Disclaimer: Advinha? Saint Seiya não me pertence! Os personagens originais de Kurumada são usados aqui sem fins lucrativos, com objetivos de entretenimento apenas. Ao contrário, os personagens originais e o argumento esta fic, mesmo não sendo grande coisa, me pertencem.
A Gênese
Capítulo 19
Dor
Quando acordou, Saga não viu nada. Seu braço esquerdo sangrava, sua cabeça zunia. Seus olhos nada enxergavam. Estava na casa de Gêmeos – reconhecia pelo cheiro. Mas como viera parar ali? Kanon, que o sustentava sorrindo suavemente, e acariciou o cabelos macio do seu irmão gêmeo.
- Mu! – Milo amparou nos braços o corpo de Mu.
O grito do ariano retiniu metálico nas paredes da casa de escorpião. Atraído pelo grito, Camus, que passava perto, entrou na casa correndo.
- O que houve aqui, Milo? Você está bem?
- Eu estou... foi Mu... estávamos conversando... ele deu um grito e caiu.
- O que será que aconteceu, Milo?
- Você acredita na sensibilidade que Mu diz que eu tenho?
- Claro... – Camus murmurou, olhando assustado para as faces ainda mais brancas de Mu, como se ele vestisse uma máscara de gueixa, lábios lilases.
- Se Shaka não está morto, deve estar morrendo.
- Como sabe disso?
- Mu me disse que ele estava com o menino.
- C'est terrible...
- Eu sentiria a mesma coisa por você, Camus...
Camus abraçou-lhe os ombros como resposta.
- Você está tremendo, mon amour...
- Camus, isso é muito sério... Mu nunca mentiu... estou apavorado porque nem mesmo sei de que lado estamos... e se estivermos errados? Outra vez?
- Acredita em Mu?
Milo balançou a cabeça em dúvida.
- Camus, sempre acreditei nele, sempre...
- Milo, Milo...
- Ele ama Shaka... ele não o deixaria morrer por nada...
- Milo, me prometa que não vai se meter mais nisso...
- Mas Camus...
- Não quero estar no lugar de Mu, Milo. Não quero...
Milo deu um beijo casto nas bochechas do francês.
- Como se fosse possível evitar o movimento das coisas.
- Seiya? O que faz aqui?
- Shiryu, estou apavorado... apavorado...
- O que você fez? Achou o menino?
- O menino sumiu!
- Mas você não tinha achado eles?
- Matei Shaka.
- Você o quê!
- Eu.. eu não queria! Foi um acidente, ele estava só se defendendo, me atrasando, enquanto Saga corria atrás da criança... mas...
- Pára de gaguejar e fala!
- Eu entendi que ele não queria me matar, mesmo! Mas eu precisava tirar ele da frente, precisava! Eu ataquei de leve, não mirei nele, sabe? Mas foi um acidente... acertei ele... ele estava sem armadura, Shiryu... sem armadura! Acertei ele aqui... – ele apontou para o lado esquerdo do peito, acima do coração, perto do ombro. – Sangrou muito... quando eu fui... fui embora... ele respirava...
- Você deixou ele l�? Para morrer? Sozinho? Seiya, como pode fazer isso?
- EU NÂO SEI! Eu estava apavorado, eu... eu... estava com medo... medo de olhar... Shiryu, e se ele morreu? Como vou dizer para os outros? Athena vai me perdoar, eu sei que fiz certo em proteger Saori, mas e eu? Eu nunca vou me perdoar se matei um cavaleiro... quer dizer... agora que estava tudo em paz! E um cavaleiro sem armadura!
- Onde está Saga, ele pegou o menino?
- Não sei, ele sumiu.
- Seiya, precisamos voltar lá e resgatar o cor... precisamos... achar Shaka.
- Você ia dizer corpo, não ia?
Shiryu segurou a mão ensangüentada de Seiya.
