Observação: Os personagens de Cavaleiros do Zodíaco ( Saint Seya ) não me pertencem. Yong Li é material ficcional de minha autoria.

A Gênese

Capítulo 4

A Criança do Destino

- Vocês sabem o que estamos fazendo.

- Ora, Shaka, não estamos fazendo um motim – obtemperou Mu – estamos apenas defendendo um ponto de vista importante. É vital que os meninos sejam treinados como nós.

- Mu, você me amaria menos se eu disse que não me importo?

Mu sorriu e beijou os olhos fechados de Shaka.

- Não poderia deixar de amá-lo por tão pouco, meu querido. Eu, que sempre o amei pela sua honestidade, que por vezes é tão brutal...

- Ninguém, por melhor treinado que seja, será como nós, Mu. Somos espécimes destinadas à extinção. Não haverá ferreiro como você. Nem um tão próximo de Deus quanto eu. Ou nobre como Aioros, corajoso como Aioria, poderoso como Saga... enfim... somos únicos.

- Sim. Apenas deixe Li tentar garantir às crianças lá embaixo a oportunidade de serem únicas também. Apenas garanta que elas podem tentar.

- Mu, minha criança eterna... ninguém receberá um treinamento como os dos Dragões. Yong Li é uma princesa.

- Ninguém precisa receber o tratamento real de Yong Li e o treinamento dos monges.

Saori havia chegado poucos minutos antes ao Santuário. Recebida com festa, sentou-se ao seu tradicional trono, montado no centro de um enorme palanque. O vestido branco, o báculo em punhos, os enfeites de folhas de oliveira sobre a cabeça. Os cabelos semi-presos em um coque elegante. Saori tinha razões para estar satisfeita: finda a guerra no Santuário, a fundação prosperava e crescia. Seya ainda via uma vez ou outra uma ponta de uma tristeza e uma melancolia que Saori passou a cultivar depois de tudo; e ele acreditava ser o trauma. Ainda assim, a senhorita Kido era rica, jovem e vencedora. Tudo corria a contento, e agora, nas ruínas que ela acostumara-se a chamar de suas, os jovens alunos do Santuário prestariam-lhe homenagens... ah! As tarefas de uma deusa. Levantou-se e andou, de um lado para o outro, enquanto homens assustados corriam com os preparativos diante da deusa. Distraiu-se com alguns arranjos de papoulas que haviam deixado lá e ainda estava brincando com as flores quando seus olhos divisaram o movimento na acrópole. E ela viu uma mulher de vermelho, longos cabelos negros, sentada num banco, cercada de crianças e escoltada por Aioria, Shaka e Mu. Empalideceu, com aquele sexto sentido que só as mulheres têm. Desceu o palanque correndo e ao chegar perto do lugar onde a mulher estava, escondeu-se entre arbustos. Ouviu de longe:

- Ninguém precisa lutar para mostrar a sua força. É preciso sim que um cavaleiro seja dono de uma mente poderosa, firme e serena.

- Mas moça, a gente luta para o nosso cosmo explodir.

- Não existe luta mais terrível do que a travada consigo mesmo; o homem forte conhece seus limites, mas não ama seus poderes. Seus poderes não devem servir para exposição, mas para defesa. O homem que depende dos seus poderes é como uma mulher que só é bela depois de maquiada.

- E se não lutamos, como fazer, senhora?

- O bom aluno sabe que faz progresso – Yong Li tomou o menino e o pôs no colo – Ele percebe pelo sorriso do seu mestre, ele percebe pela força de seu espírito que cresce. A vontade é o músculo que mais o cavaleiro deve desenvolver.

- E se eu precisar lutar? – o menino perguntou, segurando uma meia trança de Li.

- Saberá que não pode evitar a luta e lutará. Mas será firme e direto. Não exiba seus poderes como mamões maduros em feira livre. O homem de honra usará seus poderes de modo a orgulhar seu mestre e todos os mestres antes dele.

