Capítulo
Seis
I only smile in the dark
My only comfort is the night
gone black
I didn't accidentally tell you that
I'm only happy
when it rains
(I'm only happy when it rains - Garbage)
O
Sugary Coffe é um bar simpático e agradável
localizado no Beco Diagonal, muito próximo à loja de
Madame Malkin e o Empório das Corujas. A primeira vez
que eu fui lá, foi justamente no dia em que saímos de
Hogwarts. Os alunos do sétimo ano (e alguns clandestinos do
sexto, entenda-se por Gina e Luna), resolveram organizar uma pequena
comemoração em homenagem ao término do curso e
quando Simas Finnigan e Dino Thomas passaram por nossa cabine,
perguntando se íamos ao Sugary Coffe, minha única opção
foi concordar em acompanha-los.
Mas posso adiantar que não
havia nenhum clima de festa explodindo dentro do meu ser. Ao
contrário, eu sentia que qualquer sentimento positivo havia
sido expurgado de mim por completo.
Como é que eu poderia
sentir-me confortável sabendo que eu estava mentindo para Rony
e Harry, meus melhores amigos ?
Não havia a mais longínqua
possibilidade de que eu confessasse para eles naquela época
tudo o que estava acontecendo e que eu tentava loucamente esconder
deles, tampando o sol com a peneira.
Cheguei ao Sugary Coffe um
tanto amuada e parecia que nada naquele dia poderia me animar.
Estávamos todos em uma extensa mesa no fundo do
estabelecimento, os alunos da Grifinória, Corvinal e Lufa-Lufa
(ou ao menos uma boa parcela deles), confraternizando juntos pela
última vez.
Sentei-me entre Harry e Gina, tentei focar
minha atenção em meu copo de mate esquecendo que havia
uma balbúrdia ocorrendo ao meu redor. Meus pensamentos estavam
mais lentos do que normalmente e por mais que eu tentasse fugir para
todos os lados, tudo sempre acabava aonde tudo havia começado:
Draco Malfoy.
Eu não conseguiria apagar de minha mente tão
fácil, o momento que suas mãos gélidas tocaram
meu queixo, eu tremi por fora e quase morri por dentro. Em nenhum
outro instante de minha vida senti algo parecido.
E suas
palavras, aquelas palavras quase sibiladas ainda faziam um grande
efeito em mim. Será que eu já estava apaixonando-me por
aquele garoto naquela hora ?
Seria possível ? Para ser um
tanto sincera, sempre achei Draco Malfoy interessante. Espera aí,
eu disse isso ? Está certo, essa é a verdade, de alguma
forma sempre fui atraída por Ele, eu sei o quanto Ele foi
horrível, cruel e desumano comigo, durante muitos anos, porém
o fato é que eu não podia negar que a visão
dele, certas vezes fazia com que eu discretamente o espiasse de
esguelha para ninguém perceber.
Tá bom, Ele é
um garoto bonito e daí?
Eu sempre apreciei outras coisas
em garotos, além da beleza, por favor, não tente me
comparar com as gêmeas Patil ou com Lilá Brown.
Realmente estou mais interessada naquilo que o cérebro esconde
do que aquilo que está ao alcance dos olhos.
Só
posso dizer que o que se escondia no cérebro de Draco, era
bastante interessante, para não dizer instigante. Quem é
que nunca quis saber como funciona a mente de um vilão ?
De
qualquer maneira, fui arrancada bruscamente de todos os meus
pensamentos por Harry, repentinamente percebi que ele havia parado de
interagir com os demais e apenas encarava-me com seus brilhantes
olhos verdes.
Isso é bastante desconfortável,
entende ? Você foi apaixonada por aquele garoto durante tanto
tempo e então você o surpreende olhando para você,
com aqueles olhos que de certa forma imploram para serem admirados.
Harry, por sua vez, havia sido mergulhado em um transe eterno,
pois por mais que eu lhe olhasse, ele apenas devolvia meu olhar
totalmente perdido e desorientado. A última vez que o vi
assim, foi durante o último jogo de Quadribol contra a
Sonserina e na ocasião ele havia sido acertado por um balaço
na cabeça.
- Harry - sussurrei cautelosamente como se
não quisesse assusta-lo - Tudo bem ?
- Sim - respondeu e
seus olhos brilharam de uma maneira diferente, como se alguém
houvesse finalmente ligado o interruptor que acende a luz nele - Por
quê a pergunta ?
- Você estava estranho - murmurei em
resposta ainda olhando-o pelo canto dos olhos - Tem certeza que está
tudo bem com você?
