorrindo) Claro!

Direcionou a ponta da mangueira para as mãos que ambos estendiam, e ligou o jato de água numa pressão menor.

Tanto Duo quanto Louise esfregaram uma mão na outra, com o objetivo de tirar o sorvete que estava começando a secar.

(Duo) Muito obrigado!

(Louise) E desculpe o incomodo.

(Senhor) Não tem problema! E não foi incomodo algum.

Abriu a válvula que liberava a água, e continuou seu caminho, molhando as plantinhas dos canteiros.

Duo secou as mãos na roupa, e estendeu para Louise.

(Duo) Duo Maxwell, muito prazer.

Louise fez o mesmo, depois apertou a mão que Duo lhe estendia.

(Louise) Louise Marie Kobayashi, encantada.

(Duo) Noooossa, que nome chique! Você é francesa? Não parece...

(Louise) Na verdade, eu nasci na França, mas minha mãe era japonesa, e meu pai era brasileiro. Esse nome é uma homenagem a estalagem onde eles estavam hospedados, pois foi um parto de emergência, e a dona do local que realizou...

(Duo pensativo) Hum... isso parece coisa de romance...

(Louise) Que nada! Logo eles se divorciaram, e acabou-se o romance. Paris não ajudou muito!

(Duo) Não precisa me contar isso...

(Louise) Isso não me afeta mais! Pelo contrário. Eu aprendi que quanto mais eu falar sobre essas coisas, menos elas me ferem. Acaba se banalizando, e caindo no esquecimento.

(Duo) Obrigado por compartilhar comigo...

(Louise sorrindo) Ora, doutor... isso faz parte do tratamento, não é?

Ambos se divertiam bastante com a situação.

Caminhavam lado a lado na praça, entre as pessoas.

(Duo) Que tal um refrigerante?

(Louise) Claro! Pelo menos é mais seguro que sorvete...

(Duo) Nem brinca...

Havia muitas lanchonetes ao redor da praça, mas eles escolheram uma que não estava completamente lotada.

Depois de sentar-se em uma mesinha de canto, foram atendidos por uma garçonete sorridente, que parecia mais jovem do que realmente era.

A moça anotou os pedidos, e afastou-se, tratando de providenciar as guloseimas que Duo e Louise haviam solicitado.

(Louise) Yuri vive dizendo que eu deveria comer coisas mais saudáveis...

(Duo) Dizem a mesma coisa pra mim...

O garoto americano ficou curioso, querendo saber se Yuri era o nome da pessoa que Louise gostava. Pelo tom de voz dela, achou que era.

(Louise) Mas... e agora...

(Duo) Conversamos...

(Louise) Além de conversar on line, o que mais você gosta de fazer?

(Duo) Um monte de coisa! Não sei nem por onde começar... a única coisa que eu mais detesto é perder tempo parado... principalmente na frente de um computador...

(Louise) Concordo com você... como é que Yuri e os outros podem ficar felizes perdendo dias tão maravilhosos... já não basta esses conflitos, que atrapalham a vida da gente...

(Duo) Não acho que ele e seus amigos fiquem felizes com isso, talvez não tenham escolha...

Dizia isso pensando em seus amigos. No fundo sabia que eles estavam certos ao querer se prevenir. Não acreditava que Quatre e Trowa, ou até mesmo o encrenqueiro do chinês, quisessem desperdiçar suas vidas assim, apenas lutando...

(Louise) Não sei...

A garota tentava acompanhar o raciocínio de Duo, mas não parecia totalmente convencida.

(Duo) Você deve entende-lo...

(Louise) Se você conhecesse o Yuri... ele é tão decidido... empenha-se em tudo com o coração, mas parece tão distante do resto, que até assusta...

(Duo) Eu sei como que é isso...

A garota ergueu os olhos castanhos com uma indagação, e fitou os olhos violetas, em um dialogo mudo.

O americano percebia claramente as duvidas que rondavam a mente de Louise, mas de repente se deu conta de que seria muito difícil explicar o seu passado, principalmente as atitudes de Heero, sem mencionar que eram pilotos Gundam... como ia discursar sobre "o soldado perfeito"? Ao pensar nisso, Duo tentou adivinhar como Louise reagiria ao saber que ele namorava outro garoto, e não uma garota, como seria natural e esperado...

