Capítulo 2 – Alena

Alena Samoya vagava pelo cais de porto, que àquela hora do dia, com o sol a pico, estava vazio. Uma jovem de 15 anos, com maturidade o suficiente para viver por si mesma sem depender da piedade de nenhuma alma caridosa. Fora líder da gangue mais barra-pesada da área por meses a fio, até perder na força bruta para um verdadeiro orangotango desprovido de cérebro, e acabar do jeito que estava agora: nas ruas.

E nas ruas toda a sua trajetória nada invejável havia começado: criada pelo avô pelos 4 primeiros anos de vida, quando ele foi assassinado por maníacos religiosos num templo perdido no meio da Índia, sua terra natal; depois treinada num dos recantos mais remotos do sul asiático por dez anos, conquistando o direito de vestir a máscara de metal, sua maior aliada; seu retorno à "civilização", sedenta por vingança contra todos os que a prejudicaram (segundo ela, a sociedade em geral)... E, por culpa daquele maldito estranho intrometido, ela voltara ao ponto inicial. As ruas. Não era um avanço e sim um retrocesso, e sinceramente, retrocesso não era algo que alguém desejasse sobre a própria vida, por mais simplória que seja.

Balançou a cabeça, afastando os pensamentos que insistiam em voar em direção ao tal estranho. Era irritante a forma que ela lutava contra eles, mas como sempre saía derrotada. Estava perdendo muitas coisas nos últimos dias, e isso já haviam se passado quase cinco dias desde o fatal encontro. Odiava aquela perda de controle momentânea, quando ela se flagrava imaginando o que teria feito com ele se as circunstâncias fossem outras. Bem... ela sabia se aproveitar das fraquezas masculinas e usa-las para seu deleite. Por que não desperdiçar um pouco daquele talento com aquele homem também, era o que se perguntava.

- Porque ele não merece, só por isso – Alena falava para si mesma, encostada na mureta que separava a praia da rua – Oras, faça-me o favor, Ally! Ele quebrou a sua máscara, que eu duvido existir outra igual, estilhaçou o seu canivete, e você ainda pensa na possibilidade de... ah, não! – afastou-se da mureta com violência – Credo, ele merece é arder no mármore do inferno, isso sim! Maldito...

Continuou a andar pela calçada, novamente com a cabeça longe. Não que aquilo lhe fosse normal, mas ou a mente vagava em direção a seu antigo lar, ou se perdia em lembranças recentes, então ela tinha de tentar prender a sua atenção em algo terreno, como o bando de gaivotas que passou rente à superfície da água. Seus punhos se cerraram involuntariamente. Estranho como qualquer ave a fizesse lembrar do estranho loiro que a defendera. Desprezava a todas, mas principalmente tinha raiva ao avistar bandos de cisnes. Sabe-se lá o porquê daquele ódio todo, vai entender a mente da garota... Talvez por esse motivo eles fossem cada vez mais raros, trazendo em suas asas a brisa gelada das terras solitárias ao norte.

Sentou-se em um dos bancos ao longo da calçada, pensando no que faria para sobreviver. É, esse era um assunto que puxava seus pés das nuvens. Instintivamente, olhou para o céu suplicante e murmurou:

- Mestre meu, se o senhor ainda tiver paciência e disposição para ouvir essa reles marginal, por favor me mande um sinal de que eu não sou uma total renegada neste mundo mutante, qualquer coisa... Até um velho clichê, mesmo que eu os odeie, eu jamais contestaria, principalmente se estou em apuros...

E o sinal veio em forma de um monte de bolsas de supermercado, largadas a seu lado por uma moça de cabelos escuros, que parecia realmente cansada. Alena não pode deixar de lançar um olhar rápido ao céu, pensando: "Caramba, entrega rápida, hein? Gostei, será que isso funciona com tudo?"

- Uff... – suspirou a moça, ao se sentar no banco (ou seria jogar-se, já que parecia estar morrendo de cansaço).

- Caramba, você está carregando esse monte de bolsas sozinha? – Alena perguntou impressionada. Não era inteligente aquela atitude, mas sem dúvida era uma grande demonstração de coragem.

- Pois é... ninguém se apresenta para me ajudar, então eu tenho de dar o meu jeito... isso aqui não é nem metade do que eu tinha de comprar! –Comentou a moça, levemente ofegante.

