12 – Mulheres!
Esta manhã eu levantei um pouco mais tarde porque estava com muita vontade de perder a aula de Trato com Criaturas Mágicas. Sabe quando bate aquela preguiça incontrolável? Eu fiquei acordado até muito tarde ontem, portanto precisava dormir mais uns minutinhos – ou uma hora... Só quando eu lembrei que tinha que ver a Lílian, eu pulei da cama e convenci meu corpo de que ele podia dormir a noite ou na aula de História da Magia. Devidamente limpo, trocado e perfumado, eu abri a porta do, quase vazio (porque sempre tem alguém dormindo até mais tarde), dormitório dos rapazes e dei de cara com as duas meninas. Parecia que eu estava de volta aos velhos tempos, mas, claro, não era o caso de uma disputa entre as duas ou algo assim.
"Ah! Finalmente a Bela Adormecida acordou!", disse Fanny com os braços cruzados, olhando para mim por baixo, sentada no chão.
"Bom dia...", eu falei olhando de Fanny para Dora, que estava em pé e com a expressão bem menos nervosinha. Engano meu.
"O que é que você disse pra ela?!", ela me empurrou pra dentro do quarto e, depois da outra ter entrado, fechou a porta devagar. "Hein?!!"
"Pra Lilly?", eu estava desconcertado. Ninguém espera começar uma manhã desse jeito.
"Não!", ela deu um sorriso bobo e amarelo, "Pra minha avó! CLARO QUE PRA LILLY!", ela deu um grito e eu levei um tremendo susto. Eu sabia que era da Lílian que ela estava falando, mas não pensei que Fanny Sparks estivesse a par dos acontecimentos.
Mulheres! São uma máfia! Sempre contando coisas umas as outras e fofocando... Conspiração total! Como é que se pode viver com segurança num mundo cheio delas?!
"E quem é ela?", eu apontei pra Fanny ridiculamente. Olha só! Nem minhas palavras me obedecem mais.
"Você sabe quem eu sou Tiago...", ela achou graça (de verdade dessa vez).
Eu pedi desculpas e expliquei que o que queria ter perguntado é porque Fanny também estava ali. Achei que a coisa toda era só entre eu e a Dora.
"E era" Fanny explicou pacientemente, "Mas Lílian deu um tamanho escândalo ontem a noite, quando Dora estava tentando falar com ela, que eu fui incluída ao seleto grupo de pessoas que sabem que vocês andaram se agarrando na biblioteca.".
"Então eu trouxe a Fanny porque duas cabeças pensam melhor que uma.", Dora concluiu com um sorriso eficiente.
"Mas somos três...", eu corrigi meio distraído. E devia ter ficado quieto porque elas me olharam com cara de 'somos duas cabeças a pensar por aqui, Potter'. Sou um perito em interpretar expressões, já reparou? (é um pedaço de papel, Tiago, não repara em nada...)
"Agora que você já está informado, poderia nos dizer o que diabos você disse a ela antes de vocês se beijarem?"
"Antes de ela me beijar..."
"Tanto faz!", berrou Fanny mudando de humor mais uma vez em menos de 5 minutos de conversa.
"Eu não disse nada!", estava sendo sincero! Tinha acabado de vasculhar a memória atrás de alguma coisa importante e não achei nada.
"Nada sobre ter feito uma promessa, talvez...", Dora arriscou.
Eu fiz um "Ahhhh..." porque lembrei daquela coisa estranha que a Lílian disse antes de me beijar. Era isso? Mas isso não tinha feito nenhum sentido, não devia ser importante. Agora que eu já tinha dado sinais de ter me lembrado da tal promessa eu esperava que elas voltassem a falar e me explicassem alguma coisa. Só que eu acho que elas estavam fazendo o mesmo, ficamos os três calados um tempão. Elas olhando pra mim e eu olhando pra elas com cara de 'ok, pode começar a falar agora'.
"Oh, Dora!", Fanny de repente fez um muxoxo, bem típico dela. "Dora!", ela choramingou umas três vezes e a amiga dela olhava pra mim e fazia uma expressão de dor e compreensão. "Dora como?! Olha só pra ele Dorinha! Como pode?!". Juro que o modo como ela estava falando era de dar pena! A Dora (ao invés de me incluir no assunto) olhou longamente pra mim, meneou a cabeça e suspirou antes de responder a amiga.
"Ele é bem bonito, deve ter sido isso...", ela disse dando de ombros e sem muita empolgação. Fanny ia dizer alguma coisa mas desistiue concordou com a cabeça.
Eu cruzei os braços quando finalmente entendi de que se tratava o diálogo delas. Que audácia! Que falta de respeito! Se eu fizesse isso elas iam ficar ofendidíssimas e chorar e me chamar de machista e insensível. Mulheres!
"Ei Fanny! Alguém que está dando em cima do Seboso não pode dar muitas opiniões sobre os outros". Isso não foi muito adulto, eu sei! Eu estava TOTALMENTE despeitado. Mas elas estavam me destratando assim, na minha frente, sem nem se preocuparem em disfarçar! Eu fiquei MUITO ofendido e tenho muita razão pra isso.
