Capítulo Quatro

I didn't know that it was so cold and
You needed someone
To show you the way
So I took your hand and we figured out that
When the time comes
I'd take you away
(All you wanted – Michelle Branch)

Minha mente era o refúgio de uma tormenta secular e pela primeira vez em minha vida, a resposta correta não saiu de meus lábios e nem ao menos passou por meu cérebro. Estava tudo estranho, tudo diferente, tudo tão confuso.
Eu andei pelos corredores do castelo arrastando meu malão, totalmente baqueada, afinal, não é todo dia que você descobre Draco Malfoy, ganhador do prêmio o crápula número um de Hogwarts, tendo uma atitude tão anormal como aquela.
Uma voz sussurrava em meu ouvido que eu precisava falar com Ele. A voz, não apenas sussurrava, mas também implorava, pedia e suplicava. Enquanto isso, outra voz, tentava gritar para mim que aquilo não passava de uma confusão da minha mente e da de Gina.
Onde estariam os alunos da Sonserina ?
Talvez, com um pouco de sorte, eles já estivessem no jardim esperando pelos coches. Com um pouco mais de sorte, talvez, Rony e Harry estivessem na sala comunal da Grifinória, longe o bastante para impedir-me de falar com Malfoy (acredite, isso é típico deles).
Arrastei meu pesado malão pelo hall de entrada, fazendo um estardalhaço imenso, afinal com a pressa de achar Draco, eu não conseguia realmente ser delicada e cuidadosa (note bem o efeito que Ele já possuía em mim e eu nem ao menos percebia, em nenhuma outra situação da minha vida eu teria uma atitude desmazelada). Logo, encontrei a luz do sol penetrando minhas retinas e o verde da grama parecia tão mais intenso que por alguns segundos não consegui enxergar nada, quando finalmente acostumei-me com a luz daquela ensolarada manhã, deparei-me com o grupinho de garotas da Sonserina, não muito longe dali, rodeando Draco Malfoy.
Bem, certamente eu deveria ter desistido de falar com Draco imediatamente, mas o fato de Ele estar cercado por cinco garotas (inclusive Pansy Parkinson), pareceu acordar algo dentro de mim. Não sei ao certo se tenho palavras para expressar corretamente, mas acho que eu tive ciúmes daquela cena.
Os raios de sol, refletindo no cabelo platinado de Draco e seu sorriso tão branco, pareciam componentes de uma pintura surrealista, que era tão boa que eu nem ao menos conseguia acreditar. Meu coração palpitava tão rápido que eu senti que logo ele sairia por minha boca. Para completar a situação preocupante, meus joelhos estavam fracos, tão fracos que se a brisa aumentasse, eu seria arremessada no chão sem nenhuma piedade.
Mas espera aí, Ele era Draco Malfoy ...
Balancei a cabeça negativamente, tentando expurgar do meu corpo aquela sensação estranha que nascia em minha barriga e rapidamente tomava conta de todo meu ser.
Com passos um pouco mais firmes, caminhei em direção à Draco e as risonhas garotas da Sonserina.
- Dra ... Malfoy - exclamei séria, naquele meu conhecido tom de monitora chefe e atraí a atenção de Draco e suas companheiras cuja a expressão de alegria no rosto fechou-se assim que me viram - Nós podemos conversar ?
- Você não tem nada para tratar com Draco, sangue ruim - disse Pansy Parkinson encarando-me friamente.
- Desculpe, mas eu não sabia que agora Draco Malfoy tinha uma relações públicas - disse com profundo sarcasmo sorrindo para a garota com cara de buldogue - Mesmo assim, acho que tenho autoridade suficiente para tratar meu assunto diretamente com a estrela do show, não preciso de intermediários, mas mesmo assim, obrigada, minha querida.
As garotas da Sonserina repentinamente pareceram ofendidas. Como se eu as houvesse ofendido no coletivo e talvez, fosse exatamente isso que eu havia feito. Tenho minhas dúvidas até hoje sobre esse grupinho, creio que Pansy é algum tipo de máquina do inferno que fez outras cópias dela, sem nenhum cérebro na cabeça, para que ela pudesse usar e abusar.
Mas, Draco, Ele não parecia ofendido. Por qual outro motivo Ele estaria com aquele sorriso bobo nos lábios ?
