i Sem trabalho eu não sou nada /i
i Não tenho dignidade /i
i Não sinto o meu valor /i
i Não tenho identidade /i
i Mas o que eu tenho /i
i É só um emprego /i
i E um salário miserável /i
i Eu tenho o meu ofício /i
i Que me cansa de verdade /i
Estava realmente exausto, estava feliz. Trabalhar era mais que um ganha-pão, era uma terapia. Adorava os trouxas, adorava seu escritório (embora às vezes o achasse meio confuso e desorganizado) e adorava sua vida. É certo que constantemente passavam necessidades, que essa vida estressava Molly e muitas vezes chateava os garotos, mas, mesmo assim, não conseguia reclamar de verdade.
Sentia-se um homem com uma mulher e sete filhos, mas se sentia um homem de valor quando os sustentava com o suor de seu trabalho. Não tinha grande fortuna material, mas sua fortuna interior lhe dava força pra continuar na batalha.
i Tem gente que não tem nada /i
i E outros que tem mais do que precisam /i
i Tem gente que não quer saber de trabalhar /i
i E quando chega o fim do dia /i
i Eu só penso em descansar /i
i E voltar pra casa pros teus braços /i
Arthur viu Lúcio Malfoy vindo no corredor. Era incrível o que vários sacos de ouro podiam comprar, inclusive uma saída de Azkaban. Fugde era tão estúpido que acreditava na volta de Voldemort, mas não na culpa de Lúcio. Desprezível.
-Weasley.
-Malfoy.
-Ainda colhendo esmolas pelos cantos?
-Claro, é divertido. Ainda matando por diversão?
Os olhos de Lúcio Malfoy se encheram de cólera.
-Você fala demais, Weasley.
-E você erra demais, Malfoy. No ramo que você está, discrição deveria ser um dos requisitos básicos.
Os dois continuariam a se encarar furiosamente se o ministro não chamasse Malfoy.
-Vá Lúcio, vá –sussurrou Arthur para se mesmo enquanto o louro platinado se afastava- vá que sua hora está chegando. Vamos ver daqui uns dias quem é que pede esmola pelos cantos...
Aparatou em casa e Molly cozinhava, o jantar estava quase pronto.
-Como foi o dia hoje, querido?
-Melhor do que imagina...
i Quem sabe esquecer um pouco /i
i De todo o meu cansaço /i
i Nossa vida não é boa /i
i E nem podemos reclamar /i
i Sei que existe injustiça /i
i Eu sei o que acontece /i
i Tenho medo da polícia /i
i Eu sei o que acontece /i
Um bilhete azul berrante sem nada escrito caiu em sua mesa, era um sinal. Um sinal positivo. Então realmente tinham o trunfo, a informação que receberam era verdadeira. Como a vida dava voltas, não? Tinha agora somente que retrucar o sinal, declarando que já estava informado. Devolveu o papel azul berrante com um 's' num dos versos do papel.
Olhou para o calendário. Se tudo desse certo, antes de mês acabar a família Malfoy estaria no chão, junto com todas as outras famílias que pudesse arrastar. Era só uma questão de tempo. E de sorte.
Se durante muito tempo ele reclamou da injustiça da vida, dos poderosos sobrevivem às custas dos desprovidos, reclamou da justiça injusta, do amanhã que não chegava. Mas agora todas suas reclamações podiam se acalmar, pelo menos em parte. Justiça ainda que tardia, pelo menos uma vez.
i Se você não segue as ordens /i
i Se você não obedece /i
i E não suporta o sofrimento /i
i Está condenado a miséria /i
i Mas isso eu não aceito /i
i Eu sei o que acontece /i
i Mas isso eu não aceito /i
i Eu sei o que acontece /i
-O que está acontecendo, Arthur? Você está calado demais.
-Nada, Molly. Nada.
Ele olhava para o teto. Deitado na cama ao lado dela, sentindo o perfume que o corpo da esposa exalava, e relaxando seu corpo ele não sentia sono, ao contrário estava muito mais acordado do que nunca. Geralmente quando um dos dois custava dormir o outro puxava conversa, tinha dias que passavam a noite toda conversando, namorando, sendo felizes. Esta noite o silêncio era algo incomum.
Desceu para tomar um copo d'água, mas sua sede não era aliviada por um copo do líquido, tinha sede de justiça, e sede de informação. Talvez nesse momento alguma coisa já tivesse acontecido, será que alguém poderia lhe escrever assim que acabasse a missão? Não, com certeza não, até porque hoje era só uma parte do plano, i se /i o plano começasse hoje.
Ainda divagava quando viu. O relógio indicava que Fred e Jorge estavam fora de casa, era melhor subir antes que Molly percebesse isso. Devia muito aos garotos, mais do que eles próprios pudessem imaginar. Amanhã talvez tivesse alguma notícia, talvez.
i E quando chega o fim do dia /i
i Eu só penso em descansar /i
i E voltar pra casa pros teus braços /i
i Quem sabe esquecer um pouco /i
i Do pouco que não temos /i
i Quem sabe esquecer um pouco /i
i De tudo que não sabemos /i
