Disclaimer: Rurouni Kenshin não me pertence. Inclusos assim seus personagens e história. Direitos autorais destinados a Nobuhiro Watsuki e afiliados.
Notas: Este fanfic se passa nos dias atuais, no ano de 2003. Sendo assim classificado como Universo Alternativo. (Notem que assim sendo, a história será contada de forma diferente da forma original.). Este provavelmente será um 'dark', tendo elementos inapropriados para menores. Caso não se sinta confortável com esse tipo de coisa, seria aconselhável não ler.
O Despertar da Alma
Capítulo 1: prelúdio do desejo
------
Quando o sol se for
A lucidez irá se extinguir
E nas trevas seu coração irá vagar
Até que um dia
Sua alma possa despertar
-------
Tóquio - final de inverno - 2003
O quarto segurava um ar tenebroso. O inverno estava em seu final, mas talvez, devido as atuais circunstâncias, a atmosfera parecia muito mais úmida e pesada do que o usual. O sentimento de perda escurece a visão, e quando de forma violenta e inescrupulosa perde-se alguém que é querido em seu coração, tudo parece ter um sabor muito além do amargo, congelando qualquer sentimento. Apesar da morte ser algo natural na vida, um assassinato carrega uma energia muito além do que se pode compreender. Roubar a vida de alguém não é considerado natural. Estraçalhar sonhos, sem ao menos temer as conseqüências faz do assassino o que ele é. Ele não vive, apenas existe.
Kaoru sentiu uma de suas mãos tremer, e logo saiu da grande varanda pertencente ao seu quarto. Parou e olhou para o Céu, que segurava o tom azul claro, contemplou-o por alguns instantes e virou-se novamente.
Um único dia havia se passado desde a terrível perda da sua irmã. E que infortúnio. Muitas dúvidas passavam pela sua cabeça, e por mais que pensasse, sua dor era muito grande, e a impedia de racionalizar. Mas algo parecia estar sempre em sua cabeça, como se a atormentasse. 'Ela pediu para ficar no meu quarto aquela noite... Será que ela sabia de algo?' Kaoru perguntou-se. Soltou um longo suspiro que estava guardando. Não queria pensar em nada disso, queria apenas sumir. Até quando aquele sentimento iria permanecer em seu coração? Enquanto visse o sereno rosto de sua irmã, sabia que nunca iria poder atuar como sua mente tanto desejava.
"Não..." Kaoru disse, sentando-se em sua cama. "Você foi arrancada de mim... O que eu poderia fazer?" Perguntou ao frio e úmido ar. Abaixou a cabeça, olhando fixamente para suas duas mãos que repousavam sobre suas pernas. Uma lágrima desceu levemente, acariciando a macia seda que era sua pele. "Como pode alguém...." Parou de repente o lamento. Levantou a cabeça, e silenciou-se. Podia ouvir passos. 'Quem será...?'
Um leve bater da porta ecoou levemente, seguido de uma baixa voz masculina. "Kaoru-san, posso entrar?"
Kaoru reconheceu a voz como sendo a de Aoshi, e levemente soltou a sua respiração. "Sim Aoshi, entre." Disse apenas, o eco triste audível em sua voz.
Aoshi abriu a porta calmamente. Entrou no quarto suavemente e fechou a porta. "Está tudo pronto." Comentou. "Gostaria de descer?" Perguntou a Kaoru, aproximando-se da cama onde ela estava sentada.
Kaoru seguiu os passos de Aoshi, até vê-lo a meros centímetros perto dela. Levantou sua cabeça para olha-lo. Balançou a cabeça concordando. "Sim..." Murmurou, abaixando a cabeça novamente.
Aoshi hesitou por um instante, mas logo colocou uma mão no rosto de Kaoru. "Não chore mais." Disse calmamente, enquanto sua mão deslizava para o seu queixo, fazendo com que ela erguesse a cabeça. "Não há de tardar o sofrimento daquele homem." Murmurou secamente.
Kaoru fechou os olhos. De alguma forma aquelas palavras pareciam lavar um pouco do sofrimento. Parecia purificá-la, apenas parecia. Mas, como se pode purificar algo, fazendo chover sangue? Sangue deve ser lavado com sangue? É essa a resposta para algo que trucida os mais belos sentimentos, transformando-os em meros sussurros que ecoam entre as sombras. Como pode ela transforma-se daquela forma?
"Uma borboleta não pode transforma-se em uma larva, não é?" Perguntou ao nada.
Aoshi tirou a sua mão do rosto de Kaoru. E olhou-a sem emoções. Parecia buscar uma resposta apropriada aquela pergunta que havia sido direcionada a qualquer uma que pudesse responde-la. Ou talvez, a alguém que não pudesse.
"Não." Ele disse.
