Capítulo: nove

Reconciliação

" " – Fala dos personagens

' ' – Pensamentos

( ) – Alguma intromissões minhas

Havia muito vento naquele dia, o céu estava cinzento e o sol se escondia, indícios de uma forte tempestade que se aproximava, mas a manhã tinha passado sem que ao menos uma única gota de chuva caísse, ainda assim aquele tempo nublado de aparência triste fez com que os alunos da faculdade ficassem em suas salas, biblioteca ou laboratórios mesmo durante o intervalo, por isso somente agora na saída os pátios foram totalmente tomados pelos rostos sorridentes dos alunos. É nesse ponto que retomamos nossa história.

"Ah! Shaoran você vai mesmo nessa escavação? Você mesmo disse que não vai ser tão legal porque o Touya vai junto, então porque você não fica?"

"Você sabe que eu adoro escavações e nem o Touya vai conseguir tirar meu humor durante essa escavação. Toda vez que eu saio em campo com o seu pai você fica assim fazendo de tudo pra eu não ir."

"Aiaiai, é que eu não gosto de ficar em casa sozinha, principalmente a noite.TT"

"Do que você tem medo!"

"Você sabe... fantasmas..."

"Ainda com essa história Sakura! Nem parece que você possui magia e que é bem esclarecida sobre esse assunto." Sakura fez uma carinha de tristeza fingida. "Porque você não pede pra Tomoyo ficar com você enquanto eu estou fora?"

"É verdade! Tomoyo você fica comigo!"

"O quê?" Enquanto os dois discutiam a viagem de Shaoran, Tomoyo caminhava pensativa ao lado deles e nem ao menos havia escutado direito o motivo da discussão, afinal o que seria dessa vez, eles sempre discutiam por tudo. "Me desculpe eu estava um pouco distraída."

"O que você tem? Ficou o tempo todo calada. Nem me chamou de ciumenta ou ficou rindo da nossa discussão, sinceramente acho que você não está bem."

"Não é nada de mais, eu só estava pensando."

"No quê?" Sakura não desistia.

"Como você está curiosa?"

"É alguma coisa que eu possa ajudar? Você sabe que se precisar eu estou pronta pra te ajudar." Vendo que Sakura não ia desistir Shaoran, que sempre percebia mais rápido as coisa do que Sakura (só do que a Sakura mesmo, porque de resto ele também é super desligado, se bem que eu acho que não é muita vantagem ser mais esperto do que ela, é a mesma coisa que dizer que alguém é mais alto do que eu, grande vantagem eu tenho 1,58m! '), percebeu do que se tratava e se intrometeu.

"Isso não vem ao caso Sakura. E então Tomoyo você vai poder ficar com a Sakura enquanto eu estiver viajando?"

"Claro que sim. Eu não tenho nada pra fazer mesmo, vamos nos divertir bastante, não é Sakura?"

"Vamos sim!" O casal continuou andando enquanto Tomoyo ficou pra trás e deu um suspiro de alívio.

'Ufa! Ainda bem que ela não tocou mais no assunto, já estava ficando sem desculpas. Tenho que agradecer ao Shaoran por ter me salvado.'

"Ei Tomoyo! Você não vai vir não!" Gritou Sakura de longe.

"Claro, já estou indo!" Tomoyo correu em direção a eles.

Um pouco longe dali, indo em direção a colina, Eriol ia pra casa também muito pensativo.

'Hoje eu não falei com ela, fiquei nervoso, acho que ainda não estou pronto pra encará-la de novo, eu fui até a sala dela e a vi rodeada de amigos tão sorridente e aparentemente feliz, não me senti necessário na vida dela, ao contrário me senti completamente fora da vida dela. Mas eu não posso fugir a vida toda, se eu decidi lutar por ela eu vou ter que encará-la.'

Um trovão soou ao longe fazendo com que alguns pássaros se agitassem e voassem. Eriol parou e ficou observando.

'Só está ameaçando chover, deveria cair um temporal agora, estaria mais de acordo com meu estado de espírito. Eu não estou com a mínima vontade de voltar pra casa agora, acho que eu vou até aquele bosque que fica perto da antiga escola, no fim do bosque se tem uma bela visão de toda Tomoeda, é um bom lugar pra ficar quando não se quer pensar em nada. Como se eu conseguisse não pensar em nada. O que mais me preocupa é que está tudo muito calmo, calmo até demais. Nenhum acidente, nenhuma explosão pela cidade...É como a calmaria antes da tempestade (Acho que eu já escrevi isso nessa história, estou tão sem criatividade assim!), é melhor eu ficar mais atento pra não se pego de surpresa.

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"Chegamos à casa de vocês, agora eu continuo meu caminho sozinha."

