Título: Cry your tears with love
Ficwriter: Kaline Bogard
Classificação: yaoi, comédia
Pares: 1x2
Resumo: Uma aventura virtual pode trazer complicações ao relacionamento de Heero e Duo. O americano terá que arrumar uma boa explicação...
Cry your tears with love
Kaline Bogard
CAPITULO 5
Pra chorar com medo da vida.
(Wufei) Esse plano parece arriscado...
(Heero irritado) Foi o que eu disse.
(Duo sorrindo) Mas foi aprovado. Eles adoraram a minha idéia.
(Trowa) Não tem jeito. Americano doido...
(Wufei) Mas...
(Duo) Nem adianta, Wufei. O plano já ta decidido: a gente vai entrar na tal fabrica disfarçados de entregadores.
(Heero) Os Gundam vão ficar aqui, dentro desta depressão...
Apontou um mapa, o mesmo que o piloto chinês havia estudado. O papel apresentava diversas marcas, amassados e rabiscos.
(Quatre) Já acertei os caminhões. A entrega será real, nós apenas trocaremos de lugar com os entregadores.
(Heero) Isso não vai levantar suspeitas?
(Quatre) Não. Eu já cuidei disso. Essa firma sempre entrega materiais nesta fábrica, e dificilmente usa os mesmos entregadores.
(Heero) Medida de segurança...
(Quatre) Isso mesmo.
(Duo) Uma vez dentro da fabrica, será tudo mais fácil. Esse corredor, leva direto para a sala de comando, mas antes, teremos que passar pelo controle geral. Cuidar dos guardas será fácil, cuidar do alarme também. É um sistema simples, apoiado por um secundário, pro caso de queda de energia.
Heero lançou um olhar preocupado para Duo. Fazia mais de uma semana que eles haviam se despedido de Louise, e a moça não dera sinais de vida.
Provavelmente ela ainda estava ocupada com as mudanças, e os novos rumos que decidira dar para sua vida.
Coisa engraçada...
Duo ficara preocupado nos primeiros dias, mas a medida que o tempo passava, ia se concentrando em cumprir suas tarefas.
Na segunda feira após o passeio na praça, eles haviam recebido um e-mail, com instruções para o novo plano. A major Sally aprovara o plano de Duo, achando que seria muito mais trabalhoso que o de Heero, porem menos perigoso.
A major sempre levava em consideração a vida humana. Sabia que os jovens pilotos arriscavam a vida, porém, ela faria qualquer coisa que não os expusesse tanto ao perigo.
Depois de aprovado, era só colocar o plano em prática.
Quatre afirmou que conseguiria os caminhões, e quatro dias depois, eles já estavam disponíveis.
O mais difícil de conseguir foram os uniformes.
Invadir a lanvaderia não fora nenhum mistério. Pelo contrário... quem iria querer roubar roupa suja? Um piloto de Gundam, é claro...
Os encarregados de conseguir os uniformes foram Trowa e Wufei.
Com certeza era uma combinação estranha, mas mostrou-se eficiente. Quatre não se importou de separar de Trowa dessa vez.
Heero e Duo não aceitariam nunca se separar, e a major, com seu ótimo sexto sentido, já percebera que entre os dois garotos havia muito mais que uma forte amizade...
Para surpresa de Heero, percebeu que Duo estava com o rosto bem colado ao seu, quase tocando seus narizes.
(Duo) Acordou?
(Heero) O que?
(Duo) Faz um tempo que você tá viajando...
O japonês percebeu que os outros pilotos o encaravam com ar divertido.
(Heero) Não foi nada.
(Wufei) Aham... e como eu ia dizendo... com certeza neste corredor devem haver câmeras, seguranças, etc... você acha que pode neutralizar as defesas sem chamar atenção, Heero?
(Heero) É claro.
Disse isso com grande ar de superioridade, em parte por ter demonstrado fraqueza diante de outros pilotos, ainda agora pouco.
(Duo) Isso encerra a questão da segurança. Todos os detalhes já estão acertados... agora, é só colocar em prática.
Heero olhou intensamente para o americano.
O outro parecia muito seguro, e decidido, mas no fundo, Heero sabia que ele ainda esperava noticias de Louise. O próprio japonês não conseguia dispensar pensamentos interrogativos de vez em quando.
Afinal, o que Louise estaria fazendo? Tivera mesmo coragem de se afastar de Yuri? Ou ainda vivia alimentando falsas esperanças? Ela teria que ser muito forte, para abdicar de um sentimento tão enraizado em sua alma. O amor tinha raízes profundas, difíceis de se arrancar...
É claro que Louise parecia ser uma moça forte, das que enfrentam as adversidades e nunca se rendem diante dos desafios impostos pela vida.
