Assim que entrei no banheiro me encostei à porta e fiz a descoberta mais apavorante de toda a minha vida.
Amor a primeira vista realmente existia.
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As lembranças ainda ficaram rondando minha mente, fazendo algumas lágrimas escorrerem por meu rosto. Eu sentia saudades de Solo.
Mas...agora havia Heero. Por algum motivo estranho eu achava que o japonês iria suprir a falta que eu sentia de Solo. Bem...eu esperava que sim.
Como ele havia dito que eu poderia ficar a vontade, caminhei até a cozinha, com o intuito de preparar algo para comermos...bem, se Heero havia me dado a chance de ficar em sua casa eu deveria ao menos provar que sabia cozinhar!
Felizmente eu gastava algumas horas por dia tentando cozinhar no Seminário...claro que Padre Maxwell dizia que não era necessário, mas pelo menos eu ocupava meu tempo.
Literalmente arregacei as mangas e me pus a vasculhar todos os armários e a dispensa.
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Nem a água fria me acalmava, eu estava realmente apavorado.
Eu não podia estar apaixonado, era...irracional pensar assim. Eu havia conhecido Duo há menos de 24 horas não podia simplesmente estar sentindo amor por ele! Talvez apenas uma vontade de protegê-lo...nada mais!
Eu não conseguiria enganar nem mesmo um doente mental.
Merda! Merda! Merda!
Afundei a cabeça na água, tentando clarear meus pensamentos. Se eu estava descontrolado com Duo há apenas alguns minutos em minha casa, como seria conviver com ele? Vê-lo todos os dias desfilando aquela beleza absurda diante dos meus olhos?
Eu iria enlouquecer.
Fiquei muito tempo dentro da banheira tentando entender aquela confusão de sentimentos que estava presente dentro de mim. Sem sucesso.
Eu nunca havia me deixado envolver, nem mesmo quando mais jovem. Eu procurava apenas prazer, nada a mais, mas naquele instante eu me encontrava apaixonado por um homem...um garoto que ainda por cima era seminarista.
Talvez eu devesse me afogar.
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Estranho...havia mais de uma hora que Heero havia entrado para se banhar. Será que havia acontecido algo?
- Duo? – Dei um pulo quando a voz grave alcançou meus ouvidos.
Me virei, encontrando o japonês já vestido, mas com os cabelos ainda molhados. Céus! Ele estava lindo! Corei com meu pensamento e sorri, tentando disfarçar meu constrangimento.
Mais tarde deveria pagar uma penitência por pecar...ainda que em pensamento.
- Eu...mexi nos seus armários e preparei algo, tudo bem? – Ele assentiu e caminhou até a panela que eu havia colocado sobre a mesa.
- O cheiro está uma delícia, o sabor deve ser melhor ainda! – Senti meu rosto esquentar diante do comentário. Realmente me deixava feliz ao saber que eu agradara.
- Não havia carne em lugar nenhum, então eu...
- Carne tem que ser encomendada, Duo, senão estraga. – Eu assenti, completamente constrangido. – Quando você quiser me avise que eu trago da cidade, sim? Mas... – Ele se se sentou à mesa já arrumada. – Vamos comer, certo?
- Claro! – Eu sorri alegremente e o servi.
Comemos em um silêncio agradável.
Eu fiquei atento às reações de Heero. Aparentemente ele havia gostado do que eu preparara e isso me deixou realmente satisfeito.
- Então, Heero... – Coloquei os talheres de lado. – Por que não me mostrou o que havia atrás daquela porta? – Perguntei curioso.
- Bem... – Ele terminou sua refeição e me olhou nos olhos. – É o meu escritório, lá tem coisas bem...delicadas...
- Não se preocupe que eu vou me manter longe de lá. – Murmurei abaixando minha cabeça.
- Hey. – Ele tocou meu queixo. – Tudo bem, apenas tome cuidado, as únicas lembranças que tenho da minha mãe estão naquela sala. – Vi uma sombra cruzar seus olhos, mas logo desapareceu. – Agora eu preciso ir a cidade ver como andam as coisas, acho que... – Ele pareceu pensativo. – Você vem comigo, certo? Preciso encomendar roupas para você, as minhas estão muito grandes. – Fitei as mangas da blusa que cobriam minhas mãos e tive vontade rir.