Kaoru levantou a sua cabeça, um sorriso coberto por profunda tristeza aparecia em sua face. Parecia ter percebido algo, talvez descoberto."Eu imaginei que não... Estaria na ordem errada da vida..." Disse baixo, quase inaudível. "Como é que se podem perder os sinais que a vida nos dá...?" Seu rosto levantou-se, olhando para o pouco surpreso Aoshi. "Algum dia tudo se descobre... Mesmo que seja o que mais tememos..." Sussurrou olhando para o lado. Uma fria brisa passava por ela, como se estivesse dando-lhe uma reposta.
Aoshi ainda continha seu olhar sobre Kaoru. Esta continha uma expressão que variava de desespero e angustia. "O que quer dizer com isso?" Perguntou-lhe, agachando-se ao seu lado. Parecia-lhe que Kaoru havia achado muito mais do que ele poderia ter imaginado. Pensamentos negativos e visões distorcidas poderiam fazer com que seus pensamentos e conseqüentemente suas respostas seguissem a mesma linha. Afundando-a entre a tênue linha entra a realidade e o surreal.
Kaoru levantou-se, parecia obrigar o seu corpo a fazê-lo. Sua mente estava conturbada com tantos pensamentos, revelações e perdas. E tudo aquilo se refletia em seu muito cansado corpo. Evidencias permaneciam em seus tristes olhos. "Nada com que deva se preocupar..." Disse-lhe, enquanto arrastava-se até a sua grande porta. Parou a alguns centímetros, sua respiração presa. "Você nunca irá... Me deixar não é?" Sussurrou, fechando os olhos.
O quarto tornou-se mais silencioso a perda da respiração da outra pessoa. Alguns passos foram dados por Aoshi, e ele parou logo atrás de Kaoru, uma mão sobre um de seus ombros. "Nunca." Murmurou sem hesitação.
Kaoru deixou a respiração que prendia ser solta. Ela não iria suportar outra perda. "Eu não poderia suportar...." Disse em uma lamuria.
Aoshi retirou uma mão que estava sobre o ombro de Kaoru, e virou-a. Uma de suas mãos acariciaram delicadamente os negros cabelos debaixo de sua palma. Leveza e ternura pareciam se encontrar em um leve toque.
Kaoru olhou-o um pouco apreensiva, e abaixou os olhos.
Aoshi lentamente retirou a sua mão da seda negra, e repousou a mão em um de seus lados. "Vamos Kaoru-san." Afirmou, enquanto uma firme mão abria cautelosamente a maçaneta. "Não tardemos mais." Disse-lhe tranqüilamente, enquanto a fazia retirar-se do quarto.
-----------------------------
Kaoru colocou uma mão gélida sobre o rosto de sua irmã. Parecia que dormia serenamente. Contradizendo o modo em que sua morte foi dada, dava-lhe a impressão que a morte não havia realmente a tocado. Abaixou a sua cabeça até chegar ao mesmo nível que o rosto de sua irmã, que contrastava pela fria pele sobre o quente rosto de Kaoru. Seu corpo tornou-se rígido ao contato. "Você sabia... Não sabia?" Sussurrou, para que apenas ela e sua finada irmã pudessem ouvir. "Por que?" Perguntou-lhe sofregamente, uma mão sendo posta delicadamente sobre o rosto de Kyoko. "Porque teve que ser você?" Prosseguiu em sua agonia, entre controlados soluços, uma lágrima descendo pela a sua bochecha.
Aoshi do lugar sombreado que estava percebeu Kaoru soluçando silenciosamente, controlando-se. Licenciou-se do convidado que conversava com ele tranqüilamente e foi até o encontro de Kaoru.
"Kaoru-san?" Ele a chamou, ao seu lado.
Kaoru parou por um instante, e respirou densamente, controlando-se ao máximo.
"Como a cerimônia já a muito foi encerrada, acredito que devemos prosseguir para o Cemitério." Aoshi disse-lhe cautelosamente, tentando amenizar a dor da situação.
Kaoru engoliu com grande dificuldade, o peso das palavras queimavam em seu coração. Aquilo era o adeus peremptório, não havia volta. "Sim... Devemos.." Palavras sufocadas saíram da boca de Kaoru, não parecia conseguir expressar nada mais que meros sussurros.
Aoshi concordou em silêncio, seu olhar repousando sobre a finada Kyoko. Permaneceu com seu olhar fixo em seu sereno rosto, logo o tornando para Kaoru. 'Tão parecidas... E tão diferentes.' Pensou, enquanto virava-se para sair do lado de Kaoru, querendo proporciona-lhe mais alguns minutos com sua irmã.
Kaoru vagarosamente retirou a mão que se encontrava sobre o rosto de sua irmã, e um gentil sorriso pairou em seus lábios. "Aonde quer que você esteja... Espero que esteja feliz." Sussurrou. "Será sempre querida..." Murmurou afetuosamente, levantando-se. Seu olhar continuou fixo sobre o rosto de Kyoko.
