A Melodia de Arwen
"Onen i-Estel Edain, ú-chebin estel anim."
"Dei Esperança aos dúnedain, não guardei nenhuma para mim."
Capítulo 1 – A Floresta Dourada.
Ela caminhava docilmente, levando a luz para o seu povo, os mallorns abriam a passagem, em carícia à alta dama élfica. Luthién voltara os elfos; e a bela Lothlórien cantava o seu retorno. Os seus longos cabelos pretos estavam presos à presilha dourada, como os mallorns de Lórien.
Arwen Undómiel viera atender um pedido de sua avó, a sábia senhora da Floresta. Desde a partida de sua mãe para os Portos Cinzentos, a bela senhora de Valfenda dividia-se entre sua casa e o lar de Galadriel.
Uma sensação brotava em seu coração, indefinível, entretanto presente. A sabedoria de seus longos anos a impedia de apressar-se; mas as batidas de seu coração, os sonhos em suas noites irregulares... Talvez, a Senhora dos Galadrim adivinha-se o enigma que assolava...
Seus olhos passearam por Lórien, a vida dos eldar lhe fora concedida, mas em nenhum local, nem mesmo Imladris, sentia a imortalidade tão palpável quanto em Lórien. Um passado vivo e belo. Encantado e distante do mundo, e apesar de amar o pai profundamente, sentia que apesar da Sombra estar caindo rapidamente no mundo dos homens, e na preocupação de seu pai, em Lothlórien, a sombra não pairava. Em Lórien, sorrir ainda era possível.
O dia completava a metade de sua jornada, e era possível ouvir o Nimrodel correndo, cantando com a bela voz da alta elfa perdida de seu companheiro Amroth, mas as promessas de ambos ainda vivem em Lórien. Assim como parte do amor que lhes fora presenteado. Um arco-íris cortava o céu, desafiando em sua beleza, completando a sua grandeza.
As árvores, seus troncos cinzas e lisos, movimentavam suas folhas, felizes, pois o coração de Lórien despertaria naquela noite. Os elfos estavam encantados com a volta de sua senhora, ou teriam prestado atenção nos murmúrios das árvores.
Cerin Amroth despertaria, mas apenas uma elfa, ouviu o clamor das árvores.
O talan brilhava, e Arwen via-a descer as escadas e sorrindo fez uma reverência. Até mesmo, entre os elfos, a autoridade e sabedoria de Galadriel, a fazia adorada.
Senhora – sua reverência foi delicada e discreta. A senhora dos Galadrim não gostava de exageros, especialmente de sua neta.
Galadriel sorriu em resposta ao cumprimento da neta. Ela estava tão bela! Os cabelos negros como de Elrond, a postura e altivez de uma rainha, e a alma grandiosa dos elfos do começo das eras, mas em seus olhos via sua filha, Celebrían, de quem sentia saudades; ao ser ferida no corpo e na alma, sua filha deixara a Terra-Média e com sua suavidade e doçura, partira seu coração e de seu marido. Entretanto, a senhora dos Galadrim, respeitava o destino. O destino que colocava as peças tal qual um tabuleiro de xadrez. O destino que prepararia sua próxima jogada está noite, pois ela, Galadriel, ouvira o clamor das árvores.
Cerin Amroth despertaria.
E mesmo sem ouvir a sabedoria das árvores, os olhos de Arwen contavam seu destino, assim como a batida inconseqüente de seu coração.
Arwen, seja bem-vinda. Lórien canta sua volta. – cumprimentou a bela senhora.
Senhora, estou feliz por estar de volta, e preciso de sua sabedoria. – respondeu diretamente, a filha de Celebrían.
Meus conselhos de feiticeira? – brincou Galadriel.
Arwen negou com a cabeça:
Seus conselhos de mãe – pediu, com sua voz melodiosa.
Galadriel sentiu o coração bater mais forte, podia entender o amor que Elrond dedicava aquela criança, Arwen estava destinada a embelezar a vida de seus semelhantes, e como Celebrían destinada a partir seu coração.
