Capítulo 9 – Droga Milagrosa

I want to trip inside your head
Spend the day there…
To hear the things you haven't said
And see what you might see
I want to hear you when you call
Do you feel anything at all?
I want to see your thoughts take shape
And walk right out

(U2 - Miracle Drug)

- Crucio! – disse uma voz extremamente fria. Vinha de dentro da floresta, mas não parecia estar muito longe. Gina levantou e correu em direção a voz, ela sabia para onde devia ir e sabia o que veria quando chegasse lá.

Gina sentiu um aperto no peito e rezava para que a premonição não fosse verdadeira, como as outras que ela tivera. E mesmo sabendo que isso só dependia dela, ela não tinha a menor idéia do que fazer. Chegou à clareira de onde veio o grito, e escondeu-se atrás de uma árvore. Viu um corpo caído no chão. O corpo de Draco. Ele estava se contorcendo com a dor que a maldição trazia, mas não gritava. Gina desviou o olhar e não demorou muito para achar Lúcio Malfoy, de pé ao lado do filho, apontando-lhe a varinha e rodeando-o. Ele parou de costas para Gina, o que deixou a garota muito grata, pelo menos teria menos chances de ser vista.

- Bem, Draco, já lhe avisei, - o homem disse abaixando a varinha. Draco levantou ofegante, parecendo sentir muita dor e olhou para o pai. Seus olhos estavam mais frios do que Gina jamais vira e brilhavam intensamente. Ela nunca tinha visto Draco assim, ele encarava o pai como um homem encarando outro homem, mantinha-se ereto, o peito estava um pouco estufado, tinha a cabeça erguida e estava muito sério. Ele lhe lembrava muito alguém que ela conheceu no passado, alguém que ela queria esquecer. – já lhe amaldiçoei, espero que você tenha entendido o recado. Junte-se a mim e ao seu mestre e eu esquecerei todo esse episódio e não te castigarei mais.

Draco sorriu.

- Essa nossa "conversa" só me serviu para uma coisa, pai. Só me deu mais certeza da minha decisão. Não me juntarei a vocês lunáticos, não seguirei os seus planos, não farei nada do que você quer.

- E vai fazer o que? – rosnou Lúcio. – Se unir ao Potter?

- Talvez. - disse Draco, divertindo-se com a reação do pai. – Melhor me unir a um heróizinho metido com uma cicatriz na testa a me unir a um mestiço maluco que acha que pode dominar o mundo.

- Eu lamento muito por você, filho. A partir de hoje você não será mais um Malfoy.

- Eu sou muito mais Malfoy que você, e você sabe disso. – Draco disse, com uma espécie de sorriso no rosto - Você pode me deserdar, mas eu nunca deixarei de ser um Malfoy.

Lúcio gargalhou. Era uma risada fria, que ecoou pela Floresta e fez os cabelos da nuca de Gina se arrepiarem.

- Acho que você não me entendeu, filho. Você não será mais um Malfoy, – ele disse, com desdém. – porque você não existirá mais.

Gina sentiu seu coração acelerar e sua respiração falhar. Viu que Draco não parecia ter medo, apenas ergueu o queixo para o pai e fechou os olhos esperando o inevitável.

- Avad...

- Expelliarmus! - gritou Gina rapidamente, saindo de onde se escondera e apontando a varinha para Lúcio, que por ter sido pego de surpresa, não conseguiu escapar do feitiço. A varinha dele voou a poucos metros do seu corpo e ele caiu no chão, ainda tentando processar o que estava acontecendo. Lúcio virou-se no chão e encarou-a boquiaberto, parecendo muito surpreso. Draco, atrás dele, fazia o mesmo.

Gina ignorou os olhares sobre ela, atravessou a clareira e chegou até um Draco Malfoy ligeiramente abobado.

- Weasley, o que diabos você está fazendo aqui? – ele perguntou exasperado.

- Salvando sua vida, oras. Anda logo, vamos sair daqui!

