Capítulo 1 – Gelo e canivete, uma combinação perigosa
"Não sei por que ainda dou ouvido a um moleque..." pensava Hyoga enquanto caminhava madrugada adentro pelas ruas escuras do cais. Mais um desentendimento entre os cavaleiros de bronze, tudo por causa da teimosia de Seiya, o levara novamente a vagar pela fria cidade, exilando-se de qualquer um, reavaliando tudo o que já pensara de seus amigos...
Os conflitos estavam cada dia mais freqüentes, para dizer a verdade quase que comuns. Isso entristecia profundamente a Athena, que parecia se exilar aos poucos de outras companhias, inclusive a deles, fazendo-os pensar que talvez mais preocupações além da Fundação a assolassem. Desde o término da última batalha, ela caíra em um estado meio deprimente, perdendo muito da antiga simpatia e vitalidade de sempre. Decididamente estava se privando de coisas consideradas normais, por causa de toda a responsabilidade. Se avaliasse bem, ele e todos os outros também estavam, mas ele não se importava com isso. Sabia que sua missão nobre estava acima de tudo o mais que o pudesse entreter de seus objetivos de vida.
E, para completar, pelo mundo afora se viam mais e mais problemas. Não chegavam a ser guerras ou algo do tipo, mas conflitos internos em superpotências, revoltas generalizadas, boicotes internacionais... O sistema econômico mundial à beira de um novo boom. Mas o que um cavaleiro de bronze como ele tinha a ver com isso? Ele sabia que não era algo com que devesse se preocupar, mas sentia-se mal ao pensar que eles salvaram o mundo tantas e tantas vezes, para no fim os humanos se destruírem por conta própria graças à ganância de cada um. Revoltante, se levar em conta todas as suas responsabilidades quanto ao mundo, mas ainda assim, achava que era melhor que o "resto do mundo" não se intrometessem em suas batalhas.
Balançou a cabeça, afastando aqueles pensamentos da mente. As ruas desertas por onde caminhava estavam impregnadas de tristeza, tornando os lugares por onde passava bastante melancólicos e gelados pela corrente de ar noturna, da terra para a água. "Lembrando a solidão das geleiras da Sibéria..."
Sibéria... há quanto tempo não pisava naquele lugar? Muito tempo, talvez um ano ou mais. Tinha saudades da paz do extremo polar, do aconchego de cada rosto querido que não mirava mais... e agora, tudo isso lhe vinha na lembrança, quase que de modo atormentador! Tinha que se livrar disso, mas ao mesmo tempo desejava ter aqueles pensamentos mais vezes, desprendendo seus pés do chão, cansado. Retirou do bolso o rosário da Cruz do Norte, a única lembrança palpável de sua mãe, e segurou firmemente no punho fechado, sentindo o reconfortante tato frio do metal nos dedos. Era mais que reconfortante, era mais que qualquer outro sentimento que as pessoas já haviam negado a ele.
Não reparou na estrela cadente que passou naquele momento, anunciando as coisas estranhas que passariam a acontecer...
Continuou a andar distraído, pensando em finalmente voltar à Mansão Kido, e à sua cama, talvez fosse o que mais precisasse naquele momento, quando um ruído vindo de um beco lateral o despertou de seus pensamentos. Parecia o gemido abafado de alguém que caía no chão pesadamente. Saber exatamente como agir, escondeu-se atrás de um monte de caixas velhas a tempo de ver o vulto se levantar cambaleante, cair passos depois e gritar, com um tom de voz bastante feminino:
- Não podem fazer isso comigo!
Risadas ecoaram em volta do vulto. Era uma gangue inteira de marmanjos grandes feito gorilas cercando-o. Hyoga sentiu que aquilo era mais do que um simples assalto para estarem tantos de um único grupo como agora contra uma pessoa só. Era a expulsão de algum membro do grupo. Tinha de se aproximar para saber o que estava acontecendo, e o que fariam com o deserdado...
Começou a avançar o mais disfarçadamente possível, quando o homem mais alto e forte deu um passo à frente e começou a falar em voz alta, ainda rindo:
- Aprende a perder, criança. Aposto que todo mundo aqui tá cansado de ser comandado por uma pirralha!
Houve um burburinho de aprovação por parte do resto da gangue. Riam, comentavam apontando para a figura no chão, e ela ficava impassível, sem mexer um só músculo. Lembrava um gato amuado, porém todos sabiam, que um gato amuado fazia um estrago sem tamanho...
