CAPÍTULO VII
No Três Vassouras
- Harry, isso é terrível! – Exclamou Hermione, apavorada, tapando a boca com as mãos, assim que Harry, depois do pequeno-almoço, lhe contou o que se passara.
- Infelizmente, não é nada de que não estivéssemos à espera… - Murmurou Harry, tenso. – Quer dizer, ele ia ter que voltar, um dia…
- E achas que está para breve? – Inquiriu Ron, amedrontado. – Achas que ele pode voltar hoje mesmo?
- Não sei… só sei que ele está perto… muito perto… e pode aparecer a qualquer momento.
Fez-se um longo silêncio, após o qual Hermione comentou:
- Acho que não devemos ir a Hogsmead no fim-de-semana. Em Hogwarts estamos muito mais seguros.
- Ora, Hermione! – Exclamou Ron. – Achas que Quem-Nós-Sabemos vai atacar-nos no meio de uma rua cheia de gente!
Hermione suspirou, impaciente:
- Estamos numa guerra, Ronald! O ano passado, os Devoradores da Morte mataram a Cho Chang durante a visita dos alunos de Hogwarts ao Museu da História da Magia, na frente de toda a gente, esqueceste-te!
Harry engoliu em seco, com a lembrança do que acontecera.
- Não… - Balbuciou Ron. – Mas…
- Acho que não vale a pena ficarmos trancados em Hogwarts. – Interrompeu Harry, pálido. – Mais cedo ou mais tarde, vou ter que enfrentar o Voldemort.
Ron estremeceu, ao escutar aquele nome.
- Harry! – Quase gritou Hermione, indignada. – Não sejas inconsequente! Parece que gostas de brincar com a tua própria vida!
- Que culpa eu tenho se a morte me persegue? – Perguntou Harry, em tom sombrio. – Já sabes que, para um de nós viver, o outro tem que morrer…
- Parem com essa conversa! – Exclamou Ron. – Estou a ficar arrepiado! Por momentos, pensei que um Dementor tinha entrado aqui!
Harry e Hermione calaram-se, mas Harry sentia que estava certo. Se corria o grande risco de morrer ao enfrentar Voldemort, então não adiantaria nada adiar mais o confronto. Já sofrera demais por causa daquele assunto e sentia que não aguentaria muito mais. Estava decidido a mat�-lo ou morrer, o mais depressa possível.
- Eu ainda acho que devíamos ter ficado em Hogwarts… - Disse Hermione, enquanto se dirigiam para o Três Vassouras.
- Desta vez, não discordo totalmente da Hermione. – Comentou Ron. – Pode ser perigoso…
- Se não queriam ter vindo, então porque vieram! – Inquiriu Harry, irritado. – Se preferem ficar trancados em Hogwarts, voltem para l�, ninguém vos impede!
Os amigos não responderam, mas Harry reparou, quase arrependido, que as orelhas de Ron estavam vermelhas e que Hermione tinha os olhos fixos ao chão. Foi, portanto, com certo alívio que chegou ao bar Três vassouras, onde entrou com eles dizendo, no tom mais alegre que conseguiu arranjar:
- Está mesmo a apetecer-me uma cerveja de manteiga. E a vocês?
Ron e Hermione entreolharam-se e depois olharam para Harry, respondendo:
- Claro…
Nesse momento, Harry parou, olhando para a mesa do fundo: Lupin e Tonks (naquele dia, com o cabelo comprido e azul) conversavam animadamente com Mary Weasley.
- Ela, outra vez? – Harry ouviu Hermione resmungar, atrás de si, enquanto os três se dirigiam para a mesa onde os outros se encontravam.
- Harry! Ron! Hermione! Que bom ver-vos! Sentem-se connosco! – Saudou Lupin, com um enorme sorriso. Tinha muito melhor aspecto do que da última vez que Harry o tinha visto. Parecia muito mais jovem, estava mais corado e até o cabelo não parecia tão cheio de fios brancos.
O trio sentou-se junto dele e das suas amigas, que sorriram alegremente.
