CAPÍTULO III
ÚLTIMO REGRESSO A HOGWARTS
A multidão aglomerava-se na estação ferroviária de King's Cross e Harry suspirou fundo ao entrar pelo meio da plataforma nove e surgir em seguida na plataforma mágica nove e três quartos, onde se reuniu, juntamente com Ron, Hermione, Ginny e Neville (seguidos por Arthur, Molly e Mrs. Longbottom) a uma população exclusivamente bruxa, composta por alunos de Hogwarts e respectivos familiares e amigos, que queriam despedir-se antes da partida para mais um ano na escola de Magia e Feitiçaria.
Os olhos de Harry detiveram-se numas carinhas desconhecidas, aparentando certa de dez ou onze anos e percebeu que eram os novos alunos, prestes a começar o seu primeiro ano de aprendizagem. Suspirou, com um laivo de nostalgia no pensamento. Lembrou-se do seu próprio primeiro ano, de como conhecera os amigos, os professores… colegas intragáveis, como Draco Malfoy, filho de um terrível Devorador da Morte… professores intragáveis, como Severus Snape, estranhamente membro da Ordem da Fénix,… de como descobriu que era famoso… e que a sua vida estava terrivelmente ameaçada pelo maior feiticeiro negro de todos os tempos…
Um arrepio percorreu-lhe a espinha, à medida em que, na sua mente, passavam flashes de aventuras que vivera… e o rosto de Lord Voldemort, seu inimigo mortal…
Os seus pensamentos foram interrompidos por uma voz desagradavelmente conhecida:
- Hei, Potter! – Um sorriso malicioso bailava nos lábios de um rapaz esquisito, de nariz de batata e cabelo amarelo, quase branco. – Tinha uma certa esperança de não te encontrar por aqui. Julguei que, talvez, tivesses decidido deixar Hogwarts, depois de teres percebido que, sem a protecção do teu querido Dumbledore, a escola não é assim tão agradável para ti.
- Vai morrer longe, Malfoy! – Resmungou harry, irritado. De facto, desde que, no quinto ano, Dumbledore fora destituído do cargo de Director de Hogwarts, as coisas tinham mudado bastante.
Draco soltou uma gargalhada maldosa:
- Coitadinho do Potterzinho! Nem tem família para acompanhá-lo ao comboio. Tem que vir com os pobres Weasleys! – Acentuou propositadamente a palavra "pobre". Embora a situação financeira dos Weasleys tivesse melhorado substancialmente nos últimos tempos, não poderia, decerto, igualar-se à de Malfoy ou do pr´prio harry, cuja herança dos pais estava guardada no Banco de Gringotts.
Ocupados a conversar com a avó de Neville Longbottom – o rapazinho que se encontrava junto de Harry, Ron, Hermione e Ginny -, Arthur e Molly Weasley não se aperceberam do insulto de Malfoy, mas Ron e Ginny mostraram-se ambos verdadeiramente irritados, com as orelhas vermelhas de raiva. No entanto, foi ela quem avançou:
- Retira o que disseste, Malfoy! – Exclamou Ginny, furiosa.
Draco deixou escapar nova gargalhada:
- Hei-hei-hei, Weasley! – Disse, virando-se para Ron. – A tua irmãzinha é dura… e, por incrível que pareça, nada feia, também! É assim que eu gosto delas!
Harry sentiu uma onda de revolta invadi-lo. Como se atrevia Malfoy a falar assim de Ginny?
- Não te atrevas a tocar com um único dos teus dedos nojentos na minha irmã! – Rosnou Ron, tentando controlar a sua fúria latente.
- Deixa, Ron! – A irmã agarrou-o por um braço. – Eu sei defender-me muito bem… e tens razão: os dedos dele são nojentos. – Lançando um olhar de desprezo a Draco, Ginny virou as costas, rumando para junto dos pais e de Mrs. Longbottom.
