Primavera, Verão, Outono, Inverno...Primavera, Verão...
Autor: Lady RR
DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions (perdoem qualquer omissão).
COMMENTS: Esta fic participou do concurso do grupo Casa da Árvore em que tinha como objetivo escrever uma continuação ao ultimo episódio gravado da série The Lost World. A fic tem referências a vários episódios. No final do texto tem as notas, alguns dos nomes são acompanhados por números e quem tiver interesse deve ler as notas, mas isso não é obrigatório, o texto é compreensível sem a leitura das mesmas.
ALERTA: A idéia da fic é que algumas perguntas só sejam respondidas no decorrer da leitura, outras no final. Esse não é exatamente o texto final que entreguei para o concurso, corrigi uns erros de português (espero que todos) e segui algumas das sugestões que me deram, não todas porque sou teimosa e tenho dificuldades de mudar um texto que eu já escrevi, portanto os defeitos do texto continuam sendo culpa minha.
AGRADECIMENTOS: Queria agradecer a turma da Casa da Árvore sempre carinhosa e atenciosa com todos os seus participantes, também tenho que agradecer ao concurso que foi elaborado lá, sem ele este texto não teria nascido, não posso deixar de dizer muito obrigada às meninas que deram sugestões e me animaram a publicar a fic, principalmente Si (Zezé) e Cris Zanini.
AGRADECIMENTOS 2: Obrigada Rafinha, Cris, Nessa, Kakau, Claudia, Aline e Cintia.
Capítulo IV: O Cientista
"...São fiéis, as coisas
de teu escritório. A caneta velha. Recusas-te a trocá-la
pela que encerra o último segredo químico, a tinta imortal.
Certas manchas na mesa, que não sabes se o tempo,
se a madeira, se o pó trouxeram contigo.
Bem a conheces, tua mesa...."
Indicações – Carlos Drummond de Andrade
- Vovô, vovô, mamãe mandou avisar que o jantar está quase pronto. - um menino loiro de cabelos curtos e olhos azuis e brilhantes, que não deveria ter mais do que cinco anos, o acordou com essas palavras e um bonito sorriso.
- Ainda bem que você me acordou estava tendo um pesadelo horrível.
- Mesmo vovô? O que era?
- Era como se eu estivesse em uma das aventuras de Gulliver.
- E você era ele?
- Não infelizmente não. Eu era um Liliputiano e um animal enorme estava querendo me pegar.
- Como um leão?
- Não. – ele falou e já imaginou a decepção da criança quando dissesse qual era o animal, pensou até em mentir, para não perder o brilho daquele olhar, mas não pode, ele nunca podia mentir para o pequeno menino, nem em uma coisa boba como esta - Era uma abelha, mas como eu era pequenininho ela parecia maior que está casa. – ele falou abrindo os braços para ficar mais viva sua narrativa.
- Mas as abelhas são pequenininhas.
- Mas eu era um liliputiano.
- Um lilipuniano?
- Não um liliputiano, eu não contei essa história para você?
- O senhor não contou nenhuma história de Lilipu...isso aí que o senhor disse.
- Liliputiano, repita com o vovô.
- Li-li-pu-ti-a-no. – os dois falaram juntos. – Agora só você.
- Liliputiano. – o menino olhou e sorriu, seu avô também sorria, os dois se davam muito bem e gostavam de passar o tempo juntos.
- Como é essa história vovô?
- Você tem certeza que não te contei a história de quando Gulliver chega numa ilha em que seus moradores eram bem pequenininhos.
- Não senhor, o senhor não contou, eu não ia esquecer, o senhor está contado a história do pé de feijão, e na semana passada foi a de João e Maria com a bruxa.
- Estranho, pensei que meu sonho fosse inspirado na história......
- Por que estranho vovô?
- Por nada.....
- E o senhor ficou com medo da abelha?
- Sim, fiquei meu amor, fiquei com muito medo, foi assustador ver aquele bicho enorme vindo em minha direção.
- Da próxima vez pode me chamar que eu protejo o senhor.
- Com certeza. – falou um avô feliz e babão - Vamos lá, o que sua mãe preparou para nós hoje?
