Observação1: Os personagens de Cavaleiros do Zodíaco ( Saint Seya ) não me pertencem. Yong Li é material ficcional de minha autoria.

Observação2: Yong Li e os nomes que utilizo para os personagens 'extras' são de minha autoria. Já ouvi alguns nomes usados para Máscara da Morte, mas este em particular é de minha autoria.

Observação3: Alguns detalhes e argumentos foram idéias generosamente doadas por Nana Pizani, colaboradora, crítica, camarada das minhas escritinhas despretensiosas.


A Gênese

Capítulo 7

Amor & Honra

Era para ser uma noite inesquecível. Horemheb gostava do clima de absoluta liberdade de um bairro porteiro. Aioria gostava de aventura, Li gostava de novidade, e Ishiro, sentindo-se em casa pela primeira vez, gostava de Aioria, Li e Horemheb, com um desprendimento absolutamente infantil.

- Gosto de você, mestre Horemheb.

- Gostei de você também, Ishiro.

Máscara da Morte sorriu.

- Vocês estão brincando de casinha. Já têm a casinha. O filhinho, a mamãe, o papai. Até quando dura a brincadeira? Li é Mestra nas montanhas. Aioria tem obrigações de Cavaleiro no Santuário. E esse menino, bem ou mal, será submetido às rotinas do santuário: rotinas determinadas por Saori, que como Li bem disse um dia, sabe pouco sobre a arte da guerra...

- Você tem o dom de ser desagradável, Cérbero. – Aioria resmungou, engolindo um marisco inteiro.

- Ele tem razão, Aioria. – Li admitiu. – O que vamos fazer com Ishiro? Ele é uma criança. Não posso levá-lo para as Montanhas comigo. Você logo estará curado, voltará ao Santuário, mas ele será seu pupilo. E as diretrizes de treinamento e manutenção das crianças é determinada por Saori. O que estamos fazendo com ele é injusto. Não somos um casal, não sou mãe dele, nem você pai. E quando ele voltar a estar só? O que será dele?

- Nem Saori, nem Athena, nem deus algum, nem no Olimpo, nem no Inferno, vão me tirar Ishiro, ouviu, Li? Ele é meu agora. E ai de quem se colocar entre nós. Não é, filho? – ele empurrou o marisco ainda se mexendo para que o menino comesse. – É para você aprender a gostar de mulher, vá. Come.

- Que absurdo, Aioria!

- O quê? Gostar de mulher? –ele abraçou Ishiro – Você não vai querer ser como Mu e Shaka, vai, Ishiro?

- Eles gostam de homem, pai?

- É.

- Qual é a diferença?

- Não tem diferença, Ishiro... – Li obtemperou, já vermelha.

- Ah, tem sim! E muita. Você vai gostar de mulheres, que nem papai.

- Qual é a diferença, papai?

- A diferença é que o homem tem um pipi e a mulher tem uma caverninha. Se você namora um homem, tem dois pipis e nenhuma caverna, o que já é desconfortável e não-anatômico, só para começar a conversa...

- Aioria!

- Mas e o mestre Shaka?

- O mestre Shaka ...

- Chega, Aioria!

- Li, alguém vai ter que educar essa criança! Ou eu ou o Mu! É melhor que seja eu.

- Seus termos não são educativos e você está excedendo suas funções paternas, meu querido...

- Horemheb concorda comigo ou não?

- Li, Aioria tem toda razão: alguém vai ter que explicar para ele o que acontece no santuário.

- Viu, Li? Isso é uma conversa de homens.

- Só não concordo com a parte do não anatômico; você devia explicar a ele que os homens também têm caverninha.

-Ah, lá vem você! Não se mete na educação do meu filho, por favor?

- Pai, homem também tem caverninha?

- Tem sim, meu filho, são cavernas sagradas e invioláveis.

- Sagradas, mas moderadamente violáveis...

- Li! Faz alguma coisa!

- Você teve a idéia de educar o Ishiro. Explica para ele a caverna inviolável agora!

- Ah, Li, me ajuda.

- É, Li. Ajude ele, por favor.

- Ishiro, meu filho, a caverna e o pipi não são determinantes de coisa alguma na vida de um homem. Vai sentir o amor chamar você de dentro. E quando você estiver com o objeto do seu amor nos seus braços, não importa o que ele seja, a natureza lhe dirá o que fazer. Mas não siga nada que não seja o seu coração, porque haverá momentos, muitos, em que todo o seu corpo falará. Mas você só deve ouvir seu coração. Isso se chama 'princípio', e é a única moral que os Deuses criaram.

- É para isso que serve uma mulher, Aioria. – Horemheb replicou. – Para parir a verdade, seja ela qual for.