O ar espalhava o suave perfume das elanor e niphredil, a encosta Sul da colina de Caras Galadhon, era dominada pelo verde, um jardim fechado que abrigava uma concavidade onde corria uma água limpa e curadora. Naquele cenário, que seria visto muitos anos depois pelo portador do Anel e seu servidor Samwise. Galadriel sentou-se na grama verde aspirando o ar, sorrindo, estava novamente na mesma posição.
Eu me lembro quando sua mãe questionou-me sobre o amor! – iniciou a Senhora.
Arwen negou.
Desculpe, lady Galadriel, mas minha pergunta não é sobre o amor! – respondeu com altivez.
Galadriel sacudia a cabeça, revelando os cabelos loiros pálidos. "Ela ainda é mais orgulhosa e ao mesmo tempo temerária que Celebrían. Que os Valar abençoem minha resposta".
Sua pergunta é sobre seus sonhos.
Arwen ergueu a sobrancelha, surpresa.
Eu sei que não deveria me surpreender, mas é impossível. – a Estrela Vespertina fechou seus olhos, buscando o sonho gravado em sua memória, buscou a coragem que nunca lhe abandonava e, entretanto precisava de cada gota de sua essência.
Sonho com traição – continuou ela, em tom triste e seu rosto foi coberto pela noite da preocupação e o sorriso de reencontro desapareceu da face da bela dama.
A Senhora de Lórien manteve o silêncio, percebia que a visão concedida como graça a Elrond, também tocara a sua filha. E teria de oferecer paciência para que Arwen compreendesse o significado desta graça.
Encorajada, Arwen prosseguiu:
O sonho mostra o anel de Barahir e pude ver a luz do sol através das folhas das árvores. Apesar da beleza de nosso mundo, a luz que provinha dessas folhas era ainda mais bela; senti-me amada e estimada, e meu coração se abrasou com esse sentimento; entretanto esse não foi o fim de meu sonho, a luz estava ameaçada, a sombra crescia, furiosa e cruel, mas a luz persistia. E ao cair, ao desvanecer, ela chamava meu nome. – Arwen abaixou a cabeça, demonstrado a dor provocada pelo sonho. Sentindo-se aliviada e ao mesmo tempo, insegura sobre seu sonho.
Galadriel levantou-se. O que sua neta chamava de sonho, era em fato uma visão, a visão do destino, que até mesmo ela, consciente e sábia, desejava não ver. O fim da Terceira Era. Considerou a clareza com que Arwen vira o destino de toda a Terra-Média.
"Elessar – ele está próximo, a cada dia mais próximo. E enfim a visão de Arwen se relacionava ao amor."- concluiu a Senhora dos Galadrim.
Querida Arwen – disse enfim a nobre senhora- Preciso pensar sobre o que disse.Esta noite, conversaremos; descanse e fale com Celeborn. Ele está ansioso por sua chegada.
Arwen aquiesceu, ela também não se sentia pronta para ouvir a resposta.
E sentindo a brisa envolvente, Arwen deixou a Senhora dos Galadrim.
Sozinha, acompanhada apenas pelo verde da floresta. Galadriel lembrou-se de sua promessa feita há muitos anos. Entregar a Elessar a seu verdadeiro proprietário. As palavras contavam a dor destes anos, a Sombra e a incerteza da vitória. Muitos anos se passaram, contudo a mesma história. A história de um grande rei, traído pelo orgulho, mas que nunca traíra sua honra, e seu último pensamento antes da morte certa, fora tentar salvar seus descendentes, enviando seu vassalo e companheiro Ohtar, com os fragmentos da Narsil. A história continuava. E seus descendentes se ligavam aos descendentes de Isildur, pois era o legado dos elfos defender a vida, até sua partida para os Portos. Mas ainda era cedo. Para os Portos e para a conclusão da história.
