Capítulo 3 – Pequeno encontro casual
Já passava da hora do almoço quando os amigos chegaram ao orfanato. As crianças brincavam no pátio da frente, vigiados por Minu e uma outra garota que não identificaram, já que ela permanecia de costas para o portão principal. Contudo não se importaram, pois no fim a conheceriam...
- Minu! – Seiya berrou se aproximando, enquanto a outra moça apitava um gol, sem se dar conta dos recém-chegados.
- Ol�, rapazes! Já estava me perguntando que horas viriam para c�! – ela sorriu. Um imperceptível brilho passando pelos olhos cálidos, pela alegria de ver seus amigos.
- Ah, você sabe, essa rotina de salvar o mundo lota a agenda da gente... – Riram deliciosamente, daquela forma que as pessoas só riem quando sabem que estão entre família e têm segurança o suficiente para largar de lado todas as suas reservas.
- Então... ajudante nova no orfanato, Minu? – Shiryu espiou por cima do ombro dela para mirar a jovem, levemente curioso.
- Ah, sim. Bem, me deixem apresent�-la a vocês. As crianças a adoram! Ally, vem aqui! –Minu chamou-a. Pareciam já ser bastante amigas.
A outra moça virou-se para olhar o pequeno grupo perto de Minu e tomou um choque. Não ao mirar o grupo inteiro de cavaleiros de bronze, mas um em especial. Seu sorriso se desfez de imediato. Reconheceria aquela cabeça loira em qualquer lugar! Maldito homem! Como poderia ser? O mundo é tão grande, então o que raios aquele imbecil estava fazendo ali? Será que ele não podia estar em outro lugar do mundo? De preferência em algum lugar realmente ruim... Dentro de um vulcão, debaixo de um trator... Em algum lugar em que ela nunca mais voltasse a vê-lo, como no fundo do oceano pacífico afundado com o Titanic!
E o pior foi que Hyoga também reconheceu aquele rosto tão singular, tão inesquecível, diga-se...
- VOCÊ! – exclamaram ao mesmo tempo, estupefatos. Os olhares que trocavam emanavam uma ira muito mal contida, o ambiente simplesmente começou a pesar e o ar parecia ficar mais rarefeito e de difícil inalação. Os espíritos inquietos de ambos pareciam querer pular fora de seus corpos e travar uma batalha por algo que os presentes nem imaginavam o que podia ser. A animosidade deles estavam além do alcance da compreensão de qualquer um dos presentes. Talvez nenhum deles tivessem um orgulho tão inflamado quanto os dois. Nenhum deles podia entender que era mais que simples animosidade, era a disputa entre dois egos feridos e prontos para tentar vencer e recuperar a suposta honra de que fora arrancada de si no encontro deles.
O espanto dos presentes era quase que palpável. Dúvidas e mais dúvidas pairavam sobre suas mentes.
- Er... vocês se conhecem? – Minu perguntou meio assombrada, meio relutante. Não queria ser ela a externar a dúvida que ela sabia pertencer ao grupo, contudo em meio ao silêncio ainda aturdido dos "bravos" cavaleiros, não viu outra solução a não ser ela mesma perguntar, já que a curiosidade era maior do que o medo de estar se intrometendo em algo que não deveria.
- Como não conheceria? Essa aí é a pirralha de rua que andou arrumando encrenca madrugada adentro! – Hyoga comentou com os dentes apertados. A ira que sentia não se comparava a nenhum outro sentimentos que jamais sentira na vida. Seu sangue fervia dentro de suas veias, parecia vir a cabeça numa velocidade gritante. Seria capaz de trucidar a garota a sua frente.
- Qual é! Se enxergou no espelho hoje, otário? Como se não bastasse ter se metido onde não devia e detonado o MEU canivete! – ela rebateu, indignada – e por falar nele, você ainda está me devendo um novo!
- Ah, tá. Vai esperando... – ele balançou a cabeça, irônico, a ousadia dela de ainda lhe cobrar o canivete o fazia sentir-se ainda mais ofendido – mas me faz um favor, espera sentada pra não cansar as pernas.
- Calma vocês dois! – Shun tentou intervir, quando ela quase avançou com as mãos em direção ao pescoço dele – Só falta sair fagulhas aqui!
- E vai sair em breve se o seu amiguinho aí não me der um canivete novo! Era um suíço! Sabe o quanto custa um canivete desses! –Ela perguntou infantilmente, sem perder o tom de eterna irritação. Assumiu um ar irônico – Algo que esse palhaço nunca vai conseguir pagar!
