Disclaimer:
Rurouni Kenshin não me pertence
Notas:
Demorou, mas cá está o capitulo 2. Não sei se vai agradar a todos, mas, espero que sim.
Legendas:
Itálicos - Pensamentos ou lembranças
>- Lembranças inseridas no mesmo quadro
Aviso: Revelações?
O Despertar da Alma
Capitulo 2: metade da máscara
Quem sabe a verdade?
Quem conhece o outro lado,
destas duas idênticas faces?
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Tóquio - final de inverno - 2003
O quarto parecia mais escuro que o de costume. Há algum tempo atrás, aquele quarto, em seu todo, era extremamente diferente. O peso que este de hoje contém, é pesaroso. O peso do sofrimento, desespero, ódio e vingança nunca antes haviam ameaçado tão fortemente aquele quarto, casa, e ainda que, muito sofrida, aquela família. Entretanto, nem tudo pode sair da maneira que se é planejado ou desejado.
A noite parecia mais longa para todos daquela casa. Conturbada pela a atmosfera presente, Kaoru revirou-se em sua cama, um sono profundo e perturbador pairava sobre a sua forma adormecida.
Kaoru abriu os olhos. Podia afirmar com toda a certeza que estava sentada em uma grande poltrona. E era estranhamente familiar.
Deslizou sua mão sobre o macio tecido, seus olhos rondavam a grande sala. Sabia onde estava, mas, a mudança havia sido muito grande daquele lugar, tinha consciência de que era impraticável estar de volta. Mas por mais intrigante que toda a situação fosse, sabia que não poderia estar errada.
Havia voltado a sua casa.
Transformada. Mas, ainda sim, foi a casa em que muitas lembranças ainda residiam-se. Por mais que distante em seu inconsciente, ainda conseguia lembrar de como tudo aconteceu ali. De todos os momentos de felicidade que passara com sua família.
Aquela casa era a mesma da época em que as ações dadas ali eram dignas de lembranças. Mas, como muito das coisas no mundo se acabam, sendo elas dignas e boas, aquela felicidade, também chegou ao fim. De todos os momentos até as notáveis mudanças. Seguida de discórdias, decepções e de uma prematura morte.
E o sentimento que aquele ambiente emanava não era o inicial de alacridade, mas sim o do término.
Parecia o dia da final briga, seguido por um terrível assassinato.
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Como se pudesse ser transportada com tamanha facilidade, Kaoru, novamente encontrava-se em um outro cenário, mas, na mesma casa.
Podia escutar vozes vindo de não muito longe. Vozes que pareciam celebrar algo. Risos ecoavam através das paredes.
Por alguns segundos assustou-se, no entanto, imaginando que tudo aquilo não passava de uma alucinação, decidiu seguir o seu caminho, e assim, também seguir as risadas.
Em passos rápidos, viu que as falações e risadas a conduziram para um grande salão. Sabia ao passar por uma grande coluna, que ali era o lugar que se reuniam amigos e família para comemorar datas festivas. E rapidamente, lembrou-se daquele momento, há alguns anos atrás. Sabia exatamente o que estava acontecendo, e o que estava prestes a acontecer.
Sabia o que encontraria.
Kaoru, por alguns segundos permaneceu parada, imóvel. Abaixou o rosto, e da posição em que estava olhou para os lados. Os móveis estavam decorados com enfeites natalinos. Antigamente era a sua época favorita. Alegrava-se a ver todos reunidos e felizes.
Mas, aquilo tudo havia acabado. Estava extinto em seu coração.E isso, internamente era o que mais a incomodava. Machucada por toda uma vida, entre sombras.
Kaoru sacudiu a cabeça fracamente, desejando que os pensamentos fossem embora. Respirou profundamente, procurando por suporte. Não sabia ao certo o porque de estar ali, revendo esta cena. Talvez quisesse dizer algo. Mas, talvez, quisesse apenas atormenta-la.
Talvez, quisesse apenas lembra-la.
Decidida a enfrentar os fantasmas do seu passado, a passos firmes, entrou no salão. Logo que entrou, pôde ver o seu Pai, bebendo uma taça de vinho, enquanto conversava alegremente com um dos seus amigos.
