CAPÍTULO VI
Surpresas e Esclarecimentos
- Hey, Weasley! – Chamou uma voz aguda e irritante atrás do trio, enquanto eles se dirigiam para o pátio. Viraram-se e deram de caras com Draco Malfoy. – Já soube que és primo da nova professora!
- E depois? – Resmungou Hermione. – Há tão poucos feiticeiros de sangue-puro que aqueles que o são acabam por ser todos eles aparentados.
Harry sentiu o coração estremecer, ao lembrar-se de Sírius, que lhe explicara exactamente a mesma coisa, apenas alguns meses antes de morrer às mãos de Bellatrix Lestrange.
Malfoy pareceu lembrar-se do mesmo (embora não tivesse assistido à conversa), já que replicou:
- Sim, é verdade. Mesmo os Weasley sendo uns traidores do sangue, infelizmente eu próprio ainda tenho algum parentesco distante com eles… e até o Sírius Black… - Lançou um olhar malévolo para Harry. - … era primo da minha mãe, o que não impediu que a tia Bellatrix lhe tratasse da saúde.
- Não pronuncies o nome do Sírius com a tua boca suja! – Bradou Harry, com a fúria a aquecer-lhe as veias.
Malfoy ignorou-o e riu, maldosamente, para Hermione:
- Até parece que sabes o que é ter sangue-puro, Granger. Muito engraçado esse conhecimento, vindo de uma sangue-de-lama.
- Importas-te de te calares? – Rosnou Ron, com as orelhas vermelhas, o que fez com que Draco risse ainda mais.
- O cavaleiro pobretão a defender a donzela! Como se ela alguma vez fosse querer alguma coisa com um falhado como tu!
Ron corou violentamente; Hermione também, mas manteve o sangue-frio necessário para responder, o mais naturalmente possível:
- Porquê? Alguém quer alguma coisa com um idiota com ar de enjoado como tu? Só se for a Pansy Parkinson, com aquela cara de buldogue. Não consegues melhor, não é, Draco?
Malfoy perdeu o sorriso, parecendo positivamente furioso.
- Estou a lixar-me para essas pieguices de namoros. – Olhando para Ron, tornou a sorrir, maliciosamente. – Mas talvez me apeteça dar umas voltinhas com a tua irmã, Weasley.
Por incrível que pareça, dessa vez não foi Ron, mas sim Harry quem reagiu, furioso. Fê-lo instintivamente, sem saber muito bem porquê. Avançando para Malfoy, exclamou, com os olhos brilhantes de raiva:
- Não te atrevas a falar da Ginny!
Ron secundou-o, tão zangado quanto ele:
- Se fizeres alguma coisa à minha irmã, vai arrepender-te amargamente!
Pelo sim, pelo não, Draco recuou, mas soltou uma gargalhada irónica:
- Que lindo! Os heróis a defenderem as donzelas e a família de falhados.
Foi a vez de Hermione falar, bem mais calma do que os amigos:
- Se queres falar de famílias, muito bem. Começa por falar do teu querido pap�, um assassino, Devorador da Morte, que foi vergonhosamente solto de Azkaban, apenas porque temos um Ministro da Magia completamente doido!
Malfoy fitou-a, com um olhar inexpressivo:
- Caso te tenhas esquecido, provaram que ele é inocente.
- Tretas! – Exclamou Harry, furioso. – Nós vimos tudo o que ele fez, ele é um Devorador da Morte, matou a Cho e tentou matar-nos mais de uma vez! Não vais querer convencer-nos de que tivemos alucinações, vais?
- Talvez, Potty. – Foi a resposta maldosa. – Todos sabemos que tu não és bom da cabeça…
- O que se passa? – Perguntou uma voz atrás deles. Voltaram-se. Era Mary Hollow. – Malfoy… Potter… está tudo bem?
- Sim, Professora. – Respondeu Draco, com um sorriso falso. Estávamos só a conversar. Aliás, eu já disse tudo o que tinha a dizer. Com licença.
Draco afastou-se, enquanto Mary olhava para o trio e fazia uma careta:
- Sujeitinho irritante, este Malfoy. Tal como o pai dele… bom, mas eu não devia falar mal dos meus alunos, desculpem, ainda não me adaptei a este novo trabalho.
- O que é que fazia antes? – Inquiriu Hermione.
