Capítulo Dez
I
don't mind spending everyday
Out on your corner in the pouring
rain
Look for the girl with the broken smile
Ask her if she
wants to stay awhile
And she will be loved
(She will be loved – Maroon 5)
O calendário denunciava, mas de certa forma minha mente não processava a informação, de que eu estava hospedada na Mansão Malfoy há duas semanas e ainda sentia como se houvesse chegado ontem.
Não pensem que nessa altura do campeonato, irei descrever como apesar de todo o sofrimento provocado pelos acontecimentos já mencionados nessa história, minha vida era maravilhosa pelo simples fato de que eu podia me pavonear pelos cantos de uma mansão maravilhosa que pertencia ao melhor homem de todo mundo, Draco Malfoy.
Em primeiro lugar, a Mansão Malfoy não é a Disney!
Aqui tudo é muito obscuro e sinistro. Caminhar pelos corredores é ser surpreendida constantemente por portas que tremem, tapetes mágicos que repentinamente repuxam e lhe fazem cair e gritos misteriosos de dor que segundo Draco me explicou são dos antepassados da família:
"A carga emocional depositada nessas estruturas é imensa. Muita gente morreu, sofreu e foi torturada entre essas paredes. Um dia você se acostuma".
O segundo tópico relevante é que Draco e eu estávamos brigados. Tudo ocorreu há três dias atrás, quando eu tive mais um ataque de choro nervoso durante o jantar e comecei a murmurar os nomes de Harry e Rony, seguidos de frases desconexas e uma delas era a famosa ladainha do Eu Quero Morrer.
Eu sei, isso é de irritar qualquer um. Draco teve toda razão em me dar aquela chacoalhada!
Foi algo tempestuoso e digno de qualquer dramalhão que se preze, eu o chamei de insensível, ele retrucou dizendo que eu estava ficando louca. Subi as escadas correndo (e ainda chorando) e Draco logo atrás dissertando sobre o quanto eu estava sendo infantil. Tentei arrumar as malas e ir embora (agora me pergunto, para onde eu estava planejando ir? – viva o impulso!) e Draco em um acesso de fúria jogou minha mala pela janela dizendo que não ia me deixar sair nesse estado.
Por fim, eu continuei por lá. Mas eu não estava pensando em dirigir a palavra a Draco nem em um milhão de anos.
Para evitá-lo, a melhor saída era ficar na capela do jardim a maior parte do tempo. Era um local pitoresco, por se tratar de uma capela e não possuir nada considerado religioso. No meu segundo dia na mansão, Draco me levou para conhecê-la e disse que detestava aquele lugar. Estávamos falando do local que a mãe dele escolhia para se refugiar toda vez que seu pai explodia em um acesso de fúria. Ironicamente, era exatamente isso que estava fazendo no instante, fugindo de Draco.
E adivinhe só?
Ele me encontrou.
Eu estava sentada no chão da capela, escondida atrás de uma cadeira lendo um livro sobre Poções que havia encontrado na biblioteca quando a portinhola se escancarou. Por curiosidade, levantei os olhos e descobri que Draco havia descoberto meu esconderijo e de certa forma, não parecia nada satisfeito:
Hermione!
Draco! – exclamamos praticamente ao mesmo tempo.
Não estou aqui para gritar com você – explicou em um tom sereno que não justificava aquele brilho doentio em seus olhos – Nós precisamos conversar e decididamente você precisa parar de se esconder.
Eu não estou me escondendo – menti sem medo de soar patética – Só estou evitando que você tenha outro ataque de fúria.
Certamente, eu nunca teria feito metade daquilo que fiz se você não estivesse agindo daquela maneira.
E de que maneira espera que eu resolva agir? Eu não tenho mais ninguém...
Você não tem vocação para vítima, então levanta essa cabeça enquanto eu falo com você.
Ação e reação, o encarei e no mesmo instante pude presenciar um sorriso satisfeito percorrendo seus lábios finos. Tentei sorrir, mas tudo que consegui produzir foi um esgar medonho e por esse motivo tratei de ficar impassível.
Mas realmente, eu fui grosso com você. Por isso estou aqui para me desculpar.
Você sempre foi grosso! – exclamei com sinceridade – E é por esse motivo que nunca fomos amigos e nem poderemos ser.
Draco crispou os lábios, porém em nenhum momento retirou os olhos de cima de mim. Algo dentro dele borbulhava de raiva e de forma prazerosa eu assistia aquele espetáculo, apenas na expectativa de que ele explodisse novamente.