Ela puxou a mão dele e começou a arrastá-lo para fora da clareira, mas algo a impediu.

- Petrificus Totalus! – Lúcio gritou, apontando para Gina, que caiu no chão, petrificada. Ela olhou para os lados, procurando Draco, mas ele tinha desaparecido. – Garota estúpida. Você realmente acha que pode se livrar de mim tão fácil assim? Agora, onde será que se meteu o covarde do meu fi---

Mas Lúcio não conseguiu terminar a frase, porque um lobo surgiu vindo detrás de algumas árvores e pulou sobre ele. Ele travou uma luta corpo-a-corpo com o lobo, já que tinha perdido novamente sua varinha. Gina assistia a cena, estática no chão, lágrimas silenciosas caíam de seus olhos. Draco tinha fugido e a deixado ali, e se não fosse aquele lobo, ela provavelmente já estaria morta. Ficava se perguntando porque tinha se importado com Malfoy, tinha se arriscado para salvar a vida dele e assim que ele lhe retribuía, fugindo e a deixando ali, com o segundo homem que ela mais odiava, já que o primeiro definitivamente era Tom Riddle. "Ele é um Malfoy, Virgínia. Nunca se importará com alguém a não ser com ele mesmo", ela pensou, sentindo um aperto enorme no coração.

O lobo ainda lutava com Lúcio e parecia estar levando a melhor. Gina podia ver que o homem tinha sérios arranhões no rosto e fora mordido no braço. O sangue dele manchava a neve muito branca, que chegava a ficar rosada em alguns pontos. Aquela decididamente era uma visão horrível.

Lúcio por fim conseguiu empurrar o lobo para o lado, mas não lutou mais, apenas pôs as mãos nos bolsos e desapareceu. Gina não sabia como, já que ouvira Hermione dizer milhões de vezes que era impossível aparatar em Hogwarts. Mas ela não queria pensar nisso agora, não lhe importava como Lúcio Malfoy tinha desaparecido. Tudo que lhe importava era que Draco tinha deixado-a sozinha e agora o lobo estava se aproximando cada vez mais dela.

Era um lobo muito bonito e se Gina estivesse em outras condições, provavelmente ficaria maravilhada. Seu pêlo era muito branco por quase todo o corpo, exceto nas costas, onde tinha manchas cinza-prateadas. Ela fitou os olhos do lobo. Eram de um azul muito intenso e acinzentado, frios e inexpressivos, aqueles olhos lhe pareciam estranhamente familiares.

O lobo estava cambaleando e andava devagar, como se estivesse ferido. Quando chegou ao seu lado, algo muito estranho aconteceu. Aquilo certamente não era um lobo, ele estava crescendo, tomando uma forma humana.

Segundos depois, a transformação estava completa e Gina viu quem era o lobo e teve a certeza de que estaria berrando se o feitiço não a impedisse. O lobo era ninguém menos que Draco Malfoy.

- Finite Incantatem, - ele murmurou, tirando o feitiço de Gina e caindo desmaiado, logo em seguida.

A garota sentou, ainda atordoada e meio tonta e olhou para Draco, caído e parecendo muito machucado. Tinham que sair dali o mais rápido possível, então ela reuniu toda a força que tinha para fazer com que suas pernas parassem de tremer e a obedecessem. Depois de um esforço enorme, ela conseguiu levantar-se, apoiando-se em uma árvore.

- Mobilicorpus – ela murmurou, apontando a varinha para Draco e começando a fazer o caminho de volta para o castelo, com o corpo do garoto pairando no ar, ao seu lado.

Minutos depois estavam na Ala Hospitalar, sob os cuidados de Madame Pomfrey. Ela colocou Gina em uma cama, forçou-a a beber uma poção com um gosto nada agradável e desapareceu com Draco por trás das cortinas.