Por alguns segundos fitou seu Pai, e sentiu pena dele, junto a um remorso estranho, que se apoderava de sua mente. Ele havia mudado depois daquilo tudo. Depois de tudo que havia acontecido. Nunca mais havia sorrido.
E podia-se lembrar claramente como ele a cativava, com sua magnífica bondade e luz. Como antes, ele conseguia fazer com que qualquer ferimento, parecesse apenas um arranhão, cicatrizando-o com suas dóceis palavras.
Porém, para ele, e para ela, havia muita decepção e sofrimento, que simplesmente o tempo não poderia apagar.
Com um insuportável peso em seu coração, Kaoru continuou a andar, decidida a deixar aquela ilusão do que já foi o seu Pai, para trás. Em passos cuidadosos, movia-se por meio das pessoas, receosa de que pudessem vê-la.
Mas, não a viam. E isso a fazia sentir uma sensação estranha. Como se ela houvesse sido esquecida, ou nunca existido.
Enquanto andava, olhava para os lados, procurando por faces mais familiares. Ao olhar novamente para o lado esquerdo, avistou a sua irmã, alegre e feliz, junto ao seu marido. Contudo, no fundo, sabia ser tudo uma felicidade fingida.
A partir do encontro com sua irmã, sabia que não estava longe de si mesma. Deu mais alguns passos, e virou o rosto para a direita, e lá estava, conversando com a sua Mãe.
Uma onda de sentimentos a tomou, e parecia que a qualquer momento iria se desfazer sobre o chão. Aquela visão havia sido esquecida há tanto tempo.
Porém, naquele momento, sorriam. Pareciam confidentes. Conversavam com genuíno entusiasmo. Gostavam da vida.
Era dolente ver aquela cena, pois, sabia que logo algo iria acontecer. Algo que nunca mais os seus olhos e sua mente poderiam apagar. Esquecer. E, assim como uma espectadora ansiosa, olhou para o lado em que sua irmã estava. E ao ouvir o tocar do grande relógio, badalar exatamente onze horas, assustou-se.
Seus olhos inquietos seguiam a sua irmã, que se juntava a elas, e a puxava para um lugar reservado.
Kaoru deu alguns passos para trás, onde ela e sua irmã conversavam nervosamente. Podia escutar, e lembrava-se com tristeza.
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"Kaoru, ele está aqui!" Disse-lhe Kyoko, enquanto nervosamente colocava a mão no rosto.
Kaoru olhou para a sua irmã desentendida. Ela não costumava agir daquela forma. Deixando a dúvida de lado, Kaoru olhou ao redor do salão. "Quem é este agora Kyoko?" Kaoru perguntou, ansiosa.
Kyoko balançou a cabeça, mais uma vez agindo de uma forma incomum. "Não entende Kaoru! Eu o amo... Você tem que me ajudar a sair daqui..." Kyoko a suplicou, enquanto abraçava Kaoru com tremulas mãos.
Kaoru abraçou-a de volta, atordoada com as palavras de sua irmã. 'Sem dúvidas alguma, há algo errado.' Pensou, enquanto sentia sua irmã afrouxar o abraço. "Meu Deus... Você não toma jeito! Não pode fazer isso Kyoko, durante tanto tempo... Porque é assim?"
Kyoko afastou-se de Kaoru, e puxou-lhe pela mão, enquanto atravessava o longo salão. "Venha!" Disse, enquanto a puxava com mais pressa.
Por mais esforço que Kaoru fizesse para parar a sua irmã, não conseguia. Imaginava para onde estava sendo levada, e o porque da irmã que antes era indiferente a qualquer coisa, estar agindo de forma tão inquieta e estar proferindo palavras que nunca antes ela poderia ter falado.
"Kyoko!" Gritou Kaoru, puxando sua mão para si novamente.
Kyoko virou-se para Kaoru, seus olhos com algumas lágrimas. "Agora que estamos em um lugar mais reservado... Você entende Kaoru, eu não suporto o meu marido!" Disse-lhe com raiva.