- Eu não sei... – o menino respondeu meio constrangido, nem tinha pensado no jantar até sua mãe lhe tirar de seus brinquedos, seu castelo de blocos estava maravilhoso.
- Então temos que ir até lá e descobrir.
Os dois saíram lado a lado da biblioteca, o avô olhou mais uma vez para o neto e pensou como ele era parecido com a mãe, mas tinha herdado o gênio do pai, então sorriu feliz, nada o deixava mais feliz do que acompanhia dos netos, os adultos o enfadavam, tudo a sua volta parecia carente de alguma coisa que ele não entendia, ainda freqüentava a Sociedade Botânica e algumas reuniões da Sociedade Zoológica, mantinha pequenos estudos na estufa, comparecia a almoços, jantares e palestras de praxe, mas somente as necessárias para não ser considerado um velho recluso e assim ser excluído da sociedade científica.
Quando terminou o primeiro burburinho com o regresso da Expedição Challenger se sentiu aliviado de não ter que dar tantas entrevistas, comparecer a um inúmero infindável de eventos, palestras e atender pessoas que vieram de várias partes do mundo, muitas vezes ele pensava na Srta Krux nestas ocasiões, imaginando que ela agiu certo em sumir e fugir de toda aquela confusão, nem quando ia à igreja aos domingos era poupado das perguntas sobre o platô perdido, às vezes ele sentia a necessidade de se retirar de tudo isso, até de sair da cidade.
Ao mesmo tempo sentia que tinha um trabalho para concluir, que sua missão não tinha sido completada, mas ele não tinha idéia do que seria, pois apesar de já terem passado vários meses todos os dias ele acordava com a mesma sensação de que tinha muitas coisas para fazer, coisas imprescindíveis para a sobrevivência de todos, mas quando queria listar mentalmente as suas tarefas tudo desaparecia como um passe de mágica, e aí voltava para a vida confortável e monótona de um velho botânico praticamente aposentado.
A única coisa que realmente o fazia se sentir vivo eram os netos, principalmente os mais novos, as crianças são completamente imprevisíveis e era exatamente isso que ele mais gostava, não ter certeza do que iria acontecer enquanto brincava com elas, ou quando só observava as crianças, em cada frase poderia sair um comentário inimaginável e tudo para eles era novidade, novo, perceber a descoberta do mundo nos olhos vivos e inocentes dos seus herdeiros era o que ele mais admirava no mundo.
Entrando na sala de jantar ele encontrou a nora:
- O cheiro está ótimo! Será um jantar delicioso...mas teremos visitas? Tem um prato à mais.
- Seu filho mandou avisar há menos de uma hora que traria um colega do hospital, não pude fazer nada de especial, espero que ele não seja muito exigente.
- Não se preocupe minha cara, as refeições aqui são sempre ótimas, e ele não vai esperar uma ceia pomposa já que o acerto para ele vir foi combinado tão tarde, deve ser uma pessoa informal, senão não aceitaria um convite destes.
- Obrigado Sr. Summerlee, o senhor sempre consegue me animar.
- Vou subir para me preparar para jantar, mas já desço para receber o convidado não se preocupe.
Os dois trocaram um sorriso sincero e cúmplice, ele se sentia muito bem na casa do seu filho, a nora lhe era simpática, além de ser confortável não se preocupar com os problemas domésticos, sentia falta de algumas coisa da sua velha casa, lá estava repleto de lembranças da sua vida, dos filhos crescendo e principalmente de Hannah, sentia falta de alguns detalhes como um vaso em cima da mesa, uma determinada toalha, um quadro, o sofá em que várias vezes ele se deitou, mas sentia falta principalmente do cheiro, cada casa exala seu próprio cheiro e era impossível uma casa ter a mesma flagrância que outra.
Desde que voltou de viagem os filhos o perturbaram para que não morasse mais sozinho e estar com os netos era muito bom, então ele se deixou convencer e foi morar com o filho mais velho, e apesar de não se empolgar exageradamente com a mudança gostava da conversa com Arthur Summerlee Jr sobre o cotidiano do hospital, era sempre bem interessante às descrições dos casos e ele sempre aprendia alguma coisa, já a companhia de alguns dos médicos amigos do seu filho não o agradava muito, eles eram muitas vezes pedantes e se sentiam os senhores do mundo.