- Ah! – berrou um menino no fundo – ela fala isso porque é mulher e as mulheres são fracotes sempre! O que uma mulherzinha diz ou deixa de dizer não muda nada. Somos cavaleiros de Athena! Obedecemos a Athena, que nem o Seya.

- Muito bem falado, Hiro. – Saori apareceu por detrás da folhagem, segurando o báculo. – Meus cavaleiros fazem mal em ouvir essa estranha.

- Seus aspirantes a cavaleiro mostram que têm um espírito curioso e aberto, o que desde já os qualifica a serem bons guerreiros. –replicou Li, acariciando as bochechas redondas do menino em seu colo. – No entanto, se vê que alguns já se tornaram conformistas e não mais estão abertos à filosofia.

- Eles não precisam de filosofia – Saori olhou furiosa para Aioria. – precisam de mestres que sejam mais fiéis do que os que eles têm aqui. E precisam de treinamento duro, puxado.

- Claro. – Li sorriu. – Eles não precisam pensar. Só bater, não é, coisa fofa?

- Não! – o menino respondeu rápido. – Eu também quero pensar!

- Ah, você quer? – Li perguntou.

- Que nem o Mestre Mu. – ele respondeu, sorridente.

- Como você vê, Saori, seus meninos têm vontade própria. E gana de seguir os mestres que você mesma os deu. É dessas crianças de valor que seu Santuário vai precisar.

- O que eu e meu santuário precisamos não é da sua conta, sua servazinha suja...

- Não sou serva, sou princesa.

O coro das crianças atrás foi imediato: "princesa? Ahhhhhhhh."

- Princesa do quê, posso saber? – Saori interpelou-a grosseiramente.

- Princesa dos Dragões.

- Que nem o Shiryu? – uma vozinha infantil se levantou ao fundo.

- Shiryu não é príncipe – Li calmamente ajeitou o menino no colo. – Mas aprendeu muito com os Dragões.

- Mostre para a gente seus poderes, princesa! – o menino no colo animou-se.

- É! – gritou Hiro. – Mostre se você tem poder que nem Athena!

- Se você puder, é claro. – debochou Saori.

- Não sou macaco de circo: não uso dos meus poderes sagrados para divertir aos outros. O poder é uma espada. Ele tem lâmina e cabo, ambos indispensáveis. Mas é preciso saber para onde apontar e onde segurar. O poder nos corta e fere, ou nos defende. Depende de como o maneja.

- Vejam só. O poder dos Monges é a oratória. Têm boa língua.

Li não se aborreceu.

- Saori está certa. Bendita a língua que proclama a verdade. Nem todos no Santuário têm boa língua, não é, senhorita Kido?

- Cale a sua boca. E saia da minha festa!

- O Santuário nunca foi seu, sua moleca que cheira a leite! As ruínas pertencem ao povo grego. São patrimônio da humanidade. Sabe o que é isso? Não sabe! É uma ignorante. Nunca leu os sábios gregos, nunca falou grego. É uma menina impertinente e grosseira que segura um cabo de ouro crente de que ele a transforma em coisa que não é. Grande deus o que depende de um cabinho de metal para apavorar seus seguidores!

Saori furiosa levantou o báculo para atacá-la, mas Aioria se pôs na frente dela imediatamente.

- Você está louca, Saori??? Ia atacar uma mulher com uma criança no colo? Perdeu o juízo?

- Tirem essa mulher daqui! – ela gritou.

Os gritos atraíram outros cavaleiros, os homens que ajeitavam as flores no palanque, outras crianças, amazonas. Em silêncio, todos acompanhavam. Saori segurou o báculo no alto, incapaz de ferir Aioria.

- Vai me trair? Você? Você não é como seu irmão! Você é um fraco! Aioros me defendeu da morte com sua vida e você prefere seguir esta estranha intrometida!

