Prólogo III(O verdadeiro e mais importante):
Saori lia os relatórios da Fundação tentando estar compenetrada. Tentava se concentrar no que fazia, mas seu cosmo estava em alerta, aguardando que algo ocorresse. Não sabia muito bem definir o porquê da vigília, mas sentia que algo de imenso impacto na humanidade poderia surgir a qualquer instante. Era estranho já que há muito havia completa paz entre tudo, mas é como dizem, a completa calmaria nunca indica algo bom. Indica perigo próximo à vista. E pensando bem, ela não gostava nem um pouco desse ditado idiota, principalmente porque sabia que estava certíssimo! Ao lado da grande escrivaninha, seu báculo de deusa repousava apoiado na parede, também em estado de alerta.
Em sua condição de arma de Athena, o báculo sabia que seus dias como o fiel cetro de metal havia terminado, e que sua consciência amadurecida rejeitava o material no qual era aprisionado. Tanto tempo submisso! Era algo que nem mesmo o mais paciente ser do mundo era capaz de suportar. Submissão era uma palavra que não cabia a si, porém estranhamente era o que vinha acontecendo, mas sabia bem do motivo daquilo. Estava na hora de quebrar as correntes a qual estava atado, de reviver em outra forma, muito mais versátil, aliás.
Ele tinha esse poder, já que era a reencarnação de Níquel, a deusa da vitória, mas hesitava em deixar sua mestra, por saber que faria falta a tão poderosa entidade. Isso o tinha segurado ali por anos, o tempo de todas as batalhas acontecerem. Anos cheios de melancolia e inexpressividade, coisas que seres simplórios feitos os humanos evitavam com sucesso, e que ele não podia evitar. Mas aquela noite tinha algo de especial, diferente, algo que o chamava a sentir sangue vivo correndo em veias humanas suas, ao invés de apenas ferro sólido... Como se simplesmente estivesse pronta a romper com tudo a que esteve atado. "Todos mereciam vida", disseram perto de si certa vez. Mas será que ele merecia? Será que deveria continuar como estava? Não! Decididamente, essa não era umas das concepções que os filósofos aplicavam a palavra vida. E aquela noite estava tão convidativa...
Após horas de reflexão, Saori finalmente guardou os documentos e fechou a sala, bocejando de sono. Parecia exausta, olheiras enormes já faziam parte de sua aparência. Tudo aquele tempo ali, soara como uma chance de reclusão, de pensar mais sobre sua vida, mas até mesmo o ato de pensar podia cansar uma pessoa. Para ela, havia sido uma vigília inútil. Para o báculo, era a chance tão esperada.
Seu cosmo se desprendeu do corpo de metal frio, que se dissolveu em fragmentos moleculares no ar, poeira cósmica sobre a noite bela e estrelada, e voltou a sua forma de energia pura, uma força sem igual na face da Terra. Uma força que em liberdade teria conseqüências. Boas ou ruins? Só o tempo diria. Hesitou pela última vez, antes de ganhar o céu suavemente e instalar-se na nova forma escolhida, muito mais vibrante, muito mais quente...
O raio de luz trepidante cortava o céu com velocidade, fazendo com que os traunsentes parassem para simplesmente contempla-lo, imaginando que aquela era uma simplória estrela dos desejos.
Todos estes fizeram seus respectivos desejos, acreditando irrealmente que todos eles seriam atendidos. Tolice deles! Desperdiçavam seu tempo com palavras irrelevantes à Atmosfera, sem realmente se importar em correr atrás de seus respectivos sonhos. Nem ao menos sabiam que aquela estrela tinha uma missão muito mais grandiosa do que se pode crer.
A luz começou a perder altura, pois já estava chegando ao seu destino... O excitamento já estava se apoderando, mal podia acreditar que estava findando a sua era absolutista, onde era apenas um servo.
Logo estaria vivo... Estaria livre! O que seria de si com essa liberdade em mãos? Bem, não queria saber, não agora que estava tão próximo de seu intuito...