"Você não quer entrar e jantar conosco, Tomoyo?"

"Não Sakura, muito obrigada, mas eu já vou ficar dois dias aqui contigo, não tem necessidade. Você vai amanhã não é, Shaoran?"

"É sim, eu vou de manhã, deixo a Sakura na faculdade e sigo com o Senhor Fujitaka."

"Então eu mando alguém levar minhas coisas pra cá amanhã tudo bem?"

"Claro, você tem a chave, é só mandar alguém mesmo que não estejamos aqui." (Puxa vida isso é que é amizade, mesmo depois de casada.)

"Então até amanhã Sakura. E boa viagem Shaoran, acho que não irei te ver amanhã."

"Obrigado, Tomoyo."

"AH! Não deixa o Touya te irritar muito é só não ligar pra ele."

"Vou tentar."

"Tchau!"

E assim o casal foi ter a sua "despedida" (se é que vocês me entendem) e Tomoyo seguiu seu caminho.

'Eu disse pro Touya que ia tentar me entender de novo com o Eriol, mas é tão difícil principalmente depois de tudo o que aconteceu. Mas eu tenho que tentar, não posso fugir a vida inteira dele ou das minhas dores. Eu sei que esse é o tipo de dor e de passado que não se esquece fácil, afinal era um filho, ou melhor, uma filha, mesmo que eu nunca a tenha amamentado ou segurado nos meus braços com todas as minhas forças, eu já a amava mais do que a mim mesma, naquele dia morreu um pedaço de mim junto com ela, e eu nem ao menos tive a oportunidade de escolher um nome pra ela.'

'O Touya não entende o porque de eu não querer contar nada ao Eriol, mas pra quê causar uma dor dessas nele, de nada vai adiantar. Ela está morta e nada, nem mesmo a dor dele vai trazê-la de volta. O que vai acontecer é ele ficar mais infeliz ainda, e o pior, se sentindo culpado por tudo. Eu mesmo o culpei quando tudo aconteceu, mas depois percebi que ninguém tem culpa de nada, a não ser o destino.'

A essa altura Tomoyo parou. Ela estava em frente ao bosque perto de sua antiga escola, ela ia pra casa mas intimamente ela não queria ir, por isso seus pés a levaram até ali. Tomoyo achava que ninguém tinha culpa das coisas que aconteceram, mas ela não podia imaginar como a magia é poderosa e perigosa, podendo fazer qualquer coisa.

'Esse bosque... Me lembro que Sakura capturou uma carta ai dentro. Ilusão. A carta se transformou na imagem da mãe dela. Muitos viram fantasmas, zumbis, monstros, mas eu estava com tanta fome que tudo o que eu consegui ver foi um bolinho gigante.' Ela sorriu ao se lembrar. 'Tempo bom aquele.'

Tomoyo começou a adentrar o bosque.

'Faz muito tempo que eu não venho aqui, mas eu adorava ver a paisagem de Tomoeda que tem no fim do bosque. Em noites de Lua cheia, Yue e eu costumávamos ir lá admirar a paisagem e a Lua enquanto ele tentava me ensinar magia. Ele insiste até hoje que consegue sentir uma aura mágica em torno de mim, eu tentei convencê-lo de que isso era a convivência com ele e todos os outros que possuem magia mas ele insistiu que não, que a aura de magia que ele sente é única e exclusiva minha, eu não discuti mais se ele quer acreditar nisso...'

'Eu só não entendi porque meus pés me trouxeram pra cá e porque eu decidi entrar no bosque. Mas no fundo acho que foi minha vontade quem me trouxe, eu senti algo me chamando, algo me dizendo que tem alguma coisa pra mim aqui dentro. Será um pressentimento?' Tomoyo deu uma risada. 'Será que Yue tem razão? Que bobagem. Dizem que não é bom ignorar um pressentimento. O que será que tem pra mim aqui dentro? (Rimou!)

Tomoyo chegou ao fim do bosque, o que a aguardava era a paisagem de Tomoeda e, na frente dela, Eriol olhando diretamente para Tomoyo.

"Boa noite Tomoyo."

"Boa noite Eriol. Você quem me chamou aqui?"

"Não, eu não te chamei. Só não estava com vontade de ir pra casa e resolvi vir pra cá."

"Então eu acho que era nosso destino nos encontrar aqui."

"Acho que sim."

Tomoyo continuou andando em frente e foi até o pequeno precipício. Em baixo estava a pista que conduzia até o templo e à sua frente a paisagem de Tomoeda que, perante as circunstâncias, já não parecia tão bela assim.

"Então você consegue sentir chamados mágicos? Isso é realmente uma novidade."