- Meu irmão, senhorita Kido, era um homem honrado e lutava pelo que acreditava. E eu acredito em Yong Li. E não vou deixar que um bate boca se transforme numa guerra sem sentido em um dia de festa. Talvez por nunca ter lutado, a senhorita não tenha idéia de como é horrível uma guerra.

Li deixou seus olhos brilhantes de orgulho e fascinação caírem sobre os de Aioria. Ele tinha honra, controle, serenidade. Pôs o pequenino no chão. O menino se recusou a sair de perto dela, abraçou-a com força.

- Senhorita princesa, não me ponha no chão. Tenho medo.

- Vá, pequeno. Sua deusa já está mais calma, imagino. E você não precisa temer esta viga de metal que ela sustenta. Nenhum metal vence a resistência de uma mente forte.

- Não me provoque!

- Não balance essa coisa na minha frente, Saori San... – resmungou Li.

- O que vai fazer? Me atacar?

- Não... faço isso... – Li mexeu os dedos delicadamente no ar e o báculo arrancou-se das mãos de Saori direto para as suas, ante o olhar de pânico de todos. – O que foi? Está com medo do seu brinquedinho? Não vou bater em você com ele... – Li atirou-o no chão.

- Eu quero meu báculo de volta. – Saori sussurrou baixo, quase que imperceptível. Shun abaixou-se, tomou o báculo e o entregou a Saori.

- Eu quero ver a festa. Será que uma mera servazinha do Templo será impedida de desfrutar da festa que todos podem degustar? Ou será que a deusa teme algo que eu faça ou diga?

- Eu não tenho medo de você. Você é uma bruxinha ordinária, dessas do pior tipo, que faz um truquezinho sujo ou outro. Acha que impressionou meus cavaleiros com sua magiqueta? Não! Eles se importam pouco com seus teatrinhos! Fique para a festa se quiser! Eu não me importo! Veja meus cavaleiros mirins exibirem sua força!

- Como mamões maduros na feira, não é, senhorita princesa? – o menino respondeu, grudado ainda aos pés de Li.

- Muito inteligente você, criança. Isso mesmo. Exibir seus poderes como mamões maduros numa feira... qual é o seu nome?

- Ishiro.

- Você tem mestre, Ishiro?

- Ainda não.

- Eu posso ficar com ele, se você quiser, Li.

- Você, Aioria?

- Se o menino me quiser...

- Eu quero sim! – ele gritou de contentamento.

- Então assim será.

Aioria chegou os lábios junto aos ouvidos de Li e soprou neles, com sua voz mais doce: "será como um filho nosso..."

Continua..

Comentários:

Mikage-sama: obrigada pelo comentário! A Li é mesmo uma pestinha em qualquer discussão!

Amy: Oh, você não sabe o QUÃO fofo o Aioria ainda vai ficar! Mas cá entre nós: ele é um fofo, né? Na verdade, o que eu tinha em mente eram Shaka-Li. Mas quando o Aioria entrou ele simplesmente tomou conta! Não pude deixá-lo mais de fora... aguarde muitas fofisses por aí! E não fica com peninha do Shiryu não! Ele é que abandonou a Li, ele é que é crueeeeeeeeeeeeeeeel! Recebi seu email sim e vou respondê-lo logo! Beijus!! Não é difícil gostar de gente que nem você, menina! Você é muito SWEET!

Nana: minha querida não sabe o quanto fico feliz pela deferência em me colocar na lista de favoritos! Eu entrei no com a idéia de que se ninguém lesse minhas fics estaria tudo bem, e que eu não pretendia ser popular e tal, porque o foco deveria sempre ser escrever. Mas eu tive a grata surpresa de conhecer você e a Amy e fiquei muito contente de receber o feedback de vocês. Quanto à crítica, não se preocupe. Eu vou te mandar um email falando sobre isso ( porque é meio longuinho ). Não se preocupe mesmo: se eu não estivesse disposta a ouvir críticas, nem teria me dado ao trabalho de publicar minhas estórias, para começar. Beijocas grandes!