17 – O adivinho.
Só roubei seu diário pra desejar boa sorte com a Lilly!
Almofadinhas.
Nossa, como foi que o Sirius achou meu diário! Que coisa! O problema de ter amigos tão delinqüentes quanto eu é esse, eles sempre descobrem quando eu tento esconder alguma coisa deles. Que coisa... Mas vamos ao baile, isso sim tem que ficar pra história!
A Lílian estava linda mesmo. Exclua o fato de que eu venero ela e tal. Ela realmente se superou. Ela estava com um vestido preto e o cabelo meio preso, meio solto, com mechas pra todos os lados, mas nada muito punk, sabe? (A descrição é confusa, mas você sabe como são as mulheres quando arrumam os cabelos). Realmente muito elegante e bonita, como diria a minha mãe (começar a falar como a MÃE é um sinal de loucura, só pode ser). Ela começou a noite se comportando tão bem, tão quietinha que eu perguntei umas 15 vezes se ela estava se sentido bem.
Ah! Eu devia me tornar escritor! Hahahaha (Credo! Essa pena do Remo transcreve minhas risadas! Que coisa mais bizarra. Mas voltando, eu devia me tornar escritor porque estou contendo o CLÍMAX da história. Eu sou um gênio.
Ok, ok, vamos voltar ao baile.
A decoração estava uma besteira, muito brega e cheia de coisinhas coloridas. HAHAHAHA (Arre! Que medo dessa pena!) Ok, eu não quero falar de decoração nenhuma. Eu nem vi a decoração. Foi mesmo uma noite muito... boa? Genial? Incrível? Mais ou menos a melhor-noite-da-minha-vida? Droga, acho que já estraguei o clima de suspense, não? (Eu falando com o DIÁRIO idiota denovo.)
Diário, acredite ou não eu estou oficialmente namorando a Srta Evans.
Humf... Quebrei o suspense!
Agora só me resta contar como foi e desistir das minhas pretensões literárias...
Acontece que eu estava decidido a conter meus sentimentos em relação a Lily. De verdade mesmo! Ah, depois de tudo que aconteceu, eu achei que era hora de tomar vergonha na cara e perceber que ela não queria nada comigo. Então, numa atitude totalmente perdedora, eu resolvi tentar ser amigo dela. (deprimente). Minha filosofia sobre o que podia acontecer futuramente era o seguinte: depois de anos de devoção casta e servil, ela ia aceitar se casar comigo os 89 anos e eu estivesse numa cadeira de rodas e sem um olho. Ou, eu ia desistir dela e me apaixonar por algum capitão de Quadribol profissional chamado Bob. Confesso que nenhuma das duas opções me parecia muito agradável, mas são as coisas que a gente pensa quando está desesperado.
E eu agi de acordo com essa decisão ESTÚPIDA durante todo o baile. Nós dançamos, nós bebemos e conversamos com a nossa turminha divertida, mas eu nem cheguei perto de dar em cima dela ou coisa assim. Meu amor próprio, pelo menos, estava gostando dessa mudança de atitude. Infelizmente todo resto da minha complexa personalidade estava muito, muito deprimida.
A gente já estava a uma meia hora na festa quando o Sirius apareceu: sozinho (agora eu sei que parte desse tempo de atraso foi culpa da gracinha que ele fez no meu diário). Logo eu deixei a Lílian um minutinho com as amigas dela e fui com o Rabicho ver o que estava acontecendo. Porque Sirius Black, O garanhão, surgindo sozinho no nosso último baile é uma coisa que me deixou um tanto quando chocado. O Remo estava dançando e depois veio correndo, com o cabelo todo bagunçado.
- Sirius, cadê seu par! – acho que todos perguntamos juntos.
- Por aí... – ela deu uma boa olhada na população do salão.
- Como assim por aí!
- Por aí, oras, esperando ser escolhida. – e lá se foi o Sirius, caçar mulheres aletoriamente como ele sempre faz. E o mundo voltou a girar normalmente.
Depois o Remo me contou que o Sirius e a loirona tiveram uma briga de proporções bíblicas nas escadas que se movem e terminaram o tal 'relacionamento' deles. E como o Sirius não tem nenhuma vergonha na cara, resolveu arrumar um par com o baile já começado. Quando eu crescer quero ter metade dessa cara de pau. Se alguém está interessado, eu vi ele durante a noite toda com umas 5 meninas diferentes. Esse é meu garoto! Hahahaha (pena insana, pare de escrever minhas risadas! Inferno)
- Seu cabelo está muito bom hoje, Potter.
