Observação 1: Os personagens de Cavaleiros do Zodíaco ( Saint Seya ) não me pertencem. Yong Li é material ficcional de minha autoria.
A Gênese
Capítulo 3
A Arte do Mestre
- Li, devagar.
- Não gosto de me atrasar, Aioria.
- Vai mesmo falar com Athena?
- Não sei. Não costumo começar brigas. Não é dos Dragões atacar.
- Mas você não é uma defensora do templo qualquer. Você é uma princesa.
- Filha de dois dragões machos. Parida de uma pira de fogo... é uma coisa a se pensar para colocar numa certidão de nascimento! Pai: Dragão Azul. Mãe: Dragão Dourado. Local de nascimento: pira sempiterna sagrada dos Dragões;
- Uma honra muito grande ser filha dos Deuses.
- Sem dúvida. Uma honra pesada como chumbo.
- Olhe quem vem ali, branco como a morte...
- Shiryu é assim mesmo. Sempre com medo da vida.
- Li... – Shiryu chegou junto dela, tropeçando nas pedras, com o cabelo trançado, desarrumado como quem acaba de sair de uma briga. – Não sabia que vinha.
- Aioria me chamou.
- Aioria? – Shiryu repetiu, olhando o outro nos olhos com um certo quê de desconfiança.
- Por que a surpresa?
- Pensei que você tivesse vindo me ver...
- Você gostaria que eu tivesse?
- Sim, muito.
- Engraçado, porque eu também esperava que você me visitasse. E você nunca veio.
- Eu...
- Você é um cavaleiro de Athena. E eu não sou nada além de uma servazinha do Templo. Ainda acendo incensos toda manhã e toda tarde, limpo os pés das estátuas dos Dragões e como lentilhas todos os dias.
- Eu não disse isso.
- E nem pensou... mas sentiu, o que é muito pior ainda.
- Li...
- Não precisa se desculpar. Eu sou uma serva do templo, de fato.
- Não, Li, espere.
- Eu tenho pressa. Quero ver com meus próprios olhos o 'torneio' dos meninos.
- Não vai falar comigo?
- Não.
Ela virou-se, tomou o braço de Aioria e desceu as escadas ante o olhar estupefato de Shiryu e Seya, que chegou pouco depois, em tempo de ouvir o categórico 'não' de Li, uma revanche modesta, porém firme às negativas de Shiryu.
- Shiryu, não fica assim.
- Não fica assim como? Você viu como ela me tratou? Deu o braço para Aioria e... me tratou como inseto! Como inseto! Ela nunca sai do templo e saiu para ver Aioria... AIORIA! E ela nem me dirigiu a palavra direito!
- As mulheres são assim. Dizem não com a boca e sim com os olhos.
- Grande experiente Seiya, que está tão só quanto eu!
- Estou só porque não me interessam as mulheres.
- Você não sabe escolher.
- Nem quero. Nem uma deusa, nem uma órfã, nem uma amazona.
- O que você quer afinal?
- Sossego. E uma mulher simples e sábia.
- Simples e sábia como a minha Yong Li...
- Você gosta muito dela ainda, né?
- Eu amo Li desde que me conheço por gente.
- E a Shunrei?
- Eu também gosto dela demais. Mas não como amei Li. Não se pode dar meio coração para alguém como Yong Li.
- O que será que ela queria com Aioria?
- Aquele abutre...
- Deve ter alguma coisa a ver com aqueles mal estares que ele tem tido.
- Ele está sem comer há dias.
- Será que ele contou para Li?
- Tomara que não.
- Shiryu!
- Li teria permissão dos Mestres do Templo para ficar, se fosse preciso por problemas de saúde... é parte da obrigação dos servos do Dragão.
- Mas se ele estiver mesmo doente...
- Que procure um médico. E tire os olhos de Yong Li.
- Vamos, você precisa tomar banho, lavar esses cabelos e trocar de roupa. Saori quer todos nós bonitos e apresentáveis para festa.
- Perdi totalmente o ânimo para festas.
- Imagino. Mas vamos lá, se anime! Se perfume e enfeite com sua melhor roupa: quem sabe assim o coração da sua Li não amolece?
- É, quem sabe...
- Se era para ficar chorando assim, não devia ter aceitado falar com Shiryu?
- Para quê? Para ele me magoar com um 'mas', 'porém'... não suporto mais as dúvidas filosóficas e morais dele... eu quero respostas, não interrogações. Estou cansada de lutar com ele.
- Entendo.
- Olhe – ela apontou para baixo, enquanto enxugava as lágrimas – não são Mu e Shaka?
- Estava demorando...
Mu se aproximou respeitosamente. Era do seu gênio ser tranqüilo e suave sempre.
- Grande honra a nossa de receber Yong Li no Santuário. – ele curvou-se.
Yong Li tomou as mãos de Mu e beijou-as.
- Honra a minha de beijar as mãos de um ferreiro celeste.
Ele sorriu delicadamente. Esqueceu-se de que Shaka era um garotinho perverso e lembrou-se apenas de que Li compartilhava com ele a profissão mais honrada de um humano para os deuses: artesão.
- Fico feliz em vê-la. – Shaka beijou-lhe as bochechas brancas.
- Eu também fico feliz por vê-lo, discípulo de Buda.
- Princesa dos Dragões... veio ver Shiryu?
