Primavera, Verão, Outono, Inverno...Primavera, Verão...

Autor: Lady RR

DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions (perdoem qualquer omissão).

COMMENTS: Esta fic participou do concurso do grupo Casa da Árvore em que tinha como objetivo escrever uma continuação ao ultimo episódio gravado da série The Lost World. A fic tem referências a vários episódios. No final do texto tem as notas, alguns dos nomes são acompanhados por números e quem tiver interesse deve ler as notas, mas isso não é obrigatório, o texto é compreensível sem a leitura das mesmas.

ALERTA: A idéia da fic é que algumas perguntas só sejam respondidas no decorrer da leitura, outras no final. Esse não é exatamente o texto final que entreguei para o concurso, corrigi uns erros de português (espero que todos) e segui algumas das sugestões que me deram, não todas porque sou teimosa e tenho dificuldades de mudar um texto que eu já escrevi, portanto os defeitos do texto continuam sendo culpa minha.

AGRADECIMENTOS: Queria agradecer a turma da Casa da Árvore sempre carinhosa e atenciosa com todos os seus participantes, também tenho que agradecer ao concurso que foi elaborado lá, sem ele este texto não teria nascido, não posso deixar de dizer muito obrigada às meninas que deram sugestões e me animaram a publicar a fic, principalmente Si (Zezé) e Cris Zanini.

AGRADECIMENTOS 2: Obrigada Rafinha, Cris, Nessa, Kakau, Claudia.

Capítulo III: O Repórter

"De repente do riso fez-se o pranto silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama"

Soneto da Separação – Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim

Ned estava caminhando, tentando se livrar da sensação de opressão que ele sentia quando estava envolvido por uma multidão, toda vez que vinha ao porto sentia algo estranho que lhe sufocava, aquele formigueiro de gente o incomodava, ao descer do navio o porto ainda estava cheio e isto lhe perturbou ainda mais, diversos motoristas lhe ofereceram carros de aluguel e ele entrou no ultimo da fila e disse apenas para o motorista tirá-lo de lá.

Assim que se afastaram da região do porto e estavam entrando na região central da cidade, Malone pediu para parar, pagou a corria e desceu, não suportava ficar fechado dentro do carro, sentia que a sensação de sufocamento aumentava, ele preferiu caminhar, caminhava sem destino certo, tomou o rumo mais automático, ele andava mais devagar e podia respirar aquelas ruas eram mais calmas e quase vazias.

Tentava se concentrar em algo, mas não conseguia, para tentar fugir aquela sensação ele tentou escrever mentalmente a matéria sobre a partida do Challenger, mas nada saia, toda vez que iniciava uma frase, lembrava do convés, mas não aquele, outro, mas qual?....O da partida de Londres ou o da chegada?.....O convés do navio que trouxe ele para Europa pela primeira vez ou segunda?.... Qual?....Ele não conseguia identificar.

Tentava novamente se concentrar vendo que aqueles devaneios não levavam a nada, mas não conseguia, a mente lhe pregava mais uma vez uma peça e ele fugiu do navio desta tarde para outro, em outro tempo e lugar. Ele já estava ficando irritado com ele mesmo, afinal isto parecia com as tentativas dele de lembrar de seus sonhos.

Fazia meses que tinha sonhos estranhos, ele não sabia porque os achava estranhos, porque não conseguia se lembrar deles, as únicas coisas que ele se recordava eram algumas imagens soltas que não fazia o menor sentido, ás vezes era dele caindo, outras dele caminhando, ás vezes as imagens eram a de seus companheiros de aventura na selva amazônica, quando se lembrou disso deu um tapa na própria testa, isso fez com que uma senhora que passava olhasse para o jovem.

- Me desculpe. – foi tudo que ele disse e continuou o seu caminho. Agora com um passo mais apressado e já com algumas perturbações, pois ele estava próximo de uma região comercial.

Claro que estou devaneando, afinal tenho tido esses sonhos com eles e hoje encontrei o Challenger e falamos de Roxton e Marguerite. Por isso que estou com essa sensação. Ele achou que a descoberta dos motivos fosse fazer com que a estranha sensação sumisse, mas ela só aumentou. Pensou no grupo, eles nunca mais estiveram todos juntos, ele se encontrou com alguns deles separadamente.

Pensou no Lorde, fazia tempo que não o encontrava, depois do retorno se encontraram algumas vezes, primeiro para comemorar a volta, depois em algumas palestras do Challenger e depois foi mais difícil, a ultima vez que se encontraram foi há mais de quatro meses no seu casamento, seus caminhos não se cruzaram mais, cada um com seu interesse, ele casando e aproveitando a fama que sua história provocou e Roxton foi cumprir seus compromissos, sejam eles quais forem, achou que andou viajando, não conseguia se lembrar se ele falou alguma coisa sobre viajar ou se ele leu, o que importa agora?

