Capítulo Dez – Acordando
Yesterday was a million years ago
In all my past lives I played an asshole
Now I found you, it's almost too late
And this earth seems obliviating
We are trembling in our crutches
High and dead our skin is glass
I'm so empty here without you
I crack and split my xerox hands
(Marilyn Manson – Last Day on Earth)
Ele observou-a ir embora e sentiu alívio e um peso no estômago ao mesmo tempo. O que seria aquilo? Culpa? Não, não podia ser culpa, Malfoys não se sentem culpados, muito menos por magoar Weasleys. Mas o que ele tinha feito? Ela não podia esperar que ele se jogasse nos braços dela em gratidão, ele nunca faria isso. "Você poderia ter demonstrado alguma gratidão", disse aquela voz intrometida que ele estava começando a odiar.
Virou as costas e caminhou para as masmorras, para o Salão Comunal da Sonserina. Estava vazio, a maioria dos sonserinos tinham ido para suas casas para passar o Natal. Lembrou-se de quando ele se sentia feliz em ir para casa, quando adorava aqueles jantares cheios de gente importante, rica e do círculo íntimo dos comensais. Nessa época ele ainda admirava seu pai e seu sonho era ser um comensal como ele. Parecia tão estranho para ele pensar que há dois anos atrás seus planos para o futuro se resumiam em ser tudo o que seu pai era, enquanto hoje, tudo o que ele queria era não ser o que seu pai era.
Sentou-se numa das poltronas verde-musgo do salão e ficou fitando o fogo. Ignorava os poucos sonserinos que ainda estavam l�, rindo, conversando e jogando algum jogo qualquer. Horas depois, o salão ficou vazio e ele se levantou para ir dormir.
- Draco!
Ele se virou assustado e viu o rosto da sua mãe, pairando no fogo da lareira. Andou rapidamente e se sentou na poltrona novamente.
- Mãe! O que você está fazendo aqui?
- Ora, também estou muito feliz em vê-lo, filho. – ela disse, severa. Mas quando falou novamente, seu tom de voz foi brando e preocupado. – Como você est�?
Draco abriu os braços.
- Inteiro, como você pode ver. Meu... – ele pausou por um momento e se corrigiu. - Lúcio sabe que você está falando comigo?
- Não, claro que não. Ele saiu, foi em uma daquelas reuniões... Não deve voltar tão cedo. – ela disse calmamente. – Eu não posso acreditar que ele tentou te matar. Nunca pensei que ele fosse chegar a esse ponto.
- Como você sabe- Draco perguntou, erguendo uma sobrancelha.
- Dumbledore me mandou uma coruja... – ela disse simplesmente, parecendo não querer aprofundar no assunto. – Filho, posso te fazer uma pergunta?
- Outra? – ele perguntou, erguendo uma sobrancelha e Narcisa sorriu.
- Sim, outra. Como você conseguiu escapar dele?
Draco gelou. Não queria responder essa pergunta para ela, não queria admitir nem a si mesmo que tinha sido salvo por uma Weasley. Mas não poderia mentir para sua mãe. Ela o conhecia melhor até que ele próprio e saberia que ele estava mentindo. Ela sempre sabia e sempre ficava zangada, e ver Narcisa Malfoy zangada não era nem um pouco agradável.
- Alguém me salvou quando ele ia lançar o feitiço.
- Alguém? – ela perguntou, desconfiada.
- Uma garota.
- E essa garota não tem nome? Ou você não quer me dizer o nome dela?
- O nome não importa, mãe. O que importa é o sobrenome, não é?
- Não me diga que foi uma nascida trouxa! – ela perguntou e Draco podia ver que ela estava se divertindo muito com a situação.
- Pior. Uma Weasley. – ele disse, afundando o rosto nas mãos.
Narcisa riu, riu muito, algo que fez o seu rosto parecer dez anos mais jovem, livre das marcas da prisão que foi seu casamento e dos longos anos de infelicidade ao lado do marido. Draco se controlou para não explodir com a reação da mãe, não precisava de alguém para rir dele e da situação em que se encontrava.
- Eu fico imaginando a reação do seu pai ao saber que uma Weasley impediu seus planos.
- Ele não deve tê-la reconhecido. É, eu sei,"cabelos vermelhos, sardas e vestes de segunda mão" - ele completou, ao ver a expressão de descrédito no rosto de sua mãe. - Mas foi tudo tão rápido que ele não deve ter processado a informação.
- Entendo... Mas então agora você está em dívida com uma Weasley?
- Na verdade, não. Eu salvei a vida dela num jogo de quadribol no começo desse ano, então pode-se dizer que estamos quites- ele disse, sem emoção.
- Então porque esse fato lhe incomoda tanto? Você se importa tanto com sangue quanto seu pai, não é?
Draco ergueu uma sobrancelha.
- E você por acaso não se importa?
- Não tanto quanto vocês. O fato de um bruxo ter família tradicional ou não, não interfere em nada em seu caráter ou na sua capacidade de fazer magia.
Draco bufou.
