Capítulo Sete
And I need you now tonight
And I need you more than ever
And if you'll only hold me tight
We'll be holding on forever
And we'll only be making it right
Cause we'll never be wrong together
We can take it to the end of the line
(Total eclipse of the heart - Bonnie Tyler)

Se nós podemos ser amigos ?
Claro, eu estou sempre aberta à novas amizades. A única coisa que lhe imploro é que NUNCA desligue o telefone na minha cara da maneira que Draco Malfoy havia feito.
Eu estava furiosa. Quero dizer, não era apenas fúria, talvez fosse uma raiva ou algum outro sentimento que havia colaborado para que meu rosto ardesse como o inferno.
Inferno, justamente para onde eu teria mandado Draco Malfoy SE Ele não houvesse desligado o telefone.
Então, como é que eu deveria agir agora ?
Draco realmente não havia deixado nenhuma alternativa plausível. Eu realmente não estava sentindo-me confortável com a perspectiva de vê-lo aparecendo em minha casa de madrugada, por isso decidi que eu estaria lá de qualquer jeito.
Muitas idéias mirabolantes passaram pela minha cabeça, todas de uma vez e em uma velocidade impressionante. Cada uma empurrava a outra com voracidade e gritava:
- Ei, me escolha, eu sou completamente absurda e ridícula, se me escolher, juro que você vai se ferrar na mão dos seus pais !
Então, eu vi que já não havia nenhuma maneira além de esquecer qualquer inacreditável plano de fuga e optar pelo famoso "desaparecer embaixo do nariz de seus pais".

- MESS INK - joguei o pó de flú na lareira e alguns segundos depois desapareci por entre as labaredas que haviam se formado ali.
Agora, certamente, você deve estar pensando como consegui executar meu imperfeito plano de fuga, não é?
Sinceramente, não foi algo de outro mundo, mas todo o medo que de certa forma estava impregnado na minha pele, me fez ter uns trezentos pensamentos negativos por minuto, conforme lentamente eu tentava passar pelo corredor sem fazer barulho.
Okay, garotas, não tentem passar pelo corredor sem fazer barulho se você está usando SALTO ALTO (sim, vocês não estão tendo nenhuma alucinação, eu realmente estava usando salto alto e maquiagem - tudo culpa de Draco Malfoy). Com dois passos dados, tive que parar no meio do caminho, tirar os sapatos e terminar o resto do percurso com meus imaculados pés descalços.
Após descer alguns lances de escada, chegar na sala de estar, recoloquei meus sapatos, abri minha bolsa e de lá tirei um pequeno potinho contendo pó de flú, o necessário para a ida.
Estava tudo planejado na minha cabeça. Eu iria, apenas para Draco Malfoy não aparatar no jardim do meu prédio. Da mesma maneira que iria, também voltaria e o mais rápido possível.
Bem, ao menos eu achava que seria assim...

Mas bem, vamos por partes. Após uma tortuosa viagem pelo vértice da Rede de Flú, fui violentamente expelida no chão sujo de um lugar escuro (clichê, não é- agora só falta aparecer um cara estilo Quasímodo pedindo para segurar minha capa... opa olha ele ali).
- Minha bela dama, no que poderia ser útil?
Ainda sentada no chão, foquei meus olhos no homem e logo após tentei processar na minha mente que tipo de lugar era aquele. Parecia um bar, quer dizer, um estabelecimento bastante sujo, do tipo que não vê uma boa bucha e esfregão desde a última Santa Inquisição. O mais assustador, talvez fosse o fato de que só estávamos eu e meu amigo Quasímodo naquele lugar suspeito.
Seria aqui o tal Mess Ink?
- Com licença, eu estou procurando o Mess Ink - respondi levantando-me com certa dificuldade - O senhor poderia dizer-me onde estou ?
- Está no caminho certo - com um sorriso amarelo ele indicou uma porta quase que oculta na escuridão - É só passar por ali.
- Obrigada - agradeci educadamente e caminhei em direção à porta, mas antes de tocar na maçaneta um pensamento repentino me ocorreu - O quê é Mess Ink- perguntei em voz suficientemente alta para que o homem ouvisse.
- É uma boate de jovens - informou com sua voz gutural - Um lugar bastante divertido, nunca esteve lá?
- Não- respondi virando-me novamente para encarar o homem - Marquei um encontro com um amigo.
- Amigo? E como se chama esse amigo?
- Draco Malfoy.
