Capítulo 4 – na Fundação
- Uma deserdada do santuário! – Saori se sentou ereta na cadeira, visivelmente interessada. Os olhos brilhavam perante a nova perspectiva – Tem certeza do que pode estar afirmando para mim, Ikki?
- Certeza eu não tenho, já que eu a conheci hoje à tarde. – Ikki se encostou na parede, intimamente satisfeito com a cara de espanto da deusa. Aquela cara incrédula já valia o que viera fazer ali. Não que ele gostasse de fofocar, porém certas notícias não podiam ser ignoradas.
- Mesmo assim, Ikki – ela conteve a surpresa, não gostava de mostrar seus reais sentimentos a um cavaleiro, temia que eles a pudessem desrespeitar por ser tão humana – eu preciso conversar com ela pra saber o que podemos ou não fazer. Mas me diga uma coisinha – se inclinou sobre a mesa em tom confidencial – ela bate tão bem assim?
- Bater! – ele caiu na risada – É só olhar para a cara inchada do Seiya naquela enfermaria e você vai ter a resposta. Ele queria jura-la de morte, mas pelo jeito o Hyoga já tinha feito isso antes.
- Hyoga? – aquela história estava ficando bastante parecida com uma novela. E olha que ela não estava nem gastando seu rico dinheirinho na tv a cabo para ter uma boa trama acessível...
- Eu não contei? – Ikki se sentou finalmente de frente para a deusa – Ele arrebentou a máscara dela num confronto aí pelos becos, a tal de Alena passou o canivete no braço do pato, que aliás fez picadinho de gelo do tal canivete. – acomodou-se na cadeira, sorrindo divertido - Agora ela quer acabar com ele por causa do canivete, e ele quer acabar com ela por causa do talho. Novelinha mexicana, hein?
- Então ela usava uma máscara? – recebendo um aceno afirmativo como resposta, continuou – É melhor o Hyoga se preparar, porque ele só tem duas portas para escolher!
- A velha história do matar ou amar... – Ikki revirou os olhos, levemente enjoado de toda aquela história – Ela não parece acreditar muito nessas baboseiras lendárias, Saori. Mas acho que vai usar isso como motivo para acabar com o nosso querido pato. E do jeito que ela é quente, teremos cisne assado pro jantar.
- Hum... onde vão fazer cisne assado? – Shun pôs a cabeça para dentro do escritório – Saori, o Seiya disse que quer sua autorização para incinerar um cadáver.
- Quê! – Saori se levantou da mesa. Um misto de surpresa e assombro lhe assolando a face.
- É que ele quer ir atrás da nossa nova arquiinimiga e fazer churrasquinho dela, ou pelo menos é isso que ele disse quase aos berros lá na enfermaria. –Shun disse também se divertindo com a situação.
- Ele é um biruta, Shun. – Hyoga comentou, empurrando o cavaleiro de Andrômeda porta adentro – Por que você ainda tenta levá-lo a sério?
- Bom, por enquanto todo e qualquer pedido para acabar com essa Alena estão negados. – ela sentenciou, deixando Hyoga e Shun boquiabertos – Ikki, existe a possibilidade de eu ter uma conversa com essa garota?
- Claro, eu só não sei se ela vai querer vir até aqui – Ikki deu de ombros, enquanto os outros tentavam recuperar a fala. Surpresas em sucessão haviam os deixado, meio... chocados, por assim dizer.
- Saori... – Shun falou devagar – você andou bebendo escondida ou algo assim? Você não a está escondendo num daqueles vários vidros de xampu seus, est�?
- Mas que idéia, Shun! Claro que NÃO! –Saori respondeu revoltada. Aquilo era jeito de tratar uma deusa?
- Bom, porque parece... –Shun respondeu num sussurro.
- Quer saber, vocês todos são muito preconceituosos – Saori saiu de trás da mesa e começou a andar pela sala enorme, com cara de quem ia passar o maior sermão em todo mundo – Mal conhecem a jovem e já querem acabar com ela? Pararam pra pensar que ela pode muito bem ser uma nova aliada nossa contra as forças do mal?
- Com aquela cara de perigosa? – Hyoga se exasperou – É bem capaz de ELA ser a nova força do mal!