- Já tinha saudades vossas! – Exclamou Tonks e, com um gesto súbito, entornou sem querer o resto da sua cerveja de manteiga em cima da mesa.
Mary soltou uma gargalhada:
- Tu não mudas nunca, Nympha!
Tonks sorriu e respondeu, em tom despreocupado:
- Nasci assim, já é tarde para mudar. Conheces-me há tanto tempo, já devias estar habituada. – Virando-se para o balcão do bar, fez sinal a Madame Rosemerta. – Mais uma cerveja de manteiga, por favor… aliás, quatro, porque os recém-chegados também devem querer, não é, meninos?
- Isso mesmo, Tonks! – Respondeu Harry, tentando contagiar-se pela alegria dela e, ao mesmo tempo, interrogando-se sobre como é que Tonks e Miss Hollow se conheciam tão bem. A professora pareceu ter adivinhado os seus pensamentos, porque disse:
- Sabem que aqui a Nympha foi minha colega em Hogwarts? Éramos umas doidas, do estilo do Fred e do George e íamos juntas para todo o lado. Éramos melhores amigas!
- "Éramos"? – Tonks torceu o nariz, que mudou instantaneamente de forma. Parecia agora a cauda de um pato. – Pensei que ainda fôssemos.
- Oh, Nympha! – Mary abraçou-a, com os olhos castanhos brilhando de tal forma que pareciam muito mais escuros e contrastavam ferozmente com o cabelo loiro. – Vais ser sempre a minha melhor amiga! És a irmã que eu nunca tive!
- Mulheres! – Exclamou Lupin, sorrindo, com o ar mais alegre que Harry já lhe tinha visto até então.
Tonks largou Mary e torceu o nariz outra vez, fazendo-o voltar ao normal.
- Vamos parar com pieguices e beber as nossas cervejas de manteiga. – Disse. Distraidamente, pegou no copo vazio e levou-o à boca. – Oh, bolas! Esqueci-me que entornei o resto da minha!
Madame Rosemerta aproximou-se deles, trazendo quatro cervejas de manteiga.
- Aqui têm. – Disse, sorrindo e voltando para o balcão.
- Ah! – Suspirou Tonks, satisfeita. – Agora, sim!
Harry não sabia se havia de falar ou não. Fora tão bom encontrar Lupin… precisava de lhe contar sobre a cicatriz, mas a alegria do ex-professor era de tal forma inusitada que ele não se atrevia a acabar com ela. Contudo, foi o próprio Remus quem puxou o assunto, como se tivesse sentido que havia algo errado.
- Que se passa, Harry? Não pareces muito contente.
- É que… Professor Lupin…
- Remus, por favor, Harry. Há muitos anos que deixei de ser teu professor. Já há muito tempo que sou apenas teu amigo.
Harry olhou-o. Remus sorria e era reconfortante sentir que tinha ali um amigo, o melhor amigo do seu pai e de Sírius. Quatro anos depois e ainda não se habituara totalmente a trat�-lo pelo primeiro nome. Por vezes, esquecia-se e tratava-o por professor, mas ele fazia que estão de record�-lo de que os seus tempos como docente já iam longe e que era, acima de tudo, um amigo com quem ele sempre poderia contar.
Harry respirou fundo, antes de começar a falar:
- Remus… a… a minha cicatriz… doeu-me imenso esta noite. Senti… senti que algo de muito mau está para acontecer… Ele… o Voldemort está prestes a voltar.
Ao escutar o nome do senhor das trevas, Tonks voltou a entornar a cerveja de manteiga e Mary engasgou-se com a sua.
- Bolas! – Praguejou Tonks, enquanto dava palmadas nas costas da amiga.
Foi a vez de Lupin, agora pálido, respirar fundo e dizer:
- Bom… na verdade, viemos para aqui justamente para respirar um pouco e fugir por uns momentos desse assunto. Em Grimmauld Place não se fala de outra coisa.
- Da minha cicatriz? – Perguntou Harry, espantado.
- Não, Harry. De Quem-Nós-Sabemos. Temos razões para achar que estás certo. Achamos que ele está de volta.