Gina ficou ali, apenas fitando o teto, tentando não pensar em tudo que havia acontecido. Podia ouvir Madame Pomfrey murmurar feitiços e sair detrás das cortinas vez ou outra, voltando sempre com uma poção e resmungando coisas que Gina não podia ouvir.

Depois de muita insistência, Madame Pomfrey deixou a garota se sentar ao lado da cama de Draco e ficar ali, velando o sono dele. Ele dormia com uma expressão serena no rosto, que estava mais pálido que o normal, e ela observou cada detalhe do rosto dele, desde o queixo pontudo até os finos fios de cabelo que caíam displicentemente sobre os olhos fechados.

Reparou que ele estava se remexendo na cama, parecia tremer. Num impulso, que nem ela soube explicar, segurou a mão dele que repousava sobre os lençóis. Continuava fria como sempre, talvez até mais, e ela se sentiu muito confortável ali. Tudo que podia sentir era sua mão prensada contra a dele, tudo que podia ouvir era a respiração profunda e compassada dele, tudo o que podia ver era o rosto dele, iluminado fracamente pelos raios do sol poente lá fora.

Essa era uma das horas em que ela queria saber ler mentes. Daria tudo para saber o que ele estava sonhando, o que ele pensava dela... Queria muito saber ler seus olhos inexpressivos, entender o que havia por trás das palavras frias que ele dizia. Queria conhecê-lo de verdade. Sabia que havia muito por trás da máscara de frieza e indiferença que ele vestia. Mas também havia muito separando-os.

Se ele fosse realmente o que parecia ser quando está dormindo: calmo e sereno... Seria tudo tão mais fácil se ele não fosse um babaca sonserino que só sabia insultar os outros por motivo nenhum. Na verdade, seria tudo muito mais fácil se ele não fosse quem ele era: Malfoy, sonserino, frio, arrogante... "Porque eu sinto alguma coisa por ele?" ela se perguntou, mas não encontrou resposta. Ele era o oposto dela em tudo: nos pensamentos, nos valores, nas atitudes... E a pergunta ficava ecoando na sua mente, "Porque diabos eu sinto alguma coisa por ele???"


Draco sentiu um cheiro suave de lírios, abriu os olhos e suspirou ao ter a visão cabelos vermelhos. Olhou para a garota, estava sentada numa cadeira e dormia sobre um braço posicionado na cama. A mão do outro braço estava entrelaçada à sua própria mão e a sensação de ter a mão quente dela sobre a sua era reconfortante, mas ele não queria admitir ou pensar sobre isso. Ouviu passos e fechou os olhos, não queria que soubessem que ele tinha acordado, não queria ser importunado. Sua cabeça doía e ele precisava pensar sobre tudo que havia acontecido.

Gina acordou assustada com um barulho de passos e viu Madame Pomfrey entrando no aposento. A enfermeira sorriu para ela.

- Senhorita Weasley, já está escurecendo e você está cansada. - ela disse em um tom maternal. – Vá para o seu dormitório, você precisa dormir.

Gina olhou para Draco ali, dormindo profunda e tranqüilamente. Ela passou a mão no rosto dele, tirando uns fios que caíam sobre seus olhos fechados. Ele estremeceu com o toque dela, mas ela não percebeu.

- Eu queria estar aqui quando ele acordasse...

- Eu sei, mas você precisa dormir um pouco. Vamos, eu te levo até a porta.

Ela não disse nada. Queria ficar ali e esperar que ele acordasse, mas estava cansada.

- Façamos assim: - sugeriu a enfermeira – você vai dormir e assim que ele acordar eu mando-lhe uma coruja e você pode vir aqui amanhã, depois do café para vê-lo.

Gina finalmente cedeu. Olhou para Draco novamente, apertou a mão do loiro e saiu da enfermaria seguida por Madame Pomfrey.