- Ia... você fez mal, muito mal. Não quero pensar no que vai acontecer... se Saga matar o menino... vai correr muito sangue aqui, Seiya, muito...
- Eu não queria!
- Eu sei, ninguém queria. Mas agora pode ser que ele esteja morto...
- Shiryu...
- O quê?
- Quem vai falar para o Mu...
- Ah, eu não... não... eu não quero...
- Alguém vai ter de dizer.
- Saori. Ela disse que devíamos trazer os 'traidores' vivos ou mortos. Ela que fale por nós... e que agüente... ela que agüente... – Shiryu balançava a cabeça de longos cabelos negros – Por mais que estejamos certos, agora estamos errados, totalmente errados. Vencemos os cavaleiros de ouro porque lutávamos pela justiça, mas... se eles estiverem juntos, lutando contra nós, morreremos, Seiya... eles vão nos derrotar...
- Mu... Mu, meu querido... não chore...
- Shaka... seu... peito sangra!
- Estou em seus sonhos, minha criança celeste... eu vim ver você... eu vim me despedir...
- Shaka... Shaka... – Mu ajoelhou-se diante dele, tocando, incrédulo, as madeixas loiras com os dedos trêmulos de uma mão, e com a outra tocando o centro úmido e quente de onde esvaía-se o sangue do virginiano, num gesto infantil de tap�-lo, como se pudesse estancar o sangue que corria livremente.
- Mu... – Shaka segurou a mão de Mu, pequenina e branca como uma flor de laranjeira, trouxe-a perto do rosto. – Não há mais tempo para isso...
- Shaka... você não pode morrer...
- Mu... não chore... parte meu coração... morrer não é problema para mim, mas não suporto a sua dor... não suporto... mil golpes de cavaleiros não me ferem tanto quanto seu cosmo me fere agora!
- Eu não posso evitar a dor... não... Shaka... abra os olhos! – Mu o sacudiu violentamente – Abre seus olhos e me veja! Não! Você não pode... todos me deixaram, Shaka... e você... você prometeu não me deixar sozinho! E vai me deixar...
- Eu nunca deixarei você, minha criança... você será sempre meu menino celeste, minha alma rodeará você como uma borboleta circunda sua rosa preferida, ciumentamente, para sempre... para sempre... até o final dos tempos e depois ainda... não acredita em mim?
- Shaka... escute! Você não pode me deixar... não pode! E o que vai ser de mim? O quê? Se é o bater do seu coração que sustenta as estrelas presas no firmamento, se é só por sua causa, só sua, que as malditas flores nascem nessa terra cheia de maldade, se todos os rios, estradas e caminhos convergem para você... você! Você é o eixo do mundoÉ do suspiro que sai da sua boca que todas as coisas se formam, você é o centro do mundo! Tudo gira ao seu redor... e eu... sua estrela mais triste... nada existe antes nem depois de você, Shaka! Nada! Razão das coisas... você é o corpo vivo de deus, minha religião, meu Vedas, minhas preces, minhas lágrimas, meus sorrisos e mais... ainda mais! O que eu vou fazer? Sem você? – ele enterrou o rosto mimoso no peito de Shaka, que tremia ante as palavras de Mu, sempre tão contido e frio.
- Mu... Dionísio será salvo... tudo vai ficar bem...
- Bem? Como posso estar bem, ou ficar bem ? Como? Nunca vou ficar bem! Nada nunca mais vai estar bem, meu mundo está fendido em dois! De novo! E tão pouco! Tão pouco tempo eu tive você! Tão pouco!
- Culpa minha... eu lamento... lamento... – a voz cada vez mais falhava.
- Fale comigo, Shaka... fale!