Nunca mais repita isso – concluiu após alguns segundos de pura tensão.
É a mesma coisa que querer calar a verdade.
Você é a melhor coisa na minha vida nesse momento.
Sou? Estranho, não é? Suas palavras não condizem com a realidade.
Draco calou-se novamente. Parecia estar juntando forças de seu âmago para não berrar comigo. E eu não tinha medo. Ao contrário, parecia extremamente divertido vê-lo daquele jeito, quando percebi o quão desumana estava sendo, tentei olhar para minhas próprias mãos e refrear aquele sentimento estranho.
Por mais que não acredite você é. E foi horrível ver você daquele jeito, quis matá-los.
Matar?
Potter e Weasley!
Eu provoco tantos sentimentos assim dentro de você, Draco? – indaguei arqueando as sobrancelhas em sinal de dúvida.
Mais do que você pode imaginar.
Essas reticências intermináveis em nossas conversas estavam praticamente me matando. Principalmente agora que essa conversa em especial estava tomando um rumo interessante. Eu precisava dizer qualquer coisa antes que morresse asfixiada com minha própria curiosidade.
Você pode citar algum exemplo?
Em primeiro lugar, levante-se – disse determinado enquanto obediente eu me levantava deixando o livro na cadeira – E vamos sair daqui, esse lugar me dá calafrios.
Não! – respondi categórica – Vamos ficar aqui até terminarmos essa conversa.
Sabe qual é seu problema? Você é uma garota teimosa. Se não cismasse tanto com tudo e todos...
Eu nunca teria te dado meia chance.
Silêncio.
Tá, depois dessa preciso admitir que você ganhou – murmurou quase dois minutos depois parecendo completamente perdido em seus argumentos.
Draco, entenda que não há batalha alguma para que eu vença – expliquei pacientemente – Aliás, acho que você precisa entender que somos apenas dois seres humanos tentando entender os sentimentos que realmente nutrimos um pelo outro.
Certo – concordou após um segundo de reflexão.
Você poderia começar tentando me dizer o que sente por mim...
Eu te odeio.
E a verdade, de uma forma ou de outra, sempre aparece – comentei magoada.
Te odeio por estar na minha mente de maneira tão perturbadora. Odeio o jeito que você anda. Odeio o jeito que você sorri. Odeio sua petulância que de vez em quando se confunde com a minha. Odeio aquele jeito que me olha quando pensa que estou distraído. Odeio você por ter me tornado medíocre e patético. Se eu pudesse Granger, lhe odiaria menos, assim quem sabe eu poderia falar mais sobre o assunto – disse tudo isso com incrível rapidez que atropelava as palavras sem nenhum ressentimento.
Emma! Essa é uma frase de um livro trouxa. Claro, não exatamente desse jeito que você disse, porque é amar ao invés de odiar – tá, concordem comigo, não há nada mais idiota do que esse comentário, mas minha mente treinada com Jane Austen precisava fazer esse comentário.
E você acha que existe alguma diferença entre esses dois sentimentos? – indagou cheio de mistério.
São sentimentos opostos – conclui com lógica.
E pela física, os opostos se atraem.
Nós somos opostos...
E talvez seja por esse exato motivo que estou tão atraído por você.
Insira aqui: momento de total estupefação.
Draco não acreditava no que havia dito. Eu não acreditava no que havia ouvido.
Ambos estávamos boquiabertos e sem ação.
Momento de total estupefação.
É? – hoje é dia de Hermione Granger e sua série de falas desnecessárias.
Eu não deveria ter dito isso – gemeu arrependido afundando o rosto nas mãos.
Draco...?
Não quero que pense...
Dá para me ouvir ou está difícil?
Eu...
Também me sinto atraída por você! – exclamei o mais alto possível – E você deveria saber disso.
Deveria?
Eu te beijei.
Você estava...
Atraída por você naquele instante.
Você não...
Ah! Eu estava sim.
Mais silêncio. Hoje chego na conclusão que Draco e eu não tínhamos muita experiência nesse negócio de paquerar, talvez a cena fosse diferente se estivéssemos conseguindo organizar nossos pensamentos com mais rapidez.
O quê você quer? – indagou Draco ao que me levantei para poder me aproximar dele e encará-lo de frente.
Saber se é verdadeiro – disse determinada.
Blás Zabini não está aqui para ler minha mente.
Mas eu estou aqui e posso ver seus olhos.