- Sim, Ele vem muito aqui - comentou com um sorriso satisfeito no rosto - Boa pessoa esse senhor Malfoy...
- É exatamente nisso que venho tentando acreditar - murmurei distraída.
- Disse algo?
- Não. Muito obrigada, eu estou indo.
Prendendo a respiração, abri a porta e dei de cara com a rua. Sim, a rua de madrugada parece ser um lugar bastante amedrontador e talvez eu poderia estar tremendo nas bases se não estivesse com toda minha atenção em um letreiro de néon verde tão pomposamente localizado na frente de um lugar vivamente iluminado e cheio de transeuntes. Mess Ink, aqui estou.
Abri um sorriso, por saber que eu finalmente estava no meu destino, sã e salva. Mas antes que eu conseguisse pesar em algo, vi Draco Malfoy, no outro lado da rua, encostado na parede e apenas olhando o movimento com seus olhos incrivelmente brilhantes, ainda mais tentadores à luz da lua.
Opa, preciso maneirar nessa minha lista de clichês !
- Malfoy- exclamei enquanto acenava para Ele - Aqui!
Draco parecia entorpecido e com muito sacrifício conseguiu identificar de qual ponto no meio daquela balbúrdia vinha a voz que lhe chamava. Nossos olhos se encontraram, mas não ocorreu nenhum efeito mágico nesse instante, Ele parecia tão sério que senti minhas tripas congelarem. Draco Malfoy, preciso lhe dizer algo, esse seu olhar Assassino é realmente de enfraquecer os joelhos.
Atravessei a rua, ainda tentando manter um sorriso no rosto, mas eu nem ao menos consegui colocar o pé do outro lado da calçada e Ele logo foi agarrando meu braço com força descomunal.
- Não diga meu nome em voz alta - murmurou com os lábios praticamente encostados em minha orelha - Entendido, Granger, não repita esse erro.
- Acho melhor soltar meu braço - retruquei irritada desvencilhando-me com força - Era para isso que queria que eu viesse aqui ? Para prender minha circulação sanguínea ?
- É bom te ver, Granger - acrescentou com um sorriso sincero - Vamos entrar ?
- Sim - concordei ainda rendendo um último olhar suspeito em sua direção - Você vem aqui com muita freqüência ?
- De vez em quando - contou enquanto entravamos em uma extensa fila de jovens vestidos de maneira um tanto exuberante para aquele horário da madrugada - Você nunca sai, não se diverte?
- Não - respondi rindo - Meus pais não deixam.
- Sim, esqueci que você é uma garotinha superprotegida - disse também se dando o direito de rir - Mas talvez eu esteja interessado em saber de que maneira você conseguiu que seus pais deixassem você sair de casa.
- Eles não deixaram - disse enquanto avançávamos na fila - Na verdade, naquele instante eles acreditam que eu esteja adormecida, no sétimo sono para ser exata.
- Incrível, nossa monitora chefe favorita quebrando as regras do lar - Draco abriu outro sorriso que para variar fez meu coração palpitar - Chamem o Profeta Diário.
- Muito engraçado - disse com azedume - Mas agora, esclareça minha dúvida, por quê Mess Ink ?
- Pois não há melhor lugar no mundo bruxo para se ter diversão - quem respondeu minha pergunta foi um homem com o nariz assustadoramente fora de esquadro (professor Snape, acho que encontrei seu primo), ele controlava a entrada dos bruxos no local e segurava um grande carimbo na mão - Agora, por favor, seu braço senhorita.
Abri um sorriso amarelo e estiquei meu braço um tanto relutante. O homem Snape, segurou meu braço de uma maneira que fazia aquele apertão que Draco havia dado no momento anterior, uma leve carícia de fada. Por alguns instantes já tinha me visto chegando em St. Mungus gemendo em uma maca e um medibruxo gorducho dizendo que precisaria amputar meu braço.
- Tudo certo- foi o que o homem disse enquanto carimbava meu braço com força e o largava pela graça divina - Agora é sua vez... - informou Draco que sem nenhum protesto ou rastro de dor no rosto, foi devidamente carimbado.
Passamos por uma roleta, passamos por uma cortina prateada e pronto, estávamos no Mess Ink. A música era alta e não era cantada, era gritada ao vivo por um garoto de no máximo quinze anos de idade que segundo o Semanário das Bruxas era o mais quente daquela época. O local era escuro... opa, eu quis dizer florescente! Nunca vi tanta coisa brilhar no escuro de uma vez só. Isso até que era engraçado de certa forma, o rosto de Draco parecia tão humano na luz roxa florescente que eu quase pude acreditar que aquilo era real. Calma aí, era real!