(Louise) Você disse que... já tinha sofrido por amor...

Começou de forma tímida, quase como se fosse uma ofensa falar sobre esses assuntos.

Porém o olhar de Duo a encorajava a continuar.

(Louise) Não sei por que, mas... eu senti que você, de alguma forma, já havia se acertado, e que parecia feliz... o que me fez acreditar, que... talvez nem tudo esteja perdido...não é?

Duo respirou fundo. Queria mesmo ajuda-la, e começou com muito cuidado, sabendo que teria que falar sobre Heero, mas sem expô-lo de maneira comprometedora.

Decidiu que em primeiro lugar ia esclarece-la sobre a natureza de seu romance com um garoto. Depois entraria nos outros detalhes...

Isso de acordo com as reações dela é claro. Se ela se mostrasse horrorizada e enojada, ele não falaria mais nada, e terminaria o assunto por ali.

(Duo) É verdade... agora tudo vai bem em minha vida, depois que Heero e eu conversamos, e percebemos que nos amávamos, e que era no mínimo inútil tentar lutar contra sentimentos tão fortes... ele percebeu isso tão bem quanto eu... ou até melhor.

Calou-se esperando a reação de Louise. Esperava alguma pergunta do tipo "Você namora um garoto?!" seguida de uma expressão de puro asco, mas, para surpresa de Duo, a pergunta foi uma totalmente diferente, e a face de Louise expressava tanta dor e desesperança, que Duo sentiu vontade de chorar por ela.

(Louise) Ele é muito diferente de você?

(Duo) Bom, nós temos a mesma idade, ele é um pouco mais alto que eu, e tem cabelos curtos.

Disse isso tentando descontrai-la, e conseguiu. A garota deu um sorriso mais animado.

(Louise) Ora, assim não vale! O Yuri também é mais alto que eu, tem cabelos curtos e loiros. Olhos verde misteriosos, e é meio bronzeado! Ufi, como alguém pode ser tããããão lindo assim?

Ambos riram.

(Duo) Mas... psicologicamente falando, somos bem diferentes. Puxa! Ele é totalmente o oposto de mim... como água e vinho... e eu não sou o vinho!

Deu uma piscadinha marota. Mas Louise entendeu o que ele queria dizer.

(Louise) É... Yuri é sério, fechado, parece sempre tenso. Daqueles que se importam apenas com seus... compromissos...

(Duo) Heero também era assim. Parecia uma...

Ia dizer "máquina de guerra", mas não achou conveniente usar esse termo para comparações. Tentou achar alguma palavra que fosse similar.

(Duo) Parecia uma estátua, sem sentimentos, que não se permitia sentir nada por ninguém, a não ser ódio, e desprezo.

Lembrou-se de como era difícil encarar o olhar frio do japonês, principalmente quando ele estava irado.

(Louise) Acho que é assim que eu descrevo o Yuri... ele nunca sorri, nunca me olha com afeição, ou qualquer outro sentimento humano... não sei... as vezes eu acho que o problema sou eu, mas não. Ele estabelece objetivos e cria metas, e não permite que nada nem ninguém o atrapalhe, interfira em sua... "missão"...

(Duo) É bem difícil tratar com pessoas que se escondem por trás de um muro de indiferença.

(Louise) Nem me fale. Quando eu descobri meus sentimentos por ele, temi pela minha vida... você acredita nisso? Acho que ele ficaria tão furioso por demonstrações de sentimentos banais, que me mataria. Ou melhor, eliminaria um "obstáculo" da sua vida.

(Duo) É como se caminhássemos sobre um lago congelado. Não dá pra saber onde o gelo é mais fino e por isso cada passo é uma tortura, porque a incerteza é pior que tudo. O que pode quebrar o gelo, desencadeando reações fora do controle? Uma palavra? Um gesto? Um olhar...

(Louise) Tenho medo que ele perceba o quanto eu o amo, mesmo que involuntariamente. Evito olhar pra ele, toca-lo... ao mesmo tempo em que meu sangue ferve, exigindo a presença dele cada segundo da minha vida! Duo, passar por isso é um inferno! Como você conseguiu?

