Capitulo
Nove
Come up to meet ya, tell you I'm sorry
You don't know how
lovely you are
I had to find you, tell you I need ya
And tell
you I set you apart
Tell me your secrets, and nurse me your
questions
Oh lets go back to the start
(The Scientist –
Coldplay)
Sem medo de parecer repetitiva, volto a ponto de que
o ódio é um sentimento que entope as artérias,
consome os sentidos e faz com que sua mente, aquela que você
acredita ser estruturada o suficiente, não capte nada além
de imagens turvas e avermelhadas. Foi exatamente nessa situação
que abandonei o jantar da família Weasley pela metade.
Só
um instante! Preciso esclarecer que essa agradável família
nada fez para me magoar. Todos (incluindo Fred e Jorge que é
raríssimo estarem incluídos na lista de algum ato
benevolente como esse), empenhavam-se em distrair-me e animar meu
trágico dia com todos os tipos de comentários
agradáveis para minha pessoa. O problema, como sempre
precisava vir do setor Harry Potter e Ronald Weasley.
No começo,
eu pouco me importei se eles haviam se mudado ou não de lugar
na mesa, quando fui sentar-me perto deles (os lugares rapidamente
foram ocupados por Gina e Luna, ambas sustentando um olhar ferino
para os garotos) e realmente fingia que não ouvia nenhum
cochicho ou olhares excessivamente carrancudos em minha direção.
Só que tudo tem um limite.
O assunto corrente na mesa
era sobre Quadribol. Gina defendia vividamente a tese de que se eu
quisesse subir na vassoura poderia fazer coisas incríveis (e
Luna apenas ria disfarçadamente – aposto que Draco contou
para ela sobre o pequeno acidente) e o senhor Weasley, contava-me com
riqueza de detalhes a primeira vassoura que ganhou na vida (não
me perguntem a marca, naquela altura já não era mais a
amiga de Rony, por isso o Qual Vassoura, fora totalmente apagado de
minha mente) e nesse exato instante Rony interrompeu a narrativa do
pai sem pensar duas vezes;
É algo tão infantil –
murmurou olhando fixamente para o prato de sopa de espinafre e
levantando os olhos aos poucos – Fingir que está tudo bem. A
vida me ensinou que quanto mais você oculta um problema, maior
ele pode ficar.
Silêncio.
Eu sei que tudo aquilo que ele
havia dito era para mim. Meu sorriso de diversão estava o
incomodando até a última sarda. Harry parecia concordar
plenamente, pois balançou a cabeça positivamente após
as palavras de Rony.
O sangue realmente começou a circular
por meu corpo naquele minuto.
Eu podia ter sido expulsa da minha
casa, envergonhada em pública, com a minha moral atingindo
algum lugar entre o subsolo e o Inferno de Dante, porém eu
ainda tinha alguma dignidade.
Educadamente, limpei os lábios
com o guardanapo, respirei fundo e foquei meus olhos em Rony (ah! Só
para registro, o resto da mesa estava tão chocado que nem ao
menos conseguiam fechar a boca).
- Se você acha que fui
treinada para ficar em um cantinho chorando, você está
extremamente enganado, Ronald Weasley – entoei da mesma maneira que
se entoa um brado heróico – Não sou exatamente o tipo
de garota que fica tendo dó de si mesma e deixando que as
traças a corroam.
- Você realmente não é
a garota que fica no canto esperando as coisas certas acontecerem –
falou Harry, aquilo parecia estar engasgado dentro dele desde manhã
– Creio que sua necessidade de estar no centro das atenções
era tanta que precisou atacar-se nos braços de Draco Malfoy, o
primeiro que estava passando pela frente no momento...
- HARRY! –
quem exclamara fora a senhora Weasley, parecendo totalmente ultrajada
– Isso não é coisa que se diga para sua melhor
amiga.