Draco abriu os olhos novamente e ficou olhando para o teto. Repassou mentalmente tudo que havia acontecido, sem saber o que pensar daquela situação. Seu pai tentou matá-lo e fora salvo por uma Weasley, duas ações totalmente impensadas e inesperadas por ele. Seu pai podia odiá-lo, deserdá-lo, mas ele nunca pensou que ele tentaria matá-lo. "Não é como se ele fosse o melhor pai do mundo mesmo..." ele pensou sem remorsos.

Agora porquê aquela Weasley tinha salvado sua vida era o que o intrigava. Ela não podia! Porque ela não o tinha deixado morrer ali? Não que ele quisesse morrer, é claro que não, mas ele não queria ter sido salvo por ela. E por quê ela tinha ficado ali, velando o sono dele? Por quê queria voltar? Por quê estava preocupada com ele? Ela não devia estar fazendo isso, ela devia odiá-lo, assim como ele a odiava.

"Mas você não a odeia" dizia uma voz chata no fundo de sua cabeça, que ele se recusava a ouvir. Durante toda a vida ele fugiu de sentimentos e compromissos, eles só complicam tudo. Seu envolvimento - se é que se pode chamar assim - com ela começou por pura diversão, ela não era de se jogar fora afinal das contas, mas ele havia esquecido de que ela era uma Weasley, uma grifinória, tudo que ele sempre odiou. "Tudo o que seu pai sempre te disse para odiar" disse a mesma voz chata que ele ignorou novamente.

Ele bufou e fechou os olhos. Sua cabeça estava começando a doer novamente e pensar parecia ser um esforço enorme, maior do que ele queria fazer agora. Achou melhor dormir, não adiantava nada pensar nessas coisas agora. Virou para o lado e dormiu um sono pesado, cheio de pesadelos.


- GINA! – gritou Rony, assim que ela entrou na Sala Comunal. Ele atravessou a sala rapidamente e segurou o rosto dela entre as mãos. – Você está bem? O que você estava fazendo na Ala Hospitalar?

- Eu estou bem Rony, eu só...

- Você não parece bem, você está pálida! – ele exclamou, rouco.

- Rony, deixe a garota respirar, - ralhou Hermione ao chegar junto com Harry e Rebeca. Gina sorriu.

- Obrigada, Mione. Agora, como eu ia dizendo, eu estou bem, foi só um mal estar, não precisa ficar preocupado.

- Como se eu não fosse me preocupar com o que acontece de errado com a minha irmãzinha!

- Claro que você se preocupa... – ela disse num tom irônico e notou, satisfeita, que ninguém tinha reparado. - Eu estou cansada, vou subir e dormir, se vocês me dão licença. - ela disse secamente, subindo as escadas para o dormitório logo em seguida, muito irritada.

Entrou no quarto vazio e se sentou na sua cama.

- Hipócrita! – ela exclamou com raiva, jogando um travesseiro no chão e abraçando os joelhos.

- Ok, você pode me explicar porque o súbito acesso de raiva?

Gina ergueu os olhos para a porta.

- Beca... Eu não tinha visto que você estava atrás de mim... – ela suspirou. – Não é nada, é só o Rony com toda essa preocupação fingida.

- Fingida? – perguntou Rebeca, sentando-se do lado de Gina. – Olha, eu vi o estado dele quando ficou sabendo que você estava na Ala Hospitalar. Não parecia nem um pouco que era atuação.

- Não estou falando que é atuação. É só que... Bom, o Rony não sabe muito do que acontece na minha vida não é? Ele só se preocupa quando eu estou doente ou então quando eu me machuco. Não é como se ele fosse o irmão mais presente do mundo, na maioria do tempo ele nem me nota.

- Ah, Gina, não diga isso. Você sabe que não é assim. – Gina encarou Rebeca. – Hum, certo, talvez ele não seja lá um irmão muito presente, mas ele se preocupa com você, não seja injusta.

- Não estou reclamando e eu não me importo, já me acostumei com isso. E contanto que um diário amaldiçoado não caia nas minhas mãos de novo, ele não tem com o que se preocupar mesmo. – ela disse e logo em seguida começou a rir. Rebeca a encarou friamente.