"Quando você está cercada por pessoas dotadas de magia ou então quando você perde sua voz, é perseguida por um piano e fica presa numa dimensão paralela no colégio, você acaba aprendendo alguma coisa."

"Peço desculpas pelos dois últimos incidentes." Eriol sorri ao lembrar.

"Tudo bem. Em comparação com os problemas que adquiri com o passar dos anos, eu bem que gostaria de trocá-los pelos de antigamente."

"Eu também." Eriol diz isso quase para si mesmo.

Um silêncio muito incômodo se instalou entre os dois. Aquele silêncio servia para que ambos se livrassem de suas culpas, incertezas e amarguras.

"Porque você voltou, Eriol?"

"Porque. Você não gostou?" Tomoyo olhou seriamente pra ele e nada disse. 'O que deu em você Eriol? Não é hora para brincadeiras' Eriol se punia em pensamentos. "Me desculpe. Não foi minha intenção brincar nessa hora."

"Você não muda, mesmo. Sempre brincando com as pessoas."

"Eu nunca fiz isso com você Tomoyo! Eu jamais faria."

"Fez sim, Eriol! Fez sim!" Tomoyo sentiu vontade de chorar, mas ela não podia. Ela não sabia mais como fazê-lo. "Você disse quando esteve aqui da última vez, que ia embora porque algo estava acontecendo e você não queria me pôr em risco! Tudo bem eu entendi! Mas o que é que você está fazendo aqui agora! Imagino que, o que quer que estivesse acontecendo de ruim naquela época, não desapareceu assim de repente!"

"Não, não desapareceu."

"Então porque você resolveu voltar agora! Somente agora!"

"Eu... Eu pensei e cheguei a conclusão de que eu não ia conseguir sozinho e que por mais difícil que fosse se estivesse com meus amigos, tudo ficaria mais fácil.!"

"Você deveria ter concluído isso antes. Teria sido tudo tão mais fácil." Tomoyo deslizou até se sentar no chão, Eriol se sentou ao lado dela.

"Me desculpe se te fiz sofrer. Eu não pensei..."

"Realmente você não pensou! Você não pensou que talvez seus amigos fossem fortes o suficiente para agüentar qualquer coisa por você. Você não acreditou em mim!"

"Você tem razão, eu fui um idiota. Mas agora eu sei que posso contar contigo."

"Porque só agora? Porque eu tenho 21 anos? Você se esqueceu que em todos os momentos em que Sakura teve que enfrentar as cartas e depois a sua magia, mesmo nos momentos mais perigosos, eu estive sempre ao lado dela. Se eu me arrisquei por ela, porque não me arriscaria por você?"

"Me perdoe Tomoyo." Eriol a abraçou com todas as suas forças. Era incrível como aquela criatura de aparência tão frágil, conseguia fazer com que ele, sempre no controle de tudo, ficasse completamente perdido."

"Nós não somos mais crianças, eu deixei de ser naquela noite em que você partiu."

"Eu sei."

"Não, você não sabe. Eu não deixei de ser criança pelo o que aconteceu naquele quarto, mas por tudo o que eu passei depois daquele dia, por tudo o que eu passei a sentir."

"Me conte o que foi. Sinto que você sofreu muito. Divida comigo."

"Agora não importa mais, esqueça. O que eu estou querendo dizer é que, por não sermos mais criança, não tem sentido querer fazer joguinhos como os casais jovens costumam fazer, por isso, sim eu te perdôo. Mas me prometa que agora você confiará em mim."

"Eu prometo."

Eles se beijaram à luz da Lua que, embora não estivesse cheia, se fez tão bela quanto podia para encher de magia aquele momento. As estrelas sabiam que aquele casal ainda passaria por muitas provas, mas agora eles estariam juntos e passariam por elas juntos.

"Vamos então? Amanhã temos que acordar cedo, eu ainda tenho que arrumar umas coisas para mandar pra casa de Sakura."

"Vamos sim. Só tem uma coisa que me preocupa."

"E o que é?"

"Shaoran disse que o Touya ia querer pegar no meu pé se eu fosse atrás de você."

"Não se preocupe, você só terá que enfrentá-lo daqui a alguns dias ele foi numa escavação com o Shaoran e o pai da Sakura."

"Sorte a minha e azar o do Shaoran."

"Que maldade."

N/A: Eu pensei em continuar o capítulo, tanto que antes ele tinha outro título, mas resolvi deixar como está, o outro título vai ficar pro próximo capítulo. Eu escreví esse capítulo com tanta facilidade que até me surpreeendí, acordei com inspiração. Como eu resolvi dividi esse capítulo, significa que já estou com metade do outro pronto na próxima semana você já poderão ler a continuação. Até lá me escrevam dizendo o que acharam, meu reino por uma REview (que exagerada!)

beijinhos