- Ela era minha melhor amiga, até quebrar a
confiança que eu tinha nela – esquivou-se me encarando
diretamente nos olhos e como doía a vibração
negativa que aqueles olhos verdes emanavam.
- Harry – respirei
profundamente fechando os olhos – Você não é
exatamente a pessoa mais indicada para falar sobre lealdade entre
amigos.
O silêncio impregnou-se na pele de Harry. A culpa no
cartório ainda era grande, por isso ele limitou-se a continuar
enviando suas vibrações péssimas em minha
direção. Aquilo doía, de verdade. Quis morrer
por alguns instantes. Quem sabe, sair do meu corpo e só voltar
quando a barra estivesse limpa?
Quando reabri os olhos, a
realidade não mudara. Harry voltara para a barreira, porém
Rony estava no ataque outra vez.
- O quê você tinha na
sua cabeça para aceitar ser a namorada de Draco Malfoy? –
indagou com um semblante no rosto que misturava asco com indignação.
- Eu tinha muitas coisas – respondi, curta e grossa – Muitas
coisas, que talvez nem você, muito menos Harry tenham reparado.
Afinal, vocês sempre ganham maior atenção no
show. Eu sou apenas a figurante que ninguém quer saber se está
sofrendo ou não.
- Mione – disse o senhor Weasley
parecendo preocupado – Se quiser, querida, pode ir para o quarto e
Molly lhe preparará algo. Gina e Luna podem fazer companhia
e...
- Por quê eu fugiria deles? – interrompi corajosa –
Qual é o mal que eles tem para me fazer além de
palavras? Palavras saídas de bocas que pouco se importam
comigo...
- Hermione, não seja injusta – disparou Harry
novamente.
- Harry, você realmente se acha digno de dizer
para alguém que se importa comigo acima de tudo? – minha
cabeça latejava – Realmente faria qualquer coisa para não
me magoarem? Pularia em cima de um homem no mínimo cinco vezes
maior do que você, sem se importar se a conseqüência
disso seria a morte, só para salvar minha vida? Você
realmente faria tudo o que fiz por você durante sete anos?
-
Hermione, não jogue isso em cima de Harry e...
- Rony! –
exclamei irritada – Quando você for convidado, sinta-se à
vontade para reunir-se à discussão. No momentoé
somente entre mim e Harry, está bem?
- Hermione, querida,
não se exalte – tentou controlar a senhora Weasley
olhando-me temerosa.
- Não estou me exaltando – bufei –
Só quero as respostas, de Harry.
Silêncio. Quase um
minuto.
- Eu morreria por você – respondeu no final, sem
olhar-me nos olhos.
- Apenas esse tempo que você perdeu
refletindo sobre o caso, já era suficiente para que meu sangue
escorresse por aí – levantei-me da mesa – Eu sinto muito
se machuquei um de vocês. Só saibam que me machucou o
dobro. Com licença, senhor e senhora Weasley – tomei rumo ao
quarto de Gina.
Após minha saída, o caos instalou-se
na mesa.
Luna fora a primeira a reagir, dirigindo para Rony tantos
insultos que eu nem mesmo sei o significado. A senhora Weasley
dividia-se em gritar com Rony e gritar com Harry, em uma velocidade
tão rápida que só consegui captar poucas
palavras:
-
VOCÊS...HORRÍVEIS...CORAÇÃO...ÓDIO...DRACO...HERMIONE...EXPULSA...DESUMANO!
O
senhor Weasley, talvez estivesse tentando afogar-se na sopa. Fred e
Jorge permaneciam como espectadores.
Gina, claro, correu atrás
de mim para assumir seu posto de cachecol oficial.
- Mione! –
gemia ofegante tentando me alcançar – Espera.
- Gina me
deixa – gemi de volta, mais porque a raiva enrolara-me a língua.
- Você precisa se acalmar – implorou – Pare de correr,
vamos conversar.
Entrei no quarto. Gina entrou atrás.