- Nem a METADE! E ainda não pediu ajuda? –Por isso não confiava em ninguém. Todos se aproximam de você se você tem algo que lhes interessa, mas ninguém nunca está por perto quando você realmente precisa deles.

- Bom, digamos que eu não tenha a quem recorrer no lugar onde eu trabalho – ela sorriu – eu atendo a um orfanato aqui perto.

- Ah, acho que sei onde é – Alena se levantou do banco, com uma inédita vontade de fazer uma boa ação. É, isso não acontecia com freqüência, mas ela precisava se distrair, e já que agora tinha todo o tempo do mundo, por quê não ajudar a pobre moça? – Quer ajuda pra carregar as compras?

- Claro, se não for muito incômodo... –Um sorriso surpreso pelo oferecimento, mas ao mesmo tempo satisfeito, brotou nos lábios da moça.

- Quê, eu estou sem fazer nada de útil há cinco dias! – ela falava, enquanto apanhava as sacolas mais pesadas do chão. Para ela, aquilo não era nem um décimo do que estava acostumada, já para a outra jovem, era com certeza uma chance de descansar – Diga-se de passagem que perdi o emprego anterior.

- Oh, sinto muito! – a moça pareceu sinceramente penalizada. Isso a fez simpatizar com o único ser que parecia condoer-se com sua... ahn... Falta de sorte, para não dizer outras coisas... – Qual foi à causa?

- Hum... tome como falta de qualificação. –Alena respondeu dando de ombros, não querendo demonstrar qualquer sinal de ressentimento quanto ao assunto.

- Sei como é isso. Nos dias de hoje, a única coisa que querem é mais e mais exigências... – as duas caminhavam lentamente – Aliás, olha que falta de educação, até esqueci de perguntar o seu nome!

Alena hesitou por um instante. Será que aquele maldito sobrenome seria reconhecido por ali também? – Pode me chamar de Ally, por enquanto.

- Certo... o meu é Minu.

Continuaram a andar em direção ao orfanato, conversando sobre a maior variedade de assuntos possível. Não existe papo melhor do que esse, o que você começa falando de A e, minutos depois, já fala de Z. E as pessoas se entretêm, o tempo passa voando... como naquele momento, pois minutos depois já se encontravam na porta do orfanato, onde se via uma placa dizendo:

"PRECISA-SE DE AJUDANTE"

Alena estancou na porta, observando pensativa a placa. "Será que esse sinal está dividido em etapas?... é, o senhor caprichou dessa vez! Vou ter de fazer uma viagem de visitas a ele para agradecer..."

- O que houve, Ally? – Minu veio atrás dela. Com certa expressão de dúvidas, imaginando qual fora o motivo que a fizera estacar ali.

- Vocês estão precisando de ajudante? – Alena perguntou, indiferente à indagação.

- Pois é... – Minu deu de ombros – Mas ninguém ainda se disponibilizou, sabe. Não é toda pessoa que consegue ter paciência com crianças hoje em dia.

- Ninguém mesmo! – elas chegaram na cozinha, finalmente descansando as bolsas.

- É. Então sou apenas eu para cuidar das crianças – Minu começou a guardar as compras enquanto falava. Mas Alena não estava nem aí para o que ela estava fazendo. Tinha encontrado a salvação.

- Minu... – ela começou a falar devagar, como se mesmo ela própria duvidasse de suas próprias palavras - E se eu ficasse aqui como sua ajudante?

- Como? – ela deixou sem querer a bolsa cair das mãos, despejando um monte de pacotes de biscoito pelo chão.

- Olha só, eu também sou órfã, e pode crer, não tenho onde cair morta. E a gente pode fazer uma troca, eu preciso de um lugar para morar e você precisa de ajuda! Que tal?

Minu ainda parecia meio indecisa.

- Sem querer ofender, Ally, mas você não me parece uma pessoa que goste de cuidar de crianças, nem lidar com brigas infantis, e...

- Ah, anda! – Alena já estava impaciente, esperar pela boa-vontade dos outros não era algo que realmente gostasse, muito menos depender de uma simples palavra para decidir sua vida – Eu tenho a maior paciência quando o assunto é agüentar garotinhos brigões!

- Eu não sei...

- Por favor! Eu juro que não vou dar trabalho... –Alena disse pacientemente, mas num tom ligeiramente infantil.