Tinha um em particular que ele secretamente chamava de Challenger II, era brilhante e invariavelmente se saía bem nas cirurgias, quanto mais complicadas melhor o resultado, e isso só fez aumentar enormemente a sua arrogância, ele esperava secretamente que este não fosse o convidado daquela noite, não queria passar horas com uma pessoa que se achava um deus e ficava se gabando.
Chegando em seu quarto ele fez sua toalete, tirou o paletó de ficar em casa e colocou um mais sóbrio, afinal teriam visitas, depois sentou na cama e ficou olhando o quarto, algumas das coisas ele trouxe da sua antiga casa, mas a cama não foi possível, pois este quarto era menor, então seu filho comprou uma bonita e confortável cama de solteiro, ele passou a mão pelo lençol, sentindo saudades de Hannah, sua esposa morreu há muito tempo mas a saudade permaneceu, saudade e um sentimento de culpa que nunca desaparecia, se desfazer da cama dos dois doeu, mas ele não remoeu muito o assunto. Não era um homem de ficar guardando mágoas, não tinha mais tempo para isso, afinal a vida era muito curta, e com a chegada da velhice esta idéia é mais premente.
Seus olhos se voltaram para a fotografia da parede, ele se ergueu aproximando-se da foto tirada no dia de seu casamento, "Hannah, minha Hannah...você estava tão bonita neste dia, radiante...você não pode imaginar como nossa neta está parecida com você......você iria adorar vê-los crescer....e eu iria adorar estar com você..."
Ele novamente olhou ao redor do quarto e viu seu reflexo no espelho ficou parado se observando, "é estou velho, pareço velho, minhas mãos, rosto, cabelo, e esta grande barriga" ele falava passando a mão pela barriga protuberante "quem diria olhando este velho, que fui capaz de sobreviver a dinossauros? É foi incrível....a maior aventura de minha vida...." seus pensamentos começaram a ir longe, ele caminhava pela...quando foi despertado pela campainha da porta, ele teria que descer imediatamente.
- Papai, boa noite, como o senhor passou o dia?
- Muito bem, e você? Tudo correu bem no hospital?
- Sim, tudo, hoje tivemos um caso de intoxicação que o senhor vai adorar. Mas antes deixe-me apresentá-lo ao Dr. Mark Hamill (7). Dr. Hamill este é meu pai Professor Arthur Summerlee.
- Muito prazer. – os dois homens se cumprimentaram, e o jovem doutor tinha um sorriso um pouco embaraçado nos lábios.
- Pronto Hamill, aqui está o homem.
- Desculpe professor, vir sem marcar com antecedência, mas fazia muito tempo que queria uma oportunidade de conhecê-lo.
- Oh, meu jovem não precisa se desculpar comigo, a minha nora que ficou um pouco preocupada por não ter nada de especial para lhe oferecer, mas lhe garanto o nada de especial dela é ótimo.
- Eu não sou de reparar nestas coisas professor, estou é muito honrado de conhecê-lo.
- Mas por que? Estamos no século da nova geração, dos jovens, do novo, o que você pode querer com um velho como eu?
- O senhor participou da Expedição Challenger, conheceu o platô perdido, e pelo que li nos jornais foi maravilhoso, fantástico, infelizmente não pude comparecer a nenhuma das palestras do professor Challenger e nem as do senhor, estive durante os últimos meses na África, assim que vocês regressaram eu parti.
- Então faremos um acordo, o senhor me fala sobre suas aventuras na África e eu falo sobre o mundo perdido do Challenger.
- Eu não tenho nada de tão interessante para falar.
- Tenho certeza que está sendo modesto.
- Bem não vamos passar a noite toda aqui na porta. Vamos até a sala, assim poderemos conversar mais confortavelmente e tomar um aperitivo antes do jantar. Papai o senhor o acompanha que eu vou ver o que está prendendo minha adorável esposa.
- Claro meu filho. Dr. Hamill venha comigo.
