Primavera, Verão, Outono, Inverno...Primavera, Verão...
Autor: Lady RR
DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions (perdoem qualquer omissão).
COMMENTS: Esta fic participou do concurso do grupo Casa da Árvore em que tinha como objetivo escrever uma continuação ao ultimo episódio gravado da série The Lost World. A fic tem referências a vários episódios. No final do texto tem as notas, alguns dos nomes são acompanhados por números e quem tiver interesse deve ler as notas, mas isso não é obrigatório, o texto é compreensível sem a leitura das mesmas.
ALERTA: A idéia da fic é que algumas perguntas só sejam respondidas no decorrer da leitura, outras no final. Esse não é exatamente o texto final que entreguei para o concurso, corrigi uns erros de português (espero que todos) e segui algumas das sugestões que me deram, não todas porque sou teimosa e tenho dificuldades de mudar um texto que eu já escrevi, portanto os defeitos do texto continuam sendo culpa minha.
AGRADECIMENTOS: Queria agradecer a turma da Casa da Árvore sempre carinhosa e atenciosa com todos os seus participantes, também tenho que agradecer ao concurso que foi elaborado l�, sem ele este texto não teria nascido, não posso deixar de dizer muito obrigada às meninas que deram sugestões e me animaram a publicar a fic, principalmente Si (Zezé) e Cris Zanini.
AGRADECIMENTOS 2: Obrigada Rafinha, Cris, Nessa, Kakau, Claudia, Aline e Cintia.
Capítulo VI: A Garota do Futuro
Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
A fábula inconclusa,
Suportar a semelhança das coisas ásperas
De amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
Que rasga em mim o acontecimento,
Qualquer acontecimento
Que lembra a Terra e sua púrpura
Demente?
Acordar, Viver – Carlos Drummond de Andrade
Ela acordou sobressaltada, olhava para todos os lados, seus olhos não estavam acostumados com aquela luminosidade, piscou algumas vezes e finalmente reconheceu o lugar onde estava, respirou aliviada percebendo que estava exatamente no seu local de dormir e as suas coisas estavam exatamente onde ela havia deixado, só neste momento ela tirou a mão de sua balestra e a pousou ao lado do seu corpo.
Riu de si mesma, não era a primeira vez nos últimos dias que sonhava com animais enormes e ferozes a perseguindo, pegou um livro que estava aberto ao seu lado e falou consigo mesma:
- "Tenho que parar de ficar olhando para essas criaturas".
Mas ao mesmo tempo pensou que elas eram tão lindas e fortes, havia qualquer coisa nelas que a atraíam, ela as temia porque só pelas fotografias do livro dava para perceber que esses animais não poderiam ser mortos facilmente.
- "Será que alguma pessoa vivia no tempo de vocês?"
Depois do primeiro pesadelo ela tinha decidido deixar aquele livro longe dela, mas não conseguiu se livrar dele, ele a fascinava, ela não sabia ler, mas era um livro com muitas imagens, e todas de coisas que ela não conhecia.
O livro era de capa preta e o seu assunto era a pré-história em especial os animais que lá viveram, a página que estava aberta mostrava a figura de vários brontossauros um dos que ela mais gostava, logo seguido pelos t-rex e raptors, que eram seus preferidos, ela não sabia seus nomes e os chamava de grandão, dentuço e gatos. Ela não sabia porque, mas achava que aquelas criaturas eram astutas como os gatos.
Muitos animais morreram depois da guerra apocalíptica que acabou com o mundo, a grande maioria foi extinta, alguns que sobreviveram viraram comida, mas os gatos, apesar de serem caçados e também quase não terem o que comer, conseguiram se manter vivos, eram espertos e a cativaram quando ela era criança, ela os admirava como admirava aqueles olhos vivos das criaturas do livro.