- Não, senhor Yuy! – Neguei veementemente com a cabeça. – Eu não tenho como pagar...tenho que achar um emprego primeiro...eu vou lavar a roupa com a qual eu vim e depois...
- Calado, Duo! – Arregalei meus olhos, mas percebi que um sorriso brincava em seus lábios. – Enquanto você estiver aqui vai fazer o que eu mandar e quero que vá comigo encomendar roupas, agora! – Tive que sorrir e assenti.
- Se você está mandando... – Dei de ombros e comecei a arrumar a mesa, empilhando a louça para lavar.
- Deixe essas coisas aí, Duo...vamos logo. – Ele puxou minha mão e eu me deixei conduzir.
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Duo se deixava conduzir completamente. Era...fascinante perceber toda aquela confiança que ele depositava em mim...quem sabe eu deveria me aproveitar disso...
Heero mau! Muito mau!
Mirei o cavalo e suspirei. Definitivamente seria bem...perturbador ter Duo sentado bem na minha frente, entre minhas pernas.
Mau garoto! Mau garoto!
Ele olhava tudo ao redor como uma criança. Era realmente adorável. Como poderiam existir pessoas tão inocentes como ele?
- Duo, eu vou te deixar no alfaiate e você pode escolher o que quiser, certo? – Ele negou com a cabeça e ia começar a falar quando eu o cortei. – Não estou perguntando se você quer, estou lhe informando que as coisas vão ser assim. – Sussurrei em seu ouvido.
- Por que está fazendo tudo isso por mim, Heero? – Ele virou o rosto, deixando seus lábios a poucos centímetros dos meus.
- Eu não tenho ninguém, Duo. – Confessei. – Apesar do pouco tempo, você é o que mais se aproxima de um amigo para mim. – Ele sorriu. – Eu quero lhe ajudar.
- Mas...quando eu arrumar um trabalho faço questão de pagar tudo! – Ele disse de forma determinada.
- Certo, certo! – Assenti e descemos do cavalo.
Entramos em uma pequena loja, e notei o olhar curioso do belo americano vasculhando todo o lugar. Era fascinante observá-lo.
- Senhor Charlie. – Chamei o alfaiate e ele veio sorrindo.
Era um senhor de idade já, muito simpático. Impressionante como seus olhos continuavam aguçados apesar de sua idade avançada.
- Menino Heero! – Ele se aproximou e trocamos um forte aperto de mão. – Como você está? Vejo que está mais forte. – Com uma fita métrica começou a tirar minhas medidas.
Em um canto um pouco afastado Duo ria da situação. Americano baka!
- Bem, senhor Charlie, hoje quero encomendar roupas para aquele rapazinho ali, tudo bem? – Ele se afastou, ainda com o sorriso nos lábios.
- Oh sim! Que belo rapaz! – Duo se aproximou e apertou sua mão, sorrindo de forma genuína.
- Tudo bem com o senhor?
- Claro, meu jovem! Mas...venha vamos tirar suas medidas e escolher alguns modelos que combinem com seu porte físico! – Ele passou o braço pelos ombros de Duo. – E você, menino Heero? Não quer nada?
- Não, senhor Charlie. Quero apenas que o senhor vista muito bem esse rapaz! Quantas roupas achar necessário! De todos os tipos! – O sorriso dele aumentou. – Preciso ir à sede da polícia, logo volto para acertarmos tudo.
Duo me lançou um sorriso e antes que eu pudesse piscar ele me abraçava fortemente.
- Obrigado, Heero, muito obrigado mesmo! – Senti seu hálito em meu pescoço e estremeci.
- Tudo bem, Duo. – Acariciei sua trança. – Prometa que não vai me fazer desfeita e que vai comprar tudo o que desejar.
- Prometo! – Ele se afastou. – Tome cuidado! – Rápido como veio ele se virou e voltou para o lado de Charlie, já perguntando sobre sua família.
Ele realmente era encantador.
Mas a idéia de tirar suas roupas e possui-lo sobre a grande mesa que havia ali assaltou minha mente.
Heero mau! Muito mau mesmo!
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Como Heero podia ser tão bom comigo? Havia me dado um teto, comida, roupas e praticamente não havia pedido nada em troca.
Passei, o que me pareceram, horas com o senhor Charlie. Por ele descobri o porquê de Heero ser tão fechado e sorrir tão pouco.
Ele havia matado o pai.