- Parece até o Dumbledore falando- ele caçoou, recostando a cabeça no encosto da cadeira.
- Não use esse tom comigo, mocinho. Eu devia ter tirado essas idéias absurdas que seu pai pôs na sua cabeça há muito tempo atrás, quando você ainda era criança. Não que suas atitudes sejam muito diferentes agora - ela ignorou o olhar que ele lhe lançou – mas eu era uma tola, achava bonito você desejar ser como seu pai...
- Você... - ele hesitou. - Você algum dia o amou?
- Claro que sim! Você acha que eu me casaria com ele se não o amasse? Na época eu era uma jovem tola que me deixei levar. E seu pai era muito diferente, Draco, você não iria entender, não o conheceu naquela época. Mas me casei não só porque eu o amava, casei-me porque era o certo.
- Para manter a linhagem sangue-pura.
- Também. Eu não iria simplesmente deixar minha família me deserdar por um nascido trouxa qualquer. E do que você está reclamando então? Você foi salvo por uma Weasley, ela é puro-sangue.
- Uma traidora do próprio sangue, você quer dizer.
- Você não disse que vocês estão "quites"? Porque tanta preocupação?
Ele não respondeu.
- Talvez não seja isso que esteja te incomodando. - ela insinuou. – Porque você salvou a vida dela no começo do ano?
Ele não respondeu novamente. Não sabia o que responder, na verdade. Porque tinha se arriscado para salvar a vida dela? Aliás, porque ele ficou observando-a voar tantas vezes naquele dia? Talvez pelo modo suave como ela se movia no ar, como se tivesse nascido para voar. Ou talvez pelos raios de sol que iluminavam seu cabelo, fazendo-o brilhar. Ou então a expressão adoravelmente determinada que ele viu no seu rosto e que o encantou, fazendo-o esquecer por um minuto quem ela era.
- Não sei, foi como um reflexo, eu a vi caindo e a segurei.
- O que te aflige, então?
- Eu não sei, mãe! Não sei! – ele exclamou, levantando-se da poltrona e começando a andar em círculos na frente da lareira. – Eu não sei porque a salvei, não sei porque a beijei, não sei porque ela não sai da minha cabeça! E porque diabos você está sorrindo?
- Agora eu entendi o seu problema. Você gosta dessa garota.
- Eu o quê? Não, nunca! Você está enganada.
- Torça para eu estar, Draco. Torça para eu estar... – ela disse calmamente. - Tenho que ir agora, vim só ver se você estava bem mesmo. Assim que puder, eu entro em contato com você de novo. Cuide-se e agradeça a essa Weasley por mim.
Ela piscou e sorriu para ele, mas antes que ele pudesse responder qualquer coisa, ela desapareceu, deixando a Draco nada a não ser dúvidas.
Sangue. Gritos. Gargalhadas.
Pessoas corriam para todos os lados, feixes de luz vinham de todas as direções e ele se sentia perdido no meio daquilo tudo.
- Draco- disse um homem mascarado – Venha comigo.
Ele não ousou desobedecer, era como se seu cérebro estivesse desligado e não pudesse contestar. Não havia absorvido todo aquele horror ao seu redor ainda. Seguiu o pai, que entrou em um beco. Podia ver sua sombra refletida nos muros a cada feixe de luz que passava por detrás dele e aquela visão por algum motivo lhe deu arrepios. Lúcio Malfoy parou de caminhar quando chegaram no fim do beco, e Draco examinou o local. Havia latas de lixo abertas e enferrujadas num canto e no outro, havia um monte de roupas e papelão.
- Levante-se- ele ordenou e Draco constatou, chocado, que não era um monte de roupas. Era uma criança.
Ela se levantou, apoiando-se na parede, parecendo assustada demais para desobedecer. Ele observou a garota, não devia ter mais de seis anos, tinha os cabelos castanhos claros cacheados, olhos azuis e pele clara. Pareceria uma boneca de porcelana se não estivesse tão suja e com roupas esfarrapadas. Tinha um arranhão na bochecha rosada, abraçava fortemente uma boneca de pano, e olhava amedrontada para Lúcio.
- Agora, Draco, Vou lhe ensinar como se faz o serviço. Crucio – ele sibilou, apontando a varinha para a garota.
Ela berrava e chorava de dor enquanto se contorcia no chão. Draco sentiu-se extremamente enjoado e seu corpo inteiro ficou frio, como se o sangue tivesse parado de correr por suas veias.
Lúcio abaixou a varinha e a garota parou de gritar. Agora chorava e gemia baixinho, ainda tremendo no chão. Ele repetiu o feitiço de novo e de novo, até a garota parar de gritar, tremer e se tornar tão branca quanto a neve que cobre os pátios de Hogwarts no inverno.
- Você viu como é o trabalho- explicou Lúcio, sem emoção. – Faça-os sofrer e se divirta com isso. Agora v�, ainda temos – ele consultou o relógio - uma hora antes que o Ministério saiba que há algo de errado por aqui. Vá e se divirta, filho.