- Já chega! – Saori se virou para encara-los , mal podendo conter sua exaltação– Amanhã eu vou até aquele orfanato, e nenhum de vocês vai me impedir de conversar com essa Alena, ouviram? A deusa aqui sou eu!
- Alena, você sabe alguma história? – Uma das meninas pediu, puxando as cobertas da cama. Hora de dormir no orfanato, depois de um dia cheio.
- Hum, sei várias. Eu sou da Índia, sabe... – Ela sorriu, passando para a garotinha a boneca que caíra no chão – Mas a maioria falam de guerras entre deuses, guerreiros valentes que viram estrelas de modo trágico...
- Você sabe histórias de outro país? – Minu se aproximou adentrando o aposento, trazendo um bolo de lençóis – Curioso, você nem parece ser indiana...
- É, não passei muito tempo na Índia mesmo... – Alena retrucou, incomodada. Era visível em seu rosto de que ela não gostava de tocar naquele assunto. Mas as crianças não tinham percebido. Eram tão inocentes ainda no campo de sentimentos... Bons tempos esses...
- Ah, conta uma história, vai... – Elas começaram a implorar, mas Alena se levantou da cama, saindo da sala. Minu observou a cena, surpresa, e depois de dar boa-noite às crianças com a promessa de que no dia seguinte a amiga lhes contaria uma história, desligou a luz. Encontrou-a compenetrada no pátio externo, olhando as estrelas.
- Ally? – Minu chamou, mas ela se fez que não tinha ouvido – Foi muito estranha a sua atitude lá no quarto das meninas. O que aconteceu?
Alena continuava a mirar o céu salpicado de pontos brancos e brilhantes, alheia à tudo. Suas atitudes eram tipicamente sonhadoras, nostálgicas talvez. Mas suas feições se contraíram de repente.
- Cygnus – ela murmurou entre dentes, mirando a tal constelação.
- Quê? –Minu perguntou completamente desentendida. Uma curiosidade gritante a assolando, muito mais do que ela gostaria de admitir.
- Cygnus, Minu. A constelação do Cisne, também conhecida como Cruz do Norte, o conjunto de estrelas mais brilhante do Hemisfério Norte depois da Estrela Polar.-Alena esclareceu lentamenrte, ainda sem encarar a primeira.
- O que tem de tão importante nessa constelação para você estar falando tão fervorosamente nela? –Minu via nisso a oportunidade de descobrir mais sobre aquela figura tão intrigante.
- Queria que ela se explodisse – desviou o olhar do céu e pousou na moça ao seu lado – De repente o maldito representante dessa armadura também sumisse do mapa! – suspirou.
- Está falando do Hyoga? – Minu finalmente entendeu – Por que você tem tanta implicância com ele?
- Não é implicância – ela corrigiu displicente, fingindo estar apenas tratando de um fato corriqueiro – É apenas uma vontade de não olhar para a cara dele, só isso. Olha, antes de vir para c�, eu fui mesmo a chefe da gangue mais barra-pesada de Tóquio, mas aí ele apareceu na minha vida e... eu acabei aqui, Minu... – sentou-se no balanço para as crianças, assumindo o ar nostálgico que ela tivera a oportunidade de lançar as estrelas anteriormente – Não estou querendo bancar a sentimental nem nada, só queria que as coisas acontecessem ao meu modo, como sempre foram.
- Mas nada acontece porque você quer, Alena! – Minu sentou-se no balanço ao lado, sorrindo compreensiva – Tudo na vida da gente tem um momento certo para acontecer. Quem sabe dessa sua implicância com o Hyoga não pinta algo mais? – e piscou marotamente.
- Que é isso! Sai pra l�, chispa fora! – e fez o sinal-da-cruz, tentando veementemente tirar aquela idéia da cabeça da moça – Não roga praga pra cima de mim, Minu!
- E isso por acaso é praga? – Minu não conseguia ficar séria diante daquilo.
- Claro que é, me condenar a me amarrar àquele chato, egoísta e metido! Prefiro passar a minha vida amarrada a pedras do que isso! Quem sabe um caminhão de coleta de lixo seja mais agradável que ele? –Ela torceu o nariz, com um ar de superioridade.
- Cuidado Ally... Você não sabe que o que se evita sempre acontece? –Mino respondeu assumindo um ar filosófico, como quem sabia das coisas.