Não haviam detalhes, apenas isso. Heero havia matado o pai e por isso havia se mudado para a cidade onde estávamos. Aparentemente onde ele morava antes, a repercussão do fato não foi muito boa. Apenas algumas pessoas mais velhas conheciam essa história, e o senhor Charlie estava entre elas.
Senti meu peito se apertar, mas estranhamente não senti medo. Tinha certeza que o japonês tinha um motivo para ter feito isso.
Tentei esquecer essa história e passei o resto do tempo em uma conversa agradável com aquele senhor tão simpático, mas...estava com vontade de ver Heero logo.
Aqueles sentimentos que me invadiam quando eu não estava perto dele eram tão estranhos...eu sentia uma necessidade de sua presença e ouvir sua voz profunda.
- Hey! – Heero apareceu, aparentando extremo cansaço.
- Oi! – Sorri para ele.
- Charlie, apenas anote tudo e depois mande lá para casa, certo? – Vi o senhor assentir. – Quando as roupas ficam prontas?
- Amanhã de tarde talvez já tenham algumas peças prontas, mas o resto vou entregando de pouco em pouco, tudo bem assim?
- Claro. – Ele estendeu a mão. – Vamos, Duo.
Eu aceitei prontamente sua mão e me despedi do senhor Charlie.
Heero estava realmente cansado, eu podia notar pelos traços em seu rosto, pela sua respiração mais lenta e principalmente por seu olhar baixo.
- Vamos direto para sua casa? – Perguntei quando saímos da pequena loja e só então reparei que já era noite. – Droga! Eu queria preparar algo pára o jantar, mas já está tarde então...
- Tudo bem, Duo, ainda tem o que comemos mais cedo. – Ele esboçou um sorriso e montou no cavalo, me ajudando a subir.
Não dissemos mais nada até chegarmos em sua casa e aquele silêncio estava me incomodando um pouco. O que estava acontecendo?
Após comermos e tomarmos um banho, Heero pediu para que me sentasse perto da lareira com ele. Eu apenas assenti e tomei meu lugar ao seu lado, abraçando meus joelhos enquanto via o fogo crepitar.
- Duo, hoje lá na sede... – Eu me virei para ele, sorrindo. – Uma pessoa foi me procurar. – O olhei de forma interrogativa.
- Sim?
- Ele se chamava...Padre Maxwell.
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Apesar do fogo da lareira ser a única luz que tínhamos, eu pude notar claramente quando seu rosto praticamente perdeu a cor.
- Heero, eu...o que...ele... – Ele afundou o rosto nos joelhos e percebi que ele tremia.
- Ele queria saber se você havia vindo nessa direção...parece que seus pais conversaram com ele, então alguém da sua aldeia o trouxe. – Me aproximei mais dele. – Ele...queria te levar para casa.
- Não! – Ele gritou, se afastando. – Eu...não...o que você disse?
- Que... – Respirei fundo. – Que eu não sabia sobre o que ele estava falando. – Ele suspirou, visivelmente aliviado. – Mas...ele ainda está na cidade.
- Obrigado, Heero! – Notei sua aproximação e abri meus braços, recebendo-o. – Mentir é horrível e você mentiu para me proteger...muito obrigado! Nem sei como agradecer!
Eu tive que sorrir. Se Duo realmente soubesse o porquê que eu menti com certeza não estaria tão grato. Claro que eu queria protegê-lo também, mas...o real motivo era que, simplesmente, não queria vê-lo indo embora.
Mas eu não podia dizer isso.
Deixei meus dedos passearem por sua trança, enquanto sentia sua respiração se regularizar. Meu coração batia de forma apressada, querendo pular do meu peito. Acho que...realmente eu o amava.
- Duo. – Chamei suavemente. – Por que...você tem tanto medo de voltar? Por causa das surras?
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Não, não, não! Quando tudo parecia bem aquele assunto voltava para me atormentar! Deus que me perdoasse, mas por que Padre Maxwell não queimava no inferno e me deixava em paz?
- Heero, eu...prefiro não falar sobre isso. – Me afastei de seu abraço e meu corpo protestou, não querendo quebrar o contato.
- Tudo bem. – Ele assentiu e deitou de costas no chão. – Mas...se você quiser falar eu estou aqui.