Kaoru olhou-a sem surpresa. "Eu sei que não Kyoko." Disse-lhe apenas. "Mas isso não lhe dar o direito de trai-lo de uma forma tão descarada como tem feito por algum tempo. Há mais de dois anos para ser exata."
Kyoko olhou-a mais séria. "Sabe muito bem que gosto de aproveitar a vida, e que não gosto de me prender a ninguém." Disse-lhe, enquanto abria uma gaveta de uma arca e puxava de lá um cigarro.
"Sempre o traí porque eu estava cansada dele. Cansada desta vida monótona. Sempre as mesmas coisas e pessoas." Kyoko respondeu-lhe, enquanto tragava o cigarro impacientemente.
Kaoru continuou a olha-la, seu ar era triste e decepcionado.
Sem se importar com a expressão de sua irmã, Kyoko sorriu. "Desta vez é diferente." Disse em tom meloso, enquanto soltava a fumaça do cigarro. "Ele é milionário... Pode me dar tudo o que eu quero." Disse, sua voz vibrando em felicidade.
Kaoru olhou-a revoltada. "Eu sei que o seu marido não tem uma situação financeira como a do nosso Pai, mas você sabe que nunca lhe faltou nada!" Disse, gesticulando com suas mãos. "Sempre teve seus carros, jóias, roupas... Tudo o que desejava ele fazia!" Argumentou.
Kyoko sorriu e levantou uma de suas sobrancelhas. "Mas eu quero muito mais. E ele, pode me dar tudo." Disse simplesmente, tragando novamente o seu cigarro, que estava sendo segurado por um suporte.
Kaoru exalou com irritação."Acho que não adianta conversar com você..." Kaoru disse em tom de derrota. "O que pretende dizer ou fazer?" Kaoru perguntou-lhe.
Kyoko deu um grande sorriso. "Vou simplesmente dizer que daqui a algum tempo irei viajar." Disse com egoísmo. "Logo após o ano novo."
Kaoru olhou-a confusa. "Mas, será apenas diversão? Você pretende voltar?"
Kyoko riu. "Claro." Disse, guardando o suporte do seu cigarro. "Mas, depois que eu voltar a essa vida chata, eu vou simplesmente me divorciar." Disse decididamente e com aversão.
Kaoru olhou-a incrédula. "Mas..."
"Sem 'mas' Kaoru!" Interferiu. "Estou decidida a isso há muito tempo."
Kaoru olhou-a mais confusa. "Eu pensei que tivesse dito que o amava este seu novo amante... Do modo que estava parecia que ele estava lhe esperando!" Kaoru disse irritada.
Kyoko a olhou descrente. "Amar?" Soltou uma curta gargalhada. "Claro que não!" Respondeu em repulsa. "Bem, eu precisava chamar a sua atenção de alguma forma. E aquela me pareceu mais conveniente." Lhe revelou, suspirando. Colocou uma de suas mãos sobre um dos ombros de Kaoru. "Sabe que eu confio apenas em você."
Kaoru olhou-a sem muito contentamento. "Eu sei." Afirmou. "Mas... E ele, é casado?" Perguntou seriamente.
Kyoko respirou intensamente. "Sim." Admitiu. "Mas isso não importa, porque ele também não é feliz com a mulher dele." Disse sem afeição, trazendo Kaoru junto a si, para que pudessem se sentar nas poltronas.
Alguns segundos se passaram sem que uma única palavra fosse proferida. Ao ver que a irmã permanecia muda, Kyoko continuou. "Ela já descobriu vários dos casos dele... Mas, mesmo assim continua com ele. É uma idiota." Disse debochada.
Kaoru olhou para a sua irmã desacreditada. Como elas poderiam ser tão iguais, e ao mesmo tempo tão diferentes?
Kyoko cruzou uma das pernas. "Além do mais, eu tenho certeza que ela também sabe deste nosso caso."
Kaoru fitou Kyoko por uns instantes. Sabia que tudo aquilo estava errado, e que um dia poderia pagar por estar sendo cúmplice de tal plano. Mas, o coração, no final, falava alto, sabia que nunca deixaria a irmã sozinha, por mais errada que estivesse.