Peguei meu malão debaixo da cama de armar e fui enfiando meus
pertences ali dentro.
- O que está fazendo? – indagou
confusa.
- Por favor, Gina, chame a Luna aqui.
- O que está
fazendo?
- Eu quero falar com a Luna – respondi sem olhar
diretamente para Gina.
Ela permaneceu em silêncio. Senti que
estava magoada comigo, mas no segundo seguinte ela saiu do quarto,
fora chamar Luna.
Fechei minha mala e sentei-me em cima dela.
Minha vontade era chorar, mas eu nunca iria demonstrar minha fraqueza
em território inimigo. Limitei-me a arfar feito um gato
raivoso enquanto olhava a paisagem através da janela.
Luna
chegou dois minutos depois, o rosto vermelho e parecia igualmente sem
fôlego.
- Luna, eu preciso do celular.
- Para? –
arqueou as sobrancelhas.
- Quero falar com Draco.
- Hermione,
não tome nenhuma atitude que...
- Por favor, Luna!
Luna
não queria discutir. Colocou a mão no bolso interno da
capa e entregou o celular na minha mão.
- Estarei lá
embaixo. O senhor Weasley está trancado no quarto com Harry e
Rony, dialogando.
- Obrigada – agradeci ligando o celular
enquanto Luna deixava o quarto.
Um toque.
Dois toques.
Três
toques.
Quatro toques.
- Luna? – Draco atendeu.
- Sou
eu.
- Olá – o tom da voz de Draco transformou-se no mesmo
instante, parecia feliz por saber que era eu – Algum problema?
-
Quero ir embora.
- Como assim?
- Quero morar com você.
-
Cansou-se dos Weasley?
- Eles são ótima gente, o
problema é que não dá para conviver na mesma
casa que Rony e Harry.
- Entendo. Eles fizeram algo?
- Podemos
conversar sobre isso depois?
- Claro, afinal agora você é
de casa.
- Pode me buscar aqui?
- Chego em quinze minutos. Está
com as malas prontas?
- Sim.
Ótimo, nos vemos Mione.
-
Draco?
- Sim?
- Pode me chamar de Mione de novo?
- Claro,
Mione – concordou rindo – Algum motivo em especial?
- Só
para me certificar que você é real.
Draco apenas riu
sem jeito.
- Até logo, Mione.
- Até.
Deixei o
celular na cama de Gina, peguei minhas malas e saí do quarto.
Desci diretamente para a cozinha, lá encontrei a senhora
Weasley, Gina e Luna no meio de uma reunião sussurrada.
-
Estou indo embora – anunciei olhando para o piso – Acho que nesse
instante preciso de um tempo longe de Rony e Harry, não é
o que vou encontrar aqui.
- Hermione, gostaria de dizer que estou
envergonhada por tudo o que eles disseram e...
- Senhora Weasley –
interrompi paciente – Não precisa se desculpar, a senhora
não tem culpa alguma.
- Vai morar com Draco Malfoy? –
perguntou Gina.
- Sim – confirmei – Por enquanto. Durante
todos esses anos guardei minha mesada e creio que tenho dinheiro
suficiente para comprar uma casa, mas são planos para
futuro.
- Tem certeza disso? – indagou a senhora Weasley.
-
Absoluta. Muito obrigada pela estadia senhora Weasley e desculpe por
alguma coisa.
- Imagine, querida. Sei que você estará
sempre tomando a melhor decisão.
Sorri. Permanecemos em
silêncio. Três minutos, eu acho.
- Podemos te visitar?
– perguntou Luna parecendo relutante.
- Sim – respondi –
Draco não vai se importar, eu acho.
Mais silêncio,
dois minutos.
- Vocês vão casar? – indagou Luna
novamente.
Todas caímos na risada.
- Luna, depois nós
discutimos sobre isso.
- Se casarem, posso ser a madrinha? –
quis saber Gina empolgada.