- Comigo o destino não faz essa sacanagem. – Alena se levantou do banco e começou a andar de um lado para o outro – Primeiro, eu nunca fiz mal a ninguém para merecer um castigo desses, e segundo, eu não acredito em destino e baboseiras do estilo, tipo almas gêmeas, amor à primeira vista, coincidências... e por aí vamos.
- Você gosta de filosofia, hein? – Minu não evitou o comentário – por que não dá aulas em uma faculdade?
- Talvez não se perceba, mas eu tenho quinze anos – Alena suspirou, novamente amargurada. E depois pareceu frustrada – Droga, por que eu não tenho logo dezenove! Resolveria-se metade dos meus problemas!
Minu ficou em silêncio. Apenas ficar ali do lado dela parecia transmitir um calor muito grande, parecido com o calor de uma fogueira de acampamento. Já havia notado isso, claro, quando ela incendiara um palito de fósforo simplesmente o segurando entre os dedos. Mas nunca havia parado para pensar o que aquilo significaria. "não deve significar nada além do fato de que essa menina não é normal..."
Minu, não está com sono? – Alena a sacudiu levemente, de forma gentil. Talvez os cavaleiros de bronze não acreditariam que ela podia ser gentil... – Já está praticamente dormindo sentada!
Hum... é mesmo... – e bocejou – Bom, vamos entrar porque eu tenho a impressão de que o dia de amanhã promete, e muito!
Chegamos, senhorita – Tatsumi anunciou, abrindo a porta da limusine de frente para o portão principal do orfanato. Alguns meninos pararam de jogar bola ao verem o carro, mas a maioria estava sentada em torno de uma moça que Saori nunca tinha visto.
Então aquela é que é a Alena? – ela perguntou surpresa, mirando a inocente criatura (?).
Ela mesma! – Seiya confirmou com desprezo infantil - Mas não se engane com o jeitinho inocente da menina, porque ela é perigosa!
Anda, vamos l�! – Shiryu encorajou-os, descendo do carro, seguido por Hyoga e Shun – Um bom modo de ver como ela é de verdade é colocando o pato perto dela...
Os outros seguraram risadinhas, exceto, claro, o pato da afirmativa. Saori continuava a mirar hipnotizada a figura cercada de crianças. Emanava um cosmo poderoso e instável, mas com um quê de familiar, quase como se fosse parte dela também... Estranho. Como podia se ela jamais a vira antes?
Saori, acorda! – Ikki a chamou, desviando-a de seus devaneios – Vamos, você quer falar com ela ou não?
Se aproximaram devagar do grupo, ouvindo com clareza a história que ela contava:
... e logo depois, do sangue de Medusa surgiu um cavalo branco enorme, mais bonito que esses pôneis que vocês gostariam de ter, dotado de asas... –Alena mantinha um tom que nenhum dos presentes jamais presenciaram. Era um tom doce e suave, cheio de empolgação. A carapaça de frieza que ela costumava adotar parecia ter esvaecido perante os olhares inocentes e exigentes das crianças. Estas pareciam tão felizes e extasiadas quanto ela, por ter prendido a atenção do grupo de pequenos inquietos. Era na verdade uma cena tocante de se ver. Qualquer um que houvesse tido uma infância afastadas dos pais, ficaria emocionado com a demonstração de afeto dela pelos jovens que já carregavam o futuro da nação das costas. São os pequenos momentos mágicos que preenchem a vida de crianças sem família e as fazem crescer confiantes e felizes. Porque quando elas crescerem e estiverem em dúvidas quanto a aceitação da sociedade a elas, terão certeza de que em algum lugar do passado elas foram amadas de verdades, tratadas como qualquer outra criança que teve um lar.
Pégaso! – um dos meninos berrou.
Hei, o que andam falando de mim por aí? – Seiya se meteu entre a garotada, sorrindo, até chegar perto de Alena, que o observava com um olhar meio desconfiado, perdendo o ar doce com uma rapidez incomparável – Eu não sabia que você era contadora de histórias, Ally.
Mais ou menos. O meu avô contava melhor do que eu – ela deu de ombros – a maioria de histórias que eu sei são indianas, tibetanas e gregas. E aí, já melhorou da surra de ontem? – e sorriu marotamente, despida do desdém, adotando um ar quase enigmático.