"Qual o nome dele Kyoko?" Kaoru perguntou, enquanto levantava-se da cadeira.
Kyoko olhou-a por alguns instantes, e levantou-se rapidamente, um pouco nervosa. "Bem, isso não é importante, mas –" Parou, ao ouvir berros vindos do salão em que a festa estava se dando.
Kaoru olhou-a assustada e agarrou a mão da irmã que estava ao seu lado, enquanto a puxava para o motim. "Vamos!"
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De onde estava, Kaoru a viu junto de sua irmã, rapidamente fazendo o seu caminho até o salão.
Muitas pessoas estavam afastadas, como se estivesses deixando espaço para algo. As faces dos convidados mostravam surpresa, ansiedade, nervosismo e horror.
Ao saber exatamente o que iria e estava a acontecer, Kaoru fechou os olhos, não sabia se poderia assistir aquela cena novamente. Mas, mesmo sem o desejo de ver, pôde escutar os abafados gritos que ela e sua irmã estavam dando. Sem muito controle sobre as suas emoções e movimentos, Kaoru abriu os olhos ao terrível som, e pôde ver, mais uma vez, o seu corpo junto ao caído de sua Mãe.
Com uma respiração presa, Kaoru deu alguns passos até a cena, passando pelas pessoas, como um espectro. Abaixou-se, do outro lado, onde a sua irmã, e a sua própria pessoa estavam lamuriando, para largar-se sobre o corpo já morto de sua Mãe.
Como se sentisse tudo novamente, passou com mãos trêmulas, sobre o gelado rosto de sua Mãe, e a abraçou. Não muito longe, conseguia ouvir o seu Pai chorando, e sabia que ele segurava o cálice, de onde sua querida Mãe havia bebido o letal liquido.
Com as emoções beirando o limite da razão, decidiu permanecer como estava, por muito tempo, até que o salão ficasse mais uma vez vazio. Quando percebeu que os gritos e falações haviam se extinguido para outra parte da mansão, em que ela não mais podia ouvir e ver, finalmente teve coragem de abrir os olhos, e viu-se no meio do enorme salão, já escuro.
Não sabia ao certo se desejava se mover. Simplesmente queria que toda aquela loucura terminasse, para que ela pudesse dar continuidade a sua sina.
E lá permaneceu, por horas. Mas parecia-lhe eternidades.
Depois de tanto desgaste, não mais desejava se mover. Talvez devesse ficar ali onde estava. Ao menos era calmo, ao menos poderia descansar. Decidida, fechou os olhos.
No entanto, logo, pode ouvir um choro.
Rapidamente levantou a cabeça, para ver de que parte vinha àquela insuportável lamuria. Em seus ouvidos, lhe parecia medonho, como se lembrasse de todas as histórias que sua Mãe costumava lhe contar, para que ficasse assustada e fosse sem delongas se recolher.
Um arrepio seguiu rapidamente pelo o seu corpo quando sentiu o som aproximar-se. Na escuridão que se encontrava, não conseguia enxergar com clareza, a não ser por alguns vultos, gerados pela a luz da lua que teimava em passar por algumas arestas das gigantes cortinas.
Lentamente e com cautela, sentou-se. Apertou os braços as suas pernas, que se balançavam involuntariamente. Podia sentir que algo além dela estava no salão. Apesar de tudo aquilo ser outra dimensão, não sabia ao certo até que ponto tudo aquilo poderia ser real. Antes, parecia apenas uma lembrança, uma lembrança muito ruim. Mas no momento que se passava, tudo era desconhecido. Incerto.
Com muita cautela, Kaoru levantou-se, imaginando a toda hora se suas pernas iriam pecar a ela. 'O choro parou... Talvez tenha ido embora.' Pensou, acalmando-se.
Todavia, a presença ainda continuava rodeando o salão. Kaoru não sabia reconhecer tal presença. Era uma mistura tão forte de sentimentos que a deixava confusa. Sendo bom ou ruim, não fazia muita idéia.