A moça esfregou seus olhos e se espreguiçou, ali era um ótimo esconderijo, ninguém nunca desconfiou que ela ficasse nos tubos de respiração daquela construção, ele só tinha um problema era muito frio à noite e simplesmente uma sauna durante o dia, mas ela não se mudava, afinal só lá que ela poderia tirar umas horas de sono sem ser capturada pelos caçadores de escravos, e principalmente não era importunada por aquele canalha que traiu todos os seus amigos entregando-os aos traficantes de escravos.
Apesar de já terem se passado anos ela nunca se perdoou por um dia ter confiado nele, mesmo sabendo que ela não foi a única a ser enganada, ela não se conformava de não ter percebido quais as reais intenções daquele jovem sorridente. Ela deu um tapa em seu próprio rosto para esquecer daquele sujeito e tudo o que tinha acontecido, afinal ela tinha coisas mais importantes para fazer, estava com fome, precisava arranjar alguma coisa para comer e rápido.
Ficou imóvel alguns momentos, atenta a qualquer ruído que pudesse denunciar a presença de algum estranho, puxou a grade do respiradouro para dentro deu uma olhada atenta em volta, atenta a tudo, observou os cantos que poderiam servir de esconderijo para alguém de tocaia e depois de se sentir segura se esgueirou para fora, e recolocou a grade no lugar.
Depois disso tomou o cuidado para que ninguém que pudesse passar por lá visse suas pegadas ou qualquer vestígio de que ela tivesse transitado pelo local, era uma possibilidade remota que alguém aparecesse, mas seguro morreu de velho. Este era um ritual de todos os dias e eram essas precauções que poderiam parecer exageradas a qualquer leigo que a mantinham viva e livre.
A garota caminhou por dentro do prédio, sempre próxima às paredes e atenta a qualquer movimento ou ruído, ela sabia que não encontraria ali nada que pudesse comer, o lugar já havia sido revirado diversas vezes, por diversas pessoas, inclusive por ela.
Sua esperança era encontrar alguma coisa num esconderijo que havia sido descoberto pelos traficantes há alguns dias, já fazia semanas que ela sabia que tinham algumas pessoas vivendo no telhado de um prédio que um dia deveria ter sido uma biblioteca, ela não se aproximou e torceu para que eles não soubessem da sua presença à apenas alguns quarteirões, foi sua sorte eles não terem percebido nada, mas foi azar deles, eles não serem tão silenciosas e precavidos, não só ela achou o esconderijo mas traficantes também os encontraram.
Ela já tinha ido lá há alguns dias, foi assim que achou o livro com as gravuras que ela tanto gostava, mas quando estava l�, ouviu o som de um carro se aproximando e tratou de ficar longe do local.
Era costume dos traficantes voltar várias vezes no local de um esconderijo descoberto para saber se alguém que escapou da primeira vez era burro o suficiente para voltar, infelizmente eles costumavam ter razão porque sempre aparecia algum retardatário que tinha a intenção de pegar as suas coisas, ferramentas ou comida.
Agora ela não tinha muitas opções e resolveu se arriscar, não havia nada para comer no seu local secreto e não tinha outra idéia na cabeça, pensou por vários dias se seria seguro, ou até mesmo um outro lugar para procurar comida, mas nada lhe veio à cabeça.
- Essa maldita necessidade de comer!...Seria ótimo não precisar assim de comida...Alguém poderia inventar alguma coisa para acabar com este tormento, afinal nunca há comida o suficiente.
Durante os anos que ela ficou escondida no metrô, ouviu histórias de que mesmo antes da guerra não havia comida suficiente no mundo para todos, e nos últimos dias este pensamento lhe passava pela cabeça, fazer algo que acabasse com a fome. "Esses homens de estudo inventaram quase tudo, até mesmo um jeito de acabar com o mundo, mas na fome eles não deram um jeito", ela tivera esta idéia num sonho e quando a fome a apertava ela revivia estas idéias.