Então Hyoga a viu. Uma garota de no máximo quinze anos, cabeleira castanha emoldurando o rosto (para sua surpresa) coberto por uma máscara de metal, característica das amazonas do Santuário. Mas será que ela também era uma?... Vestia negro da cabeça aos pés, ocultando-se assim nas sombras noturnas.
Jogada no chão, de punhos cerrados e ar carregado, conseguia transmitir austeridade mesmo em uma situação tão delicada como aquela. Quando falou, sua voz soou fria e cortante como uma navalha, mas ainda sim com um risco profundo de ironia:
- Vocês são mesmo muito hipócritas... belo jeito de agradecer pelo que já fiz por vocês, pois não seriam metade do que são nem teriam chegado até aqui sem mim!
Ao invés de impressionar, a frase só provocou gargalhadas mais estrondosas no bando. Parecia provocar ainda mais a ira da jovem. Estavam mexendo com fogo... Que monte de macacos sem cérebro!
- Fala sério, menina! Já enxergou o seu tamanho? Aonde você chegou além daqui, ou melhor, aonde pretende chegar com pernas tão curtas? – o homem caçoou.
- Tamanho nunca foi documento. Oh, me desculpem, acho que vocês nunca tiveram um a não ser na polícia! – ela redargüiu sarcástica, para em seguida assumir um tom impaciente – Anda, não tenho todo o tempo do mundo! Seu novo chefe idiota mandou me executar, não foi?
Abriu os braços, numa saudação (ou num ato de loucura?).
- Pois vamos ver se consegue, otário!
Os que se julgavam mais fortes avançaram, já de punhos erguidos para acertar no rosto de metal, mas a garota desviava quase que suavemente, parecendo ser feita de vento. Em resposta a todas as tentativas de ataque, aplicava chutes e ganchos de esquerda poderosos, derrubando os mais fortes do bando com facilidade. Não era à toa que ganhara a liderança do bando. Todos os marmanjos evitavam irrit�-la, para não acabarem numa cova a céu aberto, mas com o passar do tempo todos se entediavam com aquela superioridade suprema... e, como todo mundo sabe, todo governo acaba por cair, mais cedo ou mais tarde.
- Então, seu palerma? – ela virou-se para encarar o mais alto, os cabelos esvoaçando feito labaredas – Acabou ou ainda tem mais alguma arma nada secreta contra mim? Lembre-se eu ensinei tudo o que sabem, nada me surpreende.
- Veremos, pirralha... – ele rangeu entre dentes, estalando os dedos das mãos e aproximando-se da menina. Mandou o punho fechado na direção dos olhos, mas ela desviou no mesmo instante, contra-atacando com o cotovelo, que se enterrou no estômago do grandalhão. A luta prosseguia mais acalorada a cada instante, mas ela já começava a sentir os primeiros músculos latejarem de cansaço. Não conseguiria nunca derrubar o grupo inteiro na mesma noite, já que só perdera a liderança por uma questão de centímetros na hora de aplicar o golpe de misericórdia. E perderia a vida também, se não fosse mais cuidadosa. Precisava pensar em uma manobra estratégica, não era tão difícil para ela. Ela tinha potencial. Fora líder, não fora?
Repentinamente, sem que ela se desse conta, o homem aplicou-lhe um cadeado por trás, deixando-a sem reação. Os pés mal tocavam o chão, e a cada segundo ela perdia mais e mais a capacidade de respirar, suspensa no ar pelo pescoço... sua única salvação era o canivete escondido no cano da bota, mas sua mão não conseguia se libertar, pois o seu carrasco segurava seus pulsos, impedindo qualquer chance de reviravolta... Talvez fosse uma morte rápida e indolor, quem sabe. Ao menos morreria lutando pelo que acreditava, outros morreram por muito menos e sem realmente crer em seus ideais.
- Desista, criança. Você não tem chance – ele debochou, apertando ainda mais um golpe. Um gemido abafado de dor irrompeu a garganta dela – Se você se render agora, talvez eu lhe poupe a vida...
- Prefiro morrer a isso... – ela gemeu com a voz falha. Perderia tudo, menos o orgulho. E afinal, seria o fim daquela tortura em poucos minutos... "onze anos metida no meio do nada jogados fora!"