- Sabe, isso não é nem um pouco engraçado.

- Eu sei, eu sei... - ela disse, tentando parar de rir. – Mas é preferível rir de algumas coisas... Ah, esquece. Como foi o dia em Hogsmeade?

- Foi bom, fomos ao Três Vassouras, fizemos compras na Zonko's, o de sempre. Você podia me contar porque passou o dia na Ala Hospitalar, sabia?

Gina hesitou. Ela esperava que Rebeca esquecesse isso, não se sentia pronta para falar sobre o assunto.

- Ah... é... – ela começou, sentindo um nó na garganta. – A premonição...

- Não me diga que o Malfoy está...

- Não, não! – ela suspirou, se ajeitou na cama e contou para Rebeca todo o ocorrido na Floresta.

- Nossa! – exclamou a garota, depois de ouvir atentamente a toda a história. – Mas ele está bem?

- Madame Pomfrey me disse que está. Ela disse também que eu posso visitá-lo amanhã.

- E você tem alguma idéia do que vai dizer a ele? – Rebeca perguntou.

- Não e eu realmente não queria pensar nisso agora.

- Certo, certo. Eu já te enchi o saco demais por hoje, - Rebeca disse, levantando. – Vá dormir, você deve estar precisando descansar.

- Estou mesmo... Boa noite. - murmurou Gina, trocando de roupa e entrando debaixo dos lençóis.

- Boa noite. - murmurou Rebeca, saindo do quarto e fechando a porta.


Gina acordou cedo na manhã seguinte, o sol tinha acabado de nascer e suas companheiras de quarto ainda estavam dormindo. Ela tomou um banho rápido e desceu para tomar café da manhã. O Salão Principal estava praticamente vazio e ela sentou num canto da mesa da Grifinória, esperando ansiosamente pela carta de Madame Pomfrey.

As horas passaram e ela resolveu sair dali antes que o Salão enchesse ou então encontrasse algum conhecido. Saiu andando sem rumo pelo castelo, e não se surpreendeu ao se ver em frente à Ala Hospitalar. Bateu na porta e esperou.

- Bom dia, Srta. Weasley, - disse Madame Pomfrey, colocando o rosto para fora da porta.

- Bom dia... Eu posso entrar, Madame Pomfrey?

- Ah querida, sinto muito, mas não. O Sr. Malfoy me pediu para não ser incomodado por ninguém.

- O--o quê?

- Isso mesmo. - disse a enfermeira, parecendo desolada – Ele disse que não quer receber visitas, mas não se preocupe porque ele---

Mas Gina não ficou ali para ouvir o que a enfermeira falava, deu meia volta e saiu andando. Sentia raiva, quem aquele Malfoy pensava que era para tratá-la assim? Rony tinha razão quando xingava o sonserino, ele realmente era um babaca.

Saiu do castelo e rumou para seu lugar favorito na orla do lago, perto da Floresta Proibida. Sentou-se num tronco de árvore caído e ficou ali, admirando a superfície lisa do lago congelado, sem se importar com a neve que caía ou com o vento gelado que batia em seu rosto. Aquele era seu lugar secreto, desde o primeiro ano ia ali quando queria pensar ou ficar sozinha. Costumava escrever em seu diário ali também, mas era melhor não pensar nisso agora. Era melhor esquecer Tom.

- Gina? – chamou Rebeca, horas depois. – Você está aí?

- Tô... – respondeu Gina, virando-se para ver a amiga passar por entre as árvores e os troncos caídos.

- Nossa, você vai congelar aqui! – disse a amiga, esfregando as mãos nos braços. – Vamos lá pra dentro.

- Agora não, Beca. E você não devia estar com o Harry agora, brincando na neve e fazendo coisas de casal?

Ela suspirou e sentou ao lado de Gina no tronco.

- Eu não te falei ontem, mas Harry e eu não estamos saindo mais.

- Não? – Gina perguntou, chocada. – Por quê?