Já próxima da biblioteca ela parou, ficou algum tempo de tocaia para ter certeza que ninguém vigiava o prédio, depois ela o rodeou atenta aos outros edifícios e depois quando não tinha mais dúvidas de que o local estava completamente abandonado, entrou por uma das janelas mais baixas. Subiu para o andar superior e lá foi procurar a passagem que dava para o sótão, não foi difícil encontrar, os traficantes deixaram a passagem escancarada, e até a escada de corda estava abaixada. Um calafrio lhe percorreu a espinha:
- Isto está muito fácil.
Deixando o medo de lado ela subiu a escada e ficou parada tentando fazer com que os olhos se acostumassem a pouca luz do local, logo ela se adaptou e conseguiu vasculhar o local, tinha poucas coisas espalhadas, aquelas pessoas não deveriam ter muitas coisas e o que teria algum valor já foi levado. Ela ainda achou um pequeno par de sapatos.
- Tinha uma criança com eles...quanto tempo ela vai sobreviver?...Melhor não pensar nestas coisas...onde eles poderiam guardar a comida?...
Remexendo as coisas que estavam espalhadas ela não achou nada, ai começou a tirar as tábuas do lugar e abrir qualquer canto ou pequeno buraco que pudesse servir para guardar latas ou pão, ou...na verdade não importava o que, contanto que pudesse ser de alguma forma chamado de alimento...finalmente ela achou num dos vãos entre a madeira e o telhado uma lata, era uma lata de salsichas, ela sorriu para si mesma, afinal valera a pena correr o risco, ela continuo procurando e achou um pequeno saco com pão dentro, mas não poderia ser comido estava completamente podre, quase todo verde e com pontos de bolor, ela fez uma careta e quase disse uma prece lá do jeito dela:
- Diabos, bem que poderia ter mais alguma coisa, vamos , vamos, pense onde mais eles poderiam guardar...
Ela ainda procurou em mais alguns lugares entre a parede e o telhado e também nas vigas, aí radicalizou e começou a tirar pedaços das tábuas do chão, apesar de saber que a maioria daria para o andar de baixo e se ela não fosse descoberta pelo barulho que estava fazendo, seria pelo tombo quando o andar desabasse...parou alguns instantes pensando na besteira que estava fazendo, e só aí resolveu parar e se concentrar:
- Bem nada de comida aqui, mas poderia ter mais coisas... - conseguiu dois tocos de velas, e uma caixa de fósforos com alguns ainda intactos.
Quase na saída ela teve uma idéia que veio como um raio.:
- Eles podem ter escondido comida em outro lugar, porque eles guardariam tudo no mesmo local? Deve ser por isso que saiam tantas vezes...
A garota desceu no sótão e começou a olhar ao redor, percebeu que levaria dias procurando em todos os cantos e que tal operação seria muito arriscada, ficou imóvel por alguns minutos depois encostou-se à parede e agachou-se ainda olhando a toda volta.
O prédio era um quadrado de dois andares. Na frente deveria ter tido portas grandes, mas que não estavam mais l�, a saguão era separado por um balcão que ficava a apenas três metros da porta e se estendida por boa parte da local, depois do saguão havia um grande espaço, com muitos papéis espalhados pelo chão, na verdade eram páginas de livros e talvez também jornais, por toda a volta, tinha estantes nas paredes, na verdade as paredes eram as estantes, em alguns pontos os livros ainda estavam l�, além desta enorme sala que hoje está quase vazia ( o lugar deve ter sido a sala de leitura da biblioteca) no primeiro piso tinha uma escada que dava acesso ao andar superior e também uma passagem que levada a um corredor que dava acesso aos banheiros, ao local que deveria ter sido a cozinha dos funcionários, um depósito e a saída para os fundos do prédio.
No andar superior é que deveriam ficar os livros, era também amplo e só tinha duas sala que hoje estavam completamente destruídas e praticamente vazias as únicas coisas que restavam eram alguns livros e muitos papéis soltos, assim como em todos os ambientes do prédio, na sala principal as estantes ainda estavam quase todas l�, apesar de muitas delas destruídas, mas como não eram de madeira não foram levadas, e havia pilhas de livros em alguns lugares.
