Disclaimer: Saint Seiya e seus personagens originais não me pertencem

Observação: Informações mitológicas citadas no texto são de minha responsabilidade; contudo, mesmo para os mitos mais conhecidos há muitas versões disponíveis.

Observação 2: Horemheb, Ishiro e Yong Li são personagens ficcionais de minha autoria.

Nota da autora: Aqui, finalmente, depois de 10 capítulos, está aplena justificativa do nome 'Gênese'. Foi difícil chegar aqui, mas graças aos meus leitores generosos, consegui pegar a mão. Aguardem novidades por aí!


A Gênese

Capítulo 11

Verdade

- Mestre Wang, o que achou de Ishiro?

- Acredito que a dor tenha feito seus olhos menos astutos, filha dos Dragões.

- Eu sinto que ele não é uma criança qualquer, mas não sei bem do que se trata...

- A Cultura helênica se divide em dois pontos distintos, se você se lembra as aulas que lhe dei...

- Sim, Mestre. O dionisíaco e o apolíneo.

- Então se lembra que o apolíneo é o apogeu de Athena, com tudo que representam os deuses olímpicos: a claridade, a perfeição das formas, a estética do que é belo, a ordem.

- Sim, e o dionisíaco é o contrário: é a escuridão, o mistério, a criatividade. Dionísio era o deus do vinho, patrono do teatro, alguns consideram que o período dionisíaco representou o pico da produção artística grega; apesar de perseguido, Dionísio pregava a alegria e as orgias. Era um deus atípico do panteão, porque se identificava mais com os Titãs do que com Zeus, embora fosse filho de Zeus e... esqueci, Mestre...

- Filho de Zeus e Sêmele, uma mortal. Uma mortal que explodiu ao ver o deus em sua forma de deus, numa artimanha de Hera, esposa de Zeus, que queria destruir sua rival.

- Agora eu lembro: quando Sêmele morreu, grávida, Zeus pôs Dionísio em sua coxa, onde ele o gestou até nascer, para protegê-lo da fúria de Hera.

- Pois bem, a era de Athena está instaurada no santuário, mas parece que Zeus deseja conceder a seu filho injustiçado um reinado sobre a Acrópoles.

- Está me dizendo que Ishiro é...

- Tanto quanto Saori Kido é a encarnação da deusa Athena, o pequeno Ishiro é a encarnação de Dionísio.

- Então o destino de Ishiro é tomar posse do Santuário?

- Sim, ele breve será a divindade a ser seguida pelos Cavaleiros. Saiba que, não por acaso, foi confiado o menino a você e Aioria. É primordial que ele tenha uma boa educação, para que sua ascensão no santuário não se torne uma guerra...

- Espero que não...

- Terão trabalho em treiná-lo: Dionísio não é um guerreiro, como Athena. Assim mesmo, sua força está em sua inteligência artística e sua vivacidade. Aproveite as qualidades do menino.

- Mestre, que grande responsabilidade a nossa...

- Jovem Mestra Li, não acredito que ninguém no mundo a desempenharia melhor que você e Aioria.

- Se é que Aioria poderá ter o privilégio de ver a ascensão de Dionísio.

- Pois ele terá.

- Como pode ter certeza, mestre?

- Jovem Mestra Yong Li tem prestígio junto aos seus pais, os Dragões.

- Mestre, mestre! Não me diga que...

- Mamãaaae!

- O que foi Ishiro?

- Mestre Shaka falou dentro da minha cabeça! Mestre Aioria está acordado! Ele acordou, mãe!

- Ouviu isso, Wang?

- Seu pedido foi atendido, Mestra.

- Não, ouviu isso? Shaka falou com Ishiro pela mente...


- Aioria?

- Milo! Milo! É você... você está tão... tão embaçado...

- È a luz do quarto, muito forte para você por enquanto, Aioria...

- Onde está...

- Li e Ishiro estão na Montanha do Dragão...

- Ah... – havia uma decepção tão intensa nos olhos dele que Milo sentiu-se mal por ter sido ele a dar a notícia.

- Mas em breve todos estarão aqui, Aioria.

- E Horemheb?

- Proibido de entrar: estava fumando ópio na sua varanda.

- Ópio milagroso... – Aioria gemeu, a voz ainda fraca e rouca pelo pouco uso dos últimos meses.

- Já está fazendo piadinhas, não é? Logo vai estar em casa.

A casa que veio a mente de Aioria foi a casa de Shaka. Ah, mas aquela estória não lhe pertencia mais. Li estava nas Montanhas com Ishiro. Só deus podia dizer desde quando. Um nó formou-se em sua garganta. Ela o deixara, no momento da sua dor maior, do seu sofrimento maior. "Deve ter achado que nunca ia me levantar", Aioria pensou para si mesmo, em silêncio, enquanto Milo ajudava-o a mexer os pés, entorpecidos pelo longo tempo de coma. "Ela deve ter ido com o menino, esperar Shiryu. Fugiu. Não queria ser babá de um vegetal... sim... ela se foi. E eu, idiota, ainda perguntei por ela, estúpido! E justo ao Milo, que não vai guardar segredo, eu sei. Mas agora estou de pé... eu sou forte, não vou morrer. Nem Li nem ninguém vai me derrotar! Estou vivo outra vez!E sozinho... sozinho como sempre, Aioros..."