- Não... vim por Aioria.
Incrédulo, Shaka balançou os cabelos longos, loiros, perfumados por água de lótus.
- Não precisa mentir para nós, Li. Somos amigos.
- Você é que não precisa mentir para si, meu caro Shaka: você está perdendo a sagacidade do seu terceiro, oops!, quarto olho.
Mu deu uma sonora gargalhada.
- Os Dragões ainda têm um senso de humor único da espécie.
- Somos silenciosos e calmos, mas não somos burros.
- As vulgaridades ocidentais, Mu. Até nas montanhas.
- Você está sério, Shaka. – Li replicou – Antes achava graça até em levantar os saiotes dos monges...
- Você tem boa memória.
- Eu também levantava o saiote dos Monges do Dragão.
- Então, veio por Aioria?
- Eu não estava me sentindo bem. – Aioria se apressou em dizer.
- E não poderia ter tido um melhor cuidado. – concordou Mu. – Além disso, chegou em um dia de festa.
- Ah, sim, a festa. Vão colocar criancinhas para brigar. Uma briga de galos, só que com meninos. Será muito agradável, não é, Shaka?
- Não me olhe assim, Li. Eu também não concordo com os métodos e não fui educado nem treinado aqui.
- Nem eu tampouco. Em Jamiel estas práticas nunca foram usadas.
- O que me assusta é que embora todos sejam contra, os métodos ainda persistem!
- É a Fundação que mantém o treinamento.
- A fundação nem deve ter 50 anos. Os treinamentos são milenares! Não se pode subordinar gerações aos caprichos de uma menina mimada e seu avô que obviamente entendia de tudo menos treinamento de guerreiros e cavaleiros...
- Shiryu é um dos meninos da safra nova, Li. – replicou Shaka.
- Treinado sem competição por um mestre dos antigos...
- Lá, vê? – Shaka apontou para baixo, na parte baixa da acrópole. – É onde Saori senta-se. Vá lá e diga-lhe o quanto abomina seus métodos. Mas esteja preparada para provar para todo o santuário que há força nos antigos.
- Eu estou com você, Li. Ajudarei sempre – murmurou Aioria, tomando as mãos de Li nas suas.
Ela retribuiu o gesto beijando as mãos dele.
- Aceito sua delicadeza, meu querido.
- Aceite a minha também, se for do seu agrado. – Mu ofereceu-se com uma leve reverência. – Faremos todo o possível para que os treinamentos antigos sejam respeitados.
Airoria, Li e Mu olhavam então para Shaka.
- Não contem comigo – ele falou, por fim. – Não vou me indispor com Athena. Não por isso. Deixe que as crianças se matem se for preciso. Uma geração de Seyas será bem vinda: fortes, determinados e tolos.
- Fortes, determinados, tolos o bastante para seguir aquele que não o é, não é isso, Shaka? Incomoda-te a idéia de que uma próxima geração será mais forte e mais sábia, o bastante para não mais respeitar os antigos, não?
- Li, que nos importa que sejam burros? Que nos importa que sejam vazios de ensinamentos filosóficos? São fortes, são fiéis. Morrerão por Athena.
- E serão soldadinhos de chumbo para sempre. Cosmos de poder inferior, uma fidelidade baseada em nada. Athena é jovem e bela. Comove aos jovens e encanta aos mais velhos. Quando ela for velha e feia, prestarão fidelidade ao quê? Ao ouro? Ao seu desejo de aparecer mais do que o outro? Esta geração é de homens que não questionam, que não pensam e cujos valores estão distorcidos. Serão sempre cavaleiros inferiores.
- Que assim seja. Mesmo cavaleiros menores, eles ganharam armaduras, e serão Cavaleiros de Ouro. No embate com cavaleiros de ouro eles se mostraram fortes.
- O parâmetro está errado. Lutaram cavaleiros contra cavaleiros. E se os seus adversários fossem os monges?
- É uma ameaça?
- É uma pergunta. Mas uma pergunta é sempre uma ameaça para uma mente fraca.
Shaka riu.
- Seriam derrotados. Facilmente. Acho que um monge não chegaria a suar para derrotar um dos cavaleiros mais jovens.
- Aí está. São homens. O que os diferencia?
- Um monge desenvolve auto-telecinese aos 5 anos. Aos 10, concentra-se o bastante para viajar de um pólo ao outro do mundo em segundos. Aos 15 pode provocar maremotos com o curvar das sobrancelhas. Aos 20 toma a arma da mão de qualquer homem com um piscar de olhos mais forte.
- E são só homens!
- Treinamento é a diferença.
- Chegamos ao ponto que eu queria.
- Falemos com Athena. – Shaka balançou a cabeça incrédulo. Nem ele mesmo cria que estava armando um levante no Santuário.
Comentários:
Amy e Nana: obrigadíssimo pelos comentários. Fico motivada demais para escrever! Quanto ao Aioria e a Li, isso é futuro. Nenhum dos dois consegue entender bem o que estão sentindo e passando, e Li está MUITO ocupada tentando ofuscar Athena. Ciúmes, com certeza, mas muito da filosofia 'Yong-Li' ainda vai aparecer aí... E esperem! Estou trabalhando no esbregue oficial à Athena. Vai ser um passa-fora daqueles de entrar para a história!
