CAPÍTULO II
Um Aniversário Diferente
Ao entrar na cozinha, Harry deparou com o mesmo espectáculo de todas as manhãs: o tio Vernon e Dudley comiam que nem uns famintos, enquanto a tia Petunia que, provavelmente, já tomara o pequeno-almoço, olhava embevecida para o filho, cujas banhas saíam por todos os buracos da cadeira onde estava sentado.
-Até que enfim! - Exclamou a tia Petunia, ao dar de caras com Harry. - Pensei que tinhas decidido não tomar o pequeno-almoço. Infelizmente, parece que me enganei.
Harry encolheu os ombros, feliz demais para responder à tia e não pode esconder a sua satisfação quando, ao olhar para a mesa, viu um frasco cheio de um delicioso doce de morango.
Foi óbvio que Dudley reparou no olhar de gula de Harry para o doce, porque imediatamente pegou no frasco, disposto a guardá-lo com a própria vida, se preciso fosse, e, com ar de troça, exclamou para Harry:
- Nem penses!
O tio Vernon e a Tia Petunia não puderam evitar umas sonoras gargalhadas, enquanto Harry rolava os olhos e se sentava à mesa, na frente de Dudley.
Foi então que se ouviu um "ploc" e um homem alto, magro e meio careca surgiu do nada, no meio da cozinha. A tia Petunia soltou um grito abafado, o tio Vernon exclamou "Oh!" e o Dudley deu um salto na cadeira (ou melhor, com a cadeira), com o susto. A cadeira balançou, balançou e caiu no chão, com Dudley preso nela.
- Outra vez?! - Perguntou Harry ao primo, sem esconder o riso, para logo ser fulminado pelo olhar furioso da Tia Petunia, que correu para tentar retirar o filho da cadeira, gemendo:
- Meu querido! Lindinho da mamã, estás bem?
- Tira-me daqui! - Berrava Dudley, furioso.
- Estou a tentar! - A tia Petunia estava realmente aflita. - Vernon, ajuda-me aqui!!
O marido, que continuava embasbacado, olhando para o recém-chegado, saiu do seu estado catatónico e correu para junto da mulher, tentando ajudá-la a arrancar o filho da cadeira, enquanto Harry, ignorando o que se passava entre eles, abraçava o homem que aparecera do nada:
- Mr. Weasley! Que surpresa boa!
- Olá, Harry! - Disse Arthur Weasley, pai de Ron, sorrindo. – É tão bom ver-te!
- É mesmo muito bom vê-lo também! - Concordou Harry. - Que belo presente de aniversário! Mas... diga-me o que o trás aqui.
- Oh, sim! Isso! - A expressão do rosto de Mr. Weasley alterou-se por completo, de alegre para preocupada. - É que... bom... o Ron... ele...
Foi a vez de Harry se preocupar:
- O que foi que aconteceu ao Ron? - Inquiriu. – Diga-me!!
Arthur pigarreou, antes de falar:
- O Ron está doente. Ele precisa de ti.
Harry empalideceu, branco como cera, como se todo o seu sangue tivesse fugido e só conseguiu murmurar:
- Eu vou até lá, agora!
- Vem, sim, Harry. - Pediu Arthur. - Vamos pela rede de Floo. Trouxe o pó comigo. Quando soube que os teus tios tinham mandado destapar a lareira outra vez, não hesitei em vir desta forma.
- Eles fizeram isso porque achavam que o senhor nunca voltaria a repetir a proeza! – Respondeu Harry, sorrindo, embora preocupado com o estado de Ron.
Quando o Tio Vernon, finalmente, conseguiu arrancar Dudley da cadeira e se voltou para destratar o recém-chegado, ele e Harry já tinham desaparecido dentro da lareira.