- Eu venho aqui sempre que posso - contou Draco enquanto íamos até uma mesa vaga nos fundos - Acho que é um ótimo lugar para... relaxar!
- Sim, com certeza é- murmurei enquanto dois bruxos de no máximo dezesseis anos esqueciam as varinhas de lado e partiam para uma briga apenas nos punhos.
- Não ligue, sempre acontece - disse Draco captando minha linha de visão - Vamos nos sentar- indagou educadamente puxando uma cadeira para mim.
- Obrigada - agradeci sentando-me e logo Ele havia tomado seu lugar bem ao meu lado.
Quando eu digo ao meu lado, estou referindo-me à joelhos encostados e respirações se misturando. E os olhos de Draco agora pareciam praticamente sublimes graças ao grande abajur azul florescente na mesa.
Estava tudo muito bem, apesar do silêncio que havia se instalado entre nós. Acho que o meu semblante era o de Garota Boba Encontra Príncipe Encantado que Estava Debaixo do seu Nariz, porém, nada poderia atrapalhar aquele instante. Era como se qualquer espécie de confusão quanto à índole de Draco Malfoy tivesse sido mandada para longe.
Mas sempre tem alguma figurinha estranha para atrapalhar, acho que completei o álbum naquela noite. De repente uma moça, usando um turbante branco na cabeça (parecia mais com um lençol enrolado na cabeça, mas não vamos disser isso para a coitadinha, ninguém merece acordar e descobrir que enrolou coisa errada na cabeça), chegou toda sorridente, olhando obviamente na direção de Draco, porém fico incrivelmente feliz em narrar que seu sorriso sumiu assim que viu que o rapaz loiro estava colado em uma garota, no caso, Hermione Granger, essa que vos narra.
- Olá senhor Malfoy - cumprimentou a Garota Turbante - e senhorita...?
- Senhora Malfoy - Draco respondeu antes que eu conseguisse abrir a boca - Minha esposa.
Arregalei os olhos para Draco e Ele me devolveu o olhar assustado, porém pude ver que estava fazendo o máximo de esforço para não rir.
- É um prazer recebê-la senhora Malfoy - acrescentou o Turbante com um sorriso bem falso - Eu poderia guardar sua capa?
- Claro - concordei retirando a capa e entregando-a para minha Nova Amiga.
Só aí percebi que Draco olhava-me com um misto de espanto e surpresa. Arqueei as sobrancelhas e Ele fez o mesmo, então desisti de tentar descobrir o motivo e voltei minha atenção para a Nova Amiga que ainda estava falando.
- ...Abóbora ou uva?
- Uva- Draco e eu respondemos ao mesmo tempo sem a mínima idéia do que aquilo era e logo depois caímos na risada.
- Certo - concordou a Amiga anotando na prancheta, com um sorriso bobo nos lábios - Vão querer batida de uva então, mais alguma coisa?
- Acho que não, quer algo Mione?
- Não, obrigada.
- Eu já volto.
Nos encaramos novamente e alguns segundos depois começamos a rir.
- Certo, me explique o que era aquele lençol na cabeça dela...
- Lençol? Ué, sempre pensei que fosse uma toalha.
Mais risadas.
- Ela está sempre aqui?
- Sempre dando em cima de mim - respondeu Draco tentando encarnar o pobre moço - Sorte que hoje a senhora Malfoy estava aqui.
Gargalhadas.
- Já posso até ver você se casando com a Amiga Turbante, será que ela tem cabelo, Draco?
- Não sei, talvez ela carregue alguém na cabeça como o professor Quirrell.
Uivos de tanto rir. Sabe, se eu estivesse vendo essa cena por outros olhos, certamente pensaria que esses dois jovens estavam dopados ou algo assim. Nada daquilo tinha graça, mas Draco fazia tudo parecer tão divertido.
- E esse vestido que você está usando... é realmente... bonito... ele realça seu corpo... - murmurou Draco, porém parecia encontrar certa dificuldade em olhar na minha direção ou aquela luz muito me enganava, mas posso afirmar com quase certeza que Ele parecia corado.
Certo, falando com um pouco de sinceridade, eu também estava bastante corada.