- Li, espera...

- O que foi, Shaka? Ante o silêncio de pedras de Shaka, ela repetiu a pergunta, parando o passo. – Shaka?

- Aioria não quer te ver.

Li sequer conseguiu disfarçar a seu choque.

- Mas por que?

- Não advinha?

- Não...

- Ele acordou e só se lembrava do quanto Li amava Shiryu...

- Isso é ridículo. O fato de eu amar Shiryu nunca fez Aioria se recusar a me ver antes!

- Eu também acho, mas até que Aioria formule uma desculpa melhor para não vê-la...

- Acha que eu não devo entrar? Eu?

- Talvez não deva, mas como não tem ninguém aí, eu abro a porta para você... – Shaka sorriu, numa doce e discreta reverência de palmas fechadas, como os monges budistas fazem, todo vestido com as túnicas alaranjadas dos monges, como ele tanto gostava. Talvez por não abrir seus olhos com freqüência, não notasse o quanto suas roupas eram diferentes do que todos vestiam na Grécia moderna.

- Obrigada, Shaka... – Li beijou os olhos fechados do Cavaleiro de Virgem.

O quarto de hospital era bonito e bem decorado em tons de amarelo. Saori realmente não economizou um centavo na acomodação e tratamento de Aioria. Ainda assim, um hospital é um hospital: frio, impessoal, seco, deprimente. Cheiro de éter em todo o lugar, e Aioria, deitado na cama com luzes apagadas, apenas o sol grego forçando a entrada por persianas amarelas iluminadas, o cavaleiro de Leão parecia de fato um Leão, cabelos longos, a luz o dourava como ao totem de um deus antigo, impiedoso, com olhos flamejantes de pedras de má-sorte.

- Por que você veio? – o deus impiedoso na cama rugiu.

- Por que acha que eu viria?

- Para ter certeza de que não estou morto?

- Eu não teria me dado ao trabalho de vir só para isso: poderia ter perguntado a alguém.

- Então seu trabalho está feito e você pode voltar do lugar de onde veio. Não estou morto. Os meus amigos cuidam de mim. E você pode voltar a idolatrar suas memórias nas Montanhas.

Li agradeceu aos dragões a pouca claridade, estivessem acesas as muitas luzes do quarto, Aioria a veria com olhos molhados, lágrimas de revolta traçavam uma trilha brilhante nas bochechas dela.

- Eu vou voltar. – ela chegou perto dele, 10 quilos mais magro, longos cabelos, cheirando a pós-barba. Não disse palavra alguma: juntou as palmas das mãos mimosas, soprou dentro delas e as abriu novamente, espalhando uma nuvem de pó brilhante e borboletas amarelas que invadiram o quarto.

Quando a poeira de ouro baixou, ela já não estava mais lá.


Nana: Você está viajando, mas mesmo assim, quando voltar lerá isso: saudades dos seus comentários! espero que quando volte, encontre os capítulos melhores do que você esperava. Não me esuqeço dos seus reviews sempre edificantes... BUÁ! Se divirta!

Amy: Bailarina??? Oooo! Que inveja, eu não sei nem fazer o 1-2 1-2! Se você quiser te ruma idéia do que é um 'balé-luta', não perca a estréia de 'Herói', que é um filme chinês BÁRBARO! E não fique triste, eu tamném amo o Ikki, e quem disse a pérola foi o Shaka... você vai ver logo que não é bem assim que Aioria pensa... hehehe... cala-te boca! Beijocas, hein! ( não ou reclamar de saudades da EV, ok? Vou dar uma colher de chá nas pressões, sei que sou uma leitora mala sem alça e sem rodinha! )

Eliandrah: Ah, você está aí! Que saudades! Aqui está o comecinho das reviravoltas, mas vem mais por aí... A dancinha dos monges deve mesmo ser tudo, mas qualquer filminho do tipo 'O Tirge e o Dragão' dá bem uma idéia do que os chineses são capazes... TUDO de bom!

Lola Spixii: Ai, que honra!!! Eu já tinha ouvido falar de você! Lola famosa, eee! Caramba, muito feliz por você ter gostado... eu também acho a desfrição fraquinha, mas não sou boa com resumos mesmo... O MdM é um desafio constante - peitar a nacionalidade oficial dele e reconstruir, costurar, uma identidade 'egípicia' para ele é ao mesmo tempo complicado e recompensador... mas eu sou cabeçuda, teimosa... Obrigado pela Li... ela é meu xodozinho... ela e o Ishiro, claro... mas para o 'mistério' Ishiro já há alguma coisa... bom, obrigada e beijocas!


Leitores que nunca se manifestam: eu sei que vocês estão aí! Obrigado por lerem, por manterem a roda da fortuna girando! Mesmo sendo quietinhos, vocês são fofos! OBRIGADO!!!