CAPÍTULO XII
O Vampiro
O quê- Vociferou Ron. - Ah, não, Hermione, desta vez foste mesmo longe demais!
Hermione corou ainda mais, com lágrimas nos olhos:
Por favor, Ron- Pediu. - Deixa-me explicar!
Não vais explicar nada- Bradou Ginny, furiosa. - A Mary é uma das melhores pessoas que eu já conheci em toda a minha vida! Apesar de ela ser dez anos mais velha do que eu e morar tão longe, sempre me tratou como uma grande amiga. Nós desabafamos uma com a outra, trocamos segredos... e eu não vou admitir que tu estragues a reputação da minha prima por causa dos teus ciúmes! Se não queres assumir o que sentes, pelo menos trata de disfarçar melhor!
Ginny saiu, furiosa, da sala comum, enquanto Hermione se debulhava em lágrimas:
Eu não falei por mal... Se ela, ao menos, me ouvisse...
Ouvisse o quê, Hermione- Inquiriu Harry, pasmo com a cena que acabara de presenciar. Olhou para Ron. O amigo parecia estranhamente ausente e ele teve a certeza de que aquele estado se devia ao que Ginny dissera sobre os ciúmes de Hermione. - Que tu achas que a prima dela é uma vampira assassina?
Eu não acho isso- Protestou Hermione, chorosa. - Eu não acho que ela seja assassina... ou melhor, é, por natureza, mas não por vontade própria. É por isso que ela ataca animais, para não Ter que atacar pessoas!
Ron pareceu sair do seu transe, mas o tom de voz ainda era esquisito, quando perguntou:
E o que é que te faz ter tanta certeza de que o vampiro é a Mary?
Hermione suspirou e baixou os olhos. Percebia-se que não queria encar�-lo. Contudo, respondeu:
Eu não tenho a certeza... é só uma desconfiança...
Mas porquê- Insistiu Harry.
Por causa dos desaparecimentos dela. - Explicou Hermione. - Sabemos que ela desaparece de noite e volta depois, muitas vezes passados dois dias, com aquele ar cansado... e vocês não se lembram da conversa dela com o Lupin? Ele disse que ninguém o poderia entender como ela o entende. E a tua mãe, Ron- Finalmente, olhou para ele, sem, contudo, encar�-lo nos olhos. - Lembras-te de quando ela ficou tão preocupada por a Mary ir casar com o Lupin? Ela disse que ia ser muito difícil a vida entre duas pessoas com problemas tão graves... E o Hagrid! O Hagrid disse que os ataques do vampiro começaram no início das aulas, ou seja, quando ela se tornou professora em Hogwarts. Não faz sentido?
Faz... - Murmurou Ron. - Mas se ela fosse vampira, eu saberia.
Contudo, Ron não parecia totalmente convencido.
Aquela noite foi deveras agitada para Harry. Pesadelos assaltaram-no, com Bellatrix matando Ron com uma gargalhada gélida e ele a recriminar-se por não lhe ter falado ainda da sua relação com Ginny.
O sonho mudou; Harry via, agora, Mary Hollow, com os caninos aguçados, tentando morder Hagrid. Hermione e Lupin assistiam, sem fazer nada, mas Lupin dizia, em voz profunda: "Somos iguais, Mary!", enquanto Hermione falava num tom agudo de sabichona: "Eu não dizia?"
Harry acordou, escorrendo suor por todos os poros. Na cama ao lado, Ron ressonava, ao mesmo tempo que sonhava alto: "Vá l�, Hermione, só um beijinho... Só um... Isso..."
Harry não conseguia voltar a adormecer. Os roncos e palavras soltas do amigo, aliados à angústia dos pesadelos e dos últimos acontecimentos, não o deixavam tornar a pegar no sono.
Resolveu, então, descer. Dirigiu-se para o corredor, onde se deteve, ao escutar a voz de Ginny, vinda do escritório da professora Hollow.
Tem calma, Mary. - Dizia ela. - Eu não vou deixar que ninguém desvende o teu segredo.
Mas a Hermione Granger já está desconfiada. - Era a voz aflita da professora. - O que é que eu vou fazer? Se me descobrem, os pais dos alunos vão protestar e eu vou ser afastada de Hogwarts, tal como aconteceu com o Remus.