- Dava consultas da Astrologia e Cartomancia a Muggles, em Espanha. – Foi a resposta, que explicava o leve, mas estranho sotaque da professora.
- Não percebo porque foi que o meu pai não me contou que vinhas dar aulas para Hogwarts. – Disse Ron, com as orelhas vermelhas outra vez.
Miss Hollow sorriu, brincando com uma madeixa de cabelo loiro, e respondeu:
- Porque ele não sabia! Foi tudo muito de repente. Tive que apelar para a tia Dolores. – Acrescentou, com nova careta. – Como ela devia uns favores aos meus pais, viu-se obrigada a aceitar-me. Além disso, a MacGonnagall aprovou-me imediatamente. Grande mulher, a MacGonnagall! Sabias que ela foi uma grande amiga da nossa avó, Ron?
- Não… - Foi a resposta curta. Ron parecia realmente surpreendido e ainda pouco à-vontade.
- Espera aí! – Exclamou Harry, pensando nas palavras que a professora acabara de proferir e tentando digeri-las. – Ron, tu és sobrinho da Umbridge!
- Porque é que nunca nos disseste nada? – Inquiriu Hermione, furiosa.
- Calma, meninos! – Pediu Mary Hollow. – A Dolores Umbridge não é tia dele; é minha, por parte de pai. Eu e o Ron somos primos por parte de mãe. A tia Molly é irmã da minha mãe.
Hermione suspirou, mais calma, e não resistiu à curiosidade de perguntar:
- Porque é que deixou Espanha, Miss Hollow?
Mary suspirou:
- Bem… na verdade, Espanha nunca foi o meu lugar… quer dizer, eu morei lá desde pequena, trabalhei lá durante sete anos, ajudando a minha mãe no trabalho de vidente, depois de sair de Hogwarts… mas sempre adorei Inglaterra, o verde, os campos, os castelos, o ar misterioso… e os anos que passei aqui na escola, como aluna, marcaram-me muito. Bom, eu nasci aqui e é aqui o meu lugar. – Baixando a voz, continuou. – Para além disso, há a Ordem da Fénix. Só estando aqui é que eu posso dar o meu verdadeiro contributo.
Harry engoliu em seco. Então, Mary também pertencia à Ordem… Foi um choque ouviu uma quase desconhecida falar daquele assunto.
- Vieste para ficar? – Inquiriu Ron, num tom de voz estranho.
- Enquanto me quiserem por aqui… - O sorriso da Professora tornou-se tímido e Harry ouviu Hermione bufar ao seu lado.
Harry acordou sobressaltado. A sua cicatriz ardia como há muito tempo não a sentia. Com o estômago embrulhado, teve a certeza de que, onde quer que estivesse, Voldemort estava feliz.
Das últimas vezes que sentira a cicatriz doer, o Ministro da Magia tivera atitudes extremamente suspeitas: mandara soltar Lucius Malfoy, afastar de novo Dumbledore de Hogwarts e mandara Umbridge voltar para a escola e reassumir o posto de Professora de Defesa Contra a Magia Negra e substituir MacGonnagall como sub-directora… Estranhamente, o mesmo Ministro que, ao invés de substituir Dumbledore por Umbridge ou por outra pessoa ligada ao Ministério, tinha conferido à professora MacGonnagall o cargo de Directora de Hogwarts.
Contudo, mesmo nas vezes em que o Ministro tomara atitudes que deixaram Harry e os amigos indignados, a sua cicatriz não voltara a doer tanto como daquela vez. Tinha a certeza de que o Ministério estava, de alguma forma, ligado a Voldemort… mas sentia que, naquele momento, fosse qual fosse o motivo que deixara o senhor das trevas tão contente, nada tinha a ver com o Ministério. Era algo muito mais importante.
Depois das aulas de Oclumancia que Snape lhe dera no quinto ano, Harry aprendera a fechar a mente todas as noites, antes de dormir, para impedir que os seus pensamentos se confundissem com os de Voldemort e evitar, assim, cair em mais uma cilada como aquela que resultara na morte de Sírius, por isso não sabia dizer ao certo o que se passava.
A dor tornou-se mais forte e Harry conteve um gemido de dor. Naquele momento, teve a certeza absoluta: Voldemort preparava-se para acabar com as tréguas: a guerra ia recomeçar.