Assim como Duo, o americano maluco, que apesar de toda aquela beleza aparentemente frágil, tinha tanta garra e força de vontade, que muitas vezes chegava a espantar até mesmo Heero.
O japonês havia se encantado por aquela aparência quase andrógena, iludido no primeiro encontro de ambos, porém, com a convivência que os dois haviam se imposto, com as batalhas travadas lado a lado, o risco de vida sempre presente... Heero conhecera a verdade por trás do rostinho meigo de Duo.
Sabia que o americano era um dos inimigos mais perigos da OZ, ao lado dele mesmo...
Combater ao lado do Deathscythe era tão emocionante, que não poderia ser descrito em palavras. Não eram poucas as vezes em que Heero se flagrava observando embevecido a dança da morte, que Duo executava magnificamente pilotando seu Gundam.
Tamanha fluência de sentimentos só era possível sentir ao lado de Duo. O japonês tinha plena consciência disso. Como Louise deveria ter, do que seria a glória de ter seu amor correspondido e a sabedoria de aceitar que Yuri não estava ao alcance de suas mãos...
Eta diabo de vida complicada... era estranho pensar que ele, Heero Yui, um soldado treinado para matar, que vivia sua vida toda negando os sentimentos que sabia existirem dentro de si, havia encontrado a felicidade. Ele, a pessoa que aparentemente menos merecia ser feliz, havia descoberto uma nova vida ao lado de uma criaturinha como Duo.
"Como a vida é engraçada..."
O que mais o japonês poderia querer, já tinha a coisa mais importante de todas: o amor de Duo... com certeza era o sonho da maioria das pessoas, encontrar um anjo tão cheio de vida, tal qual era Duo Maxwell...
(Wufei irritado) Pra mim chega!!
Levantou-se, jogando uma caneta sobre a mesa, e afastou-se, com as mãos nos bolsos, resmungando em voz baixa.
(Trowa) Já está tudo acertado. Amanhã, colocamos o plano em prática.
(Quatre sorrindo) Descanse, Heero.
Os dois afastaram-se também, deixando Duo e Heero sozinhos.
(Duo) Heero, você viajou de novo! Deixou Chang falando sozinho... duas vezes!!
E soltou uma gostosa gargalhada.
Heero olhou incrédulo para Duo. Ele estivera mesmo perdido em pensamentos durante uma importante decisão em grupo...
Definitivamente estava muito mudado. Nunca, em hipótese alguma, o antigo Heero (conhecido por todos como o soldado perfeito) faria uma coisa dessas.
Percebeu que o americano fazia uma carinha manhosa, e dizia:
(Duo) Agora vai dizer que a culpa é minha...
(Heero) ...
(Duo) Há!! Eu sabia!! Eu não tenho culpa se você anda desligado...
(Heero) Duo...
(Duo) Você sabe. Não prestar atenção nos planos é uma coisa muito, mas muito séria mesmo...
(Heero) Ora, Duo...
(Duo) É algo tipo... conversar on line com outra pessoa, ao invés de fazer planos de defesa... mesmo que esses planos sejam cha-ti-ssi-mos...
E olhou de lado para o japonês.
(Heero) Eu não vou pedir desculpas...
(Duo) Eu sei. E eu não conheço...
Levantou-se matreiro, fugindo dos braços de Heero que tentavam enlaça-lo. Correu para trás do sofá, e mostrou a língua para o japonês.
(Duo) Shinigami é invencível!!
Porém, antes que o americano desse acordo do que acontecia, Heero ergueu-se veloz, e sem dar chance de Duo escapar, o abraçou com força, porém com infinita ternura, ao mesmo tempo em que sorria vitorioso.
(Heero) E o que Shinigami diz disso?
(Duo) Hum... eu diria que me deixei prender... he, he...
(Heero) Ora seu...
Abaixou a cabeça, e tomou os lábios do outro entre os seus, sem pressa nenhuma.
Duo correspondeu, acompanhando o ritmo imposto pelo amante.
Ambos tentavam aproveitar o máximo possível daquele beijo, um desfrutando do sabor do outro como se fosse a ultima oportunidade para a troca de caricias. Como se o mundo ameaçasse acabar a qualquer segundo, fazendo com que os dois pilotos pudessem morrer abraçados e unidos como um único ser...
Enquanto o beijo se tornava mais urgente, as mãos de Heero também exigiram tocar o corpo delicioso do americano.
Mais que depressa o japonês colocou as mãos por dentro da blusa do outro, começando uma exploração bem sensual.
Duo sentiu-se desmanchar diante de toques tão ousados, enquanto por sua vez, Heero encantava-se com o calor delicioso emanado daquele pequeno corpo preso em seus braços.
Interrompendo o beijo, Duo lançou um olhar pidão em direção ao sofá, e que foi corretamente interpretado por Heero.
