CAPÍTULO IV
Primeiro Dia de Aulas
- Harry!!
Harry acordou com Ron a abaná-lo violentamente. A custo, abriu um olho e, com a voz embargada pelo sono, resmungou:
- O que é, Ron? Deixa-me dormir, estamos a meio da noite!!
- Meio da noite?! – Quase gritou Ron. – Se não te levantas depressa, vais é perder o pequeno-almoço, isso sim!
Conseguindo, a custo, abrir os dois olhos, Harry encarou o amigo e murmurou:
- Pequeno-almoço?
- Harry! – Exclamou Ron, exasperado. – Levanta-te, pá!
Pegando nos óculos de Harry, Ron entregou-os ao amigo, que os colocou. Tão ensonado estava que os óculos ficaram de lado, presos apenas numa das orelhas.
- Pelas barbas de Merlin, Harry! – Bufou Ron, meio irritado, meio preocupado e meio divertido. – O que é que se passa contigo?!
Harry bocejou, tentando endireitar os óculos, mas apenas conseguiu que eles se entortassem para o outro lado.
- Estou a morrer de sono. - Explicou, com um bocejo. – Não dormi nada durante a noite.
O rosto de Ron exprimiu preocupação, enquanto se sentava na cama do amigo.
- Porquê? – Inquiriu, ansioso. – Foi a cicatriz? Doeu-te? Ou tiveste mais uma daquelas visões ultra-realistas do que "Quem Nós Sabemos" estava a fazer?
- Não… - Gaguejo Harry, acordando subitamente. – Não foi nada disso… quer dizer… acho que não… Foram só pesadelos terríveis… Sonhei a noite inteira…
- Eu também! – Comentou Ron, com um tom de voz estranhamente sonhador e Harry ficou surpreendido ao notar no amigo uma expressão de felicidade; não pode deixar de sporrir interiormente, ao imaginar com quem ele teria sonhado a noite inteira: Hermione, claro… Mas não iria perguntar, porque sabia que o amigo jamais assumiria.
Suspirando, Harry levantou-se para o primeiro pequeno-almoço do ano em Hogwarts.
- Poções! Logo a primeira aula do dia! – Suspirou Ron, enquanto se dirigia, com Harry e Hermione, para a sala do Professor Snape. – Começamos bem o ano!
Harry concordou:
- Snape logo para começar é o fim da picada!
- Olhem pelo lado positivo. – Disse Hermione. – É só mais um ano; depois, não serão mais obrigados a vê-lo… Já eu… se eu vier dar aulas para Hogwarts, vou ter que encará-lo todos os dias.
- Gabo-te a paciência! – Disse Ron, revirando os olhos.
- Eu também. – Concordou Harry. – Só que estás a esquecer-te de uma coisa, Hermione: o Snape pertence à Ordem da Fénix, por isso não nos vamos ver livres dele assim tão facilmente.
- É verdade, tens razão. – Hermione tinha-se, de facto, esquecido daquele pormenor.
Entraram na sala e ocuparam os seus lugares, suspirando, resignados. A aula de Poções sempre fora a mais difícil, não tanto pela matéria, mas pelo Professor, que nutria por Harry um ódio indisfarçável, já que havia sofrido bastante nas mãos do pai dele, James Potter, nos tempos em que ambos eram alunos de Hogwarts. A sua vingança em cima do filho daquele que tanto o humilhara e se divertira às suas custas era constante… apesar de, estranhamente, já lhe ter salvo a vida mais de uma vez.
A aula, só por si, com o Professor Snape, já seria um sacrifício, mas o facto de terem de partilhá-la com os Slytherin tornava-a realmente insuportável.
Snape olhou para os alunos com o mesmo olhar frio de sempre e deteve os olhos negros em Harry:
- Potter… Último ano, não é? Deves estar ansioso para te veres livre de mim, não estás?
- Se o professor o diz… - Respondeu Harry, laconicamente.
Snape fulminou-o com o olhar:
- Muito cuidado, Potter… - Começou. – O último ano pode trazer-te muitas surpresas.
Um silêncio sepulcral inundou a sala. Neville, Parvati Patil e Lavander Brown suspenderam a respiração, na expectativa do que viria em seguida. De que surpresas estaria Snape a falar?
Todavia, ele não continuou o assunto. Pelo contrário, começou a dar a aula, acabando por mandá-los fazer uma Poção de Crescimento de Cabelo, que foram obrigados a testar em ratos, cujos pêlos começaram a crescer anormalmente, fazendo com que os bichinhos de assemelhassem a Quaffles peludas e com patas.
- Deve ser isto que o Snape usa. – Disse Ron para Harry, com uma gargalhada abafada. – Olha que o meu pai também precisava de usar.