Não digas isso, Mary. Mal ou bem, sempre tens a protecção da Umbridge.
A professora soltou uma gargalhada triste:
Não, Ginny. Os tempos de glória da tia Dolores no Ministério já vão bem longe. Na verdade, eu nem sei como foi possível o Ministro mand�-la de volta para Hogwarts. Ele não pode com ela!
Bom... Mas eu vou ajudar-te- Garantiu Ginny. - Se depender de mim, ninguém vai descobrir o teu segredo.
Obrigada... - Murmurou Mary, em voz sumida. - Ai, era só o que me faltava! Parece que, de repente, tudo na minha vida começou a dar para o torto!
Oh, Mary... - A voz de Ginny era triste. - Os teus pais continuam sem aceitar o teu casamento com o Lupin?
Ouviu-se uma fungadela e o tom de voz choroso da professora.
De um momento para o outro, eles resolveram tratar-me como se eu não passasse de uma adolescente rebelde. Querem levar-me de volta para a Espanha, como se eu não fosse maior de idade e independente há muito tempo! Eles têm medo que o Remus estrague a minha vida... como se a minha vida fosse boa! Acham que eu não vou conseguir ser feliz casada com um lobisomem... como se eu conseguisse ser feliz sem ele! O pior de tudo é que o Remus é tão bem-comportado que é bem capaz de me abandonar, para me proteger! Eu não ia suportar uma coisa dessas, Ginny!
Harry ouviu Mary soluçar e Ginny tentando acalm�-la:
Pronto, Mary, não fiques assim. Vai deitar-te, tenta dormir...
Mary respirou fundo:
O que eu queria mesmo era dar uma volta no jardim... respirar um pouco de ar puro... mas não posso ver nem um único raio de luar... - O seu tom de voz era profundamente desgostoso. - Essa é uma das vantagens dos lobisomens sobre os vampiros. Eles só se transformam em noite de lua-cheia, enquanto para nós basta um único raio de luar...
Queres que eu vá buscar-te um copo de água- Perguntou Ginny.
Sim. - Foi a resposta. - Obrigada, Ginny... obrigada por tudo. És uma menina fantástica.
Harry viu Ginny sair do escritório e tudo aconteceu numa fracção de segundos: a porta aberta por ela deixou passar um raio de luar, vindo da janela principal do corredor. Ginny olhou para dentro do escritório e soltou um grito, enquanto se ouviu a voz de Mary, sufocada:
Ginny, foge! Sai daqui, por favor, sai!
Harry viu-a fugir dalí o mais depressa que as pernas lhe permitiam. Viu, também, Mary Hollow saindo do escritório, transfigurada: os seus olhos castanhos estavam agora amarelos e os lábios, de um vermelho-sangue, deixavam ver dois caninos pontiagudos saindo-lhe da boca.
Abafou um grito, quando a viu seguir Ginny, correndo, e seguiu-a, também, o mais rapidamente que pode. Viu Mary, vampirizada, seguir a prima até à orla da floresta e agarr�-la, abrindo a boca de caninos afiados.
Harry ficou como se estivesse congelado, perante tal cena. Não sabia porquê, mas não conseguia agir. Tentava convencer-se de que tudo não passava de mais um pesadelo, enquanto via Mary inclinar-se para morder Ginny, que implorava, apavorada:
Mary, pára com isso! Tu és boa, não podes morder um ser-humano! Pensa em como te sentirás amanhã. - Ginny começou a chorar. - Mary... Mary, por favor, resiste a essa maldição! Tu consegues, tu és boa! Mary, sou eu... a Ginny!
De repente, a vampira olhou-a nos olhos e largou-a, baixando a cabeça e arfando. Ginny parecia aliviada. Só então Harry conseguiu mover-se... e imediatamente se arrependeu: o barulho que fez ao pisar umas folhas secas despoletou, de novo, o transe vampírico em Mary que, imediatamente, tornou a agarrar Ginny, pronta para mordê-la.
Dessa vez, porém, Harry não ficou parado. Apontando a varinha à professora, gritou:
Petrificus Totalus!
Imediatamente, Mary caiu no chão, petrificada. Soluçando sem parar, Ginny correu para Harry, que a abraçou fortemente, dizendo:
Está tudo bem, agora. Está tudo bem.