- Ah, Gina...Não ia dar certo! Nós somos diferentes demais e eu não gosto dele.

- Sei que você não gosta dele... – Gina disse, sarcástica. Rebeca suspirou.

- Eu gosto dele, mas não dá certo, ele é muito cheio de segredos e de mistérios e eu não gosto disso.

- É, eu sei... Mas você podia dar uma chance pra ele, não?

- Eu já dei, Gina...

- Podia dar outra... – Rebeca lhe lançou um olhar e ela levantou os braços, em sinal de rendição. – Certo, certo, não toco mais no assunto. Mas eu sinto muito por vocês.

- Nah, não sinta, foi melhor assim. Vamos entrar? Já está na hora do almoço.

- Já? Pode ir, eu não estou com fome.

- O primeiro sinal de que está apaixonada é a perda da fome... – insinuou Rebeca, com um tom inocente.

Gina a olhou de soslaio e levantou, subitamente.

- É por isso que eu estou morrendo de fome. Vamos! - ela disse, puxando Rebeca e voltando para o castelo.

O Salão Principal continuava vazio e Gina estranhou o fato.

- Porque o Salão está tão vazio?

Rebeca a olhou como se ela tivesse duas cabeças.

- Férias de Natal, esqueceu? Os alunos voltaram para casa hoje cedo.

Gina se sentiu muito estúpida, como tinha esquecido de que o Natal era daqui a poucos dias?

Almoçaram e voltaram para o Salão Comunal da Grifinória, praticamente vazio também. Sentaram nas poltronas perto da lareira para se aquecerem e ficaram jogando xadrez bruxo. Algum tempo depois, Harry apareceu na escada para os dormitórios e foi até onde as meninas estavam.

- Oi Harry. - cumprimentou Gina, sem tirar os olhos do seu bispo que travava uma luta com uma torre de Rebeca.

- Oi... Vocês viram o Rony e a Hermione por aí?

Gina ergueu os olhos para ele.

- Não, por quê?

- Eles sumiram! Depois do almoço disseram que tinham umas coisas pra resolver e desapareceram.

- Xeque Mate, Gi.- disse Rebeca, fechando o jogo de Gina com sua rainha. – Isso é estranho, não é a primeira vez que eles somem assim, é? Lembro outro dia, você comentou que eles tinham desaparecido.

- É, eles tem andado meio estranhos mesmo... Posso? – ele perguntou, indicando com a cabeça o jogo de xadrez.

Rebeca abriu a boca para responder, mas Gina foi mais rápida e levantou-se da poltrona.

- Pode! Senta aqui. – ela disse, empurrando Harry numa poltrona e ignorando o olhar mortal que Rebeca lhe lançou. – Eu tenho, hum... Umas coisas pra resolver, vejo vocês mais tarde. - E dizendo isso, saiu pelo buraco do retrato, não sem antes dar uma piscadela para Harry, que retribuiu sorrindo.

E lá estava ela de novo, vagando sozinha pelos corredores frios de Hogwarts, rumo à Ala Hospitalar. Bateu na porta e esperou. Nada. Quando ia bater de novo, a porta se abriu com violência e ela recuou. Draco Malfoy saiu de lá, caminhando apressadamente seguido pela enfermeira, ofegante.

- Sr. Malfoy! O senhor não está completamente curado ainda! Tem que ficar mais uma noite aqui! – ela gritou.

- Eu estou ótimo, não vou passar mais um minuto nessa enfermaria. – ele disse secamente e virou às costas.

A enfermeira ficou ali, resmungando qualquer coisa sobre como os jovens de hoje eram inconseqüentes, mas Gina não ouviu, deu meia volta e seguiu Draco. Era agora ou nunca.

- Draco. - ela chamou, colocando uma mão no ombro dele e fazendo-o virar para encará-la. Os olhos dele estavam frios e distantes como sempre. – O que foi aquilo lá na Floresta? – "Isso Gina! Ótima abordagem!" pensou com raiva.