Harry riu, também:
- Não me parece que o teu pai gostasse de ficar com o cabelo como o do Snape. Parece que enfiou a cabeça num caldeirão cheio de cerveja de manteiga!
Os dois amigos riram à socapa, até que Hermione fez:
- Chiu! Vocês dois são capazes de se calar?
- Hermione, não te cansas de ser tão certinha? – Resmungou Ron.
- Não. – Foi a resposta pronta e mal-humorada. – E, em vez de me criticares, devias era seguir o meu conselho, porque se o Snape te apanha a conversar…
- Miss Granger! – A voz do professor Snape ecoou pela sala, fazendo hermione dar um pulo na cadeira. – Pode partilhar connosco o que está a dizer ao Weasley?
Hermione tornou-se escarlate e só conseguiu gaguejar:
- Eu… eu… é que…
- Graças a si, vou retirar cinco pontos aos Griffindor. – A voz de Snape era tão fria como o seu olhar.
- Professor! – Protestou Ron. – Se quer retirar-nos pontos, não culpe a Hermione! Ela estava justamente a mandar-nos calar!
- Mais cinco pontos retirados aos Griffindor. – Foi a resposta fria, enquanto Draco Malfoy sorria de satisfação e Snape se voltava para o quadro, onde começou a escrever os enunciados dos trabalhos que a turma teria que entregar na aula seguinte.
Revoltado, Ron quis levantar-se, mas Hermione impediu-o, agarrando-o pelo punho e murmurando, baixinho.
- Fica quieto, Ron. Não vale a pena, só vais piorar as coisas!
Ron deixou-se ficar no seu lugar e a mão de Hermione escorregou para cima da sua. Harry reparou imediatamente como os dois se tornaram mais vermelhos do que dois tomates maduros e se afastaram rapidamente.
- Oh, que tontos! – Pensou Harry, aborrecido. – Quando será que eles vão assumir? Acho que vou ter que ser eu a promover esse namoro. Só preciso é de descobrir como…
Mal ele sabia que a sua ajuda iria ser, realmente, essencial para os amigos, mas não exactamente como ele esperava e sem que ele tivesse que fazer fosse o que fosse para se esforçar nesse sentido.
A Professora MacGonnagall tinha referido, no seu discurso de abertura, uma nova Professora de Artes Divinatórias, exclusivamente para o sétimo ano que, por motivos de força maior, não pudera comparecer à festa de abertura oficial do ano escolar. Contudo, com o pensamento em Dumbledore, Harry não dera muita importância ao facto… mas quando se dirigiam para a sala de Artes Divinatórias (no sótão) e os colegas se acotovelavam, com perguntas sem resposta como "Quem será ela?" ou "Como será ela?" ou "Será outra maluca como a Trelawny?", só então Harry sentia a curiosidade invadi-lo.
- Achei tão estranho o facto da Umbridge ter interrompido a Professora MacGonnagall, quando ela estava prestes a dar-nos mais informações sobre a nova professora. – Comentou Hermione. – Aposto que a sua contratação foi à revelia da Umbridge.
- Óptimo! – Exclamou Ron, sorrindo. Tanto a ele como à maioria esmagadora dos alunos (excepto, talvez, os Slytherins), agradava muitíssimo a ideia de ver Umbridge ser obrigada a "engolir um sapo".
Entraram na sala, que estava vazia. Estranhando esse facto, sentaram-se. Um burburinho enorme gerou-se no sótão de Hogwarts, até que o ruído de saltos altos apressado os deteve. À porta, afogueada da corrida que acabara de fazer para chegar até ali o mais rapidamente possível, uma jovem loira, de olhos castanhos, baixa estatura e corpo curvilíneo esboçou um sorriso simpático e entrou na sala, desculpando-se, com um sotaque estranho:
- Desculpem o atraso, turma. – Sentou-se na sua cadeira e suspirou, tentando recuperar o ritmo da respiração, sem, contudo, perder o sorriso. – Sou a vossa professora de Artes Divinatórias.
O queixo de Ron parecia que ia bater no chão, enquanto olhava fixamente para a nova professora. Hermione olhou para ele e bufou, irritada, revirando os olhos. A recém-chegada continuou:
- Sou a Miss Hollow.
- Mary? – A voz de Ron ecoou pela sala, enquanto Miss Hollow o olhava e abria ainda mais o seu sorriso. Levantando-se, foi até junto dele, exclamando:
- Ron! Como estás crescido! Dá cá um beijinho. – Perante os rostos pasmados de toda a turma, Mary Hollow presenteou Ron com um beijo em cada bochecha.
Escusado será dizer que as orelhas do rapaz ficaram de uma cor semelhante à da blusa rosa-choque que a professora usava…