Por ainda sentir a presença perturbadora, Kaoru mais uma vez tornou-se rígida, como se esperasse algum ataque. Mas, estranhamente, por mais que o esperasse, nunca acontecia. 'Eu preciso de luz... Não consigo enxergar nada direito.' Pensou, enquanto arriscava-se dando um passo a sua frente.
'Talvez eu esteja apenas –' Kaoru parou a sua linha de pensamento, ao ouvir palavras sendo balbuciadas de um dos cantos. Parecia que tinha algo longe de sua pessoa, para o lado esquerdo.
Como seu tivessem assoprado com leveza em sua nuca, seu corpo arrepiou-se, e sentiu suas pernas mais uma vez tremer ao ouvir as palavras vindo de sua esquerda, em um tom baixo e angustiante.
Kaoru apertou os olhos ao máximo que pode, tentando enxergar além da escuridão. A luz que a lua proporcionava era muito escassa.
Sem muita opção, virou lentamente a sua cabeça para o lado esquerdo, de onde vinham os sons. Seus olhos estavam meio abertos, receosa do que poderia vir a ver com muita dificuldade.
Ao olhar diretamente para o lugar onde estava o crescente choro, chocou-se, e como se ela fosse um imã, sugou as energias que aquele espírito irreconhecível emanava.
Caiu no chão, sentindo-se pesada. Seu coração batia acelerado, e sua cabeça doía. Havia gritos ecoando por todo o seu ser. Ouvia prantos em línguas que lhe parecia irreconhecíveis; sentia sensações desconhecidas e intensas. Sempre que abria os olhos, via apenas escuridão; e o peso do seu corpo, parecia ficar extremamente mais pesado a cada respiração.
Kaoru levantou-se de sua cama gritando e agitando-se, dando longas inalações, a procura de ar. A cama de casal estava revirada e molhada de suor.
"O que foi isso?" Kaoru perguntou-se, enquanto abraçava-se, querendo ter certeza de que estava totalmente intacta.
Ainda em choque, levantou-se da cama, e em tropeços até o banheiro.
Trancou a porta receosa e abriu a torneira de água fria, que caia fortemente. Comas duas mãos juntas e tremulas, Kaoru pegou uma grande quantidade de água e jogou sobre o seu rosto. Repetiu a ação por diversas vezes, até acalmar-se. Ao sentir-se mais concentrada, deu inicio as suas ações diárias.
Todavia, mesmo que um pouco mais recuperada do choque, não podia parar de pensar, o porque daquele terrível pesadelo.
Parecia que algo sempre a perseguia. Gostaria que tudo isso parasse, mas não sabia ao certo como fazê-lo.
Com um longo suspiro, que deixava escapar sua exaustão, Kaoru colocou a sua escova de dente em cima da pia após a lavar, e olhou para o grande espelho em sua frente. "Não entendo o porque disto... Mas, existia uma familiaridade... Sim, existia..." Disse ligeiramente, enquanto lembrava-se das bizarras sensações que havia sentido.
Kaoru suspirou mais uma vez cansada, e enxugou as mãos em sua toalha. Imaginando que encontraria Aoshi em seu quarto, vestiu-se mais adequadamente e saiu de seu banheiro.
Quando fechou a porta, pode notar Aoshi de pé, ao lado de sua cama.
"Aoshi." O cumprimentou, olhando-o.
Aoshi balançou a cabeça. "Bom dia Kaoru-san." Saudou-a. "Desculpe-me por invadir o seu quarto tão deliberadamente, mas, se não me engano, pude ouvi-la ao acordar."
Kaoru não falou nada, apenas concordou silenciosamente, enquanto movia-se em direção a uma redonda mesa.
Aoshi retirou uma cadeira que estava junto a mesa de vidro, e gesticulou para que Kaoru sentasse. "Gostaria de falar-me sobre o que a deixou sobressaltada esta manhã, ou gostaria de ouvir sobre o projeto?" Perguntou, enquanto acompanhava Kaoru com os olhos.