Uhum, ela disse isso. Juro que disse! Eu tinha acabado de entregar um copo de groselha de abacate pra ela quando ela surgiu com esse elogio. Disse mesmo! Eu fiquei muito passado, acho que fiquei meio verde, não sei. Geralmente eu não sou pego de surpresa... Como um perfeito idiota eu agradeci. O que eu podia fazer? Já tinha tecido todos os meus elogios quando a vi na ponta da escada, então não ia ficar repetindo, pra ela não achar que eu estava dando em cima dela. Está acompanhando? Ou eu estou falando muito depressa?
Depois disso ela ficou meio estranha, e disse que ia procurar a Fanny lá fora, no jardim. Eu ia caçar uns salgadinhos pra comer, quando a Dora me interceptou.
- Tiago Potter, aonde você vai!
- Comer alguma coisa, a Lily foi atrás da Fanny e...
- A Fanny está fora de alcance no momento. – ela disse me olhando com desconfiança. – Pra onde ela foi!
- Lá fora.
- E você não foi atrás dela!
- Não! Ela me fez prometer que eu não ia tentar mais nada com ela e eu pretendo cumprir.
- Você não tem cérebro. É isso. – ela balançou a cabeça me fazendo sentir muito, muito estúpido. Quando eu ia retrucar e dizer uma coisa BEM feia pra ela, a moça voltou a falar. – Potter, você vai lá fora, vai agarrar ela e vai pedir ela em namoro. Não importa o que ela tenha dito. Some Potter!
Tudo bem que a Dora é uma entusiasta do meu investimento na Lílian, mas dizer uma coisa dessas logo no dia em que eu decidi cuidar do meu amor próprio é crueldade. Meio sem ter opções, eu fui até o jardim e não foi difícil encontrar a Lílian sozinha, sentada em num banquinho de cristal (desses, bonitos que eles fazem em dias de festa), entre uns arbustos de uma frutinha amarela que eu esqueci completamente o nome, mas que fica muito boa em bolos.
- E a Fanny?
- Ocupada... – ela deu uma risadinha involuntária e apontou com a cabeça pro folclórico lugar onde os casais vão se pegar nas festas de Hoggy.
- Jura? – eu comecei a rir porque... sei lá... a Fanny é tão certinha que eu não conseguia imagina-la num daqueles matos com um cara. – Com quem!
- Mas você é mesmo uma velha fofoqueira hein, Potter? – ela riu e quando eu insisti pra que ela me contasse (porque, sim, eu sou uma velha tia fofoqueira), Lily ficou mais séria e disse que eu não ia querer saber. Eu insisti mais um pouco e ela soltou a informação.
NOJENTO! Eu não citar isso porque é muito, muito deprimente. Marotos que por ventura tenham roubado meu diário sem minha autorização: DEDUZAM. Nojento, não? Pobre Fanny...
Ah, Potter- ela começou a rir até ter que apoiar as mãos nos joelhos pra recuperar o ar – Existem coisas piores nessa vida!
Me de UM exemplo!
Ela ficou um tempo com as sobrancelhas erguidas e um meio sorriso, com cara de quem esta fazendo um grande esforço mental.
Eu não sei, mas deve existir...
Boba. Mas me diz... Você não veio aqui atrás da Fanny.
Não... – ela foi parando de rir, mas tinha uma expressão estranhamente divertida.
Só posso concluir que você veio ate aqui pra fugir da minha companhia.
Quase acertou! – ela olhou pra mim com um jeito muito estranho. Eu sei que a palavra "estranho" esta sendo repetida 150 mil vezes aqui, mas foi tudo tão surreal!
Por exemplo, quando ela disse isso, eu fiquei tão irado que nem notei que ela estava rindo e, portanto, talvez estivesse só brincando. Eu e minha boca enorme começamos a falar sem parar.
Eu não entendo! O que eu fiz de errado? Porque hoje eu tenho certeza que me comportei como um cavalheiro! Eu fiz tudo como você queria, Lílian...
Acho que você não sabe nada do que eu quero. Eu já te disse isso uma vez não disse? Tudo que você faz é ficar tentando adivinhar... – dessa vez eu notei que ela estava rindo e deduzi que ela estivesse rindo da minha cara.
Imagine um silencio desconfortável. Esse foi um deles. Longo e horrível. Eu nunca me senti tão burro, porque quanto mais eu tentava achar sentido no que ela estava falando, menos sentido tudo fazia. (Repare como eu estou poético... Affe!)
Eu acho que você não sabe o que você quer, Lily...
Ponto pra você. – ela abaixou os olhos para o chão e ficou mexendo a ponta dos pés. Eu achei que o silencio ia invadir nossa conversa de novo, mas ela levantou a cabeça, olhou pra mim e voltou a falar. Foi um alivio, eu tenho que admitir, porque não consigo me lembrar de ter algo pra dizer naquele momento. – Não... na verdade, acho que não. Se você tivesse dito isso a uns dias atrás eu acho que teria feito ponto... Eu acho que sei o que eu quero agora.
"Acho-que-sei"...