Summerlee estava mais aliviado de que o acompanhante daquela noite não era o pedante amigo de seu filho, e parecia ser um bom rapaz, ele lhe lembrou o Malone, o que o deixou bem feliz, as semelhanças eram muitas, os dois eram jovens, mas o que chamou a atenção do velho professor foi à atitude do rapaz, sua curiosidade não tinha fim.
O jantar correu tranqüilo e o assunto foi a viagem ao mundo perdido, desta vez o Summerlee não se incomodou, pois a conversa foi bem humorada e o rapaz queria saber os detalhes mas não só os científicos, então falaram sobre os zangas, os problemas da viagem, a roupa, comida, detalhes engraçados, e muito sobre os companheiros de viagem e principalmente sobre Verônica, que todos ficaram muito interessados, a idéia de uma jovem civilizada viver no meio da selva era muito exótica para qualquer um.
Também falaram sobre a África, pois apesar do jovem afirmar que não valia a pena Summerlee sabia fazer as perguntas certas. O hospital também foi assunto assim como o caso de intoxicação que receberam, um caso bem interessante de um homem internado naquela tarde, ele chegará àquela manhã do Oriente, por isso estavam pesquisam alimentos do navio, mas descobriram que a doença era causada por uma planta que ele trouxe da China e que deixará ao lado da cama durante toda a travessia do navio pelo mar.
Já no final da noite, quando todos já estavam na sala de estar tomando seu licor, o jovem perguntou:
- E o senhor não pensa em voltar nesta nova expedição?
- Oh, não, meu pai ficará aqui conosco. Nada de viagens na selva, com canibais e todo tipo de perigo, o lugar dele é aqui em Londres com sua família.
Summerlee sorriu e concordou: - É, estou velho para me meter numa empreitada destas....mas não posso negar que a idéia me atrai.
- Como assim papai? Não me diga que pensa em aceitar o convite daquele louco do Challenger? O senhor nem gosta dele.
- Ele pode ser muitas coisas, mas não é louco. E podemos não ser os melhores amigos, mas também não diria que não gosto dele. Mas pode tranqüilizar-se não estou pensando em ir.
Ele respondeu aquilo que esperavam dele, mas lá no fundo pensava na possibilidade, mesmo sabendo que ele no fim não iria, não teria coragem o bastante para voltar, apesar da saudade da sensação que aquela viagem lhe causou, e a conversa no jantar fez ele perceber que estava com saudade dos seus amigos de viagem e de Verônica.
- Está ficando tarde.
- Ainda é cedo, fique para conversarmos mais.
- Está realmente tarde, e já atrapalhei esta família o suficiente.
- De forma alguma, todos gostaram da sua companhia, até meu pai hoje pareceu mais animado, que apesar de não ser raro é sempre muito bom vê-lo empolgado.
- É isso mesmo meu jovem, foi um jantar maravilhoso e a conversa foi melhor ainda.
- Obrigado, muito obrigado mesmo, mas amanhã tenho que entrar cedo no hospital, realmente tenho que ir.
Seguiram-se os pedidos de praxe de retorno e retribuição do jantar e depois as despedidas, o jovem saiu, pai e filho falaram o quanto gostaram da companhia do rapaz, a Sra Summerlee ofereceu chá e avisou que as crianças estavam dormindo e o professor percebeu que não só era hora de deixar o casal a sós como ele também estava cansado, eles pediram para que ele ficasse mas ele achou melhor se recolher.
Foi para se quarto se preparar para dormir, colocou o pijama fez o toalete e como sempre encontrou a cama pronta para ele se deitar, ele sempre se admirava com a competência de sua nora, apagou a luz do quarto e se virou para a cama.
Apesar do quarto estar escuro a luz da rua entrava e com aquela claridade era possível ver perfeitamente seu reflexo no espelho, examinou-se de cima a baixo, passou a mão pela barriga e depois pelo cabelo grisalho, esfregou a barba com a mão e foi para a cama, enquanto se cobria:
É pareço velho demais para fazer as coisas dos jovens.......
ContinuaNotas
Primavera, Verão, Outono, Inverno....Primavera, Verão.... , inspirado no título de um filme de origem asiática.
(7) Mark Hamill ator que fez Luke Skywalker na Trilogia Guerra nas Estrelas.
Comentários são bem-vindos.