O piloto americano olhou pela janela, tentando encontrar uma resposta que definitivamente não poderia dar. Preferiu ser sincero.

(Duo) Puxa, eu nem sei como atravessei aquela época da minha vida. Foi tão complicado... eu me sentia mal, com medo de ser eu mesmo... porque com esse meu jeito expansivo, ele poderia interpretar como outra coisa.

(Louise) É como eu me sinto agora.

(Duo) A situação estava tão desesperadora. Pouco antes dos sentimentos serem finalmente revelados, a tensão chegou ao máximo. Era o ponto critico, eu percebi que tinha que falar, ou então, ia explodir. Primeiro eu achei que nunca seria correspondido, e que o mínimo que aconteceria era que ele me desprezasse, ou mesmo me matasse, mas... acho que eu pensei que até a morte era melhor do que o suplicio em que eu vivia...

(Louise) Você entende o que eu vivo...

(Duo) Por que já passei por uma situação semelhante. Falando nisso, não é incrível como nossas vidas são parecidas?

(Louise) É... eu já pensei nisso... é tanta coincidência... nós dois temos uma sede de viver infinita, parece que gostamos das mesmas coisas... e até nos apaixonamos por pessoas parecidas...

(Duo) Se fossemos parecidos fisicamente, diria que somos irmãos!

(Louise) Podemos ser, pelo menos por força do destino!

(Duo) Ta legal...

Louise observou Duo terminar de beber o suco em silencio. Ela já havia terminado o seu suco. Ambos haviam comido bastante durante a conversa. Agora estavam satisfeitos.

Após terminar, Duo chamou a garçonete, e pediu a conta.

Louise fez questão de pagar a metade, e Duo acabou concordando, apenas para não contrariar a nova amiga. Deixaram uma boa gorjeta para a moça que os atendeu, e saíram do local.

Começaram a caminhar pela rua, se afastando da praça e do emaranhado de pessoas. Procuraram um lugar que fosse sossegado, mesmo sem falar nada.

Quando o movimento na rua diminuiu consideravelmente, recomeçaram a conversa.

(Louise) Parece que vocês estão se dando bem agora...

(Duo suspirando) Você acertou... agora estamos bem. Chegamos a um entendimento...

(Louise) Duo, eu fico muito feliz por vocês...

Duo olhou para Louise, mas ela olhava fixamente para frente. Porém, seu semblante era tranqüilo, e ela até dava um sorriso esperançoso, como se visse em Duo e Heero, uma chance para ela mesma.

(Duo) Enquanto há vida, há esperança.

(Louise) É...

Mas seu tom de voz era vago, pensativo...

Chegaram em uma ponte, que ligava dois lados da cidade. Estava começando a anoitecer, e o sol se punha no horizonte. O clima estava mais fresco, o calor estava indo embora, junto com o sol.

Louise parou de andar e se debruçou sobre o parapeito da ponte, colocando os dois braços sobre a pequena mureta, e inclinando levemente o corpo. Seu olhar se perdeu no curso do rio de águas escuras e frias, como se as pequenas ondas pudessem trazer algum tipo de alivio para a dor que sentia no coração.

Duo sentou-se sobre a proteção de tijolo, e ficou de costas para o por do sol. Era uma visão muito bonita, mas o americano não queria vê-la.

(Duo) Você pode achar que está tudo perdido, mas... não está.

(Louise) Talvez pra você não, mas pra mim... eu notei o quanto somos parecidos, e é incrível como nossas vidas seguiram paralelas, mesmo sem nos conhecermos, mas... ainda assim somos diferentes. Compreende o que quero dizer? Talvez Heero e Yuri sejam parecidos, mas não são a mesma pessoa... e se Yuri for um pouco pior do que Heero era? Ai eu não teria chance... não é?

Duo arrepiou-se diante da perspectiva de existir alguém pior do que Heero. Porém o japonês era como era, por causa de um longo e cruel treinamento, que o havia ensinado a ser daquele jeito... e esse tal de Yuri... só o fato dele ser parecido com Heero, sem nenhum treinamento já era uma grande desvantagem...

Se ele era assim de nascença, então pobre Louise.

(Louise) Ninguém muda, não é, Duo? Yuri é do jeito que é, infelizmente pra mim, que o amo tanto.