Ah, esses incidentes desagradáveis a gente esquece, não é? – Seiya desviou um tanto encabulado, coçando a nuca como um moleque que não sabe mentir.
Alena, conta uma história romântica dessa vez, vai... – Uma das meninas pediu, seguida por um coro predominantemente feminino de "ah, vai...".
Gente, já é a quinta que vocês me pedem... – ela suspirou desanimada, um ar cansado se apoderou das feições leves da jovem – Olha só, os rapazes devem estar querendo brincar com vocês, e não me olhem com essas caras – e desviou os olhos daquele monte de olhinhos brilhantes para não ceder à tentação – que vocês não me comovem!
Ah, que droga... – e a turminha começou a se dispersar, permitindo que Saori se aproximasse do banco.
Oras, pelo jeito estamos mudando! – Shiryu comentou com um sorriso sincero – Nem parece a chata de ontem!
A 'chata de ontem' pode voltar ou não, dependendo da vontade de vocês. – ela respondeu secamente, os olhos já em chamas. O ar doce havia se dispersado e voltava a ativa a Alena durona – Só espero que não estejam aqui para serem humilhados de novo, embora eu faça isso com todo o prazer se quiserem...
Na verdade, a gente veio aqui porque a Saori quer conhecer você – Shun interrompeu sorrindo, dando um passo para o lado a fim de deixá-la passar.
Saori e Alena se encararam por um instante que mais pareceu uma eternidade. Uma parecia apenas avaliar a outra, medir forças, quem sabe. Os rapazes puderam contemplar nesse momento uma mudança curiosa se operar nas feições de Ally: a face ganhou um ar altivo, o canto da boca tremeu nervosamente, e os olhos negros brilharam com uma aura dourada bastante estranha...
Alena, cadê o apito? – um garoto puxou a calça preta dela, interrompendo o contato visual.
Quê? Ah, tá... – e entregou o apito de ferro na mão do garoto, que saiu puxando Seiya e os outros para o meio do pátio, onde os times se organizavam, deixando assim as duas sozinhas.
Prazer, Alena. – Saori estendeu a mão, tentando parecer simpática. Tinha algo naquela moça que a impelia a tratá-la como subalterna, mas não sabia explicar por que. Uma coisa que ela simplesmente não podia explicar, apenas sentir. Sentimentos contraditórios humanos, embora ela soubesse que era muito mais que isso. Supremo, divino. Vai saber. Ela não era boa entendedora de sentimentos. Apenas sabia a quem lhe pertencia o coração...
S-Saori Kido? – Alena se recuperou do choque, assumindo novamente um ar altivo. Ela não se intimidaria. Nunca! Jamais! Isso não estava em seu manual de conduta. Contudo, não podia esconder sua cruriosidade. – Espera, Saori Kido, presidente da Fundação Kido, veio até esse orfanato pra falar comigo?
O que há de errado nisso? – Saori riu com vontade. A garota devia ser mais comum do que pensava. Ela já estava acostumada àquelas reações ao redor de sua pessoa.
Tá TUDO errado! Bom, eu não sou procurada por pessoas importantes a negócios faz um bom tempo, talvez um mês ou mais, mas... –Alena parecia não estar preparada para aquilo, mas disfarçou o quanto pôde.
Eu não vim aqui a negócios! – Saori a interrompeu, com um sorriso, na tentativa de passar-lhe alguma confiança – Eu só quero conversar amigavelmente...
Alena mirou-a desconfiada. Franzia o cenho levemente.
Conversar? Amigavelmente? – mirou o céu claro e perfeitamente pintado pelos deuses naquele dia em especial, em cima de sua cabeça "ok, eu pedi um sinal do meu mestre, não um milagre!" ela pensou, para depois voltar os olhos para a moça de cabelos roxos parada a sua frente – Aconteceu alguma coisa no quadro mundial que foi minha culpa e eu não fiquei sabendo? Quem sabe descobriram que a bomba de Hiroshima e Nagasaki é minha culpa?
Hum, aqui não é o melhor lugar para se conversar. – Saori prendeu uma mecha de cabelo atrás da orelha com os dedos, parecia levemente ansiosa – Será que você podia ir comigo até a fundação? Eu não vou te prender lá nem nada. – apressou-se em dizer, quando ela abriu a boca, indignada – É apenas para conversar!