Porém, antes que pudessem satisfazer seus desejos, o piloto do Nataku entrou na sala, e parou espantado diante da cena.
Trazia um copo de suco na mão, e um pedaço de bolo na outra. Ele deu um gole no suco, observando atentamente o casal enamorado.
Depois o garoto chinês fez uma cara de profundo sofrimento, como se fosse vitima de todos os males do mundo.
(Wufei) Eu não mereço isso...
Jogou-se no sofá, reparando em como Duo ficava vermelho. Heero nem mesmo se abalou, apesar de sentir uma vontade enorme de voar no pescoço do chinês, por ele ter cortado o clima entre eles.
(Wufei) Vocês não me deixam dormir a noite, e isso eu até... aceito... mas começar a fazer essas coisas, de dia, no meio da sala... acho que não é muito normal...
(Duo) Não enche!!
(Wufei indignado) Não vão nem pedir desculpas?
(Duo surpreso) Por o que?!
(Wufei) Por essa pouca vergonha!!
(Duo) ...
(Heero) Liga não, Duo. Quando se está em falta, a inveja corrói por dentro... não é, Wufei?
O piloto do Nataku quase engasgou com o pedaço de bolo.
(Duo rindo) Ih... pegou no ponto fraco!
(Wufei) E quem diz que eu estou em falta?
(Duo) A major Sally já se declarou?!
(Heero) Wufei, o que você faz escondido no banheiro, segurando uma foto da major, não conta...
O chinês ficou tão vermelho, que Duo não se conteve, explodiu em uma gargalhada tão escandalosa, que Quatre e Trowa que estavam na cozinha, vieram ver o que estava acontecendo.
(Duo) Essa foi ótima, Heero!!
(Trowa) O que é tão divertido?
Mas soube a resposta no mesmo instante em que colocou os olhos no garoto chinês, que ainda estava rubro, de raiva e vergonha.
(Trowa) Quem fala o que quer, ouve o que não quer.
(Duo) Você não poderia ter sido mais exato.
(Trowa) Se vê, pela cara de quem comeu e não gostou...
(Duo) Na verdade é de quem "comeu e quase engasgou"...
E caiu na risada de novo.
(Wufei nervoso) Quatre, me defenda!!
(Quatre surpreso) Eu? E porque eu faria isso? O personagem meloso e menos apreciado de todos?
(Wufei) Ah... você ainda lembra disso?
(Quatre) É claro... eu... meloso...
(Wufei) E é mesmo! Não é Trowa?
Todos olharam para o piloto do Heavyarms, esperando pela resposta dele. É claro que Trowa soube no mesmo instante que estava em uma situação delicada. Sabia que Quatre era mesmo muito doce, mas se colocasse as coisas desse ponto de vista, seria interpretado erroneamente pelo loirinho... e se não expusesse a sua opinião, estaria mentindo...
(Wufei) O que foi? Vai dizer que não acha o Quatre um melado?
O loirinho arregalou os olhos, e disse:
(Quatre) Além de meloso eu sou melado?!
Olhou para Trowa, esperando que o namorado viesse em sua defesa.
(Trowa) Você não é meloso. Nem melado. É a pessoa mais gentil que eu já conheci. E é por isso que eu te amo tanto.
A declaração espantou qualquer mágoa que o piloto do Sandrock poderia sentir, ao ser rotulado de "gentil", depois das comparações do chinês implicante.
(Quatre) Trowa!!
Olhava encantado para o outro.
(Wufei) Ah, não. Outra ceninha de novela eu não agüento. Por favor, nada de beijos, nem abraços e muito menos MÃO BOBA...
(Duo) Trás a major pra cá... quero ver se ele não muda de idéia...
(Heero) Ele ta mudando é de assunto!
(Duo) É mesmo! Que espertinho! O tema da conversa era: vamos deixar o Wufei envergonhado...
(Heero) Continuo falando do banheiro... foto...
Mas o chinês deu um pulo do sofá, ficando em pé, e balançando o copo com o suco que ele havia esquecido de beber.
Um pouco do liquido caiu na blusa dele, molhando e manchando.
(Wufei) Me deixem em paz, seus anormais! Tentem viver como pessoas comuns, que não precisam ficar se agarrando a cada cinco segundos... ou que não precisam de declarações de amor como cego precisa de bengala!
E depois de terminar o pequeno discurso de forma teatral, saiu para a cozinha, procurando terminar de comer seu lanche em paz.
Heero, Duo, Trowa e Quatre se entreolharam, e caíram na risada.
(Heero) Dessa vez ele se deu mal!
(Duo) Vocês viram a cara dele, quando o Heero falou do banheiro!!
(Trowa) Foi inesquecível...
(Duo arregalando os olhos) Heero...
(Heero) O que foi?
(Duo desconfiado) Como é que você sabe o que o Chang faz no banheiro?