- Vou me lembrar disso quando descontar em você esse talho que o seu querido canivete me fez! – Hyoga desviou de Shiryu e Seiya, que deram um passo à frente na esperança de segur�-lo. Esquecera-se de todo seu cavalheirismo. Esquecera-se até de que era uma mulher que o enfrentava como gente grande. Os desafios que ela lhe propunha não eram coisas que crianças deveriam fazer, ela deveria estar com a bonequinha dela, brincando como toda pirralha- Isso o que dá deixar uma arma nas mãos de menininhas mimadas!
Um frio súbito começou a assolar o lugar. Hyoga já não conseguia controlar sua ira contra a garota que teimava em desafi�-lo, seu cosmo parecia querer explodir rapidamente e inundar todo o lugar com a fúria das regiões gélidas dos quatro cantos do mundo.
Em contrapartida, o lado oposto onde Hyoga estava, o lugar em que Alena ocupava, começou a esquentar catastroficamente. O sol parecia brilhar mais vigorosamente, fazendo que Minu começasse a se abanar por conta do calor. Os outros apesar de sentirem o calor, por haverem sido treinados para suportarem diferentes condições climáticas, não se importaram muito.
Fogo e gelo. Parecia que as forças naturais resolveram guerrear e tentar descobrir qual possuía maior grandeza.
Eles já iam sair das ameaças e partir para a luta concreta quando Minu se interpôs entre os dois e disse:
- Vocês não vão brigar na frente deles! Por favor, Ally-Ela tinha um tom agudo, aflito. Tipicamente preocupado. Tom que os garotos já estavam acostumados, porém a Ally se mostrava ser novo.
Alena suspirou, visivelmente decepcionada. Era uma grande oportunidade perdida, mas não havia nada que podia fazer. Queria acertar as contas com aquele ensebado, contudo sabia que o bem das crianças estava acima de qualquer coisa. Pois crianças devem crescer em ambientes alegres e pacífico, exatamente como fora negado a ela. Não podia descontar o fato de não ter tido a infância perfeita em crianças inocentes. Principalmente por casa de um idiota que se achava acima de todas as pessoas em sua grande prepotência. Ela estava certa, não é?
- Está bem, pelo menos por enquanto. – murmurou, olhando para os meninos, e depois dirigiu um olhar tipicamente frio e ríspido, contudo carregado de uma ira que fazia seus olhos faiscarem, como pequenas fagulhas em brasas, para Hyoga- Salvo pelo gongo desta vez, mas não prometo nada daqui em diante...
- Hyoga de Cisne, esse é o nome dele. – Ikki se meteu, bastante divertido com o pequeno teatrinho que se formou ali, talvez seria o primeiro a apostar em um dos dois, já que adorava esse tipo de jogo, antes que Hyoga pudesse retrucar – Você também não falou o seu nome pelo que pude perceber.
Alena e Ikki trocaram um olhar, de início desconfiado até um pouco agressivo, mas que foi tomando um ar mais íntimo com o passar dos segundos. Ela deu um sorriso malicioso, vendo que encontrara um cúmplice entre os estranhos. Um sorriso que deixaria qualquer pessoa desconcertada, menos aquele cavaleiro do fogo.
- Alena, ou Ally pra quem merece. Não sou mal-educada o tempo todo, somente com caras prepotentes, arrogantes e egocêntricos. – ela respondeu, sem desgrudar os olhos dele, e se virou para entrar atrás de Minu a fim de ajud�-la. Hyoga percebeu o comentário dirigido a ele, e certamente teria retrucado, se a maldita não tivesse lhe dado as costas! Odiava quando um adversário fazia isso! Shiryu deixou escapar um assovio baixo, agitando a blusa como se repentinamente estivesse fazendo muito calor.
- Caramba, ela é quente! Chega até a botar medo ver ela e o Ikki juntos! –Shiryu comentou em um tom brincalhão, no entanto, os presentes sabiam que o que o jovem falava era mais bela e pura verdade.
- Bom isso é exagero... – Shun não pôde deixar de sorrir com o comentário – Mas não ia gostar de estar por perto se os dois resolvessem se enfrentar, exceto talvez para assar uns marshmallows, e muito menos gostaria de estar contra uma dupla como eles!
- Sem levar em conta – Seiya se apoiou no ombro de Hyoga, que continuava estático a observ�-la andar – de que ela não parece nem um pouco com uma menina de rua. Não do jeito como o Hyoga falou, não é mesmo?