- Obrigada - agradeci rapidamente enquanto eu ainda tinha coragem de dizer algo - É muito bom ouvir um elogio, principalmente da parte de alguém como você.
- Alguém como eu- indagou rindo - Tenho algo de especial?
- Oh! Por alguns instantes havia me esquecido que você é Draco Malfoy, se eu falar que você possui algo de especial logo vai ficar achando que é o rei do pedaço. Desculpe, é que você pareceu tão humano e humilde ao elogiar meu vestido que eu quase tive certeza que você era boa gente.
- Se me considera um mau elemento, por qual motivo está perdendo seu tempo aqui- retrucou no mesmo instante e havia uma certa raiva faiscando em seus olhos.
- Boa pergunta- respondi irritada levantando-me pronta para ir embora, mas no segundo seguinte, sentei-me novamente - Sinceramente, não é assim que devemos começar...
- Assim como?
- Com outra briga. Brigamos durante sete anos e para mim chega.
- O dia em que não brigarmos, nem que seja por uma bobagem, eu seriamente estarei acreditando que você precisa de acompanhamento psicológico.
Ação e reação, foquei meus olhos com toda fúria em Draco, eu estava pronta para disparar mais uma de minhas farpas, porém antes que eu conseguisse abrir a boca, Ele estava rindo. Alguns segundos depois, eu também caí na gargalhada.
- Eu sou completamente idiota por brigar com você somente por ter feito um elogio a minha roupa...
- Granger, por favor, eu gosto de você completamente idiota, nunca seja metade idiota, vai perder a graça - disse ainda rindo-se.
- Eu poderia encarar isso como um insulto pessoal...
- Você não vai encarar isso como um insulto pessoal.
- Quem é você para garantir isso com tanta certeza?
- Granger, sei que seu espírito de Grifinória está sempre lhe impulsionando para bater de frente com seus inimigos, mas talvez você precise entender que eu não quero seu mal. Ao menos, não quero mais.
Isso me fez parar por alguns segundos. Eu realmente estava disposta a tentar. Queria provar para Draco Malfoy que todos podemos mudar e se Ele estava fazendo isso, eu também poderia tentar, certo?
- Me perdoe - murmurei envergonhada - Podemos tentar começar uma conversa civilizada outra vez?
- Claro, Granger- concordou - Espere um minuto, tenho algo para lhe dar.
Draco colocou a mão dentro do bolso interno da capa e revirou por alguns segundos nos quais eu tentava positivamente pensar em um presente agradável e não uma aranha peluda ainda com vida.
Do bolso de Draco, saiu uma rosa vermelha.
Bem, uma rosa vermelha sem algumas pétalas que obviamente haviam caído no bolso dele, porém ainda era uma rosa vermelha.
Espera aí, como é que Ele sabia que essa é minha flor favorita?
- Obrigada - agradeci pegando a rosa em minhas mãos - É muito gentil da sua parte.
- Sempre achei que não há melhor maneira de começar uma relação do que presentes singelos... - um segundo depois, Draco entendeu o duplo sentido naquilo que havia dito - Uma relação de amizade, entende? Pois é isso que deverá haver entre nós, uma bela amizade.
- Claro, eu havia entendido perfeitamente o sentido da frase - Hermione Granger, MENTIROSA, MENTIROSA!
- Espero que goste de rosas vermelhas.
- São minhas favoritas - respondi com um sorriso tímido - Mas espera aí, como você sabe que eu gosto de rosas vermelhas?
- Eu tenho meus informantes, Granger.
- Informantes?
- Sim, algum problema?
- Posso saber quem são essas pessoas?
- Não- respondeu tomado de frieza - E não vamos prolongar o assunto...
- Suponho que seus informantes também lhe forneceram meu número de telefone.
- Granger será que você não consegue ler nas entrelinhas? Quando eu digo para não prolongarmos um assunto, estou justamente pedindo para que pare de falar sobre isso.
- A batida de vocês- a Amiga Turbante, tinha que atrapalhar mais um início do round Draco Malfoy vs. Hermione Granger.
Por qual motivo absurdo ela precisava aproximar-se toda rebolante em nossa direção, com aquela maldita bandeja? Estava tão indignada com Draco que sem pensar duas vezes, peguei o cálice e o entornei de uma vez só.
E foi naquele instante que Hermione Granger percebeu que a Terra está em constante movimento de rotação e translação.
- Granger, você está bem- Draco segurou meu braço com força, no instante em que me encostei na cadeira sentindo que se havia algum teor alcoólico na bebida já havia subido para meu cérebro.