(Heero) ...
(Duo) Como é que você descobriu?
Sem responder, Heero deu um sorrisinho amarelo, e saiu da sala rapidinho.
(Duo irritado) Ei! Não foge não! Pode vir me explicar isso ai direitinho!!
Saiu atrás do japonês.
(Trowa) Essa é boa!
(Quatre) É nessas horas que Heero gostaria de ter um namorado meloso...
(Trowa) Hum...
Olharam em direção a porta por onde Heero e Duo haviam saído. Era uma situação muito curiosa...
oOo
Heero estava sentado na cama, ouvindo o americano cantarolar no banheiro, enquanto tomava um banho.
Já que o japonês não havia se "explicado", revelando como ele sabia sobre o Wufei, Duo resolveu que iria castiga-lo. Afinal, se o soldado perfeito pode distribuir castigos a torto e a direito, por que ele também não poderia?
E para punir o namorado, Duo proibiu terminantemente que tomassem banhos juntos (apenas dessa vez, é claro! No dia seguinte o castigo já estava suspenso...).
Heero já estava de banho tomado, e aguardava ansiosamente que Duo saísse do banheiro, fato que já estava demorando a se realizar.
Finalmente o americano saiu do banheiro, e para decepção de Heero, Duo já estava seco, e bem vestido com seu pijama azul.
Terminava de secar os cabelos, e calçava um par de pantufas cinzas, com o formato de patas de urso.
Sentou-se ao lado de Heero na cama, e olhou para o japonês de forma matreira, sorrindo disfarçadamente.
(Heero) O que foi?
(Duo) Nada... só to pensando no nosso plano...
(Heero) Porque?
(Duo) Ué... eu sempre gosto de analisar bem as estratégias... o que tem de mal nisso?
(Heero) Nada...
Esticando a mão, Heero abriu o primeiro botão do pijama do garoto americano, depois parou, observando as reações de Duo.
Porém o americano sorria, como se não estivesse vendo o que Heero fazia.
Com um gesto de ousadia, Heero abriu outro botão, permitindo-se entrever muito do peito alvo do outro.
Ergueu a mão disposto a abrir o terceiro botão, mas Duo impediu-o de prosseguir.
(Duo) Pode ir parando...
(Heero)...
(Duo) Heero, sinto muito acabar com a sua alegria, mas... hoje nós precisamos descansar, não se lembra que amanhã temos uma missão muito importante?
(Heero)...
(Duo) Não adianta fazer essa cara.
Abotoou o pijama novamente, depois jogou a toalha longe. Seus cabelos ainda estavam um pouco úmidos, mas nada que incomodasse demais. E estava calor mesmo...
Deixou o corpo cair sobre a cama, e ajeitou-se debaixo das cobertas, sendo cuidadosamente vigiado pelo piloto do Gundam Wing.
(Duo) Você não vai deitar-se?
Sem responder, Heero também esticou-se na cama, passando os braços em volta do namorado, que procurou aninhar-se, posicionando a cabeça comodamente encostada no peito do japonês.
Em poucos minutos Heero pode perceber que Duo abandonava-se em um sono profundo, e tranqüilo, tal qual uma criança cheia de confiança.
Suspirando, o japonês apertou Duo nos braços, recebendo um resmungo de desaprovação.
(Heero) Ah, Duo...
Sempre que tinham uma missão, o piloto do Wing não conseguia evitar pensamentos apreensivos. Sabia que todos arriscavam a vida durante os combates, mas... o simples pensamento de que Duo poderia se ferir, ou até mesmo morrer em batalha fazia com que Heero tremesse de preocupação.
As vezes Heero tinha vontade de prender Duo em casa, deixa-lo trancado no quarto, apenas para que ele não corresse nenhum perigo pilotando seu Gundam... mas... o japonês sabia que nunca faria isso, porque o próprio Duo não o perdoaria. Afinal, ele era Shinigami...
O terrível e implacável deus da morte, que não tinha piedade de nenhum inimigo, e segurando sua foice brilhante, executava a dança da morte, cujos acordes assustadores, faziam com que os inimigos sentissem a frieza da derrota, e no entanto, era uma criatura de infinita bondade, e inigualável doçura...
Heero não resistiu, apertou-o mais ainda entre os braços, como se temesse que Duo fugisse, como se o americano pudesse acordar de seu sono e abrindo as asas fosse voar para longe, de volta ao paraíso...
Sim, era assim que Duo parecia aos olhos de Heero, quando ele sorria, ou chorava, quando estava preocupado ou descontraído...
Seu rosto sempre seria de um anjo, essa era a única explicação que Heero podia encontrar para a presença de uma criatura tão especial: um anjo caído na Terra. Um anjo de beleza inigualável, e coração tão bondoso...