- No que depender de mim Ishiro descobrirá, e cedo, muitas outras serventias para uma mulher...

- Nossa, minha mãe é esperta, pai. Teve sorte da Shina não ouvir, ela ia dizer que você também é burro.

- E eu ia dar um socão bem forte na cara dela! É assim que se trata quem ofende a gente!

- Aioria!

- Tá, não falo mais nada!

Disfarçados de indianos compraram roupas para Li e presentes para Ishiro. Comeram peixe à beira mar, caminharam nas ruas da cidade e Ishiro conseguiu descobrir o nome de todas as prostitutas dos bares pelos quais passavam: ele era irresistível para os seres do submundo. Ficava à vontade entre bêbados, vagabundas, bandidos, eram atraídos como moscas ao mel para o jovem e desinibido Ishiro. Horemheb ajudou-os a voltar para casa, muito embora Aioria estivesse como se nunca houvesse estado doente.

Li dormiu no chão, olhando para a sua espada e pensando no futuro. Amava Shiryu, mais do que tudo. Amava Ishiro. E já não podia dizer que não amava Aioria. Mas também sentia falta das Montanhas. Só os espíritos dos Dragões sabiam como era duro o caminho de um mestre. Os monges dependiam dela. A guarda da espada, a jiàn, era de sua absoluta responsabilidade. Ah! Os dias eram tão menos penosos nos dias da sua criancice, quando brincava de esconder com Shiryu, e se tocavam com a curiosidade e a ingenuidade das crianças, e sonhavam com um futuro que sempre estava tão distante!

- Já está dormindo, Li?

- Não, mas você devia estar.

- Estou me sentindo tão bem hoje...

- Você está feliz, Aioria?

- Muito.

- Também estou feliz por ajudar.

- Você não acha que foi um milagre encontrarmos Ishiro?

- É. E estranho. Ishiro não é uma criança comum, Aioria.

- Você também acha?

- É óbvio, não é?

- É, mas no Santuário, ninguém dava a mínima para ele.

- Quem o via? Shina, que é uma incapaz, e Marin, que nem deve ter tido tempo de notá-lo entre tantos órfãos chorando, brigando, fazendo barulho. Os Cavaleiros de Ouro não descem normalmente aos treinamentos dos muito novos.

- É verdade, Li. Tivemos sorte em achá-lo.

- Ou não. Horemheb tinha razão em dizer que estamos brincando.

- Eu viveria esta vida para sempre, Li.

- Eu não.

- Treinaria Ishiro?

- Não posso. Há um ritual de aceitação entre os Dragões. Ele já passou da idade. Não poderia ser aceito nem nas ordens baixas.

- Nem extra-oficialmente?

- Aqui, talvez. Mas eu volto para os Templos logo. E lá ele não pode ficar.

- Eu posso criá-lo. Saori não vai poder se opor se eu quiser ter o menino.

- Mas pode criar problemas para você treiná-lo no Santuário, e problemas para ele receber uma armadura.

- Faça uma para ele.

- Posso fazer, mas ele preferirá a armadura de Ouro.

- Eu darei a minha para ele.

- A coisa não funciona assim, sabe que hereditariedade não é um critério para as armaduras. Elas, antes de nós, escolhem seus donos.

- Então não haverá problema com Saori.

- Li, eu tenho medo e morrer e deixar ele sozinho de novo.

- Disso eu também tenho medo. Mas já não podemos fazer nada: foi ele quem nos escolheu.


Dias tranqüilos correram. Os médicos diagnosticaram a Porfiria Aguda Intermitente, genética. As enzimas de Aioria estavam enlouquecidas. A absorção de sódio era prejudicada, o que destruía o controle de temperatura do corpo, os nervos e afetava os músculos também. Os médicos comentavam que, por ser um atleta, Aioria tinha suportado muito bem o impacto dos primeiros sintomas; ele poderia piorar muito, mas agora, o tratamento já estava disponível. Com cuidados de saúde permanentes, seria fácil para ele levar uma vida normal. A doença não afetara seus músculos ainda. Seria um cavaleiro em pleno exercício de suas funções.

Chegava ao fim o idílio de duas semanas e meia. A 'família feliz', como Horemheb chamava, chegara ao final da linha. Horemheb, aliás, que os visitava todos os dias, a pretexto de vigiá-los com ordens de Saori ( Saori suspendera a ordem dois dias depois, mas ele continuou indo todos os dias ), foi o primeiro a perceber que, com o passar dos dias, ao invés de melhorar, Aioria parecia cada vez pior. Não dormia bem, comia pouco, passava horas em silêncio, taciturno, olhando o céu, abatido enquanto Ishiro massageava as pernas dele com cânfora "para o pai andar melhor". Via Li ajudar Ishiro a segurar uma espada como se devia, e testá-la, e meditar, porque Ishiro tinha pouca concentração, mas uma vontade de ferro. Horemheb estava sentado perto da varanda, bebendo o chá de Li, enquanto ela observava Ishiro brincar com a bela espada de titânio e bronze. Aioria, de shorts e sem camisa, deitado no chão, via seu menino forte.