- Na verdade, passei o caminho todo
pensando sobre isso, acho que Luna e Gina seriam ótimas
madrinhas, não acha Hermione? – Draco Malfoy estava parado
na porta que ligava a cozinha com o jardim da casa – Desculpe
invadir sua cozinha, senhora Weasley – acrescentou sem graça.
-
Nenhum problema – a senhora Weasley levantou-se de seu lugar e
sorriu para Draco – Eu e as meninas vamos deixá-los em paz.
Luna e Gina levantaram-se de seus respectivos lugares
acompanhando a senhora Weasley. Me despedi de uma por uma e logo que
elas abandonaram a cozinha (a senhora Weasley a trancou, para maior
privacidade), me vi ali sozinha com Draco.
- Olá! –
cumprimentei sem jeito.
- Olá! – retribuiu achando minha
falta de jeito engraçada.
Silêncio.
- Hermione,
não seja tímida, pode se aproximar.
Sorri e aos
poucos me aproximei dele. Quando cheguei perto o suficiente para
isso, fui envolvida em um abraço que de certa forma não
estava esperando, mas foi definitivamente o alívio para meu
tormento.
- Você está bem? – perguntou com os
lábios encostados na minha orelha.
- Com sono – respondi
sentindo-me confortável e segura aninhada naqueles braços.
- Estou com um coche no jardim dos Weasley, você pode
cochilar no caminho – sussurrou passando a mão pela minha
cabeça.
- Eu só não entendo uma coisa...
-
E o que seria?
- Semana passada, eu te odiava.
- E semana
passada, eu estava pensando em me matar. Tudo muda.
- Podemos
ir?
- Não quer se despedir de mais ninguém?
Relutei
por um instante, enquanto lentamente me desvencilhava dele.
-
Não! – respondi com firmeza – Depois posso mandar uma
carta para o senhor Weasley e para os gêmeos.
- Certo –
concordou Draco apanhando três de minhas malas – Vamos,
Hermione.
Seguimos até o jardim, aonde havia um coche
guiado por dois cavalos alados.
- São tão bonitos –
comentei enquanto avançávamos pelo jardim – São
seus?
- Sim – respondeu com simplicidade – Achei que você
não iria querer fazer uma viagem de vassoura ou pó de
flú tão cedo...
- Draco, eu fico realmente
surpreendida com a maneira que você lê minha mente –
sorri sem graça enquanto ele abria a porta do coche.
- Eu
estou aqui para isso – disse gentilmente abrindo caminho para que
eu entrasse.
- E eu sou eternamente grata por você existir
– murmurei entrando no coche e Draco fez o mesmo, carregando minhas
malas em seguida.Se quiser pode usar meu colo para tirar um cochilo –
ofereceu enquanto distraidamente arrumava um lugar para minhas malas.
- Seria bom – aceitei um tanto sem jeito – Posso?
-
Claro.
Enquanto lentamente os cavalos alados levantavam vôo,
deitei-me no banco e encostei minha cabeça no colo de Draco e
após poucos segundos, eu já me encontrava embebida no
mais profundo e prazeroso sono da minha vida.
- Hermione...
Em
algum lugar perdido na bruma de meus sonhos, ouvi aquela voz
estranhamente arrastada tentando arrancar-me daquele mundo platônico
e com bastante relutância obriguei minhas pálpebras a
encararem a realidade. Eu estava sem um teto fixo, sem o amor dos
meus pais, sem meus melhores amigos, com o coração
despedaçado em milhões de pedacinhos mortais, mas tudo
tem o seu lado bom.