Ou um anjo terrível, enviado e transformado no deus da morte, que punia seus inimigos com mãos de ferro...
Olhando para ele ali, adormecido nos braços de Heero, com os longos cabelos soltos, e espalhados sobre o cobertor, era quase impossível associa-lo a morte, ou a qualquer outro paralelo.
Heero sempre se perguntava por qual das faces de Duo havia se apaixonado, mas nunca encontrava a resposta. Pois o americano seria incompleto se lhe faltasse qualquer uma das atitudes, fosse o sorriso fácil, que lhe dava uma aparência angelical, ou fosse a máscara de deus da morte.
E o japonês sabia também que ele próprio seria incompleto, se não tivesse Duo ao seu lado. Sempre fora incompleto, um soldado perfeito, com apenas metade de uma existência...
(Heero suspirando) Ahhnnn...
Toda missão era isso, Heero sempre se preocupava com o seu Duo. Queria aquele garoto demais, para não se sentir apreensivo e...
Finalmente tomou consciência de que era tarde, e que Duo tinha razão: precisariam acordar cedo amanhã, para executar o tal plano louco do americano...
Contra vontade, Heero fechou os olhos, evitando a visão adormecida do amercano, e obrigou-se a dormir, finalmente caindo em um sono profundo e sem sonhos.
oOo
(Duo) Até aqui tudo bem...
(Heero irônico) Claro. Nós nem começamos ainda...
(Wufei) Não comecem... você podem pelo menos fingir que são pessoas amistosas, tipo dois carregadores de uma pequena empresa, sei lá...
(Duo) Unf...
(Wufei) Isso se não for pedir muito...
Heero, Duo e Wufei estavam no tal caminhão de entregas, dirigindo-se para a fábrica de plástico, enquanto Trowa e Quatre iam esconder um outro caminhão com os Gundam, para o caso de precisar. Os cinco iriam se reencontrar nas proximidades da fábrica.
A major Sally também estaria por perto, pronta para dar cobertura, e invadir o local, após a tomada pelos garotos.
Heero ia dirigindo o caminhão, ia Duo sentado ao lado do motorista, e Wufei estava bem instalado no banco de atrás.
(Wufei) Presta atenção, porque o Trowa e o Quatre devem estar por ai...
(Duo) É, eu sei...
Poucos minutos depois, puderam observar Trowa parado no meio da estrada, sozinho. Ele, assim como os outros três pilotos vestia o uniforme roubado da lavanderia, que era em tom de preto com detalhes vermelhos.
Heero estacionou o caminhão no acostamento, e abriu a porta, descendo do veiculo.
(Heero) Onde está Quatre?
(Trowa) Terminando de ajeitar a roupa, nós nos atrasamos um pouco.
(Wufei) E não trocaram de roupas juntos? Ah, é verdade... vocês dois não são como o Heero e o Duo... ainda...
Ignorando os comentários picantes do piloto do Nataku, Trowa virou-se para Heero e disse:
(Trowa) Vou ver se ele está pronto.
Afastou-se a passos largos. Wufei já estava pronto para soltar mais uma de suas piadinhas, porém o olhar que recebeu de Heero e Duo não permitiu. Acabou ficando quietinho, e engolindo suas implicâncias.
Minutos depois Trowa e Quatre surgiram, ambos vestidos com seus uniformes, e juntaram-se aos outros três garotos.
(Quatre) Desculpem a demora...
Finalmente os cinco pilotos estavam prontos, e reunidos, para cumprir a missão que lhes era confiada: invadir e se apoderar de uma fábrica da OZ, e de acordo com a vontade de Relena, fazer o menor número de vitimas possível... nada que os cinco garotos, pilotos de Gundam, não pudessem realizar.
Em silencio, entraram no caminhão, com Heero e Duo na frente, e os outros três sentados atrás.
O caminho foi feito em poucos minutos, já que a depressão ficava nas proximidades da fábrica.
Foi apenas se acercar da entrada, e o grande movimento de pessoas já se fez notar.
Heero diminuiu a velocidade do veiculo, enquanto Duo se apoderava de alguns papeis. Mal se aproximaram de uma espécie de guarita, vigiada por dois seguranças armados, e um deles se aproximou, com uma prancheta nas mãos.
(Guarda) É o código 015-B?
(Duo) É.
Estendeu os papeis para o vigia, que os pegou e leu cuidadosamente. Depois assinou, autorizando a entrada, e devolveu os papeis para Duo.
(Guarda) Está no horário. Vá pela rota 2, porque a outra entrada está em obras.
(Duo) Falou.
(Guarda) Não se esqueça de deixar a via de entrega comigo, a maioria dos motoristas esquecem, depois eu tenho que sair atrás, quebrando a cabeça...
Disse isso de mau humor, como se fosse um discurso ensaiado, e repetido várias vezes, ao mesmo tempo em que já esperava que os garotos não fossem cumpri-lo.
