Capítulo 3: As Folhas de Lórien.

Seus passos encontraram o caminho, ouvindo o canto do Nimrodel, muitos advertiam sobre aquela passagem. No entanto, não havia caminho mais belo e Aragorn havia deixado o medo de lado; se a traição morava em todos os cantos, porque uma vez não seguir o clamor de seu próprio coração.E ele acreditava na sabedoria dos elfos; a noite e as estrelas guiavam seu caminho. Conhecia os filhos de Elrond e tinha-lhes amizade e afeto. E foram eles que lhe contaram o segredo de Lórien, o seu poder era real, e a terra dos Galadrim era encontrada apenas quando desejava ser vista. Agradeceu o desejo de Lothlórien, pois contava com uma noite de paz, uma noite de paz que serviria de consolo por muitos anos.

Ao entrar em Lórien sentiu o poder das primeiras eras. Se não estivesse tão cansado, Aragorn cantaria a beleza daquela terra.

Pode sentir os olhares élficos, enquanto atravessava a bela cidade. Entretanto, eles se esconderam nas árvores, e Aragorn não podia vê-los. A sua escolha havia sido feita nas Terras Ermas e seu coração não desejava voltar.

-Sou Aragorn, amigos dos elfos, desejo repousar em sua terra graciosa. Por esse motivo, ousei entrar, peço desculpas e aguardo seu julgamento.

Murmúrios entre os elfos, ele pode ouvir, mas seus rostos permaneceram escondidos.

Uma voz, bela como a de um barítono, soou na noite da floresta.

-Sabemos quem você é, mellon, siga as folhas de Lórien, pois esta noite nosso povo esta em festa. E em nossa alegria, a pedido da Senhora da Floresta, lhe concedeu a honra de ver o caminho que poucos viram e menos ainda verão, pois a Sombra cai e os amigos minguam, mas tenha esperança, esta noite, encontrarás a paz.

Quieto como uma árvore, Aragorn ouviu as palavras, e permitindo-se a felicidade de uma noite de paz.

-Eu lhes agradeço.- palavras pequenas para contar sua história de lutas e poucos recantos.

-Siga as folhas de Lórien, Aragorn. E encontrará sua paz. – disse os elfos e desapareceram na noite.

As folhas de Lórien, as folhas douradas começaram a cair das árvores, quase no instante das despedida dos guardiões da floresta. Um espetáculo de beleza ímpar, as folhas caiam, e um estranho poder era liberado; provinha uma brisa gentil que mostrava o caminho. Diante do encanto, Aragorn reparou em suas vestes; lembrava mais um maltrapilho do que um descendente do último grande rei. Ficaria feliz em encontrar sossego para cuidar de si, entretanto repeliu o pensamento, uma noite de sono seria bálsamo suficiente para o seu corpo e sua alma.

Seguindo as folhas, Aragorn constatou que elas o levaram até um pequeno braço do Nimrodel. Sorriu consigo mesmo, até mesmo as folhas acreditavam que ele precisava de um banho.

Aproveitou a água, e viu o corte do rufião diminuir diante de seus olhos, entendia porque Lórien muitas vezes se protegia dos estranhos, nenhum homem poderia resistir a seu poder.

Vestiu suas roupas, e continuou seu caminho cada vez mais intrigado com o caminho a ele dirigido.

Ouviu os elfos cantando, uma bela melodia, entretanto pareceu a ele, que mesmo os elfos aguardavam por uma outra voz. A coroação de sua melodia.

Não havia árvores nesse trecho apenas um jardim, e no centro dele uma elevação verde, que continha uma bacia.

-Acho que tomei o caminho errado! – pensou, contrariado, insatisfeito de estar invadindo na terra onde encontrara repouso.

-Acredita mesmo nisso, Estel, que existam caminhos errados? – a voz dela o sobressaltou, a voz era grave para uma mulher, entretanto mantinha a musicalidade.

E Aragorn virou-se para ver pela primeira vez aquela de que só ouvira nas antigas histórias.

Ela era muito bela, e emitia uma luz que poderia cegar ou mostrar a verdade, seus cabelos de ouro pálido, e em seu vestido branco, Aragorn fez reverência, pois até mesmo um tolo, sabia quando estava diante de uma rainha de poder imenso.

E olhos dessa rainha repletos de sabedoria e astúcia.

-Lady Galadriel – disse com a voz embargada.

E Galadriel olhou para o herdeiro de Isildur, podia ler em seus olhos suas dores, sua luta, sua paciência e seu amor por Arwen.

Elrond várias vezes mencionara a esperança que ele representava, mas a própria Galadriel ficou surpresa ao vê-lo, pois em muito ele se assemelhava a Elendur, filho mais velho de Isildur, que lutara ao lado do pai, intuindo-o à sabedoria, sua queda foi lamentada pelos elfos, com tanta tristeza, pois para aqueles que o conheciam e sabiam da história do anel viram em Elendur, uma esperança, pois tinha grandeza o suficiente para não se deixar dominar pela maldade do anel. E contemplando o mais belo filhos dos homens, Galadriel teve a certeza de uma visão muito antiga. Aquele rapaz, exilado pela sabedoria, teria força necessária para mudar o destino da Terra Média, se outros como ele surgisse, em povoados diferentes, e juntos caminhassem ao seu lado.

Mas Galadriel não se intrometeria, este é um assunto para os magos. Magos como Gandalf que amava a Terra-Média e os seres com desenvoltura única. A ela, cabia cumprir sua parte nesta história, e partir para os Portos.