O ar ficava cada vez mais frio, congelante, sofrendo uma queda de temperatura brusca demais para ser natural. Alguns dos que restavam tiritavam de frio, soltando nuvens densas de vapor. Sentiam os músculos enrijecerem, a pele descascando com a perda de calor e de líquido, pois parecia que até mesmo a água do corpo havia congelado. Mas a àquela altura já não se importava. Talvez fosse uma boa oportunidade para escapar e ela tinha de se concentrar nisso e ignorar a adversidade climática súbita.
E tudo aconteceu numa fração de segundos. Uma tempestade de neve cortante, um golpe no ar, e o homem soltou a moça no chão, gritando de dor. Não foi nada bom sentir seu corpo dolorido contra o frio concreto, principalmente porque ela sabia que aquela não era toda a dor que sentiria. Mas tinha de ser otimista, amanhã doeria mais... Ao menos estava viva, por um instante chegou a pensar que não escaparia daquela situação... A máscara pulou do rosto com o impacto e voou longe.
- Quem é? – ele gritou segurando o braço direito, agora dormente. Um vulto emergia da névoa gelada caminhando decidido em direção ao grupo. Parecia até aquelas cenas maneiras do filme do James Bond.
- Vocês não acham um pouco tarde para arrumarem confusão? – Hyoga perguntou saindo das sombras, um breve sorriso sarcástico brotando dos lábios.
- Para uma boa briga, nunca é tarde o suficiente – o homem respondeu no mesmo tom – agora dá o fora que isso não é da sua conta!
- Tem certeza? – Hyoga apontou o dedo indicador na direção do homem, e imediatamente o ar ficou tão congelante que as pernas do marmanjo se transformaram em gelo.
- O-o que é isso! Me tira daqui! Ei, seus covardes! – ele gritou para o resto da gangue, que já tinha fugido ante a supremacia do loiro intrometido – Me ajudem aqui!
- Eles não vão ajudar – Hyoga afirmou calmamente, bancava o mocinho perfeito e sabia disso – estão te obedecendo por você ser o mais forte. Mas eu provei que isso está errado, já que conseguiu perder a liderança para uma menina, pelo que eu pude perceber. E agora... – o sorriso se alargou pelo rosto do loiro.
Rapidamente o gelo subiu pelo corpo do rapaz, implacável, destruindo cada célula dos tecidos, cada molécula condutora de vida. Tomou os braços, o pescoço, a cabeça... e, numa fração de segundos, tudo que poderia ser considerado humano, ou parte do Reino Animal, havia dado lugar à simples água congelada, que Hyoga destruiu com um golpe.
A garota permanecia sentada no chão, uma mão no rosto e outra sobre o cano da bota. O cabelo em desalinho formava uma cortina cor-de-terra, que o impedia de desvendar-lhe a face. Porem era melhor que não a visse, não queira problemas para seu lado. Agora sem a máscara, ela parecia uma adolescente indefesa, caída no chão depois de um tombo.
- Você está bem? – ele perguntou se aproximando dela.
Mas a jovem, num súbito ataque-surpresa, levantou-se num salto, empunhando o canivete na mão esquerda, e fez um talho no ombro direito dele. Embora totalmente estupefato com aquela perda de fraqueza tão imediata, Hyoga desviou-se de um segundo golpe e a segurou pelo punho do canivete, forçando-a a olhar diretamente para si. Então mirou a pele pálida, a expressão carregada de raiva, a cicatriz no canto direito da face infantil, que começava no fim da quase inexistente sobrancelha e descia paralela à maçã do rosto em forma de cruz, mas principalmente os olhos, de um negro tão profundo que deveria ser capaz de ler mentes num piscar momentâneo...
- Você não tinha nada que se meter nos meus negócios, muito menos na minha vida! – ela sibilou raivosa.
- Nossa, eu salvo a sua vida e é assim que me agradece!
- Salvou? Pois para seu governo, eu poderia muito bem ter me virado sozinha! – ela forçou o punho preso até solt�-lo das mãos de ferro dele e começou a olhar ao redor, o orgulho incitando-a a redargüir furiosamente – era apenas uma questão de tempo.
- Tempo? Que tipo de tempo? – Hyoga perguntou seguindo-a com os olhos, enquanto avaliava mentalmente o tamanho do estrago feito pelo canivete dela, naquele momento esquecido no chão - Porque se for o tempo normal você não iria se livrar dele nunca!
A garota revirou os olhos para cima, irritada. Odiava gente lutando as suas batalhas, preferia morrer a isso.