- Você não acreditaria. – Murmurei, me deitando ao seu lado. – Nem meus pais acreditaram. – Me virei de costas para Heero, abraçando meu próprio corpo.
- Eu nunca vou duvidar de você, Duo. – Senti seu hálito em minha orelha e estremeci. – Eu acreditarei em tudo que você me disser. – Senti sua mão procurar a minha e me virei, encarando seus orbes azuis.
- Há dois dias... – Comecei. – Eu estava no Seminário com alguns garotos, apenas conversando sabe? Estávamos no intervalo de nossos afazeres, então Padre Maxwell apareceu e me chamou, dizendo que queria conversar comigo. – Respirei fundo. – Eu fui com ele, já esperando mais uma surra.
- Duo... – Pousei um dedo em seus lábios.
- Entramos então em seu quarto. Ele se sentou e indicou que eu ficasse em sua frente...eu obedeci e ele mandou que eu me...despisse. – Vi Heero arregalar os olhos. – Eu fiz o que ele me ordenava e esperei pela surra, mas ele ficou apenas sentado...me observando.
- Não precisa... – Eu o calei mais uma vez.
- Eu fiquei confuso, mas antes que eu pudesse pensar senti as mãos dele em minhas coxas, então seus dedos subiram tocando meu corpo...eu sentia uma sensação estranha...bem parecida com...nojo ou asco. – Heero tocou meu rosto e eu me permiti sorrir com aquele carinho. – Eu não sei como essas coisas funcionam, mas...eu percebi que ele talvez estivesse me desejando...me afastei e tentei me vestir, mas ele me jogou em sua cama, ordenando que eu ficasse calado...eu apenas assenti, tremendo de medo. – Fechei meus olhos, impedindo as lágrimas de rolarem. – Então ele disse que aquele era o pagamento por ter me sustentado por tantos anos...Padre Maxwell disse que eu teria que...me dar para ele caso quisesse continuar no Seminário...se eu não quisesse morrer de fome.
- Desgraçado!
- Eu pensei em meu pai e em minha mãe e...cedi... – Vi Heero cerrar os dentes. – Mas quando senti os lábios dele em minha pele...eu...fugi. O empurrei, peguei minhas roupas e corri para casa. Contei para os meus pais, mas eles não acreditaram em mim. – Procurei uma mão de Heero e apertei contra a minha. – Eu não entendo...por que Padre Maxwell fez isso, Heero? E aquele homem também...por que eles tentaram me tocar? Eu aprendi que essas coisas eram erradas, que corrompiam o homem e que também...podiam ser dolorosas embora eu não...saiba como são. – Senti meu rosto esquentar.
- Duo. – Ele se sentou, me fazendo sentar em sua frente. – Eles tentaram te tocar porque são uns malditos desgraçados. – Arregalei meus olhos. – Mas...você tem que entender que tem pessoas que se tocam por desejo, mas...existem também as que se procuram para...fazerem amor entende?
- Eu...não entendo! – Confessei, notando que as maçãs de seu rosto estavam coradas.
- Desejo não é uma coisa ruim, Duo... – Ele tocou meu rosto. – As pessoas que se amam também se desejam e se tocam para mostrar isso, entende? Esse...ato...proporciona prazer.
- Como? Padre Maxwell me dizia que era...doloroso. – Abaixei a cabeça, completamente constrangido.
- Ele mentiu. Quando duas pessoas que se amam se tocam elas buscam completude, querem compartilhar aquele prazer...isso não é errado. É um ato de amor.
- Então eu só posso tocar a pessoa que eu amar?
- Sim, Duo, mas existem pessoas que buscam somente o prazer. – Ele suspirou. – Mas se você não for seguir uma vida religiosa, logo vai encontrar uma garota, ou garoto, que vai te amar e você vai amar de volta e então...vocês vão se tocar e isso não vai ser errado, entende? – Vi uma sombra cruzar seus olhos, mas logo desapareceu.
- Entendo...então...por que eu deixo você me tocar? Por que não sinto medo ou nojo quando você me abraça? Eu...amo você?
Continua...
Oi, gente!!!!!!!
Primeiramente MUITO OBRIGADO PELAS REVIEWS! Fico feliz que estejam gostando da história!
E espero que esse cap tenha agradado! E comentem, please!!!!!! Cs sabem...quanto mais comentários, mais rápido vem a atualização!
Bjussssss!
Arsinoe!