(Duo) Pode deixar. Eu te entrego depois.
(Guarda) Unf...
Voltou para a guarita e abriu o portão automático, enquanto Heero dava a partida no caminhão, e sob intensa observação dos dois guardas, entravam na fábrica.
Mal o caminhão atravessou o portão, um dos guardas olhou para o outro e comentou irônico:
(Guarda) Contratam gente cada vez mais nova... e dizem que isso é progresso?
Comentário aprovado pelo colega.
oOo
(Duo) Foi fácil!
Não estavam preocupados com o desvio de rota. Já sabiam das obras no setor 1 da fábrica, e até contavam com isso para uma investida mais segura, já que haveria ainda mais pessoas entrando e saindo.
Os cinco pilotos não conversavam entre si, apenas aguardando e se concentrando melhor, para que nenhum detalhe, por menor que fosse, viesse a sair fora do cronograma cuidadosamente elaborado por eles.
Depois de atravessar todo o caminho quase deserto, finalmente avistaram a fábrica.
Era grande o movimento de operários, e vigias, que iam de um lado para o outro, arrumando, movendo coisas, ou apenas aproveitando um tempinho vago, pra enrolar serviço.
A confusão de pessoas era maior, por que era o horário de troca de escala. As pessoas que haviam trabalhado a noite toda estavam saindo agora, e as pessoas que iriam rende-las estavam chegando neste momento.
Esse detalhe também fazia parte do plano dos pilotos. Heero havia calculado o momento exato da troca de turnos, e encaixado essa entrega.
(Duo) Tem mais dois caminhões descarregando...
(Heero) É... eu tinha calculado mais...
(Trowa) Aquele caminhão azul é bem grande.
(Heero) Com certeza tem muita coisa pra ser descarregada...
(Duo) Se for, não nos atrapalha em nada.
(Quatre) Mas eu programei mais uns seis caminhões para chegar depois de nós.
(Trowa) Isso vai nos dar bastante tempo.
(Wufei) Menos mal. Dá pra fazer com um pouco de calma.
(Duo) O problema maior é entrar. Depois que estivermos dentro, será fácil, e rápido!
Todos tiveram que concordar com o que o americano dizia. Por mais louco e desmiolado que ele fosse, tinha razão quanto esse ponto: se entrassem na fábrica sem chamar atenção, e dominassem os sistemas de alarme, poderiam avisar a Major Sally que vigiava as proximidades, junto com um grande grupo de soldados.
Assim poderiam finalmente dominar toda a fabrica.
Com muito calma, Heero aproximou-se da entrada, e esperou até que um dos vigias se aproximou e indicou-lhes onde deveriam estacionar.
Depois pediu os papeis que Duo levava e que foram assinados pelo guarda da entrada.
O vigia conferiu tudo, e sorriu.
(Guarda) OK. Está tudo certo. Só que nós estamos com poucas pessoas livres. Vocês terão que ajudar a descarregar.
(Duo) Sem problema.
(Guarda) Vocês vão deixar cinco caixas, não é?
(Duo) Isso mesmo. Porque, vocês precisam de mais? Se for isso, vai ser preciso um novo pedido, nossa carga já ta toda com destino certo.
(Guarda) Puxa vida, o encarregado disse que precisaríamos de pelo menos mais umas três... não dá pra liberar?
(Duo) Dessa vez vou ficar devendo amigo.
(Guarda) Paciência. Vamos ver o que a gente faz com essas ai.
Observou enquanto o homem assinava em uma linha abaixo da assinada pelo segurança da entrada, e deixava a terceira linha vaga para assinaturas.
(Guarda rindo) Entrega essa via para o cara da entrada. A maioria dos motoristas esquece, e ele fica uma fera!
Deu meia volta, afastando-se deles.
(Duo) Então, vamos lá...
Saíram do caminhão e deram a volta, a fim de pegar a tal carga. Heero abriu a porta, pegou a primeira caixa, entregando-a para Trowa. Depois entregou uma para Wufei, outra para Quatre e para o americano.
Finalmente pegou uma para si próprio, colocou-a no chão para poder fechar a porta do caminhão, tomando-a nos braços de novo.
Os cinco estavam carregando uma caixa cada um. Eram caixas grandes, desajeitadas para se carregar, se bem que eram leves.
Entraram no setor de carga e descarga da fábrica, onde haviam muitas caixas, fileiras e mais fileiras formadas por pilhas de caixas dos mais variados tamanhos e logotipos.
Misturando-se aquelas caixas, logo os garotos largaram as cargas que tinham nos braços, em um canto mais afastado, e seguiram em direção a escada, que levava realmente às instalações mais secretas da fábrica.
Evitaram usar o elevador, por que este era monitorado, e as escadas não.