Kaoru suspirou e o olhou decidida. "O que aconteceu esta manhã pode ser discutido depois." Disse, enquanto sentava-se. "Diga-me sobre o projeto." Disse, o tópico trazendo-lhe um sorriso para seus lábios. "E sente-se, odeio quando você é formal demais." Adicionou, um genuíno sorriso formando-se.
Aoshi permaneceu sem expressões, e fez como foi mandado.
"A agenda de cada um foi levantada para que tudo possa sair perfeito. Por isso, devo lhe informar que não há como se coincidir todos em um só dia." Disse, enquanto lhe passava alguns papéis. "Acredito que eles devam estar esperando algum ataque. Talvez, não exatamente de nós, mas de qualquer um."
Os olhos de Kaoru passavam pelo papel cuidadosamente, lendo cada parágrafo. "Não há problema." Disse, seus olhos ainda retidos pelas palavras. "Se este é o único que teremos como projeto hoje, não há porque esperar." Afirmou secamente, entregando o papel a Aoshi.
"Muito bem." Aoshi afirmou enquanto levantava-se. "Tudo já está pronto para ser feito. Preciso apenas que dê as ordens necessárias."
Kaoru sorriu com malícia. "Já tem as ordens." Disse apenas. "Mas não poderei perder o espetáculo."
Aoshi olhou-a por um tempo e concordou. "Como desejar Kaoru-san."
Sem noticias a algum tempo. Aquilo parecia algo muito preocupante. Ao menos naquela situação.
A mão que segurava um jornal deixou-o repousar sobre os encostos da poltrona.
Uma mão passou sobre o cabelo longo e macio ansiosamente. "Já se passaram dois dias desde o ocorrido..." Disse em silencio. "Sem suspeitos de" Parou, ao ouvir uma porta abrir-se, e olhou enquanto esta era aberta, com grande cautela.
"Kenshin?" Uma baixa voz chamou, enquanto entrava calmamente em um amplo escritório. "Querido?"
Ao reconhecer a pessoa, Kenshin relaxou. "Tomoe..."
Tomoe sorriu fracamente, e o olhou intrigada. "Kenshin querido, porque está tão exaltado ultimamente?" Perguntou gentilmente, enquanto sentava-se no sofá ao lado da poltrona, onde se encontrava Kenshin.
"Exaltado?" Kenshin perguntou-a em desentendimento. "Não vejo porque eu estaria exaltado como você está a clamar." Disse confiante, jogando-lhe um sorriso maldoso.
Tomoe olhou-o em suspeita. "Claro." Respondeu-lhe simplesmente. "Mas," Parou por alguns instantes. "Ainda sim acho que está muito exaltado ultimamente querido." Disse com mais insistência. "Eu realmente acho que deveria descansar... Isso pode ser cansaço." Afirmou docemente, enquanto o seu olhar repousava sobre o jornal ao lado de Kenshin.
Um sorriso maroto tomou o seu rosto. "Deixe-me ver este jornal que está ao seu lado, sim?" Pediu, enquanto apontava para o lado esquerdo do Kenshin.
Kenshin olhou o jornal, e então olhou para Tomoe. "Não sei se vai gostar de ver... Não é matéria agradável." Disse, enquanto esperava por alguma resposta de Tomoe.
"Claro que eu gostaria de ver." Afirmou Tomoe em um tom beirando o indignado. "Ande, me dê o jornal." Pediu asperamente, fazendo menção para que ele lhe entregasse o item.
"Como quiser." Lhe respondeu com a mesma forma áspera, pegando o jornal ao seu lado e entregando-lhe. "Quem sabe você não irá gostar da noticia..." Disse, olhando-a.
Tomoe olhou-o com certo desprezo, e voltou o seu rosto para o jornal.
"Impressionante..." Disse, em um tom beirando o surpreso, enquanto os seus olhos percorriam a extensão da matéria que lia. "Quer dizer que a família Kamiya sofreu outro assassinato?" Perguntou olhando-o.
Kenshin olhou-a com um ar obvio.
Ela olhou-o com mais contentamento. "Coitados... Parecem ser assombrados por algum tipo de maldição." Disse em um forçado lamento.