- Não posso... não posso mais... estou morrendo, Mu... minha mente não tem forças para manter contato... mas minha alma persegue você, até o último minuto, meus olhos abertos só terão você, chego mesmo a pensar que Buda só me deu olhos para este momento, que só me serão úteis os olhos agora, na morte, para eu ter seu rosto de anjo impresso em minhas pupilas... a imagem mais doce que algum mortal já levou para o paraíso... quando os deuses abrirem meus olhosé você que eles verão...
- Não! Shaka! Shaka! Seus lábios estão frios... frios...
- Acorde, Mu... acorde, por Zeus, acorde...
- Shaka!
- Sou eu, Milo...
- Onde está Shaka?
- Não sabemos... mas eu mandei Camus procurar... ele vai ach�-lo, Mu... se Zeus misericordioso quiser, antes de... de Saga...
- Não adianta... está morto... está morto!
- Pare, Mu... como sabe?
- Ele veio me dizer...
- Foi um pesadelo, só isso, você está nervoso... e fui eu que te assustei, me perdoe, me perdoe, Mu!
- Está morrendo, Milo! Meu Shaka! E ele morreu sem dizer que me amava, Milo! Eu nunca ouvi ele dizer que me amava...
- Ishiro!
O menino atirou-se nos braços de Horemheb.
- Ishiro, onde está Shaka?
- Athena mandou mat�-lo... onde estão meu pai e minha mãe?
- Não sei... estão circulando pela cidade... para despistar os cavaleiros... Estou com Afrodite... vamos encontrar Ikki e Kiki, que foram buscar a armadura de Aioria. Mas... e Shaka?
- Athena vai nos matar, Mestre Horemheb! Deixe mestre Shaka, já foram busc�-lo! Vamos encontr�-lo... l�! – o menino apontou para o topo da Acrópole, que rasgava o céu da paisagem da velha Atenas. – Vão levar ele para lá... e lá nós vamos vê-lo! Mas preciso do meu pai e da minha mãe... vamos ter que achar eles, antes dos cavaleiros pegarem eles!
- Sim, vamos... Afrodite, pegue ele e fique no banco de trás... vamos correndo... correndo...
- Aioria, se sente bem?
- Não.
- O que tem?
- Vontade de bater... em alguém, em alguma coisa... ! Estamos tão impotentes... e eu não fiz nada por Ishiro... meti todos os meus melhores amigos e você... você, Li, nisso. E se acontecer alguma coisa com alguém? Até agora Athena não tomou nenhuma providência... nenhuma além de tentar nos separar...
- Ela está assustada...
- Mas porque será que os mensageiros do Hades foram dizer a ela que Ishiro era perigoso?
- Ora, Aioria... é óbvio, não é?
É?
- A quem mais interessaria uma guerra? Enquanto Athena e Dionísio brigam e seus cavaleiros morrem, Ares vem e toma posse da Acrópole... não é assim? Não era a intenção dele desde o começo?
- Claro! Claro!
- O que me admira é que Saori tenha sido tola ao ponto de acreditar em mensageiros do subterrâneo...
- Saori é uma menina, Li... Mitsumasa Kido fez mal em criar essa garota como uma flor de estufa... e ela tinha tantas responsabilidades... e nós demos tanta responsabilidade a ela... ela sequer pode se defender sozinha...
- Foi imprudente confiar que a deusa se manifestaria integralmente em alguém tão jovem e tão fraco... diga-me uma coisa, Aioria... acha que ela e Seiya... você sabe...
- Não, eles não têm um caso. Para ser honesto, acho que ele ama Shina, mas não tem coragem de ficar com ela... compreensível... até por causa da Marin... elas ainda estão estremecidas... por tudo. Shina sempre foi louca... não vai mudar.
- E ela?
- Apaixonada por ele, obcecada por ele, desde o dia que ele a viu sem máscara, um moleque ainda... mas, orgulhosa e forte demais para um menino... às vezes eles se encontram em um beco, ou rua sem saída lá no Santuário e assustam os gatos vadios com a 'orgia'... – ele riu, aquele sorriso que Li adorava, algo entre o sorriso bobo de uma criança e o enigmático de uma Monalisa – mas fingem que nada aconteceu. Tem sido assim desde que a última guerra acabou...