De repente seus pensamentos se voltaram para Marguerite, ele pensava "Srta Krux, Krux", e tentava desenhar seu rosto na mente, mas lembrava principalmente de seus olhos sempre inquisidores, uma mulher nada fácil de lidar, por onde será que ela andou todo esse tempo, nunca mais tive notícias dela, acho que a ultima vez que a vi foi à bordo, não consigo me lembrar...foi no navio, no porto, cheguei a vê-la no hotel? Não no hotel não, acho que foi no navio, no porto estava muito cheio e tínhamos muito que pensar, é definitivamente foi no navio, ela estava com aquele vestido vermelho...não isso foi quando fomos à Amazônia e não quando voltamos.....que estranho, não consigo me lembrar...ele foi acordado por uma voz.

- Pensando em que?

- Na Marguerite....

- Em quem? – falou uma terceira voz. Só aí que ele percebeu que havia chegado à porta do jornal, e quem havia lhe feito a primeira pergunta era um novo empregado do jornal, que tinha muita liberdade com ele por ser primo de Gladys, o nome dele é Bill Watterson(6), um jovem bem humorado e um pouco ambicioso.

Malone nem pensou na resposta e logo se meteu em encrencas porque seu primo estava acompanhado da sua ciumenta esposa, outra faceta que ele descobriu depois de casado: sua mulher era ciumenta, daquelas nenhum pouco toleráveis, que não aceitava que nenhuma mulher olhasse para seu marido, quanto mais conversar, e pensar que ele estava sonhando acordado com outra mulher com certeza causaria problemas ao casal.

No início ele gostou e até alimentou esse sentimento, achava que era o jeito dela demonstrar que gostava dele e estava cuidando dos dois, mas pouco à pouco, aquilo que parecia ser uma coisa agradável e que dava um tempero ao casamento estava perturbando Malone, ele se sentia vigiado e pouco confiável.

- Marguerite, meu amor. – ele falou, dando um rápido beijo na face da esposa e logo começou a se explicar – Marguerite, já falei dela para você. – Naquele momento ele ficou feliz por não estar pensando em Verônica seria difícil fingir que a garota não o fascinava.

- Não estou lembrada. – ela respondeu secamente, e Ned sentiu que aquilo não iria por um bom caminho, naquele instante ele teve vontade de estar em outro local com outra pessoa, mas ele não conseguia discernir onde, nem com quem.

- Marguerite Krux, a mulher que financiou a expedição Challenger. – e ele foi logo emendando – como você sabe eu fui entrevistar o professor antes da sua partida e ele me contou que havia encontrado ela alguns minutos antes, pensamos que ela havia evaporado, afinal não tínhamos notícia dela desde de que chegamos.

- E agora a Srta Krux virou Marguerite?

- Não, Gladys, não comece, eu estava só pensando onde ela tinha se metido.

- Sei, mas se estava tão interessado nela, porque não a procurou? Porque ninguém evapora, você faz parecer que existe um mistério por trás desta história, meu amor – ela falou num tom um tanto cínico e provocador, Ned estava começando a se desgastar com aquela conversa.

- Eu não tinha interesse em procurá-la, nenhum de nós se preocupou e o tempo foi passando não há nenhum mistério nisso.

- E agora tem?

- Tem o que?

- Interesse em procurá-la? Você disse que não tinha interesse e agora tem? Está pensando em ir atrás desta mulher?

- Gladys eu tenho que redigir uma matéria para o jornal de amanhã e ver a pauta, não tenho tempo para discussões tolas, o que você veio fazer aqui?

- Já mudando de assunto?! – Ned olhou para ela aborrecido e ela percebeu que tudo que conseguiria seria irritar mais o marido e isso não era admissível, afinal ela era uma boa esposa, tinha sido educada assim, então resolveu mudar o foco da conversa. – Pois bem, se você não quer me esclarecer, eu que não tenho nada a esconder, explico o que estou fazendo aqui, vim pegar um chapéu que havia encomendado aqui perto e resolvi vir cumprimentar o meu marido. Feliz com a explicação?

- Sim, muitíssimo. – Ned não querendo aumentar o clima ruim que havia se instalado, deu um sorriso e perguntou - E o chapéu ficou bom? – ela acenou com a cabeça – Fico feliz por você, nos encontramos no jantar então?

- Sim claro, vou preparar aquela carne que você gosta.

- Espero que não seja carne de raptor novamente. – ele nem se deu conta do que disse, só percebeu que alguma coisa estava errada pelo olhar de Gladys e de Bill, ele olhou e perguntou: "O que foi? O que eu disse?".

- A priminha cozinha tão mal assim?! – falou um sorridente Bill que tentava amainar a situação.

- Eu cozinho muito bem e nossa cozinheira faz um ótimo trabalho, nunca servi nada que deva ter o gosto parecido com um raptor, seja lá que gosto ele tenha.