- Está bem, Granger, nós podemos conversar.
- DRACO - Pansy parecia agora mortalmente ultrajada - ELA É UMA SANGUE RUIM.
- Mas é a monitora chefe e nós ainda estamos em Hogwarts, se ela tem algum assunto comigo, eu preciso ouvi-la - respondeu Draco, enquanto segurava-me pelo braço e aos poucos me afastava dali, deixando olhares atônitos para trás.
- Obrigada por me ouvir - murmurei enquanto Ele continuava a levar-me pelo braço (preciso dizer que Ele tem mãos macias - muito clichê mas é verdade) através dos jardins - Na verdade, é um assunto muito importante ...
- Imagino que seja - concordou Draco parando comigo na frente de um coche - Por isso, entre aí, nós precisamos de um pouco de tranqüilidade para conversar.
Agradecida, entrei no coche com meu malão e Draco fez o mesmo, levando consigo a gaiola de sua coruja e então fechou a porta.
- Pode falar.
- É sobre ontem.
- Sim, continue.
Encarei-o e repentinamente minha resistência oscilara. Como é que Ele podia ter aqueles olhos cor de nuvem de chuva tão brilhantes ?
Opa, Ele ainda era Draco Malfoy ...
- Nós não precisávamos patrulhar - sussurrei sem graça, olhando para minhas mãos - E você provavelmente sabia disso.
Não tive coragem de encarar Draco, porém um silêncio mórbido encheu o coche e levou ao menos três minutos até que Ele abrisse a boca novamente:
- Como é que você sabe - não parecia bravo, na verdade, estava assustado.
- Gina Weasley, ela é monitora - sussurrei em resposta.
Mais silêncio. Deus, como eu gostaria de poder encarar Draco Malfoy e saber exatamente qual expressão tomava conta de seu rosto naquele instante.
- Granger, realmente, eu sinto muito por ter lhe feito trabalhar durante o Baile, mas você não parecia estar se divertindo muito mesmo ...
- Não é essa a questão - exclamei encarando-o firmemente - Olha, realmente não sei por que você abandonaria Pansy Parkinson para ficar ao meu lado no Baile.
- Granger ...
- Draco, eu estou tão confusa, eu nem ao menos sei o que pensar, me desculpe se eu estiver interpretando tudo é errado, mas é realmente estranho lhe ver agindo dessa maneira. Eu sempre estive acostumada com seus insultos e ...
- Granger, pára - exclamou Draco talvez assustado pela velocidade com que as palavras estavam saindo da minha boca - Você vai me deixar tonto.
- É que ...
- Eu entendi perfeitamente, você está achando estranho o fato de eu estar lhe tratando dessa maneira diferente, não é?
- Na verdade ...
- Bem, Granger, eu realmente tenho meus motivos para não ser um verme nunca mais.
- E quais são eles - indaguei curiosa.
- Meu pai está morto porque ele foi um verme como eu a vida inteira - murmurou Draco, mas ele olhava através da janelinha, não para mim - Minha mãe está louca porque não pode suportar que a vida na qual meu pai nos colocou é uma mentira.
- Você está dizendo ... ?
- Sim, estou falando sobre Voldemort - interrompeu-me olhando para mim com frieza - Meu pai foi um tolo e eu fui ainda mais tolo do que ele, se é que você entende. Eu deveria ter um pouco de personalidade própria, mas agora é tarde demais para ficar reclamando.
- Draco, veja só, sei que você está sentindo-se horrível pelos acontecimentos da guerra, mas ...
- Não é só a guerra, Granger, é minha vida inteira.
- Mas há um remédio para tudo ...
- Você não pode entender.
- Posso, sim. Isso é, se você resolver explicar exatamente o seu problema.
- Granger, essa não é sua realidade, não tente ...
- Draco - murmurei revirando os olhos em sinal de fatiga - Sabe de uma coisa ? Eu tenho quase dezoito anos e sou perfeitamente capaz de processar informações em meu cérebro, então, creio que não há problema em tentar me explicar seu problema, eu vou entender.
Draco respirou fundo e logo em seguida bufou parecendo indeciso. Encarou-me por alguns segundos e parecia querer saber se eu realmente era confiável.