- Decididamente, ela é mesmo dura! – Draco assobiou, para depois se voltar para Harry. – A única companhia minimamente decente que conseguiste arranjar, Potter… apesar de ser uma Weasley. De resto, olha para ti: Longbottom, o palhaço; Weasley, o pobretão e Granger, a Sangue-de-Lama! Que figuras!
Era demais para Ron. Já aguentara tempo demais. Hermione era filha de muggles e "Sangue-de-Lama" era o maior insulto que poderia ser dirigido a uma bruxa ou feiticeiro nessa situação. Com o rosto quase da cor do cabelo ruivo, Ron agarrou Malfoy pelos colarinhos, bradando:
- Nunca mais a chames "Sangue-de-Lama", percebeste?!
Foi a vez de Hermione o puxar pelo braço, dizendo:
- Deixa, Ron, não lhe dês troco. É isso mesmo que ele quer.
Ron largou draco, bufando, exactamente antes de dar de caras com o pai deste, Lucius Malfoy, que se aproximou do filho, inquirindo:
- Draco, o que fazes tu junto dessa gentinha? O Crabbe e o Goyle andam à tua procura. Vamos embora! – Mr. Malfoy deu meia volta e rumou na direcção oposta, sem olhar para Harry e seus amigos. Draco seguiu-o, não sem antes olhar para o grupo com ar de desprezo e lançar:
- Depois continuamos a conversa, Weasley doninha.
- Não queiras continuá-la… - Resmungou Ron, entredentes, de forma que só Harry o escutou.
Malfoy era pior do que Dudley. Harry deu consigo a pensar isso e uma estranha sensação algo parecida com nostalgia surpreendeu-o deveras. Nostalgia ao pensar nos Dursleys?? Iria ter saudades deles?? Seria possível?
Recordou o momento em que Hagrid fizera crescer em Dudley uma cauda de porco, a tia Marge esvoaçando no tecto, a descoberta de que a tia Petúnia era uma cepatorta, o desgosto de Dudley ao perder um campeonato de boxe e afogar as mágoas na comida, tornando-se mais balofo ainda do que já era antes de praticar desporto…
Lembrou, também, as fúrias dos tios, as roupas em segunda mão, a forma como era maltratado… Não, decididamente não iria ter saudades dos Dursleys!
Mais uma vez, os seus pensamentos foram interrompidos, desta vez pela voz de Hermione:
- Vamos?
O Expresso de Hogwarts brilhava na sua frente. Estava na hora de partir para o seu último ano na escola.
O que o aguardaria desta vez? Por onde andaria Voldemort? Com uma imensa amálgama de pensamentos e sentimentos misturados, Harry despediu-se de Molly, Arthur e Mrs Longbottom; os amigos fizeram o mesmo e, em seguida, entraram todos numa carruagem, juntando-se a Luna Lovegood, uma estranha rapariga de olhos protuberantes, cujo coração parecia balançar entre Harry e Ron.
Na qualidade de Prefeitos, Ron e Hermione tiveram que orientar os novos alunos e encaminhá-los para algumas carruagens vazias. Pouco depois, porém, estavam de volta.
Era a última viagem para Hogwarts.
O Castelo erguia-se na frente dos olhos de Harry, imponente como sempre… mas Hagrid não parecia o mesmo. Harry sentiu um aperto no estômago, ao perceber que o amigo meio-gigante estava impedido de falar com ele.
As carruagens puxadas por Thestrals (que, desde a morte de Cho Chang pelas mãos dos devoradores da morte, no ano anterior, já quase todos conseguiam ver) fizeram o seu caminho até ao castelo, transportando os alunos…
O céu da Sala Comum estava estrelado e tudo parecia demasiado calmo. A Professora MacGonnagal, ladeada pela Professora Umbridge, fez o discurso de abertura e Harry pensou em como era tão estranho não ouvir o discurso pela boca de Dumbledore.
No ano anterior, presenciara aquela cena pela primeira vez e fora um grande choque, apesar de já saber o que se passava… Agora, ainda não se tinha conformado e sabia que jamais se conformaria. Suspirou. Ao menos, seria a última vez que assistiria a tal injustiça.