E dizendo isso ele deu as costas e saiu do beco, deixando Draco. Ele não conseguia se mover, sentia-se sujo, doente ao observar o corpo da garota sem vida ali no chão. Aproximou-se e ajoelhou-se ao lado dela. Pouco lhe importava as pessoas gritando e correndo fora daquele beco, ele não conseguia ouvi-las nem vê-las. Tudo se resumia naquela pequena boneca de porcelana de olhos vidrados a sua frente.
Acordou suado e assustado. Levou um tempo para se lembrar que aquilo não era real, que fora só mais um pesadelo. Aquele pesadelo, de novo. Aquelas cenas que ele tentava por tudo esquecer quando estava acordado voltavam sempre à sua mente quando estava dormindo. Aquela garotinha... Ele tinha deixado aquela garotinha morrer, não conseguiu parar seu pai, não conseguiu fazer nada.
Foi naquele dia, numa quente noite de verão, que ele decidiu que não iria ser um comensal como seu pai. Ele podia não ser bonzinho, mas não era frio o suficiente para assassinar daquele jeito. Os gritos da garota ainda ecoavam em sua mente todas as noites, quando ele acordava. Ele nunca iria admitir pra ninguém, mas ele fora um covarde. Um covarde por assistir seu pai fazer aquilo e não ter feito nada para impedir. De certo modo, ele a tinha matado também, e ele nunca iria se perdoar por isso.
Levantou-se, foi até o banheiro e lavou o rosto. Ficou olhando seu reflexo no espelho extremamente pálido, enquanto se perguntava se algum dia iria se livrar daquele sentimento de repugnância e impotência que o consumia por dentro. Fechou os olhos, tentando se lembrar da última vez que tinha dormido completamente até o sol nascer. E para a sua surpresa, a lembrança veio acompanhada de cabelos vermelhos e olhos castanhos e brilhantes.
Lembrou-se daquele dia na enfermaria, quando dormiu com aquele cheiro de lírios e com o corpo quente dela encostado no seu. Lembrava-se e sentia a sensação perfeitamente bem, como se tivesse sido ontem quando na verdade tinha sido há dois meses atrás. Dois meses... Há dois meses eles se encontravam nessa relação, se é que se pode chamar de relação, e ele estava confuso como nunca esteve em toda a sua vida.
Olhou para a sua própria mão mergulhada na água e lembrou da pequena mão dela e da sensação reconfortante que sentiu quando a mão dela estava entrelaçada à sua. Porque aquela sensação era tão prazerosa? Porque ele tinha necessidade de encontr�-la nos corredores, de olhar nos seus olhos toda vez que podia, de insult�-la só para vê-la irritada? E pior, porque ele tinha essa vontade inexplicável de beij�-la toda vez que a via? "Por Merlin, ela é uma Weasley!" Ele não deveria estar sentindo isso por uma Weasley. Na verdade, ele não deveria estar sentindo isso por garota nenhuma! Malfoys não se sentem vulneráveis por garota nenhuma, geralmente as garotas se sentiam vulneráveis por causa dele.
Molhou o rosto na água gelada mais uma vez e apoiou a cabeça nos cotovelos, encostados na bancada de mármore da pia. Era só o que lhe faltava, sua mãe estava certa e pela primeira vez na vida ele estava gostando de alguém além dele mesmo. E o que lhe atormentava mais, não era o fato de ela ser uma Weasley, mas sim o fato de que ele realmente fora um babaca com ela e agora ela não iria querer nem olhar para ele.
Endireitou-se e olhou no espelho novamente, arrumando os cabelos, que estava caindo sobre seus olhos. O que ele estava pensando? Ele era Draco Malfoy, afinal das contas. Ele sempre conseguia o que queria. E agora ele queria aquela ruiva, e iria tê-la. "Custe o que custar..."
N.A.: Ok, ok. podem me matar. eu demorei séculos pra postar esse, hehehe... desculpem. mas fim de ano, viagens, volta as aulas... e ainda por cima eu tive que formatar meu pc por causa de um vírus e perdi esse capítulo e metade do próximo, que já estava pronta. acabei de reescrever esse e já estou postando. tá até sem betar, porque eu tava agoniada demais pra postar ele e porque eu acho que a aninha merece umas férias, hehehe...
eu não gostei muito desse, foi chato e bem clichêzinho. mas pelo menos agora vocês já sabem o que eram os "sonhos" que o Draco tinha. espero que vocês tenham gostado pelo menos um pouquinho, enão me joguem pedras e tomatesx)
Brigada pelas reviews, Kika Felton 87, Aline Nascimento,miaka,Carol Malfoy Potter, Nairinha HP, Lua Lupin, Raul e Princesa Chi... espero não ter esquecido ninguém. x)
o próximo eu não sei quando sai. é o último e não tá escrito ainda. acho que deve demorar um pouco... vou me esforçar ao máximo pra não demorar, porque ele tá quase todo pronto na minha cabeça.
anyway, é isso. espero que não tenham achado tão ruim assim!