(Duo) Ora talvez ele não seja tão ruim assim, apenas parece aos seus olhos. Na visão de alguém que é extremamente contrária a ele...

De repente os olhos da garota brilharam, diante da perspectiva.

(Louise) Você pode ter razão.

(Duo animado) Ele pode gostar de você, e estar se sentindo inseguro, porque vai contra as crenças dele...

Duo lembrava-se do que o próprio Heero havia dito a respeito de seus sentimentos.

(Duo) Imagine só como você se sentiria, se estivesse no lugar dele, apaixonado de repente por alguém que é puro fogo? Seria assustador, não concorda? Se você se assusta com a frieza dele, talvez ele sinta o mesmo em relação ao seu carisma...

Era apenas um chute, mas a intenção de Duo era das melhores. Quem sabe o chute não era assim tão longe da realidade...

(Louise) Bom, eu nunca tinha analisado as coisas por esse ângulo. Será que eu assusto o Yuri?

O americano virou a cabeça e observou Louise. Ela era muito delicada, e por ser magrinha, parecia extremamente frágil. Por outro lado, podia sentir uma "força" emanando dela, qualquer um podia ver que se tratava de uma lutadora, que amava a vida acima de tudo... assim como Duo.

(Duo divertido) Olha, você é bem bonitinha pro Yuri ter medo de você...

Louise olhou incrédula para Duo, e depois caiu na gargalhada. Riu como a muito tempo não fazia.

(Louise) Duo Maxwell!! Você é muito fofo! E obrigada pelo elogio.

(Duo) Ora, vai estar tudo incluído na conta...

(Louise) Se continuar fazendo bem para o meu ego assim, eu vou pagar com muito gosto!

(Duo) Espera só até você ver o total da conta! Vai ter que vender até os sapatos.

Disse isso com ares de grande importância.

(Louise) Todo esse bom humor, é por causa de Heero, não é?

(Duo animado) Claro! Antes eu não tinha esperanças, apenas podia sonhar com tal felicidade. Agora, não só meu sonho se tornou real, como o tenho pra mim, sabendo que ele me ama. Diante de tal felicidade, eu só posso agradecer, e tentar me esquecer que já sofri um dia, achando a vida não me daria o maior de todos os presente: o amor de Heero.

(Louise) Ouvir você dizendo essas coisas tão lindas, me faz ter esperanças no futuro...

(Duo) Foi com essa intenção que eu sai de casa hoje. Eu sentia, ou melhor, eu sabia que tinha que lhe mostrar o outro lado da moeda. Você não deve esperar apenas a dor, por que não é só isso que a vida nos dá. O amor que ela me trouxe é tão grande, e verdadeiro, que chega a ser até um pecado. Acredite em mim, continuar sonhando vale a pena.

(Louise) Duo...

De repente um silêncio súbito caiu entre eles. Já era noite agora. Os postes estavam todos acesos, iluminando a ponte e refletindo nas águas negras do rio abaixo deles.

O americano se sentia surpreso por Louise não ter comentado nada sobre Heero ser um rapaz. Esperava pelo menos alguma pergunta, um comentário, e, no entanto, a moça estava calada, sem tocar nesse ponto.

Seria lógico Duo perguntar a opinião dela? Talvez ela não quisesse embaraça-lo... ou realmente não se importava...

Ouviu a moça dar um suspiro profundo. E resolveu tirar sua dúvida, pelo menos era um assunto para quebrar o silêncio que se abatera sobre eles.

(Duo) Você... não vai dizer nada sobre Heero?

(Louise confusa) Hã?

Duo deu um sorrisinho amarelo, e percebeu que os olhos castanhos da garota não desgrudavam dele, mostrando extrema confusão.

(Duo sem jeito) Você sabe... ele é um garoto, e eu também... achei que você podia se espantar... até fiquei com muitas duvidas sobre como abordar o assunto sem choca-la... mas você ouviu tudo calmamente, e aceitou como se fosse natural... eu tava esperando um comentário qualquer...

A garota deu um sorriso que dizia muitas coisas. Desde aceitação incondicional, até mesmo a compreensão total dos sentimentos envolvidos na questão. Duo percebeu isso no mesmo instante.