Afastou-se do caixão, seus dedos deslizavam sobre a escura madeira, como se ainda tivesse esperança, por mais que remota, de que a pessoa que jazia ali pudesse levantar-se, saindo assim do mundo tão distante que agora se encontrava.
Logo que Kaoru afastou-se, quatro homens trajando ternos de cor preta, aproximaram-se, levando o caixão. Os olhos de Kaoru seguravam um certo desespero ao vê-la saindo, e esticou uma de suas mãos, tentando fazer com que aqueles homens parassem; porém, uma gentil mão repousou em seu ombro fortemente, parando-a. Kaoru com um ar conformado deixou sua mão deslizar de volta ao seu lado, e soltou um suspiro cansado.
A mão que estava sobre um de seus ombros foi retirada lentamente. "Não se deve olhar para trás Kaoru-san... O que está feito, permanecerá assim. Por mais que queiramos mudar... Seria apenas perda de tempo. O que podemos mudar, é o que esta na frente. Apenas neste ponto temos escolhas." Disse-lhe solenemente.
Kaoru virou-se para Aoshi e balançou a cabeça levemente, entendendo as palavras. "Vamos então... O carro já está lá fora."
Aoshi balançou a cabeça concordando. "Sim."
------------------------------
O caminho até o Cemitério Central não era longe. Porém, as circunstâncias podem mudar isso facilmente. Perder algo, ou alguém, muitas vezes tem grande significado. Uma pessoa perde um brinco, e geralmente não tem grande apego ao objeto. Mas, ao se perder alguém, parece-lhe que a alma é despedaçada, e é claro que algo se arranca, sem ao menos pedir permissão. A morte para aquele que morre não passa de um mero momento, enquanto para aqueles que perdem, é a certeza de saudades, a certeza de que algo está a carecer, para toda uma vida.
Kaoru colocou as duas mãos sobre o seu peito, seu coração batia fortemente. A cada metro que o carro andava, percebia que as palavras que haviam sido proferidas por Aoshi, não poderiam conter maior verdade. Prender-se ao passado só irá trazer a dor de não poder mudar algo, sendo esta uma lembrança ruim, e que por mais que se deseje não poderá mudar os fatos, fazendo isso, apenas irá prolongar o sofrimento.
O carro parou de repente. Kaoru olhou através da escura janela de vidro, e fechou os olhos. Apertou-os ao máximo que pôde, lembrando-se de alguns momentos em que havia passado com a sua irmã.
Aoshi saiu do carro e contornou-o, abrindo a porta para que Kaoru pudesse sair. "Por favor." Aoshi murmurou, estendendo uma de suas mãos em frente a Kaoru.
Kaoru inalou profundamente, e segurou a mão que Aoshi havia lhe estendido. "Obrigada..." Sussurrou, enquanto retirava-se do funesto carro.
Os olhos de Kaoru caíram sobre o grande portão, que dava a entrada principal para o Cemitério. Através de grades, contando com as do próprio portão, podia-se ver as várias lápides, e a imensidão do cemitério.
Kaoru sentiu o seu corpo tremer involuntariamente. Apesar de estar em luz do dia e o lugar ter aspecto calmo, ainda sim segurava um ar extremamente assustador. E por mais que se tentasse racionalizar, o pensamento de entrar em um lugar sagrado com sentimentos tingidos de obscuridade não era a melhor opção, ou a melhor maneira de reverenciar o ambiente.
'Seria um pecado então?' Kaoru pensou, tomando um passo em direção ao longo portão, onde Aoshi já a esperava.
Rapidamente, Aoshi colocou uma de suas mãos nas costas de Kaoru, ligeiramente fazendo com que ela prosseguisse. "Não há o que temer..." Ele lhe assegurou.
Kaoru concordou com a cabeça, e olhou para um de seus lados, ouvindo o cumprimento que vinha de um dos porteiros, oferecendo-lhes palavras de boas vindas e de condolências pela dolente perda.
O primeiro passo dentro dos sagrados chãos do Cemitério parecia queimar-lhe o corpo. O sentimento de estar ali pela segunda vez não lhe agradava, mas era indiscutivelmente diferente do que ela havia sentido no enterro de sua amada mãe. Naquela época, sua inocência era grande, e a amargura da vida não havia lhe presenteado com os fardos que ela agora continha em seu íntimo. Para os Céus, ela estava violando o santuário onde os mortos haviam finalmente encontrado a sua paz. Ou pelo menos alguns deles.
'Não há o que temer...' Ela pensou sem afeto. 'Afinal... Não há como evitar.'