- Mãe, um dia você vai dar sua espada para alguém?

- Sim, Ishiro. Quando eu morrer.

O menino ficou sério e uma sombra de tristeza pairou em seus olhos cor de amêndoas doces.

- Será do seu filho de verdade?

- Meu filho de verdade é você, Ishiro. Mas a espada não me pertence a mim, pertence ao Mestre dos Dragões. Darei a espada ao próximo Mestre.

- E por que tem essas coisinhas escritas nela?

- Essa é a minha jiàn, espada. Ela tem mais de 3 mil anos e já foi usada por muitos mestres, cada coisinha dessas é um nome. Dizemos que ela é da dinastia de Kung Yo, porque Kung Yo foi quem forjou esta espada. Veja, aqui, o primeiro nome, bem na base da lâmina. Cada mestre que usa, põe seu nome na lâmina. Olha o meu aqui.

- Ih, mãe, mas só tem um espacinho pequeno agora!

- É porque a dinastia de Kung Yo está acabando.

- O que acontece depois?

- Quando o espaço acaba, o próximo mestre faz uma espada para começar uma dinastia. Ele escolhe as matérias que quiser, de acordo com sua habilidade de artífice, enfeita como quer. Aí o jù jiàng, o mestre artesão, forja a espada, põe o nome nela e começa uma dinastia nova. Depois dele, todo jù jiàng grava o nome na lâmina. Até acabar o espaço e começar tudo de novo.

- Que lindo, mãe.

- Não é? Eu me lembro de quando pus o nome na minha jiàn

- Mãe, eu vou ter uma armadura?

- Claro que vai.

Aioria continuava sério e triste. E vendo a tristeza sem fim de Aioria, Li desculpou-se com os dois, tomou Ishiro pela mão dizendo que levaria o menino para ver o mar, e deixou os dois cavaleiros sozinhos.

- Você não parece estar alegre com sua saúde, Aioria.

- Eu estou.

- Mas não demonstra. Li não sabe mais o que fazer para te alegrar. Até o menino está calado. E ele que é uma matraca.

- Você é tão esperto, Horemheb. Não sabe ainda?

- Gostando ou não, Yong Li ama Shiryu. Gostando ou não, ela não será de nenhum dos dois, porque você e ele são orgulhosos demais para limpar o pátio dos Templos onde Yong Li é a Mestra.

- Você é asqueroso, Horemheb. Mas, como sempre, está certo.

- A verdade é asquerosa, Leão.

- Eu sinto dor no peito, sei lá... na alma... quando eu penso... penso que tudo isso vai acabar. Foi um sonho tão bom... eu nunca fui tão feliz! Eu, ela, esta casa... o Ishiro, você viu o menino, Horemheb! Ele é perfeito! Tudo estava em paz Meu coração estava em paz...

- Eu não culpo você. Até eu gostei da sua família de brinquedo. Era perfeita. Mas, como nada nessa vida é verdadeiramente perfeito...

- Ela vai embora. E não vai voltar. E Shiryu não me deixou ficar sozinho com ela nem um minuto! O nome dele está gravado com sangue nos olhos dela! Era olhar para ela e ver o nome dele lá, sangrando, nos olhos pretos da Li.

- Pensei que você estivesse bem com Marin.

- Estou. Bem longe dela. Eu gosto da Marin, ela foi minha companheira durante anos, mas Yong Li era diferente.

- Marin é uma amazona. Li é uma princesa.

- Não é isso.

- É claro que é. A mesma coisa com o Shiryu, vocês dois adoram pajear uma princesa. As plebéias são coisa pouca para vocês. Ah, vocês são a nata do mundo! Vocês peidam Chanel n5! E para vocês é melhor o desprezo real de Yong Li do que o amor comum, o amorzinho coca-cola de todo dia de Marin ou aquela gueixa submissa que é Shunrei. É isso, pronto!

- Está insinuando que eu não amo Yong Li?

- Não. Estou dizendo que você ama Yong Li porque acha que ela é muita coisa! – ele engoliu a última porção de chá, já acendendo seu charuto – E ela é, meu caro. Mas você não vai ter essa garota. Yong Li é uma virgem das Montanhas e quando ela deixar de ser virgem, ainda assim será das Montanhas, então, uma noite ou outra é o máximo que vão tirar dela...