(Louise) Ah, Duo... não se preocupe. Eu... eu... estou tão ávida por amor, por alguém que me compreenda... acho que você me entende, por que, além de ter que lutar contra todas as probabilidades, ainda tinha esse agravante...

(Duo suspirou) Vendo as coisas por outro ângulo, você tem mais chances do que eu...

Mas o sorriso sumiu do rosto de Louise, e ela assumiu uma postura séria, falando com sobriedade.

(Louise) Não faça isso, Duo...

(Duo surpreso) O que?

(Louise) Estamos falando sobre amor, não é?

O piloto americano balançou a cabeça concordando, mas não proferiu palavra.

(Louise) Então como você pode dizer que pra mim é mais fácil? Não se esconda atrás do seu sexo. Quando o assunto é amor, não há barreiras, nem limites... ninguém manda no coração, porque o amor não tem formas, está em Heero, em Yuri, por que nós os amamos... do jeito que eles são. Se Heero fosse diferente, ou fosse uma garota, você não o amaria, não é? Por que no fim das contas não seria Heero... é o mesmo comigo... eu não me apaixonei por Yuri porque ele é um rapaz e seria o conveniente, mas... por que ele é Yuri. Tem alguma coisa nele que é diferente dos outros, e que o torna especial aos meus olhos. Eu o amo por que ele é Yuri...

Já não articulava as palavras direito, nem mesmo parecia coordenar as idéias, pois caiu num pranto sentido.

Duo olhou para a garota, sem saber o que fazer. Realmente não gostava de ver os outros sofrerem, e ela parecia tão frágil.

Sem pensar duas vezes o americano abraçou a garota, e começou a chorar também.

(Duo) Desculpe Louise... apenas... é estranho...

Os soluços da garota eram resposta mais do que evidente do que se passava na mente e no coração dela.

(Duo) Pra mim parece normal viver com um garoto, mas algumas pessoas acham isso estranho... e as vezes eu me espanto com as reações...

(Louise) Acho que não é fácil... nem pra você nem pra mim... desculpe minha explosão... eu não tenho direito de descontar em você...

(Duo) Tudo bem... eu também não tenho o direito de dizer o que é mais fácil pra você... as vezes eu me esqueço de como era difícil pra mim, quando ainda não havia esclarecido tudo...

Depois de uma fungada discreta, a garota abriu um sorriso e afastou-se de Duo, fugindo do abraço.

(Louise) Droga! Eu estava indo tão bem! Nem tinha chorado... aposto que meu nariz ta vermelho...

(Duo rindo) E está mesmo...

(Louise espantada) E eu nem reparei como era tarde...

Já não havia quase movimento nenhum na rua, a não ser por um ou dois carros que eventualmente atravessavam a ponte. Mas nenhum dos dois tinha relógio, por isso não saberiam dizer as horas com exatidão.

O americano estendeu um lenço para Louise, e a moça o usou para secar as lágrimas que ainda escorriam, contra a sua vontade...

(Duo) É mesmo!! O tempo voou...

(Louise) Acho que é hora da despedida, tenho que voltar para a dura realidade.

(Duo) Ai, ai... tenho certeza que vou levar uma bronca a hora que eu chegar... eu não devia ter saído...

(Louise) É... foi dureza enganar o povo...

(Duo) O que a gente faz agora?

(Louise sorrindo) Duo, eu desejo tudo de bom pra você, e pra Heero. Saiba que o que vocês dois tem é muito precioso, e raro. Lute com todas as suas forças, e proteja esse amor a todo custo. Faça isso pensando nas pessoas que ainda não tiveram tamanha sorte.

(Duo) Sim, Louise. Sei que eu tenho muita sorte por Heero estar ao meu lado, compartilhando sentimentos comigo... mas, eu gostaria de reve-la. Não acho que devemos deixar as coisas nesse pé. É legal trocar idéias com você...

(Louise) Eu concordo com você. Acredito que nossa amizade é real, apesar de... instantânea. Foi uma sorte muito grande encontrar você.

(Duo) Tem razão. Foi muita sorte.

(Louise) O que acha de nos encontrarmos no sábado? Na mesma praça?

Nesse instante uma idéia brilhou na mente de Duo, e sem considerar as conseqüências, ele fez uma proposta que surpreendeu tanto Louise quanto o próprio americano.