- Eu preferiria esquecer aquilo que se passou na Floresta, se você não se importa Weasley. – ele disse, virando de costas para Gina e voltando a andar. Ela o seguiu.

- Espere, eu quero falar com você.

- Mas eu não quero falar com você. – ele disse secamente, sem parar de andar ou virar para encará-la.

- Deixe de ser teimoso. - ela sibilou, puxando-o pelo braço de novo e fazendo-o encará-la. – Eu só quero que você me ouça.

- Eu não tenho nada pra ouvir.

- Você pode me dizer porquê diabos você está sendo tão grosso comigo?

- E você pode me dizer porquê diabos você teve que entrar naquela clareira e salvar minha vida?

- Porque era o certo, Malfoy. Eu tinha que fazer alguma coisa, não podia deixar você morrer.

- Claro, a famosa coragem Grifinória que flui no seu sangue! Você é patética, Weasley! – ele exclamou - Uma grifinória patética. Você olha o mundo e acha que pode fazê-lo melhor, você vê alguém sofrendo e corre para ajudar. Você é uma maldita grifinória que não tem medo de nada!

- Corajosa, eu? Deixe de ser estúpido, Malfoy! Eu tenho medo de tudo! Eu tenho medo do que eu fiz no passado, tenho medo da pessoa em que eu estou me tornando, tenho medo da morte, de perder as pessoas que eu amo... Tenho medo de tudo! E agora principalmente, tenho medo de ir embora daqui e nunca mais sentir o que eu sinto quando estou você!

Ela se afastou, sem romper o contato visual. Céus, como ela queria saber o que ele estava pensando e sentindo, o que havia por trás daqueles olhos cinzentos.

Ele a encarou como se estivesse encarando uma mancha em um tapete persa e ela nunca esqueceria aquele olhar. Não era só o olhar habitual de desprezo que sempre passava pelo rosto de Draco, havia algo mais. Uma mistura de desprezo, ódio, confusão e mais um turbilhão de sentimentos que ela não conseguia nem queria identificar. Sentiu-se péssima. O que ela esperava? Que ele saísse da enfermaria e corresse para os seus braços? Não, ele nunca faria isso. Ele era Draco Malfoy, aquele que sempre a desprezou e odiou, e deveria ser assim para sempre.

- Ah, esquece... No que eu estava pensando? Eu sou patética mesmo, mas não por ser uma grifinória e sim por ter acreditado e mantido esperanças de que você realmente podia ser diferente. Vejo que estava enganada, você continua sendo o mesmo garoto mimado e eu a mesma pobretona cheia de irmãos. Agora podemos voltar a nos odiar. Não! Melhor dizendo: agora eu posso voltar a te odiar, porque pelo que eu pude ver, você é tão insensível e frio que nem odiar deve conseguir.

Ela virou às costas e saiu, jurando nunca mais pensar ou falar com ele. "Nunca mais".


N/A: É, eu acabei demorando, x) mas em compensação o capítulo ficou grande... ) espero que tenham gostado!não tenho muito o que dizer. a fic tá acabando, só tem mais dois capítulos. o próximo já tá escrito e o outro já tá quase todo na cabeça. mas não sei quando posto, tenho que mandar pra Ana betar ainda...

Como sempre, muito obrigada pelas reviews! o/ elas continuam me deixando muito feliz, hehehe... Raisa Rechter, Mah Lestrange e Mille-Chang, Ronnie Weezhy, Princesa Chi, miaka, Kika Felton-87, Lua Lupin, Ana Luthor , NaiRiNHa HP e Bebely Black. E Nairinha HP (de novo o/) pelo e-mail.

Hum. é. acho que é isso. Agradecimentos finais, Ana Luthor fofíssima por betar pra mim e me aturar, e Nairinha HP por existir e me aturar também, hehehe...

Beijos. Feliz Natal, Feliz Ano Novo! bleh, eu odeio esses clichês, >P