Alena parou ao ouvir essa frase. Estivera escutando tudo o que diziam com secreto prazer, mas aquela lhe dera motivos para rir. Decididamente hilários! Porque Minu não a contara sobre essas peças?
- Menina de rua? – perguntou, olhando-os de lado com um sorriso enigmático brincando nos lábios finos, estava em postura ereta um ar superior a rodeava – Uma ex-líder de gangue tomada como simples menina de rua? – e virou-se de frente – Essa é nova!
- Não deixa de ser verdade, não é? – Hyoga se manifestou pela primeira vez depois de minutos de mudez, sentindo um desconforto enorme em mirar tal pessoa como ela.
- Espera um pouco, você disse ex-líder de gangue! – Seiya se adiantou, surpreso – Então quer dizer que você não era tão indefesa como parece...
Alena deu uma risada que deixou-os intimamente incomodados. Ela era mais perigosa do que parecia. Divertia-se com o medo dos outros, brincava com as leis humanas e divinas, se pudesse... tão cruel quanto qualquer força do mal que já haviam derrotado.
- Eu? Indefesa? Ora, essa foi muito boa, devo admitir. Achei que cavaleiros de Athena fossem menos inocentes, principalmente você, Seiya de Pégasus! –O sarcasmo dela era irritantemente palpável. Tanto quanto o maldito ar superior- Era isso que eu tentava fazer esse idiota, entender. Não precisava que ele chegasse com o maldito estereótipo de herói. Mesmo que para um herói ainda falte melhorar muito.
- Como você nos conhece! – Shiryu perguntou, ainda mais surpreso. A cada minuto que se passava mais eles tinha a certeza de que ela não era uma garota comum. Apenas riu de novo. Parecia se divertir com as ignorância deles.
- Ah, fala sério! Vocês acham que eu não via aquelas tais guerras galácticas pela televisão? Embora na época eu devia ter o quê... doze anos? É, mais ou menos por aí. Eu ficava vendo aquilo, me perguntando pra quê aquela luta toda além de divertir um público idiota? –Alena respondeu curtindo com a cara assombrada de todos, seguiu com um tom intimo e provocativo- Confesso que intimamente ri quando Fênix roubou a armadura. Foi um ótimo showzinho! Torci pra que ele ficasse com a armadura. Pelo menos acabava com aquela coisa boba e sem qualquer utilidade, além de quase se matarem por objetivos deturpados.
- Luta sem sentido? – Seiya sorriu ao ouvir aquela opinião tão madura – Acha mesmo isso?
- Claro. Não tinha nenhum propósito interessante ver um monte de adolescentes lutando por uma armadura de ouro. – Alena deu de ombros parecendo não se importar – Quer dizer não era obvio que ia acabar matando uns aos outros antes conseguirem. Até beisebol é mais excitante.
- Por que não avalia por si mesma se a luta era sem sentido ou não? – Seiya deu mais um passo à frente, estalando as juntas. Os outros ficaram em alerta com esse gesto. Estava certo que a jovem provocava, mas isso não era motivo para Seya simplesmente fazer a barbeiragem que lhe viesse a cabeça.
- Não acho seguro você lutar com ela, Seiya... – Hyoga murmurou para o amigo, alarmado. Seya devia ser cauteloso e não louco o suficiente para fazer o que lhe viesse a cabeça sem avaliar as possibilidades – Você não tem noção do quanto ela pode ser forte!
- Nem você, já que não necessariamente lutou com ela, Cygnus – Seya respondeu, inconseqüentemente. O tom de voz mostrava a diversão que ele sentia.
- Pense, Seiya, Hyoga tem razão ao afirmar que ela é perigosa! – Shun emendou, cauteloso, sempre pacificador – Se ela realmente for uma líder de gangue...
- Vai saber três vezes mais técnicas do que imaginamos – Shiryu entrou na discussão – e seria extrema humilhação você perder para ela aqui, neste orfanato.
- Bom, se é assim, eu ainda quero ouvir mais uma opinião antes de decidir. – os olhares se viraram para Ikki, ansiosos por saber o que "a voz da experiência" diria– O que você acha disso, Fênix?
- Acho que quem deve saber se quer lutar ou não contra ela é você. – Ikki respondeu, indiferente. No fundo curioso por saber até onde ela poderia chegar, contudo manteve-se impassível.
- Vai demorar mais quanto tempo para anunciar que desistiu? – Alena cruzou os braços, divertindo-se com aquela situação – Ou vou precisar anunciar a desistência por mim mesma, ô capivara alada?