Apenas para começo de assunto, eu
estava deitada em uma enorme cama de casal, enrolada em lençóis
de seda, rodeada por travesseiros de pena de ganso e sentindo-me
praticamente uma princesa árabe em seu habitat natural. O
quarto no qual eu me encontrava era bastante escuro e até
mesmo sinistro (como exemplo, uso as cortinas negras, que não
sei exatamente de que tecido eram feitas, mas posso apostar veludo
com quase toda certeza desse mundo que eram feitas de veludo – o
que transformava o quarto em um inferninho, com a temperatura abafada
daquele verão). Tínhamos raios, trovões e pingos
de chuva castigavam a janela. Me senti um pouco confusa, demorou um
pouco até meu cérebro entender o que eu fazia ali, com
aquele garoto de cabelos platinados, trajando um roupão verde
musgo, sentado aos pés da minha cama e encarando-me com uma
expressão amável no rosto.
- Olá –
cumprimentei ainda piscando, tentando me acostumar com a pouca
iluminação do quarto – Você?
- Seja bem
vinda aos domínios da família Malfoy – cumprimentou
educadamente – Eu estava refletindo e descobri que seria uma
tremenda falta de educação da minha parte, deixar você
dormir de estômago vazio – então apontou
desnecessariamente para uma farta bandeja de frutas no seu colo.
-
Você é adorável – comentei e alguns segundos
depois achei graça do que havia dito – Quando é que
eu ia me imaginar falando uma coisa dessas para você. Que horas
são?
- Três horas da madrugada – informou
consultando o relógio de pulso – Qual fruta você gosta
mais?
Um trovão interrompeu momentaneamente minha linha de
pensamento.
- Meu Deus! – exclamei enquanto analisava
minuciosamente a bandeja de frutas – Está chovendo muito
forte?
- Um temporal – respondeu parecendo um tanto
desconfortável – Eu não gosto de dias chuvosos.
-
Eles são poéticos – sussurrei distraída
enquanto estava no dilema, maçã ou banana.
- Más
lembranças – comentou Draco e sua voz estava levemente
anasalada – Lembranças do tempo em que eu tinha uma
família...
- Entendo – centrei minha atenção
em Draco – Se serve de consolo, também não tenho
família nesse momento.
- Estamos na mesma situação...
-
Você sente medo dos trovões? – perguntei sem jeito.
É um pouco difícil admitir, mas acho que sim...
-
Então, você estava com medo de ficar sozinho no meio dos
trovões e veio me acordar, certo?
É! – confirmou
olhando para o teto, parecia extremamente sem graça em admitir
que possuía uma fraqueza tão humana.
- Draco fica
aqui comigo.
- Posso mesmo? – perguntou encarando-me em dúvida.
- Bem – olhei ao redor – Essa cama é imensa,
poderíamos abrigar o time de Quadribol da Grã-Bretanha
aqui e mesmo assim um nunca se encostaria ao outro. Aliás,
você pode ir conversando comigo, até que o medo passe.
-
Você é uma garota incrível – disse olhando-me
com admiração – Eu ainda me pergunto, por quê
lhe tratei tão mal durante sete anos?
- Quem sabe, essa foi
a maneira que o destino encontrou para fazer você dar o valor
que mereço – concluí com simplicidade.
- Talvez
você tenha razão – comentou enquanto acomodava-se ao
meu lado – Você é a amiga que eu sempre quis.
-
Você também é o que eu sempre quis – comentei
sem pensar muito – Amigo, que eu sempre quis – completei
rapidamente.
Draco tentou se conter, mas terminou rindo.
-
Quer maçã? – perguntou pegando uma da bandeja.
É
estranha, a maneira que ele resolve meus dilemas. Mesmo sem saber
deles.
- Obrigada – agradeci pegando-a - Draco, quer que eu lhe
conte uma estória?
- História? Que história?
– perguntou confuso.
- Um conto de fadas – expliquei enquanto
dava uma mordida na maçã – Algo que minha mãe
costumava contar, quando eu tinha medo de trovão...
-
Mione, eu tenho dezoito anos de idade e...
- Largue de ser
ranzinza – ri – Agora se deite no meu colo, pois eu vou lhe
contar a estória da Chapeuzinho Vermelho.