- E Marin? – Li perguntou por impulso. A influência do mundo corrompia a sua concentração de monja, que obviamente a impediria de tais deslizes.
Aioria a olhou nos olhos, deliciado pela gafe da monja.
É uma amazona. Mais amazona do que mulher. Acontece com a maioria das meninas... mas é a melhor... a melhor de todas as amazonas! A mais corajosa, a mais íntegra, a mais decente, firme, inteligente.
É? – gafe número dois. Bochechas coradas, voz hesitante. Aioria não podia acreditar...
- Ela é maravilhosa. Acho que, quando tudo isso acabar... não quero apressar as coisas... não acha uma boa idéia que um cavaleiro se casar com uma amazona?
Li ficou pálida como visse a morte. Sentiu o sangue fugir das suas bochechas, um calafrio passar pelas suas pernas e subir, subir. Passou a pequenina mão pelo pescoço, respirou fundo. "Senhor dos Céus... é uma benção... que dádiva a minha, foi tirado de minhas costas o peso da infelicidade deste homem... simé o melhor. Serão felizes... devo fazer tudo para que isso aconteça... porque não estou feliz, Senhor? Que os dragões em minha alma escondam essa dor sob suas asas firmes."
- Será uma excelente idéia... ninguém melhor que Marin para entender as demandas da sua vida de cavaleiro.
Aioria não se abalou muito com a resposta pensada e pesada de Li; conhecia bem o altruísmo dos dragões e a julgar pelos longos minutos de silêncio entre a pergunta e a resposta, podia dizer que fora tudo menos espontânea. E Li francamente o encantava, ainda assim, quando Ikki sugeriu que as roupas de Li a denunciariam facilmente nos arredores da moderna Atenas e ela o seguia pelas ruas, de camiseta babylook e jeans. Era ainda assim, bela e sedutora, cabelos longos e negros, arrumados em longas tranças.
- Li, você voltará para as montanhas... quando tudo acabar?
- Sim.
- E Shiryu?
- Que pergunta tola... ele ficará... como sempre... – a voz dela era bem menos melancólica agora. Havia uma certa aceitação, uma espécie de conformismo tranqüilo no que dizia, como se narrasse uma lenda antiga, da qual todos já sabiam o final.
- Li...
- O que?
- Está sentindo?
- Estou...
- Alguém vem vindo...
Eloarden Dragoon: Moça dos mil nicks, hoje tem Milo, Camus, tragédia e tudo mais que a Tia Verlaine adora! Vamos ver agora se você ainda curte umas lágriminhas... hehehe!
Nana Pizani: tia Nana-chan já voltou, espero que tenha curtido mesmo o presentão dos pais! Que bom que você gostou do capítulo que dediquei á você. Aqui está de volta o velho e bom estilo Verlaine: cortes bruscos, diálogos à rodo e muita tragédia. Espero que goste desse também...
Amy: a bebê fada! Eu amo o Ditezinho, acho uma delícia escrever sobre ele, sempre rendo bons momentos de descontração. Bom, quanto ao incidente doméstico, você vai entender mais tarde, porque eles vão 'dar com a língua nos dentes' depois! E vamos organizar um bolão aqui para votar nos mais bem dotados do Santuário! Eu voto no Shakinha!
Mikage-sama: ah, minha leitorinha querida e fiel de todas as horas! Sim, o Muzinho, que revelação... bem dotado... e olha que do jeito que o Ishiro é danado já deve ter visto os cavaleiros todos sem roupa! Mas, como eu comentei aí em cima com a Amy, vamos fazer um bolão para ver quem é mais bem dotado!
Lola: foliona recém chegada, aí está um presentinho: MILUCHO! E ainda por cima, em atitude altamente meiga!