Kenshin suspirou em descrença. "Como se você se importasse." Retrucou.
Tomoe tentou conter o riso. "Você sabe que sim." Disse, enquanto levantava-se e com rápidos reflexos abraçou levemente Kenshin, colocando os seus braços ao redor de seu pescoço. "Aqui diz que não sabem quem foi o feitor." Comentou, enquanto colocava o jornal em frente aos olhos do Kenshin. "Quem poderá ter sido?" Perguntou, enquanto seus olhos penetravam pelas poucas fotos publicadas.
Kenshin permaneceu imóvel por um tempo. "O que acha?" Perguntou em tom de obvio, enquanto levantava-se e desvencilhava-se do abraço de Tomoe. "Não há porque me perguntar isto, e você sabe muito bem disso..." Disse em tom controlado.
Tomoe o olhou com curiosidade. "Sim, é verdade."
Kenshin sorriu satisfeito. "Então," Começou a dizer, enquanto dava um passo até ficar frente a frente com Tomoe. "Nunca mais se atreva a fazer perguntas, ou suposições idiotas." Disse-lhe em seu ouvido, entre dentes trincados. "Entendeu?"
Tomoe apenas balançou a cabeça em concordância.
Kenshin olhou-a e inspirou com desprezo, assim como seu olhar o fez sobre ela. "Excelente." Disse em baixo tom, enquanto movia-se em direção a porta.
Tomoe acompanhou-o com os olhos, sua respiração presa. Relaxou logo que ouviu o barulho da porta sendo fechada. Seus olhos se concentraram novamente no jornal que se encontrava desprezado sobre a poltrona. Um largo sorriso instalou-se em seu rosto.
"Foi feito então..." Glorificou-se, insanamente abraçando o jornal.
Kaoru apressou-se a fechar o seu largo armário. Olhou para o grande espelho ao seu lado esquerdo, checando a sua roupa. "Ótimo." Disse, enquanto sorria e fazia últimos retoques.
Um bater na porta a fez parar. "Entre." Comandou, rapidamente movimentando-se até a sua cama.
O abrir da porta revelou Aoshi, que entrou no quarto silenciosamente.
"Kaoru-san, vamos?" Perguntou, enquanto esticava uma das mãos para que ela pegasse. "Acho que está mais do que na hora que tudo se concretize."
Kaoru olhou para Aoshi com felicidade. "Ora se não!" Disse com entusiasmo, colocando sua mão sobre a dele, enquanto o seu riso ecoava pelo o quarto, como um misterioso soneto.
Aoshi sorriu ao ver uma certa vivacidade em seus olhos. Não sabia ao certo se aquilo que via era exatamente felicidade por seus planos. Mas, sabia que felicidade em seu bom termo, com de forma genuína, não poderia ser.
E o que ela falaria se ele contasse o que havia recentemente descoberto? Poderia ela simplesmente mudar os seus planos de vingança, e voltar a ser a mesma pessoa de antes? Ou a alma dela já havia sido corrompida o suficiente, para que nada de bom pudesse infiltra-se em seu machucado coração?
Kaoru percebeu algo diferente em Aoshi. Soltou a mão que ainda estava sobre a dele, e olhu-a intrigada. "Aoshi?" Chamou-o levemente.
Aoshi moveu seus olhos, até encontrar com os de Kaoru. "Sim?"
Kaoru respirou fundo, e com calma, sentou-se na beirada de sua cama. "Estou te achando um pouco estranho, pensativo demais." Disse, levantando as sobrancelhas em dúvida. "Você... Não está pensando em abandonar tudo não é?" Perguntou alarmada.
Aoshi inspirou calmamente e sentou-se ao seu lado. "Não." Respondeu-lhe, enquanto pegava uma das mãos de Kaoru. "Entenda que eu nunca a deixarei, ou irei contra você." Disse, tocando-lhe o rosto com um pouco de receio.
Kaoru sorriu fracamente, colocando a sua mão sobre a dele. "Eu sei, mas, você parecia distante há pouco tempo..." Explicou-lhe. "Eu pensei que algo estivesse errado, e talvez, não quisesse me falar..."