Ela deu risada e uns fios de cabelo se soltaram do penteado, coisa que me deixou olhando de boca aberta feito um trasgo com febre.
Desculpe. Eu sei. Eu tenho certeza. Mas é tão absurdo!
Eu sei tudo sobre querer coisas absurdas... Podemos fundar um clubinho!
Tiago, não faça piadas. – ela me deu um tapinha – Estou tentando verbalizar alguma coisa importante aqui.
Oh, desculpe! Pode continuar...
Ela ficou olhando pra mim com aqueles olhos enormes por uns segundos e depois apoiou o rosto nas mãos e suspirou.
Esquece. Eu não consigo.
Acho que você precisa de uma ajuda... – eu pulei do banco e fiquei sentado no chão, na frente do rosto dela - ... Senhorita Lílian Evans: O que diabos você quer da sua vida!
Dessa vez eu vi a cor fugir do rosto dela e achei que ela fosse desmaiar, começar a chorar, ou sei lá o que. Graças a Merlin, ela não fez nada disso. Ela colocou as mãos nos meus ombros e chegou perto do meu ouvido. Eu realmente achei que ela ia... sei lá, dizer alguma coisa! Eu não tinha noção do que podia ser. Era como se durante toda aquela conversa bizarra eu tivesse tido uma amnésia de tudo que a gente tinha passado 'juntos'. Muito, esquisito...
Adivinha!
Ela teve um acesso de riso e pendeu pra trás ate suas costas encostarem no banco. Eu já disse que não estava pensando direito naquela hora, então entenda o que aconteceu depois como achar melhor.
Eu me apoiei com as mãos no banco ate ficar numa posição boa o bastante pra continuar olhando ela rir, de perto. É idiota dizer isso, mas eu estou constrangido de escrever isso. Que BESTA. Continuando, eu esperei ela parar de rir e ficar olhando pra quietinha, com um olhar que na verdade tinha algo de assustado. Começou a garoar e a gente concordou, sem falar nada, que não seria preciso correr pra dentro do salão com tanta pressa. Possivelmente estava garoando há um tempo já, mas eu não tinha notado.
O que eu posso dizer?
Eu adivinhei... Eu não sou mesmo, muito bom nisso?
Eu estava muito abobalhado ontem, pra contar as coisas com detalhes técnicos e me prendi na parte romântica da coisa. Vou deixar como esta, é claro, mas vou terminar de contar. Depois da gente se acertar (se é que você me entende), e ficar bem molhados – preciso interromper pra informar que ficamos molhados de CHUVA. Sim, porque quando eu fiz essa piadinha pro Sirius e pro Remo, eles rebateram com um comentário de extremo mal gosto que nem vale a pena comentar aqui. Fomos pra dentro do salão, mas não tinha clima pra ficar na festa. Ainda tínhamos tanto pra conversar! Fomos ate a sala secreta atrás da armadura, na ala Noroeste, e ficamos lá ate muitas horas depois da hora certa de ir pro dormitório.
Tiago, como foi que isso começou? – ela disse, interrompendo um beijo especialmente bom.
Tudo começou no quarto ano, quando eu fiz dupla com uma menina muito mal educada e chata, que tinha os olhos mais bonitos que eu já vi...
Ei! Eu não era chata nem mal educada! Eu era tímida! Você estava me deixando envergonhada com essa sua personalidade expansiva!
Tímida? Da onde eu venho as mocinhas tímidas não jogam vidros de tinta pra pena no uniforme de garotos inocentes.
Você estava me irritando! E eu não estava falando de como começou pra você... Você cansou de me contar essa historia! – ela riu, e fez um comentário semi-audível sobre minha suposta mania de falar sobre mim mesmo.
Então...?
Estava querendo saber quando foi que você me convenceu! Porque eu realmente não gostava de você, juro! Mas eu não consigo me lembrar de quando foi isso...
Eu dei de ombros. Que importava? Qualquer que seja a força mágica que fez esse milagre, eu só posso agradecer. Agradecer, mas não muito. Convenhamos que merecia, depois de tantos e tão freqüentes foras.
Agora a gente faz exatamente o que? – nessa hora ela estava deitada na minha barriga, os dois olhando pro teto. – Porque eu nunca achei que isso fosse acontecer, não fiz um plano. Você deve ter alguma idéia!
Bem, meus panos sempre incluíram casamento, uma casa de tijolinhos aparentes, jardim com margaridas e uma meia dúzia de crianças correndo pela casa.
Meu deus! Você pensou em tudo mesmo!
Mas pra começar com um relacionamento oficial monogâmico tradicional.
Namorar me parece uma boa idéia, Potter.
Eu sou cheio de boas idéias, Evans...
Eu estou feliz hoje. Muito feliz. Acho que preciso quebrar um vidro!
Sabe como é, pra expressar a minha felicidade...