- Santa Paciência… e agora mais essa… explicar o que é tempo pra um marmanjo que eu nunca vi na vida… - voltou a procurar o que queria no chão – Você sabe, ou deve ter alguma noção… um minuto tem 60 segundos, uma hora tem 60 minutos, um dia tem 24 horas, e assim em diante… Ou será que a tia do maternal ainda não te ensinou?
Então virou-se e bateu os olhos na máscara, que se dissipava em uma fina névoa prateada, desaparecendo ao mínimo toque da brisa... Deixara de existir um artefato de metal especialmente forjado em uma ferraria nada comum para aquela dona...
- QUÊ! – ela berrou indignada – Isso só pode ser sacanagem com a minha cara! – baixou o tom de voz, sentindo os nervos pulsarem a ponto de explodir. Hyoga balançou a cabeça em sinal de desdém, segurando o riso.
- tsk, tsk... Se estressa demais por pouca coisa, menina. Aliás, pra que máscara com um rosto lindo desse?
- Para evitar que idiotas como você façam essas cantadas inúteis e totalmente picaretas! – ela respondeu grosseiramente e virou-se de costas para ele, prestes a ir embora, quando ele a chamou de volta:
- Espera, vai deixar o canivete aqui? – ele perguntou, recolhendo o artefato de metal do chão.
- Ah, é. Obrigada por lembrar, gelado. Agora devolve, se não for muito incômodo – e estendeu a mão, esperando pela boa vontade dele. Mas Hyoga apenas sorriu maliciosamente, apertando o canivete na mão e jogando para o alto. Ela vislumbrou por um instante o canivete transformar-se em uma simples lasca de gelo na queda livre, antes de espatifar-se no chão, quebrando-se em mil fragmentos.
A jovem colocou a mão sobre a testa, lutando sem sucesso para recuperar o pouco autocontrole, pois naquela hora sua única vontade era partir a cabeça de Hyoga em duas. Ou mais, se isso doesse mais nele.
- Olha aqui, só por ter quebrado a minha máscara você já está jurado de morte, mas agora eu vi que o seu negocio é guerra. Pois muito bem – ela se aproximava, enquanto cada palavra reboava carregada de ódio pelo beco – se é guerra que você quer, é guerra que terá. Não vou te matar agora nem hoje porque eu não quero sujar as minhas mãos com esse seu sangue imundo – os corpos quase se tocavam, ele sentia o calor intenso que ela emanava quase queimando a sua pele – mas pode se preparar, porque não é a primeira nem a última vez que você me vê – e se afastou o mais rápido que suas pernas permitiam dentro de um vestido.
"Pois que assim seja, menina. Ninguém me faz um talho e sai imune..." ele pensou por sua vez, andando novamente em direção à Fundação Kido, de onde desejou não ter saído naquela noite. Embora tenha sido um tanto quanto interessante quebrar sua rotina, mesmo que ele nunca fosse admitir isso.
Nota da Enxerida que agora é oficialmente autora: Sim, ninguém leu errado! Agora eu também sou autora, devido as imensa modificações que eu venho fazendo, fui promovida a co-autora... Agora eu e a Bran, somos parceiras! Ah, tô muito feliz... Eu não esperava o dia em que eu viraria gente (apesar de oficialmente já ser, pela minha carteira de identidade que tirei ontem...) e participaria como autora de algo sério... Alguém já viu minha fic sobre Harry Potter? É sinistra! Segundo as Leis da Física, é o nome dela. Se alguém tiver curiosidade, não vou reclamar nem um pouquinho.
Mel: Tudo isso é merchandising? Porque você não fala logo que tem a história de um casal que se odiava e acaba passando a noite juntos sem um saber quem o outro é, e depois ela ser obrigada a trabalhar para ele e ela ter de encar�-lo todos os dias, sem deix�-lo saber que ela era a garota que ele... bem, vocês sabem...
Érato: Por que você não diz que é a garota que ele comeu? Ou traçou? Ou transou? Não sei porque as pessoas vêem tantos problemas em falar sobre sexo.
Tália- Falou a Érato! A musa que usa lustra-móveis ao invés de loção corporal...
Érato- Da melhor marca... Assolan... Desculpem, eu não devia fazer merchandising em fic! Já basta a Fighter, cheia das más intenções!
Fighter- Ei! Eu só quero que alguém leia e deixe review! Nem que seja atirando pedra!
Tália- Você quer pedra? Não tem problema. A gente manda uma chuva delas em cima de você!
Fighter- Ahhhhh... Não vou entrar em detalhes porque estou sendo bombardeada de pedras em meu próprio quarto... Apenas leiam o próximo capítulo!