"Eu não aceito ofensas de uma pessoa que vem levando foras da mesma pessoa há anos...".
"Dá pra os dois pararem?", Dora pareceu a minha mãe por um segundo, e eu freei a resposta que já tinha na ponta da língua pra senhorita Sparks. "O importante é a Lílian e as coisas idiotas que você", ela apontou pra mim, "disse pra ela".
"Se é aquela tal promessa não teve importância...", eu comecei ainda acreditando sinceramente nessas palavras. Eu não tinha como saber, tinha?!
"Tiago...", Dora, ao mesmo tempo em que me interrompeu, evitou que Fanny recomeçasse a falar. "Veja bem, ela diz 'Se eu der o que você quer, promete me deixar em paz?', você diz, 'Sim', e ela vai lá e te beija.", ela respirou fundo e eu comecei a ficar nervoso, "Você realmente é tão avoado que não fez a relação entre o diálogo e o beijo?"
E eu entendi.
Só digo uma coisa: cabeça das mulheres funciona de uma maneira sinistra.
Eu desisti de falar porque me justificar pras duas não ia me adiantar de nada. E ainda seria muito constrangedor. Eu sentei na cama mais próxima totalmente desacreditando que essas coisas acontecem comigo. E elas SÓ acontecem comigo.
"Vamos lá, Tiago, não é tão ruim assim...", Fanny deve ter ficado compadecida da minha genuína cara de idiota, porque até esqueceu que há cinco minutos atrás estava quase me batendo na cabeça com seu livro de Transfiguração. Mesmo assim, o tom de voz dela não mentia que era tão ruim assim. Mas que burrice!
"E agora?!"
"Agora você convence ela de que não era só isso... Seja cuidadoso com as palavras pelo amor de Merlin, Tiago!"
"Como?!". Acho uma graça me dizerem 'convença Lílian' como se isso fosse fácil, como se fosse possível e como se eu nunca tivesse tentado antes.
"Sei lá! Viemos aqui só para avisar em que pé estão as coisas, porque eu tinha certeza de que você nem tinha percebido".
"Então obrigado!", eu encolhi os ombros e dei risada porque, afinal, é tudo muito insólito. Quer dizer, as situações em que eu entro são inacreditáveis. As duas riram também e foram embora alegando estar super atrasadas. E eu ainda aproveitei a meia hora restante da aula de Trato com Criaturas Mágicas, pra documentar o tamanho da minha idiotice. E isso pode ter certeza que os Marotos não vão ler.
Porque eu deveria perder tempo? Eu fui ate a mesa de Lílian na última aula do dia (que era a nossa única que coincidiu, graças às aulas optativas que dominam agora no sétimo ano), decidido resolver a nossa situação. Ela ficou muito brava quando viu que todas as duplas estavam formadas e ela ia ser obrigada a passar a aula de Feitiços comigo.
"O que é que você quer?", ela disse olhando fixamente para o pergaminho onde anotava as instruções do professor. Lily não tinha olhado pra mim nenhuma vez ainda. Certamente estava com medo de ter uma recaída e me agarrar ali mesmo...
"Quero conversar com você", eu disse fazendo o meu feitiço e o dela por tabela. Não ia aceitar que ela fingisse se distrair com alguma coisa.
"Acho que não temos nada pra conversar...", ela continuava olhando pra mesa, concentrada agora em refazer sua trança. Ela sempre usa tranças nas aulas de Poções e Feitiços, muito prudente, porque não é difícil ver cabelos sendo transformados em cobras ou saindo chamuscados dessas aulas. Muito perigoso pra cabelos compridos como o dela...
Nessa hora fomos repreendidos pelo professor e eu achei melhor não arriscar outra detenção (embora a idéia não fosse de todo ruim). Fiquei de bom menino até o fim da aula (e foi uma tortura!), quando terminou Lílian quase saiu correndo e atropelando as pessoas pro lado de fora. Eu fui atrás dela e achei muito engraçado que ela estivesse indo na direção do banheiro feminino. Não é possível que ela achasse que um banheiro feminino fosse me intimidar, mas acho que era isso mesmo em que ela estava pensando. Eu esperei entrarmos no corredor vazio e fiz o que ela já devia estar esperando que eu fizesse (mas ia se fingir de surpresa mesmo assim...): peguei ela pelo braço e fiz ela parar de andar.
"Me solta! Deu pra atacar mulheres em corredores vazios agora?". Bingo!
"Não seja dramática. Eu não faria isso se você não tivesse vindo para um corredor vazio..."
"Ah, claro! E eu o fiz justamente pra te provocar. Oh, você me descobriu, Tiago Potter!"
"Não seja infantil Evans"
"Não me irrite e diga logo o que você quer. Não! Na verdade não diga nada! Porque você prometeu que ia me deixar em paz, lembra?! Eu cumpri a minha parte, agora cumpra a sua!"