- Meu Deus! O que exatamente é isso?
- Batida de uva!
- Eu sei- respondi ainda sentindo-me tonta - Isso é alcoólico?
- Sim - confirmou Draco parecendo preocupado - Não é realmente aconselhável virar tudo de uma vez. A batida bruxa realmente não tem nenhuma semelhança com a trouxa.
- Eu percebi - pisquei lentamente e tentei focar minha visão novamente - Mas...É bom!
- A monitora chefe se revelando uma alcoólatra incontrolável - disse Draco rindo - Você acha que consegue beber outro cálice?
- Sim, eu consigo - respondi animada - Pode me dar o seu?
- Granger, controle-se! Eu estava brincando.
- Ah- exclamei tristonha, ainda olhando para o cálice intocado de Draco com certo remorso - É realmente muito alcoólico? É porque me parece extremamente delicioso, eu poderia tomar outro cálice desses, sem problemas.
Draco encarou-me por alguns segundos e logo estava vencido.
- Pegue meu cálice e pare de fazer bico!
- Obrigada- agradeci pegando o cálice de batida de uva e bebendo-o rapidamente.
- Sabe, Granger, acho que você ao menos deveria ir devagar - analisou Draco - Você precisa estar em condições de caminhar quando sairmos daqui.
- Eu estarei - mas naquela altura, eu não estava em muitas condições nem ao menos de formar uma frase inteligente - Você quer dançar?
- Granger, você está me preocupando - Draco agora parecia incrivelmente sério, mais sério do que eu jamais estive em toda minha vida - Quero lhe devolver inteira para seus pais.
- Eu estou inteira - respondi com dignidade - Harry realmente foi cruel comigo, mas eu o perdoei. Talvez eu ainda ame ele, mas está tudo tão confuso. Será que você pode me ajudar?
- Claro que posso, vou lhe ajudar a tomar rumo para sua casa - Draco levantou-se - O álcool fez um efeito rápido em você, não quero conversar com você nessas condições, é injusto...
- Por quê- perguntei segurando a gravata de Draco - Vamos conversar.
- Você iria contar coisas das quais se arrependeria depois e eu...
- Draco, você não é nenhum bom samaritano, então largue disso e vamos tomar mais batida de uva.
- Você precisa voltar para sua casa, Granger!
- Você é tão mais bonito calado - nada para acrescentar, apenas MALDITO ÁLCOOL.
Ah! E se você nunca bebeu em sua vida, nem pense em sair entornando cálices de uma bebida desconhecida sem prévio aviso ou então, você irá acabar no mesmo barquinho que Hermione Granger, a beberrona.
- Granger...
Certo, tenho muita vergonha de descrever exatamente a cena que vocês assistirão a seguir. Antes de qualquer coisa, gostaria de deixar claro para todos vocês que em nenhum momento eu faria isso sem a ajuda do álcool, mas vamos deixar de enrolar e contar o ocorrido.
Sem pensar duas vezes, puxei Draco Malfoy com força pela gravata, quase enforcando o pobre coitado, porém dessa maneira nossos rostos ficaram próximos e eu pude sentir sua respiração ofegante em minha face e não sei qual idéia maluca passou por minha cabeça, porém os lábios dele nunca pareceram tão tentadores.
Foi aí que eu consumei o fato, beijei Draco Malfoy.
E no começo foi estranho, pois só minha língua parecia tomar conhecimento de que aquilo era um beijo. Senti que Draco estava mais duro do que uma gárgula de pedra, mas não demorou muito até que uma luz o iluminasse e logo Ele tomasse consciência de que para que um beijo ocorra necessita-se de duas línguas em ação.
Foi algo cheio de paixão e ao mesmo tempo foi puro. Certo, poderia até mesmo dizer que foi o melhor beijo da minha vida, mas aí seria uma grande mentira, pois eu sinceramente não posso me lembrar de muita coisa daquela noite, tirando o fato de que o gosto de uva predominava em nossas bocas.
Por mim, eu ficaria ali, beijando Draco Malfoy por toda minha eternidade, mas Ele precisava lembrar-se que eu estava bêbada e a consciência dele precisava ter mandado que Ele tirasse a língua da minha boca e separasse seus lábios dos meus.
Foi decepcionante olhar nos olhos dele e ver que tudo que havia ali era vergonha.
- Granger, você precisa ir para sua casa.