Subiram os três lances de escadas, evitando passar pelos andares, pois sabiam que no primeiro e segunda andar ficavam as instalações dos funcionários, como sanitários, refeitório e recepção.
Apenas no terceiro andar é que realmente ficavam as salas de operações que interessavam aos pilotos Gundam.
O centro de comando da fábrica, onde a OZ controlava a produção de MD no subsolo, e monitorava algumas atividades dos rebeldes das colônias.
Os MD que estavam sendo fabricados realmente não interessavam a Heero e aos outros, pelo menos por enquanto, pois, se tomassem o controle da fábrica, o inimigo não teria nem chance de armar um contra ataque defensivo.
(Heero) É aqui que nos separamos.
(Trowa) Prestem atenção na segurança.
(Wufei) Já ensaiamos isso um milhão de vezes, mas... é bom garantir...
Heero abriu a porta que dava acesso ao terceiro andar.
(Trowa) Quatre, Wufei e eu iremos cuidar da sala 2, que controla a produção de MD.
(Heero) Ótimo. Duo e eu cuidaremos da sala de segurança, ou melhor dizendo, a sala 1.
(Quatre) Boa sorte!
(Duo) Pra vocês também!
Os garotos se separaram, seguindo por direções opostas do corredor.
Mal chegaram na primeira curva, onde o corredor dobrava a direita, e Heero parou, observando que havia um homem de guarda, vestindo um uniforme diferente dos usados pelos vigias lá fora. Também usava uma arma mais potente, e de artilharia mortal.
(Duo baixinho) Começam as precauções...
(Heero baixinho) Veja ali...
Apontou para uma câmera, que virava de um lado para o outro, filmando todo o corredor.
(Duo baixinho) Essa câmera não aparecia no esquema de segurança.
(Heero baixinho) Parece nova.
(Duo baixinho) O jeito é trazer esse guarda pra cá...
(Heero) Não temos outra solução...
Porém o guarda começou a mover-se sem que os pilotos pudessem esperar, e foi caminhando calmamente até onde eles estavam.
Felizmente puderam ouvir o que ele dizia:
(Guarda) Central. Tudo calmo por aqui. Vou indo até o setor dois.
- OK. Quando você chegar lá, mande o garoto de entregas pro seu lugar. É hora do moleque receber um treinamento.
(Guarda rindo) Vocês vão promover aquele pirralho?
- É... ele vai receber um treinamento com o "carrasco"...
(Guarda) Fala sério! Eu preferia um tratamento com a namoradinha dele... he, he... cinco minutos com aquela morena e... bom. Deixa pra lá, cambio...
- Cambio.
Heero e Duo se entreolharam. Não haviam entendido nada da conversa, não sabiam que poderia ser o tal de "carrasco", mas haviam entendido que durante algum tempo, aquele local ficaria sem nenhuma vigilância. Não poderiam ter sorte maior.
O guarda continuou se aproximando, com um sorriso confiante nos lábios. Com certeza estava imaginando tudo o que poderia fazer com a tal "morena", mas... ficou tudo na imaginação, pois assim que dobrou o corredor, deu de cara com Heero, e Duo, em posição de ataque.
O pobre homem só teve tempo de abrir a boca, tão grande foi o susto que levou, pois segundo depois caiu desmaiado, levando um golpe no pescoço.
(Heero) Fácil.
Arrastou o corpo inerte do homem de volta para a escada, escondendo-o atrás da porta de acesso. Com certeza ele demoraria a acordar, e ninguém o encontraria ali. Não quando estavam sempre usando o elevador. Depois se apossou da arma do homem, e de uma pistola que ele levava no bolso do uniforme. Era de bom tamanho, e poderia ser mortal se disparada de uma distancia menos longa.
Voltou para onde Duo estava, e surpreendeu-se, pois o americano já estava posicionado nos circuitos localizados no rodapé embaixo da câmera.
Duo havia aproveitado que a câmera filmava o outro lado, para aproximar-se sorrateiramente.
Muito concentrado, o americano analisava os fios e as ligações, percebendo que era um sistema tão simples, que mostrava as imagens diretamente a fonte, ao contrário da maioria, que gravava as informações, de modo a permitir acesso aleatório mais tarde.
Tomando cuidado para não desconectar nenhuma saída de dados, o americano apenas alterou o ângulo de filmagem da câmera, movendo uma alavanquinha de modo tão suave, que com certeza quem estava vigiando não iria notar diferença imediata.
Assim, a câmera que antes focalizava um pedaço do chão e parte da parede, começou a filmar apenas a parede, um pouco acima da cabeça dos dois.
Depois, fez um sinal com a mão, indicando que o japonês já podia passar.
Heero alcançou o local onde Duo estava ajoelhado, terminando de fechar o circuito, e ficou observando os movimentos do namorado, ainda surpreso com tamanha agilidade demonstrada por parte do americano.