- capi... o quê! – Seiya exclamou exasperado.
- Isso mesmo que você ouviu. Não passa de um exibicionista! –Provocou-o erguendo as sobrancelhas com o seu divertimentos.
- Vamos ver quem é que se exibe aqui! – Seya disse aceitando o desafio e se colocou em posição de ataque.
- O primeiro golpe é todo seu... – "para te ferrar depois, narcisista!"
Seiya correu de punhos erguidos e deferiu um soco na face dela, mas Alena desviou como quem desviaria de uma folha. Os movimentos eram rápidos demais para serem percebidos a olho nu, e milésimos de segundos depois, ela enterrou com tudo o joelho direito no abdômen do cavaleiro, que voou para trás com o impacto, caindo em seguida no chão, ofegante.
Ikki teve a impressão de que ela não era apenas uma simples adolescente, pelo modo com que se movia, praticamente na velocidade da luz. Esse feito era impossível para uma simples humana, ou até mesmo para um simplório cavaleiro. Apenas cavaleiros de ouro se moviam a essa velocidade!
- Já no chão? – ela afastou uma mecha dos olhos, muito divertida com a situação – Achei que fosse durar além do primeiro golpe!
Seiya avançou de novo, porém dessa vez consciente de que ela contra-atacaria a qualquer momento. Infelizmente, aquele pensamento o fez diminuir a velocidade dos golpes, e um soco certeiro veio lhe atacar na base do queixo. Novamente caiu estirado no chão.
Daquela vez, Ikki não teve mais dívidas: Alena era sim treinada, e pelo visto uma amazona em potencial. Seu cosmo ficara muito em evidência no último assalto, assim como a sua capacidade de praticamente se teleportar de um lugar para outro. Olhou para os companheiros, mas eles não haviam notado nada. Estavam mais preocupados com a massa disforme caída no pátio, em outras palavras o Seiya.
- hunf! Muito fraco! – ela comentou com desdém, balançando a cabeça em desaprovação – E ainda se consideram cavaleiros! Fala sério... – e virou-se de costas, saindo em direção ao prédio do orfanato.
- Calma, Seiya! – Shun pediu, segurando o amigo pelos braços – você acabou de levar uma surra dela, esqueceu!
- Não! Me larga, Shun! Ela vai ter o que merece! –Seya teimou, saindo também com seu orgulho ferido. A dor no ego, parecia ser maior do que a que os golpes dela provocaram e olha que não foi pouca.
- Quem teve o que mereceu foi você – Hyoga o interrompeu, seguindo Alena com os olhos – Eu lhe avisei que ela era barra-pesada, mas você preferiu não escutar a gente!
-Bom, foi bastante engraçada a cara que você fez da primeira vez que caiu no chão. – Shiryu se permitiu um sorriso – Anda, vamos voltar para a mansão...
- Claro – Ikki concordou, virando-se por sua vez para o portão "e contar para Saori sobre a nova ameaça à solta... ela vai gostar de saber sobre a suposta deserdada do santuário" ele pensou, já apostando suas fichas naquela possibilidade. Os outros o seguiram para fora. Exceto Hyoga, que ainda olhou uma última vez para a porta, à procura de um sinal dela.
- Agora que você já sabe com quem lida, Ally – ele murmurou o nome dela com desprezo, quase enojado – Se prepare para a guerra aberta... – e seguiu os outros, sem saber que ela realmente o observava com um sorriso cruel, pensando a mesma coisa.
N/A: hahahaha! Essa guerra entre os dois só começou agora, e já começou, hum, meio quente, né? Bem, eu falei que isso não ia ficar restrito apenas ao casalzinho principal, porque seria muito egoísta da parte dela guardar os seus hã... dotes, apenas para um só... hihihi, eu a-do-ro quando ela faz essas maldades! Ah, desculpa, eu tava pensando em mais uma cena lá pra frente, nem um pouco inocente. E agora, mais um cap doido, não mais do que a sua autora...
N/E: Ih, eu sei que cena é essa... Foi a que eu escrevi, não é? Aquela é ótima! Adoro discussões, embora eu ache a Ally muuuuito m�! Eu sabia que ela seria m�, mas aí ela já tá rivalizando com aqueles deuses loucos que querem dominar o mundo...
Mas como a Mari disse, o trem piora... E muito! É só nos aguardar e comentar, porque sem a ajuda de vocês, a gente não sai do título do capítulo...