-Eu não sei se existem caminhos certos, milady. – respondeu Aragorn.

Galadriel ignorou.

-Está cansado, Aragorn, muitas lutas estão no caminho que deixou para trás, e existem muitas lutas a serem travadas no futuro.

Aragorn aquiesceu.

-Eu sei. – e olhou para a Senhora da Floresta, e em sua mente surgiu uma pergunta. Esta pergunta o fez baixar a cabeça, envergonhado.

-Diga, Aragorn. – pediu Galadriel.

-Vale a pena? – as palavras de Aragorn soaram baixas e por um momento achou que a Senhora não as tivesse ouvido.

Galadriel sentou-se em um pequeno enlevado do jardim, e convidou-o a acompanha-la.

-Apenas os corações que batem em nosso peito podem responder essa pergunta. Olhe – e indicou uma bela planta, verde ao nascer da terra, desabrochando em uma flor pequena e delicada, uma planta suave de brilho vermelho, que Aragorn reconheceu como sendo uma flor típica do mundo dos homens, begônias.

-Nossas crianças amam esta flor, tão frágil quanto bela, cedo ela fenece, apesar de nossos cuidados, entretanto todos os dias nossas criança a pintam em canções, quadros e em sua própria mente. Uma criatura tão bela que esta destinada a morrer, mas que não podemos esquecer. Você me pergunta se vale a pena. Apenas você, Aragorn, pode decidir. As verdades de sua existência, e julga-las conforme seu coração. Mas algumas lacunas eu posso cobrir, apenas olhando em seus olhos.

Aragorn respirou fundo, temendo que seu segredo fosse descoberto. Encontrando o riso doce da Senhora dos Galadrim.

-Muitos anos correm do seu exílio até a verdadeira amizade. Entretanto a encontrara. Em amigos que morrerão por você, Aragorn. Encontrara amores ao qual não poderá corresponder. E um sonho se realizará para você. Essa é uma parte da sua verdade, mas não há única verdade, sinto dizer, também haverá dor e quedas, traições. E um frio voraz irá cobri-lo, e aqueles que estiverem ao seu lado. Sem desejar, irá causar uma dor profunda em muitas pessoas, e você verá sua cidade natal, em chamas.

Aragorn fechou os olhos, com pesar.

-As palavras que lhe conto não são novidades, muitas vezes você sonhou com estas palavras, e viu amigos e inimigos sem rosto em seu destino. Com coroa ou não, você é o Grande Rei de Gondor, Aragorn e; este é seu fardo. Eu apenas pronunciei a verdade que seu coração já sabia. E você tentou negar.

Aragorn levantou-se e olhou ao redor, o canto dos elfos voltou a penetrar, expulsando as palavras da Senhora.

-Então será como sempre temi. – disse em murmúrio de voz.

A risada musical cortou o canto dos elfos, e fez Aragorn virar-se e encontra Galadriel ao lado de seu espelho.

-Não minta para mim, Aragorn e muito menos para si mesmo. Próximo ao Espelho de Galadriel, os tolos ou covardes, não podem se aproximar, o Espelho os repele, sem piedade. E foi o Espelho que o atraiu até mim. O momento eterno, quando a felicidade corre em nossas veias, o momento que faz a dor, o desespero e a angústia serem insignificantes. O brilho da vitória em seus olhos, e o objetivo que não ousava desejar em palavras, mantido em segredo nos pensamentos. Essa é a dádiva do rei dos homens – confidenciou a bela Senhora ao guardião.

As palavras trouxeram novo alento a Aragorn, havia então felicidade em seu caminho, as palavras transcorreram como o Nimrodel em direção ao mar, encontrando-se com outros rios; as palavras corriam sua alma e sua mente. Seu espírito cresceu em coragem e em esperança. E a luz brilhou no seu olhar. Fez reverência guardando seus sonhos para si.

-Sábia senhora, não há nada que posso dizer, a não ser agradece-la, estava confuso até chegar a Lórien. – exclamou o guardião.

Galadriel ergueu o rosto, deixando a luz pálida da lua, emprestar-lhe ternura, e proclamou as palavras:

-Sábia? As palavras pronunciadas, Aragorn, eu as li em seu coração.- guardou silêncio de outros segredos que havia no coração do guardião. Mas Aragorn, não duvidou que ela os conhecia. E admirou a grande Senhora dos elfos, em seu poder. Ela era bela, e não havia nada de corrupto em seus atos, seu único crime era conhecer a verdade que os homens desejava esconder.

- Minhas aias prepararam acomodações para você. E encontrará novas roupas. Esta noite, Aragorn, esqueça as dores e cultive o sonho. Estás em Lórien, herdeiro de Isildur, seja feliz em nossa terra, enquanto ela ainda existe. Descanse, mellon, adormeça, ouça nossa música, prepare-se para o seu futuro.

Aragorn aquiesceu e em um ato espontâneo, como de um hobbit, tomou as mãos da Senhora e as beijou. Deixando o jardim e Galadriel, sendo guiado pela aia até o talan.

A Senhora dos Galadrim, sorriu encantada e triste.

" E o seu destino honrar a dádiva dos homens, e o meu ver, a minha mais amada filha unir-se a você." Refletiu ao vê-lo partir. A Galadriel restava-lhe o conforto de Aragorn ser jovem demais, e por fim de ver sua querida Arwen, amada com a fúria e a grandeza do futuro rei."

"E eu tenho muito tempo, e assuntos a realizar até esse dia chegar".- este pensamento consolou seu coração.