Pelo amor de Merlin, pra cima de mim? Logo eu que já vi coisa bem pior do que uma bruxa bravinha.
"Você não cumpriu a sua parte. Não deu nem sombra do que eu quero de você."
"Seu atrevido!", ela ficou corada e furiosa, "Como você pode pensar em uma coisa dessas?!"
Lílian eu posso pensar em coisas piores do que você imagina. Bem piores mesmo... Nossa, ela nem tem idéia do tipo de coisa sórdida e pervertida que passa pela minha cabeça! Oh Lilizinha, você ficaria chocada... Eu mesmo fico chocado às vezes! Mas não era o caso.
"Não é nada disso, sua pervertida!", eu me permiti a brincadeira e a vi corar mais ainda, "O que eu quero é que você me dê uma chance."
"Uma chance?", ela repetiu como se tivesse sido a coisa mais estapafúrdia que tinha ouvido na vida, "Chance de que?!"
"De me deixar provar que eu sou o homem da sua vida". Da onde eu tiro essas coisas? São muito boas! Ela ficou de boca aberta mexendo o lábio inferior obviamente procurando as palavras certas pra me convencer de que não achava boa idéia.
"Potter...", ela suspirou parecendo muito cansada, "... Quando foi que eu fiz você acreditar que tinha chance? Eu grito com você, eu te enxoto, eu falo mal do você, eu te dou apelidos, eu rio de você, eu evito você, eu..."
"Você me beija...". Sério, eu estava muito inspirado.
Ela ficou muito brava por ter sido interrompida – ainda mais com tanta propriedade e por um argumento tão bom – e ficou me olhando irada por uns minutos, totalmente calada e com cara de assassina. Eu tentei fazer uma expressão amistosa, dar um sorriso, sabe como é, pra quebrar o clima chato.
"Você não tem nenhuma chance, Potter"
"Claro que eu tenho chance. Você me beijou, de livre e espontânea vontade. a não ser que você esteja apaixonada por outra pessoa..."
"Eu não estou apaixonada por ninguém, mesmo assim, isso não te coloca no topo da lista de possibilidade. E eu te beijei pra me ver livre de você! Porque mais eu teria feito isso, Tiago Potter".
"Porque você queria fazer, Lílian Evans".
E eu a beijei.
Ela estava tão linda com aquela cara brava e o cabelo soltando da trança, que eu nem pensei direito nas conseqüências. Eu fui BEM mais delicado do que ela foi comigo (ela não saiu com hematomas, como eu), mas tive que ter o cuidado de 'prender' ela contra a parede para ela não me empurrar ou chutar (já levei um balaço e sei como isso pode doer e sei também que Lílian é bem capaz de ter esse tipo de idéia). Ou, sei lá, quebrar meus dentes. Dentes! Porque dessa vez foi de boca aberta, com língua e saliva, como um beijo de verdade deve ser. E deve ter durado um bom tempo, mas isso eu não posso precisar porque tinha mais o que fazer alem de ficar fazendo contagem de tempo.
"Como você vê, eu tenho muitas chances."
"Nunca mais faça isso sem a minha autorização!", ela me empurrou e colocou as mechas de cabelo que se soltaram do penteado atrás da orelha.
"Ok, agora só quando você me autorizar!"
"Seu idiota!". Acho que ela ainda não tinha ido embora porque estava tentando decidir se me beijava ou se me matava. Não sei porque, mas tenho certeza disso.
"Seja cooperativa comigo Lílian. Eu já provei que tenho uma chance. Se você tem tanta certeza de que não, porque não me deixa tentar?"
"Nunca daria certo.", ela cruzou os braços. Ô garota teimosa! "Somos diferentes!"
"Você nunca conversou comigo, digo, nunca com civilidade! Como pode saber?! A gente até torce pro mesmo time!"
"Glastonburry Dragons?!"
"Sim! Destruímos os Channons semana passada, hein!". Cara, aquilo foi um jogo. Não, serio. Nos detonamos os Channons. Eu fiquei com pena do Remo e do Sirius porque foi realmente um massacre.
"Siiiiim, foi mesmo um grande jogo e... Potter!", ela respirou fundo, fez um bico de birra de criança de dois anos e FINALMENTE concordou comigo. "Ok Potter! Está bem! A gente conversa, eu vou ser cooperativa e você vai ver como eu tenho razão!"
"E se eu tiver razão?"
Ela me olhou de alto a baixo e deixou escapar um sorriso. "Não é óbvio? A gente se casa e tem montes de filhos!", ela disse rindo como se tivesse ouvido a piada mais engraçada do mundo – e mais absurda também. Ela não está levando isso tão à sério quanto eu. Isso, claro, me deixa com a vantagem.
Nota:
Novamente eu não vou poder dar aquelas respostas personalizadas aos comentários de vocês. ( Atolada no meio de um monte de trabalhos e provas. Sejam compreensivas, ok?
Abraços.