- Eu quero ficar aqui.
- Se ficar aqui, vou lhe deixar sozinha, com um bando de adolescentes cheios de hormônios incontroláveis e acho que você não quer isso, quer?
- Eu não me importo.
- Granger, não seja mimada.
- Você está parecendo meu pai.
- Ótimo, agora que você está dizendo isso, tive uma idéia.
- Qual?
Mas Ele não respondeu. Isso porque naquele instante, estava ocupado demais me pegando no colo e colocando-me nas costas, como se eu fosse um saco de batatas.
- ME SOLTA- ordenei inutilmente dando socos nas costas de Draco - Eu quero ficar aqui.
- Você vai para casa.
- EU NÃO QUERO!
- Você vai. E não se preocupe com sua capa, se quiser eu lhe compro outra.
- DRACO, ME COLOCA NO CHÃO.
- Até mais Jonas- Draco acenou para o segurança que nem ao menos deu atenção para a garota que esperneava desesperada nas costas de Draco, eu.
- Draco, você não vai pagar a conta- indaguei tentando achar um motivo para Ele voltar, então eu me agarraria no cálice e quero ver que santo me tiraria dali.
- Eu não preciso, tenho uma conta no Mess Ink, eu só pago no final do mês.
- Sou um ser provido de pernas, será que eu posso descer e andar- perguntei irritada enquanto avançávamos por uma rua escura.
- Não- Draco parecia mais firme que tudo e todos - Vou lhe levar até sua casa.
- Eu posso aparatar!
- Não pode, deveria se lembrar que não é recomendável aparatar e desaparatar em uma condição tão delicada como a sua.
- E vai fazer o quê? Levar-me até Soho nos ombros?
- Acha que consegue agarrar minha cintura?
- Como consegue pensar em uma coisa dessas agora...
- Granger estive pensando em levar você em minha vassoura, só isso.
- Pensei que nunca quisesse me ver em uma vassoura novamente...
- Não quero lhe ver em ação em uma vassoura novamente - passamos por uma portinhola espremida entre uma loja de roupas masculinas e um restaurante de comida chinesa e estávamos novamente no lugar por onde eu havia chegado.
- Espera aí, isso aqui ficava lá do outro lado, na frente do Mess Ink.
- Isso aqui, Granger, está sempre mudando de lugar, mas se você abrir aquela porta lá, vai parar no Mess Ink. Olá Gaspar! Minha vassoura está aí?
- Claro senhor Malfoy, como foi a noite?
- Ótima- respondi por Draco, claramente ironizando a situação - Nos divertimos muito Gaspar, só que Draco Malfoy é um... AI- não pude prosseguir porque naquele instante Draco havia tratado de beliscar minha perna.
- A noite foi ótima Gaspar - respondeu Draco enquanto apanhava a vassoura - Nos vemos em breve.
- Assim espero, senhor Malfoy, assim espero. E que traga sempre essa belíssima dama.
- Sim! Você o ouviu, Draco? Traga sempre essa belíssima dama - concordei quase pulando do ombro de Draco para abraçar o meu amigo Quasímodo.
- Hermione fique quieta- sibilou nervoso enquanto saíamos pela portinhola pela qual havíamos entrado.
- Você me chamou de Hermione?
- Não!
- Você me chamou de Hermione!
- Eu não lhe chamei de... - parecia irritado, porém desistiu na metade do caminho - Não vou discutir com alguém no seu estado.
- Eu posso estar com álcool na mente, mas ainda tenho um ouvido ótimo!
Draco colocou-me no chão lentamente, porém no segundo seguinte teve que segurar meu braço pois eu cambaleei para trás.
- Você é muito mais bonita calada, pelo menos quando está bêbada- murmurou Draco encostando-me lentamente na parede - Espere, vou ter que montar na vassoura e você faça o mesmo certo?
- Okay.
Draco montou na vassoura e logo depois fiz o mesmo, segurei com força na cintura dele e logo levantamos vôo.
- Você me chamou de Hermione, isso eu sei.
- Seria uma idiotice minha insistir em chamar pelo sobrenome uma garota que eu beijei.
Abri um sorriso bobo no rosto e encostei minha cabeça no ombro de Draco Malfoy, enquanto o sol começava a aparecer no horizonte.
- Não- sussurrei baixinho - Eu beijei você, dê os créditos para a pessoa certa.

PS: Agradecimentos especiais para Ruth, minha beta reader "