- Hermione! –
exclamou Draco parecendo ofendido.
- Se não se deitar no
meu colo, eu vou ter que usar uma Imperius contra você e...
-
Você não sabe usar uma Imperius – disse em tom de
desafio.
- Não duvide da minha capacidade autodidata em
momentos de aflição.
Draco encarou-me como se eu
fosse uma maníaca extremamente perigosa e no segundo seguinte
estava deitado no meu colo.
- Bem, a Chapeuzinho Vermelho era uma
garota...
- Hermione?
- Sim?
- Você não deveria
começar com Era uma vez...
- Desculpe-me. Era uma vez, uma
garota, chamada Chapeuzinho Vermelho...
- Hermione?
- Sim?
-
Como alguém pode se chamar Chapeuzinho Vermelho? Não é
um nome ridículo para se colocar em uma criança?
-
Era o apelido dela, Draco – expliquei revirando os olhos – Ela
usava uma capa confeccionada pela avó, com um capuz, toda
vermelha.
- Ah! Claro!
- Então, ela amava muito essa
avó. E um dia ela adoeceu. A mãe da Chapeuzinho sugeriu
que ela levasse uma cesta de doces para sua avó doente.
Recomendou que não fosse pela floresta e...
- Hermione?
-
Fale, Draco.
- Qual o problema com a floresta?
- Existiam lobos
por lá.
- Lobisomens?
- Não, lobos. Posso
continuar a estória?
- Pode.
- Porém, o caminho
da floresta era mais curto e Chapeuzinho poderia colher algumas
flores para alegrar a avó dela por lá, então
acabou decidindo que iria pela floresta...
- Meu Deus! Que garota
burra!
- A Chapeuzinho passeava pela floresta, quando encontrou o
Lobo Mal...
- O Lobo era ruim?
- Sim.
- Ele era do lado das
trevas?
- Não, Draco. Ele apenas comia vovós e tinha
sérios planos para papar a Chapeuzinho...
- O Lobo vai
comer a vovó?
- Draco, você está me fazendo
estragar a história! – exclamei irritada.
- Hermione quer
saber de uma coisa?
- Sim, eu quero.
- Se um dia tivermos
filhos, sou eu quem irá contar estórias de ninar. Você
é um desastre.
Draco encarava-me com um semblante inocente
no rosto, não pude evitar e ri.
- Sim, Draco. Eu realmente
não tenho talento algum para isso...
- Hermione?
-
Sim?
- Você teria filhos comigo?
- Simé você
que vai contar as histórias na hora de dormir. Qualquer mulher
teria filhos com você.
- Claro – ele abriu um sorriso –
Se um dia, depois de alguns anos, continuarmos solteiros, você
pode casar comigo, para termos um filho?
- Eu posso – respondi
também sorrindo – Será maravilhoso – acrescentei
enquanto voltava a comer a maçã.
- Você está
sentindo-se melhor?
- Um pouco estranha – admiti distraidamente
passando a mão na cabeça de Draco – Mas, acho que é
apenas o choque inicial. Vou me recuperar com o tempo.
- Amanhã,
quero lhe levar para conhecer toda a Mansão.
- Não
é exatamente uma opção de escolha, eu iria lhe
obrigar de qualquer jeito. Deve ser fascinante.
- Isso você
descobrirá amanhã – disse Draco levantando-se do meu
colo e ajeitando-se debaixo dos lençóis – Posso mesmo
dormir com você?
- Sim – respondi dando a última
mordida na maçã – Dividirei lençóis com
você e se estiver com medo, pode segurar minha mão e...
me acordar para que eu lhe conte outra estória.
Draco riu,
colocou a bandeja de lado e um tanto sem graça aproximou-se de
mim e beijou minha face. Senti um estranho arrepio percorrer todo meu
corpo.
- Boa noite, Mione – murmurou deitando-se.
- Boa
noite, Draco.
