CAPÍTULO VIII

Desconfianças…

Um silêncio desconfortável gerou-se entre os seis… silêncio esse quebrado por Hermione, longos segundos depois:

- Remus… - Começou ela. – Que razões são essas que vocês tê para achar que o V… Voldemort está de volta? Quer dizer, para além da cicatriz do Harry…

Lupin respirou fundo, antes de responder:

- Dementors. – Harry sentiu um arrepio na espinha ao escutar aquela palavra. Remus continuou. – Vocês sabem que os Dementors são seguidores naturais de Voldemort. O ano passado, quando ele voltou, vários Dementors juntaram-se a ele. Quando ele resolveu fazer a sua retirada estratégica, desaparecendo para parte incerta, levou com ele vários Devoradores da Morte e Dementors.

Harry, Ron e Hermione bebiam as palavras de Remus Lupin, quase sem respirar. Ele prosseguiu:

- Acontece que, esta noite, o Mundungus Fletcher apareceu na sede da Ordem, desesperado, afirmando que tinha visto um Dementor a rondar Diagon-Al. No início, nós não acreditámos… vocês sabem como é o Mundungus. Para além do mais, estava podre de bêbado… Típico! Achámos que tudo não passava de mais uma maluquice dele…

- Maluquice daquela cabeça-de-vento. – Interrompeu Tonks.

- Mas o Dumbledore resolveu, pelo sim, pelo não, dar-lhe um crédito de confiança. – Continuou Lupin. – Quando chegou a Diagon-Al deparou com um dementor prestes a beijar o Mr. Ollivander. O coitado está em choque até agora.

- Portanto, como vocês podem ver – Concluiu Mary. , temos razões para acreditar que Quem-Nós-Sabemos anda por aí. Quer dizer, se há Dementors à solta…

- …desconfiamos que eles o estejam a seguir, ou então a preparar o terreno para o seu regresso em grande estilo. – Interrompeu Tonks, com um tom de voz levemente irónico.

- Essa história da tua cicatriz só veio confirmar o que nós temíamos. – Suspirou Lupin, em jeito de conclusão.

O silêncio desconfortável voltou a reinar. Harry nunca chegara a acreditar verdadeiramente na hipótese de Voldemort ter desaparecido para sempre e que não precisaria de matar ninguém para poder viver, mas agora, que o momento parecia aproximar-se a galope, sentia uma profunda angústia invadi-lo.

Contudo, os dias foram passando, as semanas seguiam-se e nada de notícias do senhor das trevas.

- Talvez fosse falso alarme… -Comentava Ron. Porém, Harry sabia que o amigo acreditava tanto nisso quanto ele. Todavia, tentava abstrair-se dos maus pensamentos, tentando ocupar a mente com algo muito mais alegre: os treinos de Quidditch. Desde que voltara a assumir o seu lugar na equipa dos Griffyndor, Harry dava ainda mais valor ao Quidditch (se é que isso era possível). Só lamentava que, por sua causa, Ginny tivesse sido obrigada a deixar a equipa. A irmã de Ron também não escondia a sua tristeza por ter perdido o lugar e tinha até ponderado a hipótese de jogar pelos Ravenclaw, substituindo Cho Chang… mas é claro que sabia que tal coisa jamais seria possível.

Contudo, Ginny parecia realmente sincera quando parabenizara Harry pelo seu regresso à equipa.

- Parabéns, Harry. – Dissera ela, com um largo sorriso e um brilho de alegria nos olhos azuis. – Sei que perdi o lugar, mas podes acreditar que estou realmente muito feliz por ti. Sei muito bem a importância que dás ao Quidditch… e bem precisas dele; é um escape para ti!

Ginny tinha razão. O Quidditch era muito mais do que apenas uma paixão para Harry. Era o seu refúgio. Quando estava lá em cima, voando na sua vassoura e tentando localizar a pequena snitch, esquecia todos os seus problemas.

Os seus pensamentos foram interrompidos pela voz indignada de Ron; para não variar, discutia com Hermione:

- Tu… tu… tu estás louca! – Virando-se para Harry, continuou. – Ouviste isto, Harry? Ela está louca.

Hermione bufou:

- Louca, não. Só estou atenta, que é uma coisa que tu nunca conseguiste estar em caso algum, Ronald!

- Hermione, essa tua implicância com a Mary não tem a menor razão de ser! – Exclamou Ron, com um tom de voz ligeiramente desesperado.

- Ah, não? – Hermione parecia furiosa. – Só porque ela é a tua querida prima e tu tens a intuição de uma azeitona, já achas que eu é que implico com ela sem razão! Ela é esquisita, Ron, ela desaparece de vez em quando e reaparece com ar cansado, sem dar satisfações… Eu não me admirava nada se ela fosse uma Devoradora da morte!

- Hermione! – Interrompeu Harry, indignado. Raramente se envolvia nas discussões entre os dois amigos, mas, naquele momento, achou que ela estava a ir longe demais. – A Miss Hollow faz parte da Ordem da Fénix!

- Sim, e pode ser uma espia! – Exclamou Hermione, com ar triunfante, enquanto Ron revirava os olhos e respondia:

- Ela é minha prima, Hermione. Conheço-a desde que nasci!

- Conheces tão bem que ficas todo vermelho sempre que a vês e só consegues gaguejar!

Imediatamente, as orelhas de Ron ficaram cor-de-rosa e foi a vez de Harry protestar:

- Ela é a melhor amiga da Tonks, há anos!

- O Pettygrew também era um dos melhores amigos do teu pai e olha só o que aconteceu! – Berrou Hermione, para logo empalidecer ao olhar para a expressão transtornada de Harry. – Des… desculpa, Harry… excedi-me.

- Excedeste-te mesmo. – Murmurou Harry, com voz sumida.

- Oh, Harry! – Exclamou a amiga, com lágrimas nos olhos. – Desculpa, por favor, diz que me perdoas!

- Estás perdoada.

Mas Harry não quis continuar mais tempo junto dela.

- Vou deitar-me. – Harry retirou-se, em direcção ao dormitório masculino, enquanto ouvia Hermione choramingar:

- Oh, Ron, fiz asneira!

Ao longe, ainda conseguiu ouvir a voz do amigo:

- Não te preocupes, Hermione. Amanhã, ele já vai ter esquecido… mas fizeste mesmo uma grande asneira!

Harry deitou-se, furioso. Sabia que Hermione estava com ciúmes de mary e sentia que isso fazia com que ela tomasse atitudes que nada tinham a ver com a Hermione sensata e equilibrada que ele conhecia.

Nos últimos tempos, a amiga tinha-se tornado ligeiramente insuportável, com o seu constante mau-humor e agora… agora tinha sobrado para ele! Claro, bem-feito, quem o mandou interferir numa discussão entre ela e Ron? Mas, caramba, não podia deixar passar tamanha injustiça em relação a Miss Hollow!

Mas… e se não fosse uma injustiça? Se fosse muito mais do que apenas ciúmes da parte de Hermione? E se Mary fosse, realmente, uma traidora, como Pettygrew? Onde iria a professora, quando desaparecia?

De repente, sentiu uma vontade enorme de ter um pensatório, como Dumbledore. Aqueles pensamentos não saíam da sua cabeça e tornava-se muito difícil esvaziar a mente, para poder descansar.

A pouco e pouco, porém, foi conseguindo, até que, finalmente, adormeceu.