Logo após um tempo, pareceu decidir que sim.
- Granger, você não pode contar para ninguém - disse em um tom de voz que não chegava nem à um decibel - Eu fiz uma tremenda burrada e agora não há volta.
- Tá bom - confirmei na expectativa de saber qual era o tão secreto problema que assolava Draco Malfoy.
Bem, como é que posso contar para vocês o quê aconteceu em seguida ?
Não ! Draco, não me agarrou pela cintura e me envolveu em um beijo apaixonado. Ao contrário, Ele parecia longe de querer qualquer contato físico comigo, mas por algum motivo que naquele instante eu não poderia imaginar, Ele começou a desabotoar os botões da camisa.
Minha primeira reação obviamente foi a confusão, mas quando percebi que Ele estava ao ponto de fazer um strip-tease bem ali na minha frente, desviei a atenção dele quase que imediatamente.
- Draco ... acho melhor ...
- Não seja idiota, Granger, olhe para mim.
Olhei, talvez por instinto, obrigação ou quem sabe atração.
E Ele estava sem camisa e sinceramente, podem achar isso bastante idiota, mas eu nunca havia visto um garoto sem camisa tão próximo de mim.
Demorei alguns segundos, para desviar meus olhos dele, para seu antebraço (o qual Ele apontava freneticamente desde que eu havia olhado-o novamente, mas espera aí, eu precisava primeiro fazer um check up geral de Draco Malfoy sem camisa para depois voltar ao mundo dos mortais).
Aí, eu vi.
Uma marca negra.
Deixei escapar um gritinho de surpresa e depois, sentindo-me infantil, tentei parecer impassível.
- Você é um comensal da morte - perguntei séria tentando focar meus olhos exclusivamente no rosto de Draco Malfoy, até que Ele colocasse novamente a camisa (tarefa difícil).
- Sou - confirmou e em seu rosto não havia nenhum outro sentimento além de amargura - Eu não queria, mas tinha medo de desapontar meu pai.
- Draco, isso é muito grave - disse ainda tentando parecer compreensiva.
- Eu sei que é, Granger - disse em tom de desgosto - Com certeza, o Ministério ainda fará algumas investigações sobre a família Malfoy ou ainda quem sabe aquilo que restou dela, eu. E logo eles irão descobrir isso e eu terei uma cela úmida em Azkaban.
- Não - exclamei e então percebi a besteira que havia falado.
Espera aí, se Draco Malfoy era um comensal da morte, por qual motivo eu deveria lamentar pela vida dele ? A maldita doninha era integrante do grupinho seleto de Voldemort, aquele que tentou destruir meu Harry.
Não ! Quer dizer, o Harry não era meu. Nunca foi.
- Eu estou perdido - sussurrou - Estraguei minha vida - completou afundando a cabeça nas mãos - Sou o maior imbecil de todo o mundo. Perdi meu pai, perdi minha mãe e agora vou perder minha liberdade.
Será que eu estava vendo direito ?
Aquele ali era Draco Malfoy, ao ponto de debulhar-se em lágrimas bem na minha frente.
Como vocês podem imaginar, sou uma garota de coração mole e um tanto relutante, tentei confortar Draco, afagando-lhe os cabelos platinados.
Ele não hesitou, não protestou e eu parecia estar hipnotizada pelos fios loiros entrelaçando-se em meus dedos, posso dizer que até sentia o cheiro agradável de xampu, talvez lavanda ou algo do tipo.
- Draco, por favor, não fique assim - tentei consolar - Você cometeu um erro grave, mas pode tentar outra vez. Sinto que há algo diferente em você ...
- Você acha - perguntou e o som de sua voz saiu abafado através de seus dedos.
- Acho - confirmei, mas não estava tão certa assim - Eu posso lhe ajudar.
- Pode - indagou levantando lentamente a cabeça e olhando para a mim com os olhos cheios de lágrimas.
- Posso - respondi sem nem ao menos saber o que eu estava falando - Vou fazer o máximo para ajudar você.
- Por quê- quis saber, enquanto eu retirava minha mão de sua cabeça - Eu fui horrível com você durante sete anos e você ainda assim quer me ajudar ?