Kaoru permaneceu alienada durante a cerimônia, reservada apenas a alguns amigos extremamente íntimos. Não havia necessidade de grandes aparições, a preferência do anonimato iria facilitar a execução dos seus mais reservados objetivos.
Ao fim das belas palavras do Padre, que para ela não serviam de nenhum consolo, restaram-se apenas as formosas flores, que eram postas em homenagem a finada. Enquanto o sentimento de perda parecia se acomodar e acalmar-se em seu peito, aceitando o fato que agora lhe parecia ser inegável e irreversível, o seu coração almejava apenas a limpeza de sua alma, da mesma forma que uma lágrima cai, purificando aquele que a derrama, ela iria obedecer ao seu incessante desejo, mas lhe daria da mesma forma, despedaçando sonhos, sem ao menos olhar para trás.
----------------------------
Kaoru virou-se em sua cama, almas pareciam infiltra-se em seus sonhos sem nenhum consentimento. Gritavam em tormento, encobertas pelo crepúsculo. Levantou-se repentinamente, sua respiração ofegante. Em sua sanidade, podia ter quase certeza que uma daquelas almas pertencia a sua finada irmã. Poderia ela estar sofrendo em uma dimensão desconhecida?
"Kyoko..." Kaoru sussurrou abalada, enquanto levantava-se de sua grande cama.
Seguiu em rápidos passos até a janela em que iria dar a sua sacada. Abriu a cortina em grande angústia, e as janelas voavam em suas mãos. Rapidamente deu um passo em direção a varanda. O céu ainda segurava o seu tom azul escuro, e a estação que já estava em seu fim, continha um frio vento.
"Quais são os seus segredos?" Kaoru perguntou em um baixo tom, ao nada. "Existe algo maior que isso? Seus planos..." Kaoru parou, não sabia ao certo se aquilo era conveniente. Será que alguém iria escutar-lhe, e iria conseqüentemente lhe dar as respostas de que tanto precisava? "Não seria egoísmo ter a vida das pessoas controladas de acordo com a sua vontade?" Kaoru perguntou irritada, uma sombra de sofrimento pousando sobre sua pessoa.
Os olhos de Kaoru vagaram pelo o Céu, como se esperando pela a resposta de suas ofensivas perguntas. Mas nem ao menos os receptores haviam lhe dado o trabalho de uma resposta. Mas muito ela havia perdido naquele momento, não teve a vontade de rever suas palavras, nem ao menos teve a vontade de olhar o que a vida havia lhe oferecido, mesmo através do sofrimento.
"O que fazer se não acha-las?" Kaoru perguntou debochada. "Não há porque achar respostas em um nada. Do que adianta... Não sei porque eu o fiz." Kaoru murmurou indignada consigo mesma.
Sabia que oscilava em suas escolhas e crenças no momento. "Como pude um dia acreditar... Que havia muito mais na vida do que nós podemos imaginar... Como pude ser tão ingênua." Disse, entre dentes serrados. "O que a vida me deu então? A não ser desgosto e perdas..." Disse, enquanto virava-se e começava a andar suavemente em direção ao seu quarto.
"Mas tudo há de se acertar... E a vida a partir de pouco tempo não mais será bondosa com ele..." Jurou em sua afirmação, seu corpo novamente deitando-se em sua cama, e sua mente mais uma vez desaparecendo em dimensões desconhecidas.
Parecia-lhe que havia perdido muita coisa. Mas poderia um dia receber muito mais?
--------------------
(Continua.)
Notas da Autora:
Espero que tenham gostado. Eu sei que foi um capítulo pequeno, e que parece irrelevante para o andamento do Fiction, mas não é. Se tiverem duvidas em relação a qualquer coisa, ficarei feliz em poder ajudar.
Gostaria de adicionar, que quando eu coloquei a palavra 'quimono', durante uma passagem do capitulo, ela estava usando-o como uma comemoração. Será explicado em capítulos posteriores.
Obrigada por lerem, e se possível eu gostaria de ouvir alguns comentários.
Para os reviewers:
CleoKat : Bom, como você é a minha editora, tem uma grande, vastíssima se assim eu posso dizer, idéia do que estará acontecendo neste fanfic. Eu não poderia estar mais grata pela a sua ajuda! Tenho que confessar que muitas vezes eu preciso de um estimulo para não deixar que eu seja consumida pela a minha 'preguiça' ocasional. É muito bom o fato de que eu posso compartilhar as minhas idéias com você, para que assim eu possa ter um equilíbrio. E também fico feliz por ter tantas idéias! Espero que esteja gostando, e que esse capitulo seja o que você espera. (ps: Quero ver um fiction seu okay?)
Lady Higurashi: Bom, o que posso dizer? Muito obrigada pelo o seu comentário! Fico muito feliz que tenha gostado do prólogo, e espero que este capítulo a deixe feliz! Espero que continue acompanhando o fic!