- Então tudo bem. Você passa por um período de teste e se gostar daqui, fica. Tá bom assim? –A jovem disse fazendo um raro sorriso verdadeiro e aberto sair do coração de Alena.

- Muito bem! – Alena pôde respirar aliviada novamente. Pelo menos por um curto prazo, seu sustento estava garantido! Não era exatamente o que pretendia, mas não podia reclamar dos sinais evidentes manifestados. " Melhor ficar de boca quieta e não reclamar..."

Na hora de apresentar-se como nova ajudante para as crianças, os grupos de garotos reclamaram:

- Quê! Mais uma garota! – um deles bradou em voz alta, sem pensar que poderia ofender Alena, mas era uma criança, e crianças podem ser bem cruéis se quiserem...

- Poxa, por que não um cara dessa vez? – outro pequeno lamuriou-se.

- Oras, o que um homem pode fazer que eu também não possa? – Alena se permitiu um sorriso de desdém, diante do falatório que se seguiu.

- Jogar futebol... –Enumerou um jovem de cabelos de fogo.

- Soltar pipa... –Começou outro, que não devia ter mais de 8 anos.

- Pois eu posso fazer tudo isso e mais um pouco! – e se levantou da mesa. Os garotos mais velhos continuavam meio descrentes.

- Você? Com essa cara de garotinha? – um dos menores riu.

- Ah, mas eu não tive lá uma criação muito ligada com bonecas, sabe... – e olhou para os menininhos de lado – Mas acho que vocês não estão muito interessados em saber se eu jogo futebol ou não, para ainda estarem aqui...

- Obaaaa! – e a garotada correu para o pátio ensolarado, deixando uma Alena sozinha bastante reflexiva.

"Bem... até que é fácil lidar com crianças... Cara, como o mestre riria ao me ver aqui! Logo eu, que nunca fui com a cara de pirralho nenhum!" o sorriso desapareceu do rosto "Talvez se eu tivesse tido essa mesma sorte com outras pessoas... Quantas dificuldades eu teria deixado de passar!" respirou fundo "Bem, a vida prossegue, não é?"

E seguiu para o pátio ensolarado, a luz a lhe ferir a vista. Mas como sempre, não deu importância. Não deixava pequenas coisas afetar-lhe. Estava obstinada a ganhar a confiança dos pequenos, e quando Alena punha algo na cabeça, nada a desviava de seu objetivo, sendo ele qual for.

- Então foi uma garota de rua quem fez isso! – Shun perguntou estupefato, enquanto trocava o curativo do braço de Hyoga. Depois de dias de persuasão, os cavaleiros finalmente fizeram o amigo gelado confessar onde conseguira o profundo talho no ombro. Diga-se de passagem que a reação não foi muito animadora.

- Inadmissível, Hyoga... – Shiryu balançou a cabeça em desaprovação, mas na verdade estava segurando o riso – E vocês dois querem parar com essa crise de riso, por favor? – virou-se para Seiya e Ikki, que só faltavam rolar no chão de tanto rir.

- Desculpa pato, mas essa foi de doer... – Ikki enxugou as lágrimas de riso.

- Acho que podemos registrar este dia na história – Seiya fez cara de sério – 'O dia em que o Cisne apanha de uma pivete de rua...'

Todos caíram na gargalhada, exceto Hyoga.

- Claro, muuuiiito engraçado – ele resmungou, terminando o curativo sozinho. Pelo visto a ferida infeccionara, correndo o risco de virar uma bela cicatriz. Mais um motivo para torcer o pescoço da infeliz quando aparecesse. E que isso não demorasse muito, se ela ainda quisesse ter alguma chance de sair viva! Naquela noite não sentira tanta raiva, mas agora... Já pensara em várias formas de tortur�-la, mesmo porquê se não o fizesse, partiria para cima dos seus "queridos amigos".

- Hei, amanhã é dia de visita no orfanato! – Seiya disse animado, depois de parar de rir, e tentar parecer um cara sério (alguém acreditou nisso?) – Quem está a fim de ir?

- Numa boa!

- Por que não?

- E tem algo melhor?

- Não, obrigado!

As respostas foram, respectivamente, de Shun, Shiryu, Ikki e Hyoga. Os outros amigos se viraram para o último, fingindo surpresa.

- Por que não, pato?

- Não to a fim de sair, Ikki, só por isso.