Momento de total atração. Um suspiro tímido da parte de Draco, um sorriso sem graça da minha parte. Foi uma fração de segundos entre o sorriso e o aproximar dos lábios. Senti arrepios provocados pela tensão, quis me afastar e fugir dali. Nunca o desejei tanto em toda minha vida.
Demorou uma eternidade até que eu sentisse os lábios finos se perdendo nos meus. Foi uma dádiva que preciso agradecer diariamente.
Como posso acreditar em alguma verdade mais verdadeira do que o amor após provar os lábios de Draco Malfoy? Foi um jato de sentimentos lavando qualquer pensamento obscuro sobre ele em minha mente. E senti uma onda totalmente nova de arrepios quando ele me envolveu pela cintura, aproximou meu corpo do dele e me beijou como ninguém nunca havia beijado em toda minha vida.
E eu o quis. Quis ser dele. Parte dele e nada mais. Nem que fosse por um milésimo de segundo.
Foi o beijo da minha vida.
Hermione... – murmurou com os lábios ainda encostados no meu.
Eu... – respondi parcialmente em transe.
Me desculpa? Por sete anos, por jogar sua mala longe, por te chamar de maluca, por...
Está bem. Você está perdoado. Só estava me protegendo...
Isso é tão estranho.
Estranho?
Proteger você. Eu deveria te atacar – conclui rindo-se.
Então me ataca, está esperando que eu ataque você?
Seria uma visão no mínimo...
Sem mais tempo para palavras, puxei-o pela gravata e lhe dei outro beijo muito mais intenso, porém mais rápido e cheio de paixão.
...Interessante – completou quando separamos nossos lábios, ele ainda sem fôlego.
Vamos sair daqui? – sugeri.
Vamos? – Draco parecia de certa forma desnorteado pelo último beijo.
Isso é uma capela, nós a profanamos demais por um dia só.
Tenho um lugar melhor...
Me segurou pela mão e me arrastou por todo o jardim fazendo com que eu seguisse seu ritmo. Adrenalina por minhas veias e eu já não podia dizer o que causava as batidas aceleradas de meu coração. Me sentia uma pecadora, fugitiva, adolescente e acima de tudo apaixonada. Sim, era isso, eu estava apaixonada por Draco Malfoy e soltar a mão dele naquela altura do campeonato era a maior besteira que eu podia fazer.
Entre risos nervosos e tropeções quase desapercebidos, chegamos ao quarto mal iluminado de Draco Malfoy no primeiro andar da mansão. Era tudo tão escuro que não pude deixar de sentir certa tristeza com isso:
E você continua com a política abaixo as cortinas e viva a escuridão? – observei olhando ao redor.
Sim – respondeu ofegante enquanto fechava a porta com as chaves.
Nenhum elfo doméstico vai atrapalhar – murmurei rindo.
Quero ter certeza que estamos sozinhos.
Estamos. Certo, a escuridão, sua velha amiga está entre nós...
Hermione... – chamou por meu nome em algum lugar no meio da escuridão.
Sim?
Quer ser minha namorada.
Paralisei. Certo, obrigada amiga escuridão, Draco não pode ver a expressão de susto que fiz no rosto ao ouvir isso.
Eu preciso pensar, concorda? – agradecimentos especiais ao Deus das Frases Manjadas.
Eu sei que isso é repentino, mas...me sinto tão atraído por você e...
Posso pensar?
Pode – se deu por vencido – Vou te deixar sozinha, para pensar melhor – concluiu desanimado.
Saiu do quarto e minha mente foi invadida por milhares de vozes, conselhos e todo o tipo de coisa que acontece quando você precisa tomar uma decisão importante. Respirei fundo e corri até a porta, a abri bem em tempo de ver Draco ainda no corredor.
DRACO! – gritei fazendo-o virar-se.
Sim?
Esse é seu quarto.
Ah! – exclamou desanimado – Você tem razão.
Então, você deveria ficar nele e eu...
Sim, claro – respondeu se aproximando cabisbaixo.
E eu quero ser sua namorada – completei sorrindo quando ele finalmente parou na porta olhando-me sem graça.
Quer? – seus olhos brilharam.
Sim – confirmei e não tive tempo para nada. Draco aproximou-se mais e beijou-me com avidez nos lábios. Senti uma onda nova de sentimentos nascer quando tropeçando e de costas, entrei novamente no quarto, com os braços dele em minha cintura e os meus envolta de seu pescoço.
Ainda no meio daquele beijo, Draco fechou a porta do quarto com um coice nada delicado e naquela noite, eu não fui embora de seu quarto.