(Duo) Olha, já sei... vou trazer Heero pra você conhece-lo.

(Louise surpresa) Tem certeza?

(Duo animado) Claro! Você vai ver que a vida realmente pode ter um final feliz, e não apenas os contos de fada.

(Louise pensativa) Ora... e se eu convencesse o Yuri...

(Duo animadíssimo) Seria ótimo!!

(Louise) Ta... ta certo! Vamos deixar combinado: sábado, as duas horas, no mesmo local.

(Duo) Se eu sobreviver...

(Louise) O que?...

(Duo) Acho que o pessoal lá de casa vai querer me matar depois dessa "fuga"... he, he...

(Louise soturna) Ah... entendi... o mesmo vale pra mim...

Duo deu um pequeno salto, saindo da proteção de tijolos, onde estivera sentado, e indicou o caminho de volta para Louise.

(Louise) Ah, não. Eu moro do outro lado da ponte. Indo no sentido subúrbio.

(Duo) Então eu acompanho você.

(Louise sorrindo) Não precisa. Eu já to acostumada.

(Duo) Mas...

(Louise) Nada... vai pensando em um jeito de arranjar uma desculpa das boas, pra dar para os seus amigos... e... a gente se vê no sábado!

Inclinou-se, e depositou um beijo na bochecha de Duo.

(Duo sorrindo) Até sábado!

Observou enquanto a garota atravessava a ponte com passos rápidos, e logo virava a esquerda, sumindo das vistas do americano.

Colocando as mãos nos bolsos, Duo virou-se e seguiu para casa.

Caminhava devagar, sem pressa de chegar no abrigo, e receber uma provável bronca dos amigos.

(Duo) E esse não é meu problema maior...

Tinha que achar um jeito de trazer o japonês para o encontro no sábado, mas... isso implicava em fazer muitas revelações e... Duo não sabia qual seria a reação de Heero ao saber de Louise...

Com certeza ia se irritar, porque o americano não havia feito a sua parte das tarefas... pelo menos não em tempo integral, e havia matado a tarde de quinta feira para se encontrar com a nova amiga.

Bom, dessa parte Duo não se arrependia. Conhecer Louise tinha sido muito gratificante. A garota era divertida, simpática e muito gentil.

O americano desconfiava que a tarde tinha sido proveitosa para ambos.

(Duo) Ainda bem que eu vim.

Então, passou em frente a uma pizzaria, e o cheirinho de comida italiana atiçou seu apetite, fazendo-o perceber que estava com fome... ou talvez com vontade de enrolar um pouco o tempo, evitando chegar em casa e enfrentar os outros pilotos... ou mais especificamente, enfrentar Heero, e as possíveis perguntas que o piloto do Wing faria.

Na verdade, não havia fuga. Se Duo pretendia mesmo trazer Heero no sábado, teria que responder muitas perguntas... dar muitas explicações e...

(Duo) Acho que vou deixar essa pizza pra lá. É melhor enfrentar as feras agora, do que ficar sofrendo em antecipação...

Desviou-se da pizzaria e seguiu em frente. Passou pela praça, e esta continuava cheia de gente. Pessoas que saiam do trabalho, e se reuniam pra descontrair, e mesmo algumas pessoas que estavam ali desde a tarde, mas não tinham nada melhor pra fazer.

A noite, diferente do dia, estava agradável, mais pra fria, fazendo com que Duo estremecesse levemente arrepiado.

(Duo sorrindo) Será que esse tremor é por causa do frio mesmo...

Não se atreveu a responder. Ia se afastando da cidade, se distanciando das casas. Logo chegou a região desabitada onde ficava o lar provisório dos cinco pilotos Gundam.

Era longe da cidade e de qualquer movimento. Com certeza oferecia segurança e privacidade.

O americano parou em frente à entrada e respirou fundo. Olhou para a casa e estreitou os olhos desconfiado. Todas as luzes estavam apagadas, com exceção de uma... no andar de baixo, e parecia ser a cozinha.

(Duo) Estranho...

Um pensamento assustador passou pela mente do americano: e se eles tivessem saído para alguma missão? E se a OZ tivesse atacado?

Continua...