Se é assim, eu vou fazer esse esforço monumental... Minu! – acenou para ela, chamando-a, um sorriso brincando em seus lábios – Será que eu podia dar uma saída do orfanato?
Para onde? –Minu perguntou, não podendo conter a curiosidade. De certo modo gostaria de saber quais os segredos que rodeavam aquela jovem.
Até a Fundação Kido. Pelo visto, a Srta. Saori está querendo falar comigo. –Alena respondeu dando de ombros, como se aquilo fosse um fato corriqueiro e que todo bom milionário viesse a procurar todos os dias, para ter uma conversa educada acerca de alguma coisa completamente trivial.
Minu passou os olhos de Alena para Saori, que acenou levemente a cabeça em confirmação. Não saiba exatamente porquê, mas desconfiava de que seria algo decisivo que sairia dali pra ida de Alena.
Você acha que esse seu plano vai dar certo, Ikki? – Shun perguntou em voz baixa para o irmão, acompanhando as duas saíres pelo portão principal.
Shun, alguma vez você já viu alguma idéia minha para o bem dar errado? – ele indagou um tanto arrogante, enquanto elas entravam na limusine.
É pra responder? – Shiryu se meteu no diálogo, parando para ver o carro dar a partida e sumir da vista deles.
NÃO! – os dois responderam em uníssono.
Bom, agora é esperar pelos resultados. – Ikki esfregou as mãos, levemente satisfeito – Se tivermos um pouco de sorte, eu deixo de dormir num quarto só meu hoje à noite. – respondeu sugestivamente e voltou ao joguinho, deixando os dois a mirarem-no desconfiados (um olhar do tipo ��'').
Na Fundação Kido...
Alena, – Saori começou, pensando no que diria. Tinha que medir as palavras com aquela jovem, pelo menos foi o que os cavaleiros de bronze a preveniram – ontem, um de meus cavaleiros me contou o que você fez com o Seiya...
E a senhorita quer que eu me explique, não é isso? – Alena a interrompeu, alheia do fato de estar frente a frente com uma deusa. "Pouco me importa que eu acabe num caixão até o fim do dia... já estou ferrada até a quinta geração mesmo...''
Não exatamente. – Saori voltou a sentar na cadeira de seu escritório, já que passara os últimos vinte minutos andando de um lado para o outro atrás da escrivaninha – Na verdade, ele falou muito bem de seus dotes de luta para mim. – a expressão tensa da jovem à sua frente se desanuviou – Aliás, estou realmente convencida de que você pode ser muito mais competente do que muitos de meus cavaleiros. – sorriu por dentro ao ver que ela reprimia um sorriso de orgulho, tentava se manter firme e ela não esperava menos dela – E eu gostaria de fazer um trato com você.
Trato? – os olhos de Alena chisparam com a menção, um sorriso sagaz surgindo do rosto da jovem – Eu não costumo fazer tratos com gente que acabo de conhecer, por mais confiáveis que me possam parecer.
Sei o que quer dizer, mas... considere, Alena! – Saori voltou a torcer as mãos, começava a temer pela resposta da jovem – Eu também fiquei sabendo o que você foi antes de estar naquele orfanato, e sei muito bem que, se qualquer um ali abrir a boca, você iria direto para a cadeia por formação de quadrilha, mandatos de homicídio, extorsão de dinheiro, e muitas outras coisas absurdas!
Tirando o mandato de homicídio, realmente eles têm do que me culpar. – ela se apoiou sobre as mãos, parecendo refletir sobre a situação, porém não parecia se sentir culpada, já que um sorriso mordaz era o que ela tinha crivado nos lábios – Além de processos por lesões corporais graves ou não, chantagem no mais alto grau...
A minha proposta é a seguinte – Saori recomeçou, sentindo-se encorajada pelo fato dela escutá-la e ponderar sobre o fato – eu limpo seu nome na Justiça e você fica livre de todas as acusações, desde que você trabalhe para mim, não como empregada, mas como os outros rapazes: em defesa da paz.
E quanto aos bônus? – Aquilo começou a interessá-la, principalmente a parte de se livrar de seus antecedentes criminais. Era uma chance de começar exatamente do zero. Quem sabe poderia viver dignamente dali em diante. Isso se não se metesse em mais roubadas, conhecendo a si mesma.