- Harry e Rony foram horríveis comigo durante os dois primeiros meses de aula e nem por isso eu os odeio - respondi abrindo um sorriso sincero.
- Bem, então podemos tentar, Granger ?
- Podemos - confirmei.
Aí, Draco fez algo que sinceramente eu não imaginava que um dia Ele faria.
Ele me abraçou.
E era um abraço tão forte que eu pensei que Ele partiria todos meus ossos, mas mesmo assim eu retribuí da maneira que pude, ainda sentindo-me estranha por ter em meus braços o único garoto que eu sempre odiei em Hogwarts.
Pela primeira vez, Ele parecia tão fraco e sozinho que tudo o que eu pude sentir por Ele era pena.
- Granger ...
- Sim ?
- Seu cabelo tem cheiro de lavanda.
Espera aí, Ele já não era Draco Malfoy ... ao menos não Aquele que eu conheci.

- Gina, cadê Bichento - perguntei casualmente quando finalmente consegui achar Gina, que estava em uma cabine com Harry, Rony e Luna.
- Aonde você estava - perguntou Harry antes que Gina pudesse responder algo, desviando seus olhos verdes de um exemplar de O Profeta Diário e olhando-me cheio de suspeita.
- Procurando vocês - respondi dignamente tentando não revelar toda minha culpa no cartório.
- Isso eu pude presumir - disse Harry bastante sério - Mas gostaria de saber por quê não estava no coche conosco ... ?
- Harry é pior que uma mula teimosa - disparou Gina parecendo irritada - Acho que já repeti mil vezes que ela tinha serviço de monitora chefe para cumprir.
Obrigada, Gina. Eu estava assustada demais para responder essa pergunta.
- Exato - confirmei sentando-me ao lado de Gina - Mas eu estou aqui, viva, segura e não vejo motivo para esse questionário.
- Claro - concordou Harry voltando sua atenção para o jornal, porém não parecendo totalmente convencido ainda.
- Mione, nós colocamos Bichento em um compartimento especial para os animais - respondeu Luna - Se quiser, você pode ir busca-lo.
- Obrigada - olhei para Luna e não pude esconder meu profundo desgosto por ter que encara-la e ainda por cima tentar ser simpática.
Luna não havia feito nada, mas mesmo assim, agora ela ganhara o título de culpada de meu sofrimento.
- Acho que Mione quer buscar Bichento - disse Gina e então virou-se para mim com os olhos brilhando - Estou certa, Hermione ?
- Bem, acho que não há problema em deixa-lo ... - finalmente entendi o brilho nos olhos de Gina - Certo, vamos busca-lo, já voltamos.
Fui quase arrancada de meu lugar por Gina que arrastou-me para fora parecendo explodir de tamanha ansiedade de me afastar de perto da cabine.
- Tá- exclamou repentinamente parando no meio do corredor - Você foi procura-lo ?
- Fui, não precisava ter quase amputado meu braço só para perguntar isso.
- E aí, vocês se beijaram, certo ?
- Gina !
- Certo, ao menos você disse que o ama ?
- Gina !
- Qual é seu problema ? Não consegue expressar seus sentimentos ?
- Meus sentimentos por Draco Malfoy, nada mais são que inofensivos.
Gina parecia irritada, colocara a mão na cintura e agora encarava-me séria.
- Sabe de uma coisa, seria um belo chute em Harry se você namorasse Draco Malfoy.
- É, seria, mas ...
- E seria um belo casal, vocês dois são os alunos mais inteligentes de Hogwarts.
- É, seria, mas ...
- Também seria ...
- Gina ! Pára !
- Mione, faça o melhor, mas não deixe essa chance escapar.
- Por qual motivo absurdo você costuma ver coisas aonde elas não existem ? Está parecendo Luna Lovegood.
- Talvez, Weasley, esteja certa, Granger - disse uma voz masculina logo atrás de mim - Talvez exista algo entre você e Malfoy, só que os dois são cegos o bastante para não enxergarem.
Virei-me lentamente e deparei-me com um garoto da Sonserina, pele bronzeada, olhos castanhos e cabelo castanho claro. Estava encostado parado na porta de uma cabine e sorria desagradavelmente.
- Está tentando insinuar algo com isso - perguntei - Blás Zabini ?