(Duo) Não se preocupe. Essa câmera não grava sons. Apenas movimentos.
(Heero) Você estava certo. Eles não esperam uma investida por essa parte do prédio. Por isso concentraram todas as defesas na outra rota.
(Duo) Eu disse. Você nunca assiste TV... nos filmes antigos, aqueles de antes da colonização, todos os ladrões usavam o duto de ar para invadir os bancos... é tãããããoooo batido...
(Heero irritado) Não somos ladrões, e isso não é um banco...
(Duo) Eu sei, mas tem um filme que eu adoro e que...
Teria continuado, se o japonês impaciente não o tivesse pego pela mão, e puxado, atravessando o corredor.
Heero lembrou-se de entregar uma das armas que levava para Duo. Permitiu que ele escolhesse, e o americano preferiu ficar com a pistola, menor, porém mais fácil de carregar.
Com todo o cuidado, chegaram em uma espécie de saguão, amplo, porem sem nenhuma janela, onde haviam três portas.
Observaram que não estava sendo monitorada, pois com certeza os oficiais da OZ confiavam na segurança dos elevadores e no "clichê" de invadir pela entrada de ar.
Ambos sabiam que naquela parte da fábrica teriam maior liberdade. O problema era apenas chegar até ali, e... dominar a sala da segurança, pois com certeza era monitorada, e assim que colocassem o pé ali dentro, seriam descobertos.
Eram apenas suposições, pois não tinham fotos de acesso da tal sala 1, nem mesmo uma idéia de como ela poderia ser. Mas estavam preparados para qualquer eventualidade.
Mesmo que seguissem o plano de Heero, não haveria como saber o que esperar por trás da porta.
Apenas podiam fazer suposições e conjunturas, baseados em suas experiências anteriores, principalmente em instalações da OZ, onde já haviam penetrado dúzias de vezes.
Algumas eram mais fáceis, ou menos vigiadas, e tinha as que pareciam quase impossíveis de serem invadidas e, no entanto, ali estavam os cinco garotos, para provar o contrario.
Heero e Duo se entreolharam. Estavam parados atrás da porta, e apesar de tudo, estavam apreensivos e não era pra menos. Aquele receio não era em vão. Não quando o assunto envolvia OZ e MD...
Pensamentos parecidos passavam pela mente de ambos.
Sabiam que deviam entrar e dominar a sala e seus integrantes o mais rápido possível. Mesmo não sabendo quantas pessoas estavam lá dentro, nem mesmo quantas pessoas poderiam estar armadas, eles tinham que invadir o local, pois da ação rápida deles dependia o inicio dos movimentos de Trowa, Quatre e Wufei, eles estavam esperando que terminassem na sala de seguranças, para invadir a sala de controles, que no caso estaria mais movimentada.
Heero e Duo tinham consciência de que não poderiam falhar.
Não que Heero estivesse com medo. Muito pelo contrário. O soldado perfeito não temia nada nem ninguém... MENTIRA. Heero sentia-se apreensivo sim. Como em todas as missões, mas... apenas por um motivo: Duo.
Tinha muito medo, isso mesmo... Heero tinha muito medo de que Duo se ferisse, ou mesmo...
Não. Heero encarou os olhos violetas, encontrando neles muita disposição, coragem e confiança. Confiança.
Eram pilotos Gundam, acostumados a caminhar passo a passo com a morte. Não deviam temer nada... mas... no entanto...
Duo percebeu que Heero estava um tanto apreensivo, até mais do que o normal. Se bem que nada em relação a Heero podia ser considerado normal... afinal, ele ainda era Heero Yui...
(Duo) O que foi?
(Heero sorrindo) Nada... é só um... pressentimento...
(Duo) Você acha que...
(Heero) Não esquenta não... está pronto?
(Duo) Sim!
Respirando fundo, Heero abriu a porta. Para sua surpresa, havia apenas uma pessoa na sala, que estava de costas para eles, analisando vários papéis, ao mesmo tempo que controlava uma infinidade de botões e alavancas.
Talvez por causa de ser muito cedo ainda... os outros ainda não haviam chegado para assumir os postos.
O japonês olhou aliviado para Duo, e quase deu um sorriso. Com apenas uma pessoa na sala, seria infinitamente mais fácil tomar o controle.
Porem, o sorriso morreu nos lábios de Heero, antes mesmo de aparecer. O americano estava muito pálido, os olhos arregalados, e a boca aberta.
Sem entender, o japonês olhou na mesma direção que Duo olhava, focando a pessoa que estava sozinha na sala, e sem poder evitar, Heero sentiu o sangue gelar nas veias, enquanto só conseguiu pronunciar uma palavra.
(Heero) Louise...
Continua...
