i João Roberto era o maioral /i

i O nosso Johnny era um cara legal /i

i Ele tinha um Opala metálico azul /i

i Era o rei dos pegas na Asa Sul /i

i E em todo lugar /i

i Quando ele pegava no violão /i

i Conquistava as meninas /i

i E quem mais quisesse ver /i

As aulas estavam um saco, como sempre. Alguns alunos olhavam desolados para o teto, sem prestar atenção em nada, outros se forçavam a assistir a aula. De qualquer forma, era uma aula comum, totalmente normal. Quem visse de fora não pensaria que algo pudesse ter acontecido. Os alunos não estavam agitados, não ficavam cochichando nem mandando recadinhos, estavam tão entediados como sempre estiveram.

i Sabia tudo da Janis /i

i Do Led Zeppelin, dos Beatles e dos Rolling Stones /i

i Mas de uns tempos pra cá /i

i Meio sem querer /i

i Alguma coisa aconteceu /i

i Johnny andava meio quieto demais /i

i Só que quase ninguém percebeu /i

Os quadros conversavam incessavelmente, mudanças de moldura para moldura eram constantes e rápidas, ninguém demorava muito tempo no quadro. Se nada de diferente havia com os alunos, algo incomum havia entre os quadros. Os boatos aumentando, a notícia ganhando proporções maiores, fugindo ao senso de ridículo.

-Algumas pessoas ligaram alguns fatos ao ocorrido: o silêncio, o excesso de saídas noturnas, o comportamento estranho em geral. Ele não era uma pessoa comum, mas era razoavelmente fácil prever suas ações, sempre fazia tudo de um mesmo modo -disse uma senhora vestida de vermelho para um senhor desleixado que se escorava na moldura dela.

Alguém poderia achar que a notícia não seria esquecida dentro de muito tempo, mas a verdade é que dentro de um mês tudo seria passado.

i Johnny estava com um sorriso estranho /i

i Quando marcou um super pega no fim de semana /i

i Não vai ser no CASEB /i

i Nem no Lago Norte, nem na UnB /i

i As máquinas prontas /i

i Um ronco de motor /i

i A cidade inteira se movimentou /i

i E Johnny disse /i

i "-Eu vou pra curva do Diabo em Sobradinho e vocês" /i

-Pra mim não foi novidade... –comentou a Mulher Gorda com sua amiga Violeta- Senha?

-Irresponsabilidade –respondeu um aluno do terceiro ano.

-Errado.

-Já mudou a senha? Duas vezes num dia?

Um garota ruiva de tranças do quinto ano acompanhada de um garoto de olhos verdes do sexto ano apareceram.

-Morte –disse a garota.

O garoto sextanista se retraiu um pouco, mas só a garota percebeu. O terceiranista estava irritado demais, e a Mulher Gorda tinha que fofocar, ainda havia muito que se explorar dessa história.

i E os motores saíram ligados a mil /i

i Pra estrada da morte o maior pega que existiu /i

i Só deu para ouvir, foi aquela explosão /i

i E os pedaços do Opala azul de Johnny pelo chão /i

i No dia seguinte, falou o diretor /i

i "-O aluno João Roberto não está mais entre nós /i

i Ele só tinha dezesseis. /i

i Que isso sirva de aviso pra vocês." /i

No seu quarto, Pansy Parkinson era uma das únicas pessoas que se importava, a voz do diretor Dumbledore ecoava em sua cabeça.

"-O aluno Draco Malfoy está morto. Esse é o destino de quem se une a Voldemort. Malfoy só tinha dezesseis anos".

Inicialmente foi um choque, por um momento não houve uma só pessoa que não se sentisse chocada. Como? Parecia tão irreal. Aos poucos os murmúrios foram ficando insuportáveis. Todos esperavam uma resposta. Quando? Onde? Como? As dezenas de namoradas dele estavam paralisadas, perplexas com a situação. Ele era tão forte, tão inteligente, como?

Alguns ainda encararam Harry Potter como se ele tivesse culpa ou fosse desmentir, mas Potter saiu do refeitório sem nem tocar no café da manhã.

Por algum tempo as pessoas ainda comentaram, mas ao ir para as aulas da manhã todos foram deixando o assunto de lado, todos menos ela.

Aquilo era tão estranho, eles numa noite antes da tragédia eles estiveram juntos...

Na madrugada ninguém ouviu quando mais uma vida foi desperdiçada.

i E na saída da aula, foi estranho e bonito /i

i Todo o mundo cantando baixinho /i

i Strawberry Fields Forever /i

i Strawberry Fields Forever /i

i E até hoje, quem se lembra /i

i Diz que não foi o caminhão /i

i Nem a curva fatal /i

i E nem a explosão /i

Agora sim a escola estava chocada, a Sonserina em peso estava de luto, a perda de dois alunos em menos de uma semana. A casa já começava a ser chamada de amaldiçoada, e os alunos do primeiro ano que para lá tinham sido selecionados ainda ontem estavam pensando se havia como mudar de casa, ir para uma mais segura.

O suicídio de Pansky Parkinson não era sentido pelo fato da pessoa em si, afinal ninguém realmente gostava dela, mas pelo motivo do suicídio. Se no dia passado a notícia da morte de Draco foi deixada de lado, nesse dia ela foi sentida. Pelo menos houve uma pessoa que se importou com ele, que sentiu sua falta.

Havia algo mais para ser escrito na história de Hogwarts do que a morte de dois alunos, havia respeito.

i Johnny era fera demais /i

i Pra vacilar assim /i

i E o que dizem que foi tudo /i

i Por causa de um coração partido /i

i Um coração /i

Embora toda a Sonserina estivesse de luto, era na sala comunal da Grifinória que um pequeno grupo de pessoas sabia a verdade. Draco morrera por amar alguém, e levara consigo alguém que o amava. Se em vida Draco Malfoy nunca teve o respeito daqueles quatro adolescentes, em morte ele o ganhou. Vitória ainda que tardia.

i Bye, bye Johnny /i

i Johnny, bye, bye /i

i Bye, bye Johnny /i