Aoshi olhou-a por alguns segundos sem nenhuma resposta. "Kaoru-san," Começou. "Devo lhe confessar que há sim algo a mais."
Kaoru levantou-se sobressaltada. "O que?" Perguntou, o olhando desentendida. "Como o que Aoshi?" Perguntou-lhe, enquanto tentava manter-se sobre controle.
Aoshi levantou-se e cautelosamente pegou o braço de Kaoru, silenciosamente pedindo para que ela se sentasse. "Acalme-se, por favor."
Kaoru fechou os olhos e respirou profundamente, enquanto esforçava-se para acalmar-se. "Muito bem Aoshi." Disse, mais serena. "Diga-me o que há."
Aoshi permaneceu de pé em frente a Kaoru. "Enquanto eu fazia as necessárias pesquisas para que o plano se concretizasse, sem grande dificuldade, descobri algo extremamente relevante no assassinato da sua irmã." Disse, enquanto tentava escolher as melhores palavras para expor os próximos fatos. "Ou, como supomos, o seu." Aoshi disse, enquanto esperava por qualquer reação de Kaoru, que o levasse a crer que confessar tudo aquilo seria um grande erro.
Kaoru olhou-o sem surpresa. "Até agora não ouvi nada de excepcional." Disse. "Sabemos que ele queria me assassinar... Assim como ele fez com a minha Mãe, e quase com o meu Pai." Afirmou. As palavras de Aoshi ainda pareciam sem sentido em sua mente.
Aoshi balançou a cabeça discordando. "Não." Disse, mais cautelosamente. "O motivo e a forma que se foi dada esse assassinato foi extremamente distorcida." Parou por um instante. "O alvo não era você, e o motivo foi extremamente diferente do que imaginávamos."
Kaoru o olhou surpresa. "Motivo?" Perguntou com alarme. "E qual seria o verdadeiro motivo?"
Aoshi a fitou por um tempo. Deveria realmente lhe contar? ' Talvez eu não devesse lhe contar...' Pensou, em meio ao olhar de esperança de Kaoru. 'Mas, se eu não contar...' Parou, ao sentir as mãos de Kaoru agarrarem as suas.
"Vamos Aoshi, conte-me."
Aoshi balançou a cabeça positivamente. Continuou silencioso por um tempo, até decidir-se em suas palavras.
"A sua irmã foi a vítima de uma odiosa mulher traída." Disse lentamente, enquanto preocupava-se com a expressão de choque que havia se instalado no rosto de Kaoru.
"Sim, sua irmã e Kenshin Himura eram amantes." Confirmou, enquanto sentia Kaoru soltar de sua mão em puro choque. "A esposa dela, Tomoe, havia descoberto este caso, e em seu desespero, exigiu que Kenshin a matasse." Terminou, agachando-se em frente a Kaoru.
Kaoru levantou seus olhos, que antes fitavam com incredulidade o chão. "Então... Muita coisa muda..." Sussurrou, enquanto algumas lágrimas ousavam descer dos seus olhos.
Uma mão de Kaoru tornou-se um apertado punho. "Esse maldito..." Rosnou, sua voz tremula de raiva. "Como tudo muda com isso... É muito pior. Muito." Disse entre dentes serrados. "Eu sei exatamente o que fazer..." Disse rapidamente.'O mundo dá voltas. Inesperadas e disfarçadas.' Kaoru pensou, enquanto seu plano se aprimorava a medida que sua raiva crescia. 'Exatamente como as reminiscências de uma consciência assombrada.'
Kaoru olhou para Aoshi que a fitava. "Acho que haverá uma certa mudança de planos." Disse secamente. "Uma grande mudança."
Aoshi continuou a encarar Kaoru por instantes, e virou o rosto para a sacada que se encontrava fechada. 'Mas não é tudo Kaoru. Ainda há tantos segredos.'
Mas, se ao menos ele pudesse contar-lhe tudo.
/ Continua /
Notas 2:
Espero que tenham gostado. Foi uma grande revelação? Alguém suspeitava de algo? Hum? Hum?