- Claro - confirmou novamente - E com
você, tudo bem ?
- Sim - disse com um sorriso bobo na
face.
- Mas parece que não ..
- Como ?
- Você
está estranha.
- Eu ?
- Está com a mesma
expressão na face desde que voltou para a cabine - disse Harry
com os olhos fixos em mim daquela maneira estranha - Draco Malfoy lhe
fez alguma coisa ?
- Se não me engano, creio que respondi
que não das oitenta primeiras vezes que você perguntou
isso - retruquei tentando manter-me impassível - Já lhe
disse que nada do que Draco Malfoy faz ou deixa de fazer é
forte o bastante para me atingir.
Bela frase, mais bonita ainda
seria se houvesse alguma partícula de verdade dentro dela.
-
Você tem certeza ?
- Ei, Harry, Mione, vocês se
lembram da vez em que Neville foi atacado por um Bulbo Saltador na
aula de Herbologia - Rony fez com que desviássemos nossa
atenção para a mesa novamente, aonde todos pareciam rir
do inesquecível episódio no qual Neville correra por
todo o hall com um Bulbo Saltador enrolado em sua perna esquerda.
-
Claro - respondi agradecida por ter sido retirada da conversa com
Harry - Foi muito engraçado.
Harry continuou encarando-me
por mais alguns segundos, creio que ainda esperando a resposta para
sua pergunta, porém quando entrei em uma conversa com Gina
Weasley e Mádi Brocklehurst sobre o baixista das Esquisitonas,
qualquer esperança de resposta pareceu se dissipar na mente de
Harry.
Mas agora, se você está pensando que
acabamos por aí, você está completamente
enganado. Se serve como consolo, eu também acreditava piamente
que Harry havia esquecido o assunto. Ao menos, ele não rendeu
mais nenhum olhar estranho ou fez menção de tocar no
morto enquanto estávamos no Sugary Coffe, mas assim que nos
despedimos de todos, com promessas de que manteríamos contato,
Harry fez questão de me afastar de Rony, Gina e Luna, para
podermos continuar o assunto.
Eu tentei escapar, tentei mesmo. Eu
sempre fui a rainha das desculpas esfarrapadas para fugir de assuntos
que realmente precisam ser discutidos, mas é praticamente
impossível inventar uma desculpa inteligente, quando uma
pessoa lhe segura pelo braço, tão forte que poderia
quebrar seus ossos.
- Venha, estou esperando uma resposta da sua
parte e nós precisamos encerrar esse assunto.
Ótimo,
parece que naquela época a maior moda entre os garotos de
Hogwarts era me pegar de jeito pelo braço.
- Será
que você pode soltar meu braço ? Eu gosto de sentir o
sangue circulando por meu corpo igualmente, obrigada.
Harry soltou
meu braço, mas algo em seu rosto indicava que ele não
estava com uma cara de muitos amigos, quando paramos na frente do
Sugary Coffe, deixando Rony, Gina e Luna alguns metros longe.
-
Hermione, eu sei que Ele provavelmente deve estar lhe ameaçando,
mas eu gostaria que você fosse completamente sincera comigo,
por favor, me conte exatamente o que este desgraçado está
aprontando e eu juro que comerei o fígado dele pessoalmente.
-
Harry - exclamei irritada por tamanha insistência - Qual é
seu problema ? Eu já disse que Draco Malfoy é uma
pessoa completamente nula em minha vida.
- Seus olhos não
dizem a mesma coisa.
- Deus, qual é o problema de vocês,
hoje ? Será que não pode me deixar apenas com
lembranças boas desse dia, Harry ? Não quero discutir
com você pela décima terceira vez nesse mês.
-
Hermione ...
- Por favor - pedi abaixando o volume da voz,
sentindo-me desconfortável.
- Está bem - concordou,
como sempre sem parecer plenamente em acordo - Rony, Luna e Gina
estão nos esperando, vamos.
Abri um sorriso sem jeito para
Harry (o qual ele não retribuiu) e um tanto aliviada por ter
conseguido sobreviver à essa conversa.
Aparatei no
décimo segundo andar, no corredor do edifício Northern
Star, em Soho, Londres.
Sim, estamos falando da casa dos meus
pais. O lugar que foi meu lar por quase dezoito anos.
- Hermione
- minha mãe abriu a porta e encarou-me com os olhos
suspeitos - Eu estive assistindo o canal da portaria nas últimas
três horas e não vi você passar, como é que
chegou até aqui ?