Hum... você passa a morar aqui na fundação, junto com os outros, sob o meu comando. – Saori disse num sorriso, sentindo que de certa forma conseguiria ganhá-la.
Espera, vamos com calma... – Alena fez um gesto impaciente – Se eu porventura aceitar esse tal trato, eu passo a ser também um cavaleiro, ou melhor, uma amazona, a serviço da deusa Athena em defesa da paz mundial, por mais batido que já esteja esse clichê enganoso?
Exato. –Saori sorriu divertida, pelo modo como ela falara. Ela tinha mania de dramatizar as coisas ou fora apenas impressão sua?
Segunda parte: – ela continuou o raciocínio – eu fico com a ficha limpa na polícia, e passo a morar numa mansão, veja bem, uma MANSÃO, onde eu posso encher o saco daquele seboso do Cygnus até me fartar!
Se quiser ver por esse lado, é isso mesmo! – Saori sorriu mais abertamente.
Está maluca! – Alena saltou da cadeira, um sorriso enorme iluminando-lhe o rosto – Fechado! Quando é que eu posso me mudar para c�?
Imediatamente, se achar melhor! – a deusa também se levantou da sua cadeira, acompanhando-a à porta com uma sensação de satisfação imensa crescendo no âmago– Venha, eu vou lhe mostrar a mansão...
Meia hora depois, os cinco cavaleiros chegam à mansão, depois de um bom bate-bola com os garotos. Apesar da enxurrada de protestos, até mesmo Seiya, que normalmente fica até mais tarde por lá (e que se encontrava num estado de lastimável imundice por conta da transpiração excessiva...), resolveu passar a noite na Fundação. Mas talvez o motivo real tivesse sido a vontade deles de não toparem com a segunda ajudante após a tal conversa com Athena.
E então, como deverá ter sido a conversa? – Seiya perguntou em voz alta, se jogando no sofá da sala de estar. Pobrezinha da tia da limpeza...
Bastante insatisfatória, espero – Hyoga murmurou, se aproximando da janela. Desviando sua atenção da maldita pirralha, ou ao menos tentando...
Em qual sentido de insatisfatório, eu gostaria de saber. – uma voz partiu de perto da porta, e todos os rapazes olharam em direção. Lá estava Saori, olhando-os inquisitiva, acompanhada daquela garota que eles desejavam ardentemente nunca mais terem de suportar... Mas que exibia aquele sorriso malicioso, observando pausadamente a cada um.
A-Athena! – Shun saltou do sofá onde havia acabado de sentar.
Bom, pelo visto a conversa demorou, não é mesmo? – Shiryu também desencostou da parede, bastante desconcertado.
O suficiente para que nós chegássemos a um acordo! – Saori respondeu, olhando de relance para Alena – Ela ficará conosco, em troca de seus... hum, serviços, pelo santuário.
QUUUÊÊÊ? – Hyoga berrou sem querer, incrédulo. Não, aquilo já era um pesadelo... Deus, como podia alguém ser tão azarado?
Pois acredite se quiser, Cygnus... – Alena se manifestou pela primeira vez, deixando os olhos desdenhosos prenderem-se aos horrorizados dele. Um olhar que dizia com todas as letras: agora que eu estou por perto, você não vai ter como escapar de mim...
Os outros cavaleiros continuavam mudos, espantados demais com a revelação. Menos Ikki, que ria-se por dentro com a situação. Bem peculiarmente o modo dele!
Bom, se vocês não fizerem objeção, você divide o quarto com ela, Ikki. – Saori anunciou, quebrando o silêncio tenso que se formara.
Com todo o prazer... – Ikki murmurou sorrindo, mirando-a com grande interesse. Era a oportunidade que queria para saber o quanto ela era poderosa. E ela também sabia disso, pela cara de extremo contentamento que fizera.
Claro... – ela murmurou distraída. Devia estar perdida em suas próprias inteções sobre os próximos passos.
Espera, Saori! – Seiya foi o primeiro a despertar do transe de horror – Você tem certeza do que está fazendo?
É claro! – ela respondeu, se retirando da sala acompanhada dos outros cavaleiros ainda meio abobalhados – Não tenho dúvida alguma de que essa Alena ainda poderá ser útil para nós.