- Você é canalha, sabia?

- Mas não sou hipócrita. Mas os cavaleiros de ouro têm um problema encarando verdades, isso é fato.

- E o Isihiro?

- Ele também deve ser virgem.

- Falo sério, Horemheb!

- Vai brigar com Saori. Ela vai fazer pirraça, é uma manhosa que gosta que todo mundo esteja com joelhos e narizes no chão para falar com ela. Vai criar um escândalo porque não será o centro da vida de outro cavaleiro... quando ela se acostumar com a idéia é bem capaz de gostar do menino. Aliás, é difícil não gostar dele...

- E a Li?

- Ou você fica doente para sempre para prendê-la aqui, ou diga adeus.

- Acho que vou ter que dizer adeus e...

Aioria não terminou de falar. Antes que ele pudesse, uma criança ruiva surgiu entre ele e Horemheb.

- Kiki, você nunca liga antes de vir?

- Hehehe! Desculpe, Aioria! Foi o Mestre Mu que me mandou aqui.

- O que Mu quer?

- Te avisar.

- Avisar o quê, menino, anda.

- Saori quer a armadura de Leão.

- E para quê?

- Ela vai dá-la pro Ikki. Amanhã à tarde.

- O quê??

- Ela disse que o Santuário não pode ficar desguarnecido sem um cavaleiro de ouro. E disse que Ikki já está pronto. Ele vai te substituir. Por tempo indeterminado.

- Saori está louca se acha que vou entregar minha armadura assim. Não estou morrendo, já estou recuperado e Ikki nunca mais vai pôr as patinhas dele na minha armadura de Leão!

- Mas Aioria! Eu preciso levar a armadura.

- Você vai voltar com a armadura. E comigo enfiado nela! Anda, Horemheb. Vai lá embaixo chamar a Li e o Ishiro para mim, por favor. Eles vão junto.

- Não sei se é uma boa idéia.

- É? Dá sua armadura para o Ikki, então!

- Ele morreria tentando pegar a minha.

Li entrou com Ishiro, cheio de lama dos pés à cabeça.

- Kiki...

A criança fez um longa reverência.

- Mestra dos Dragões.

- O que houve, Kiki?

- O que houve, Li, é que Saori nem esperou que eu caísse morto para vir tomar minha armadura e dá-la para os queridinhos dela, aquele frouxos que eram cavaleiros de bronze ontem e hoje já são o suprème do Santuário!

- O que você pretende fazer, Aioria?

- Entregar a armadura. Comigo dentro. E se Ikki quiser vestir, vai ter de me arrancar de dentro dela.

- Aioria, eu concordo plenamente que é um despropósito de Saori. Decidir pela substituição de um cavaleiro de ouro em menos de um mês num período de paz, é, sinceramente, o que eu chamaria de excesso de zelo. Mas não acho que seja uma boa hora para você reagir assim.

- E o que você sugere? Que eu entregue minha armadura com papel de presente brilhante ou fosco? Você tem idéia de quantos anos eu lutei por ela? E de quantas humilhações eu sofri por causa do meu irmão? Eu não vou desistir da minha armadura! EU SOU O LEÃO!

- Não ruja para mim, Aioria. Você não está plenamente recuperado. Não deve começar uma briga assim. Entregue esse maldito pedaço de metal para ela! Quando estiver totalmente recuperado das crises, vá lá e peça por sua armadura. Ela não vai se negar a entregá-la e nenhum cavaleiro vai se opor à sua volta.

- Não! Não! Não! Se você quiser pode ir embora para suas Montanhas! Eu e Ishiro vamos para a Acrópole. E Saori vai ter que arrancar a armadura de mim. Com toda a força que ela e os cavaleiros puderem. Eu juro por tudo que é mais sagrado, Li, Ikki e Saori vão ter de tirar a armadura dos restos do corpo, porque eu vou lutar até eles me matarem!

Continua...


Comentários:

Amy & Nana: obrigado por tudo. Não queria me repetir nos agradecimentos, então este 'tudo' é 'tudo' mesmo. E, vamos continuar nosso intercâmbio de leituras e idéias. Vocês são umas fofuras!

Perseus Fire: Obrigada pelo comentário! Como a Li é o único personagem que de fato me pertence, fico muito orgulhosa de ouvir elogios para ela, afinal, é como se fosse filha! Quanto a sua fic, ainda não tive tempo de ler, mas está na lista! E eu também acho que Saori é um personagem forte, mas ela tem MUITOS pontos fracos exploráveis. É fácil dar uns esculhambas nela!

Mikage-sama & Eloarden Dragoon: Obrigado por continuarem lendo. Tenho todos vocês em mente quando escrevo...

Beijos, até a próxima.