Harry já não se lembrava muito bem da sensação de viajar pelo método do Pó de Floo, mas, naquele momento, percebeu que não era muito agradável. Uma sensação estranha no estômago e... e finalmente ele estava na casa dos Weasley. Na sua frente, toda a família, incluindo Ron com o ar mais saudável do mundo e Hermione também, exclamaram em uníssono:
- Parabéns, Harry!
Todos correram a abraçá-lo. Harry abraçou Ron com toda a sua força, dizendo, entre risos:
- Achei que estavas doente, pá! Vim a correr, morto de preocupação... O teu pai paga-me!
Arthur soltou uma gargalhada:
- Não me culpes. - Disse ele. - A ideia foi da Ginny.
Harry fitou o olhar em Ginny, que acabava de presenteá-lo com um beijo em cada bochecha. Crescera muito desde o primeiro dia em que ele a vira. Ginny tornara-se uma adolescente linda, com os seus olhos azuis contrastando com os longos cabelos cor-de-fogo e umas sardas engraçadas, que lhe salpicavam o nariz.
- Culpada! - Riu Ginny. - Mas foi por uma boa causa... Se visses a tua cara quando olhaste para nós, Harry! Estavas tão cómico!
Harry continuou de olhos postos em Ginny. Em tempos, ela fora apaixonada por ele. Coisa de criança, claro, já tinha passado... mas... e ele? O que sentiria ele por Ginny? Decididamente, a sua beleza e impulsividade não o deixavam minimamente indiferente.
- Harry! - Uma floresta de cabelos castanhos, rebeldes, tapou-lhe a visão de Ginny, quando Hermione o abraçou. - Parabéns! Bem-vindo! Diz-me uma coisa: recebeste o presente que eu te mandei? Olha que vai ser muito útil! Temos que planejar muito bem o nosso futuro! - Como sempre, Hermione falava sem parar... e sem o largar, quase sufocando o rapaz no meio do abraço.
- Pára, Hermione! - Exclamou Ron, meio irritado. - Deixa o Harry respirar um pouco! Que coisa!
Ron e Hermione estavam constantemente a implicar um com o outro, desde o primeiro dia em que se tinham conhecido e ele não entendia como é que a sua melhor amiga, que ele admirava e defendia com unhas e dentes, podia deixá-lo tão irritado, às vezes. Na verdade, os dois eram pólos totalmente opostos e Harry funcionava como o ponto de equilíbrio entre eles... Mas será que eles precisavam desse ponto de equilíbrio? Não seria melhor que se entendessem sozinhos? Assim como estavam, sempre ficavam lacunas por preencher nos assuntos que os faziam brigar. A maior parte das brigas era composta por tolices, mas...
A voz de Molly Weasley arrancou Ron dos seus pensamentos e ele ouviu a mãe dizer a Harry:
- Bom, meu querido, agora vem a melhor parte: não estás a pensar voltar para casa daqueles Muggles sem educação, estás? - Antes que Harry pudesse abrir a boca para responder, Mrs. Weasley continuou. - É claro que não estás... e não vais voltar mesmo. Vais passar o resto do Verão aqui.
- Mas... - gaguejou Harry. - E... e... as minhas coisas? Tenho que ir buscar as minhas coisas lá a casa.
- Tolice! - Exclamou Molly. - O Arthur vai até lá de novo e trás as tuas coisas, não é Arthur?
- Claro, querida. - Foi a resposta.
De repente, Molly parou de falar (algo raro) e começou a pensar durante uns segundos, após os quais disse a Harry:
- A menos que não te tenhas despedido dos teus tios. Aí, então, vais ter que voltar lá, porque eles são uns mal-educados, mas tu, meu querido, não és.
Harry perdeu o sorriso que tinha no rosto. Voltar para junto dos Dursley era a última coisa que ele queria. Olhou para Arthur, com cara de quem pede auxílio e recebeu em troca uma piscadela de olho.
- Não te preocupes, Molly. - Disse Arthur para a mulher. - Ele despediu-se da família.
Harry suspirou de alívio, sentindo que aquele era o melhor aniversário da sua vida.