- Eu disse isso?! Num sei onde estava com a cabeça – Ned não sabia como sair desta, havia acabado de se livrar de uma encrenca e caído em outra – Deve ser porque eu estive conversando com o professor.

- Você comeu muita carne de raptor nesta sua aventura pela selva?

- Não, não muita, não ficamos tempo suficiente para enjoar de qualquer coisa por lá. Foram só alguns dias.

- Eu já estava de saída e Vítor me acompanhou até a porta. Nos encontramos em casa para o jantar. – Gladys fez uma leve inclinação com a cabeça para o primo e virou o rosto para o marido para receber dele um beijo de despedida, e saiu caminhando.

- Vamos entrar, Malone, como foi a entrevista com o professor?

- Para falar a verdade não teve nenhuma surpresa, mas como sempre Challenger foi muito atencioso comigo.

- Que bom. Mas, me fale sobre essa Marguerite.

- Falar o quê? – Ned olhou intrigado para o rapaz.

- Ora vamos, você estava pensando nela por algum motivo, ela é bonita?

- Eu tenho que escrever a entrevista ainda, por favor, não comece você também – mas vendo que o rapaz não tirava os olhos dele e não pretendia sair sem resposta, Ned continuou – Sim ela é muito bonita, mas é muito geniosa e não pensa antes de falar, e eu não à vi nem vou ver, realmente já faz muito tempo que não tenho notícias dela, e agora chega, se você pensa que eu poderia apresentá-los vou informando que eu não tenho como e além do mais ela não faz o seu tipo, aliás o tipo de ninguém que eu conheça, ela é muito independente para ficar interessada por qualquer um.

- Uma mulher moderna – o rapaz respondeu, dando um sorriso sem entusiasmo.

- Se você prefere colocar deste modo, pode ser, agora me deixe trabalhar.

Malone se sentou na sua mesa, pegou suas anotações, seu bloco de notas, lápis e começou anotar, "Ontem estive com o eminente cientista George E. Challenger à bordo do navio..." aí suas idéias pararam outra vez, e ele ficou pensativo sem saber ao certo onde seus pensamentos estavam indo, ficou lembrando do navio, das pessoas, do porto.....e toda vez que tentava se concentrar as palavras fugiam da sua mente, por fim quando já passava das cinco horas, um estagiário o procurou para pegar a matéria, ele levou um susto, mas não se alterou, falou para o rapaz que faltavam uns retoques e mandou ele retornar em vinte minutos.

Finalmente ele se concentrou e devido à pressão de ter apenas alguns minutos redigiu a matéria ao terminar ele se sentiu desanimado ao pensar que ela vai ser rodada naquela noite e na manhã seguinte será entregue nas casas dos leitores além de vendida pelas principais esquinas da cidade, que desperdício de papel, isto não está nem um pouco bom, a Srta Krux teria umas boas palavras ácidas para descrever tal texto....nossa eu estou de novo pensando nela.

Realmente não importa o que eu faça sempre penso em alguma coisa relacionada aqueles dias na selva, como tão poucos dias podem suplantar todos os anos anteriores da minha vida, meus dias de repórter da grande guerra, faculdade....e principalmente meu futuro, mesmo casado e com a perspectiva de criar um filho não sinto que essas coisas tenham a devida importância, sempre pensei que seria maravilhoso escrever a grande obra da minha vida na juventude, e agora percebo que quando vivemos o ápice de nossas vidas tão jovens todo o resto vai sempre ser colocado numa escala abaixo. Como escapar desta armadilha? Como viver o meu cotidiano não achando ele enfadonho e vazio?

O jovem que não era dado a muitas reflexões filosóficas estava cada dia mais inclinado a isso, seus sonhos e instinto o levavam a isto, não podendo explicar o que sentia se voltava para reflexões que acabam não chegando a lugar nenhum. Ele sempre foi mais um homem de palavras do que de ações, mas suas histórias eram descrições de acontecimentos, era aquilo que ele via, ou lhe contavam, e agora ele ficava horas pensando sobre sua vida, mas nada concreto ou focado, era desanimador e às vezes exasperante, e ele sempre calmo e educado às vezes se percebia rabugento.

Finalmente o rapaz veio pegar o texto e ele o entregou sem nenhuma cerimônia, arrumou sua mesa, deu um olhar em volta onde alguns ainda trabalhavam, e pensou mais uma vez "está é minha vida, a vida que sempre desejei, jornalista respeitado, casado, tudo, tenho tudo.......o que há de errado comigo afinal?"

- Boa noite. – cumprimentou as pessoas e caminhou para a rua onde pegou um carro de aluguel e se dirigiu para a sua casa, sua esposa, seu jantar.....

Continua

Notas

Primavera, Verão, Outono, Inverno....Primavera, Verão.... , inspirado no título de um filme de origem asiática.

(7) Mark Hamill ator que fez Luke Skywalker na Trilogia Guerra nas Estrelas.

Comentários são bem-vindos.