- Digamos que foi em um passe de mágica,
mamãe - respondi sorrindo - Será que poderia ajudar-me
a colocar todas minhas coisas para dentro ?
- Eu estava contando
os minutos para lhe ver novamente - mamãe abraçou-me
forte e depois me ajudou a arrastar o malão e o cesto de
Bichento para dentro do hall.
- Aonde está papai -
indaguei olhando ao redor, tentando capturar com os olhos cada
partícula de imagem, apenas para matar saudades de todo aquele
lugar.
- Foi atender o telefone ... veja só, aí está
ele.
- Hermione - papai abriu um sorriso e eu quase fui ofuscada
pela visão de seus dentes extremamente brancos e brilhantes -
Eu não lhe ouvi chegar, minha filha - e com mais um braço,
matei a falta que senti de minha família nos últimos
tempos - Um colega seu telefonou a tarde inteira, aliás, era
Ele no telefone ...
- Ele - arqueei as sobrancelhas confusa -
Quem ?
Bem, faremos a conta matemática. Rony e Harry e
qualquer outro amigo de Hogwarts passara toda a tarde comigo no
Sugary Coffe, então não se tratava de nenhum
deles.
Quem poderia ser ?
- Um nome bastante estranho esse
rapaz ...
Nome estranho ? Algum colega meu com nome estranho ?
Ah
! Meu Deus !
- Draco Malfoy - perguntei assustada assim que esse
estranho pensamento passou por minha cabeça.
- Sim, era
esse mesmo - confirmou papai animado - Disse que ligaria depois.
-
Você tem certeza pai ?
- Absoluta.
Espera aí,
como é que Draco Malfoy sabia manejar um telefone trouxa sendo
Ele um bruxo puro sangue que não se envolve com essa laia
?
Melhor ainda, alguém poderia esclarecer como é que
Ele conseguiu meu número de telefone ?
- Ele vai tentar
ligar mais tarde ?
- Sim. Quem é Ele, Mione ? Nunca ouvi
você falar sobre esse rapaz.
- Ninguém importante -
respondi rapidamente antes que o rubro em meu rosto me denunciasse -
Apenas um colega de Hogwarts.
- Mas vamos deixar isso para depois,
eu preparei algumas rosquinhas que eu tenho certeza que nossa
Hermione adorará tomar com chá, não é
querida ?
Com um sorriso bastante tímido no rosto, não
tive muita coragem de confessar para minha mãe que eu estava
tão cheia de rosquinhas e derivados que elas poderiam sair por
meus ouvidos quando menos se esperasse. Como a filha adorável
que sou, fui com meus pais para a copa, aonde passamos um bom tempo,
rindo e fazendo planos, como nos velhos tempos.
Pois bem, acho
que vocês estão é realmente curiosos para saber
se Draco Malfoy ligou novamente para minha casa, não é
mesmo ?
É, Ele telefonou. Era quase meia noite, eu estava
saindo do banho, mamãe já estava dormindo e papai
estava com planos para. Muito mau humorado, papai passou o telefone
para mim e saiu resmungando escada acima.
Quando encostei meu
ouvido no aparelho, senti que com o menor suspiro poderia desmontar
bem ali. A ansiedade para falar com Draco era imensa, eu não
sabia o quanto.
- Draco - minha voz foi quase sussurrada e eu já
não conseguia sentir minhas pernas.
- Você sabe onde
fica o Mess Ink - a voz dele veio rapidamente do outro lado da
linha, parecia estar tenso, mas eu estava realmente tocada pela
demonstração afetuosa de educação dele.
- Boa noite para você também - retruquei - Como é
que você descobriu meu número de telefone ? Melhor ainda
pode me dizer, como você aprendeu a usar um telefone ?
-
Granger, vou adorar lhe contar essa história, três horas
da madrugada está bom para você? Nos encontramos na
frente do Mess Ink, até logo, então ...
- Draco -
exclamei antes que Ele pudesse desligar - Espera aí, eu não
posso sair de casa três horas da madrugada - acrescentei.
-
Granger, quantos anos você tem ? Sete ou dezessete ?
- Não
é essa a questão - retruquei mais uma vez, agora mau
humorada - Não vou sair da minha casa três horas da
madrugada para encontrar você no ... Mess Ink ? Aonde fica isso
?
- Granger, você pode ir pela rede de flú, mas o
importante é que você vá.
- Você só
pode estar maluco !
- Se não estiver aqui no horário
certo, eu vou até aí e irei te buscar.
- Draco ...
-
Você vem ?
- Draco ...