Ela continuava observando esperando que alguma coisa chamasse a sua atenção, ela agora estava na ponta de cima da escada, olhando hora para o saguão inferior ora para o superior, quando seus olhos perceberam que em alguns poucos lugares os livros estavam ainda nas estantes, nos seus devidos lugares.
- Como não vi isso antes, mas que burra!
Desceu rapidamente, mas não sem cautela, pois já havia recuperado sua calma e não desejava que nada estragasse o seu dia, ou sua vida, e caminhou na direção dos livros, teve que fazer uma grande volta porque não queria ficar exposta a qualquer par de olhos fora do edifício, chegando ao primeiro lugar, tirou os livros do lugar e percebeu que um pedaço da parede atrás dos livros estava no mínimo estranho, ela empurrou e um pedaço da parede praticamente caiu na sua mão, os antigos moradores do prédio haviam feito cuidadosamente buracos nas paredes mas sem destruírem os tijolos assim depois de guardar o tesouro deles eles recolocavam os tijolos e depois os livros.
No primeiro lugar ela achou dois vidros um de mini-milho e outro de pepinos, no próximo não teve tanta sorte não havia nada, atrás de uma terceira fileira de livros não tinha nada a parede estava intacta, ela descobriu para sua decepção que algumas fileiras eram só para enganar. Continuando este trabalho, ela ainda achou mais duas latas uma de palmito e outra que ela não conseguiu identificar.
Pegou suas "compras" e saiu do lugar assim como entrou, estava feliz consigo mesma, afinal o risco não foi tão grande pela quantidade de comida que conseguiu, era a primeira vez em meses que ela tinha tanta coisa para comer, voltou para seu esconderijo confiante.
Claro que parou algumas vezes e fez alguns desvios para garantir que não estava sendo seguida, ao abrir a passagem pelo respiradouro colocou primeiro suas conquistas dentro da passagem e quando ia pular para dentro, parou, ficou olhando o lugar vazio, quente, com o ar viciado e com quase nada que realmente tivesse algum significado para ela.
A Garota deu um suspiro e continuou olhando para suas coisas, um pano que ela fazia de coberta, um pote plástico que era seu prato, mais algumas coisas úteis (faca, cantil, etc), enfim nada interessante, ela pegou o livro com as figuras e a lata de salsicha e resolveu passear.
- Está muito quente para ficar aqui dentro. Com a sorte que estou hoje posso até encontrar mais comida.
Falou mais sem muita convicção que isso fosse possível, ela queria mesmo é passear, não ficar naquele local claustrofóbico.
Saiu novamente com todos os cuidados e se dirigiu à pequena área verde praticamente ao lado do prédio onde ela se "hospedava", haviam lhe contado que ali existiu uma grande floresta, mas agora era um pequeno lugar que dava para atravessar em quarenta e cinco minutos se a pessoa não andasse muito devagar, tinha árvores, e algumas delas eram realmente gigantes, e lá também tinha uma pequena caverna bem no meio do caminho, para seguir adiante era preciso contornar aquela pequena colina com a caverna bem no meio.
Ela conhecia o lugar muito bem, foi ao local diversas vezes, e nas últimas semanas ela tinha adquirido o gosto de visitar o local, por mais que fosse perigoso, ela tinha uma forte sensação de segurança e conforto quando estava l�, principalmente perto da imensa árvore que praticamente ficava no meio da área.
Ela não se importava com o perigo, e parou de questionar a razão desta sensação já que não achava respostas satisfatórias, ela só aceitou o fato de que se sentia bem ali.
Caminhando em direção ao seu novo local favorito ela não deixou de prestar atenção a sua volta, chegando lá ela sentou à sombra de uma das árvores e ficou folheando o livro só imaginando como seria viver num lugar com aquelas criaturas, um lugar com fartura de alimentos e principalmente com pessoas que ela pudesse conversar, seria legal ter uma amiga, ter uma família...
ContinuaNotas
Primavera, Verão, Outono, Inverno...Primavera, Verão... , inspirado no título de um filme de origem asiática.