Bom, você é quem sabe... – Seiya deu de ombros. Parecendo por fim, resignado.
Enquanto isso, na sala haviam permanecido apenas Hyoga e Alena, mirando-se como se quisessem se matar.
Era isso quase você queria, não era? – ele perguntou, a voz carregada de raiva – Descobrir onde eu vivo, se infiltrar nos MEUS negócios...
Na verdade, não! – ela deu de ombros, num sorriso maligno – A sorte veio ao meu encontro e se dispôs a me ajudar. E agora – olhou-o com um ar quase que mortal – é melhor preparar as asinhas de cisne, porque eu vou pegar pesado nesse nosso joguinho. Não vou perder para um simplório cavaleiro de bronze.
Dizendo isso, saiu da sala, deixando um Hyoga perplexo para trás, além de um rastro de perfume de cravos.
N/A: hum... devo dizer que foi bastante difícil fazer esse cap porque eu não tenho lá muito tato para cenas de diálogo, sabe... mais um motivo para o pessoal deixar rewiews me criticando! Podem escrever, por favor! (não economizem ao dizer o quão incompetente uma autora dessas pode ser!)
Sobre o cap... essa guerra se inicia aqui, e vai ser digna de um troféu de Sobrevivência a Bombas Verbais, ou assim espero! Claro, toda e qualquer sugestão vai ser muito bem aceita, até mesmo porque eu preciso de uma grande lista de foras que os pombinhos de penas viradas podem trocar entre eles... Per favore ME AJUDEM! I NEED SOME HELP! (ai, céus, que trágico...)
E, claro, como prometido, o primeiro rolo da Ally vai ser com o IKKI, não com o Hyoga... e apostem suas fichas em qual douradinho eu posso resolver mexer, dependendo do meu surto de loucura na hora (cara, a garota é paciente terminal! Onde já se viu, uma pirralha de quinze anos com aqueles verdadeiros deuses de ouro... suspiros). Sabem, eles resolveram me colocar numa camisa de força mais larga, assim dá pra desamarrar o nó com mais facilidade...
N/E: Um sutiã na Ally!
Érato (musa da poesia erótica)- Uma calcinha de renda vermelha na Ally.
Polínia (musa da poesia sacra)- Que falta de respeito com os leitores! Fighter e Érato, vocês duas não têm vergonha na cara!
Érato- Nossas vergonhas ficam em outra parte do corpo... He,he,he.
Polínia: O nível desceu mesmo! Dá pra senhoritas pararem de apostar? Que coisa feia! A Fighter é menor de idade, Érato! Não a leve pro mal caminho, sua múmia tarada!
Fighter- Eu acho que eu ainda tenho opinião! Eu quero apostar meu sutiã de renda preto, dá licença! Não posso? Todo mundo aqui tá cansado de saber que não tenho uma moeda no bolso! Então deixa eu apostar o que é meu, oras. O máximo que vai acontecer, é eu perdê-lo para alguém ( que espero que não seja m maníaco sexual!)...
Sobre esse capítulo... Não teve grandes alterações. Só imploro para os leitores fazerem o favor de deixar reviews, se não for muito incômodo. Sabemos que não somos autoras de mãos cheias (de calos de tanto escrever), mas nós tentamos... Eu mesma só tenho uma fic da qual me orgulho (O Poder de Um Sorriso)a, pois me considero um lixo, como autora... Então boas almas caridosas, apiedem-se de nós duas e deixem um coment, por mais simples ou singelo que seja, porque nós precisamos sagamente... digo... cegamente (que piada tosca!) da opinião de vocês, isso é se estiver alguém lendo... Rudo o que peço é um simples "olá". Nem que seja pra esculachar...
Clio (musa da história)- Estás mesmo no fundo do poço, querida! Já chegou ao nível de implorar...
Fighter- Ei, eu tenho orgulho! Eu não estou implorando... Só... Só... Estou pedindo ansiosamente para que eles nos mandem algo...
Clio- Sei...
Tália- E eu sou o Cupido!
Fighter- Oras, não me descreditem na frente de todos...
Tália- Só se vocês publicarem "Razões para ser Eu Mesma", que já tá pronta faz tempo...
Fighter- Vou pensar. APERTÕES NOS TRASEIRO DE TODOS! Principalmente no do MILO! Até mais!