- Você está é com medo de encontrar aquela garota de... – Ikki nem precisou terminar a frase. Hyoga se pôs de pé num salto e se dirigiu à porta, irritado.

N/A: E aí, gente? Bem, como eu prometi, a Alena está apresentada, e eu posso falar que o primeiro furo seria o fato de eu não conhecer a Eire (sinceramente, uma garota como ela merece o espetáculo do Hyoga!) antes de imaginar essa história e achar que o nosso patinho favorito iria ficar sozinho, então me veio a idéia der criar a Ally, que contraria qualquer estereótipo apresentado neste anime (pronto, um dos buracos já está fechado, e eu posso dormir em paz sem me preocupar com as pessoas que tiveram suas casas inundadas com a tubulação estourada... hã! O que isso tem a ver?). Mas o segundo furo talvez ainda demore um pouco (quer dizer, não é hoje que eu durmo direito ainda...), já que eu ainda não expliquei o complexo passado dela, só dei algumas pistas para deixar uma horda de leitores roendo as unhas (que feio!), prontos para invadir o meu sanatório (digo, a minha casa) e me esganar... hehehehe, eu sou m�!

E, claro, vocês acham que a Ally não vai virar a Fundação de pernas pro ar! Hahahaha! Vocês não conhecem a peça... pra começar, ela não vai balançar as estruturas de um bronzeado só! E, dependendo do meu estado de loucura, talvez nem os douradinhos (alguém duvidava que eu não fosse incluí-los!) escapem dessa salada a César! Para saber mais, continuem lendo esta pérola da literatura paralela mundial, que talvez vocês tenham notado que está classificada como R, o que significa que as águas que vão rolar serão quentes, quentes... aguardem )

N/E (Nota da Enxerida): Sim, é nóis de volta! Primeiro gostaria de pedir desculpas à Íris Branden... Bran, querida, sorry! Eu sei que você vai ficar brava comigo, porque além de me incluir nas notas da autora (apesar dessa fic não ser parceria), eu ainda modifiquei todos os parágrafos! Só não mudei as falas, apenas acrescentei algumas frases sarcásticas, e outras engraçadas... Estendi parágrafos... Vocês viram o tamanho de cada um? Eu me aboMinu!

Agradecimentos a Bran, por não ter modificado aquela cena da navalha, que nós bolamos juntas durante uma aula de matemática, ou ter me deixado meter o bedelho no prólogo e ter mantido tudo o que essa incompetente (eu) fez intacto. Thanks Bill Gates, pai da Microsoft. Obrigada, Tia Alice (minha professora do CA) por me ensinar a escrever e jamais ter desistido de mim (eu já desisti); Obrigada às paredes do meu quarto, por até hoje não terem caído e me economizarem um mês de castigo...

Ih, eu nem sou autora mesmo, e tô agradecendo a Deus e o mundo? Eu perdi o senso! Era só para mim ser uma beta-reader e não mudar tudo o que eu podia! Desculpem leitores! Desculpe Bran! Acho que eu vou me meter naquele cano na rua da Bran! Não, peraí! Eu não sou masoquista! E nem suicida! Embora seja um canhão, mas isso a gente abafa... Bran, porquê você ainda não me chamou para tomar banho no piscinão da Figueira (é o lugar onde o corpo da Bran reside, porque a alma não pára em casa...)? Tô magoada! Ops, eu não tenho esse direito, já que estou em dívida contigo...

Musas cadê vocês? Vocês sumiram!

Melpômene: É que nós estamos nos preparando para o próximo capítulo...

Tália: Vai ser muito irônico! Tem o meu dedo l�! He, he, he! Fala sério! Eu sou muito engraçada!

Fighter: Tanto quanto uma porta, um objeto inanimado.

Tália: Eu sabia que você me amava! Uma porta, tem sempre graça se é da casa do cara que você gosta, ou se é de uma agência que pensa em te contratar...

Fighter: Cala-te boca! Chega, gente! Eu só quero ver o que vocês vão fazer no próximo capítulo!

Deixem reviews! E me mandem parar de betar essa fic, porque sei que não vão me agüentar até o final! E muito menos essas musas que agora são meus alter-egos temporários! Oh, não! Elas só vão me deixar quando eu parar de escrever essa série sobre CDZ! Help me! Mande coments de incentivo!