Capítulo 6 – sobrenomes infames

Mais uma semana se passou desde o incidente no quarto, e os cavaleiros de bronze tiveram de admitir que a barulheira de quebra-quebra já estava ficando alta demais, e suspeita demais também. Na mesa de café no sétimo dia, Shun não agüentou mais o silêncio mortal de todos os dias e suspirou alto, chamando a atenção de todos os presentes.

Droga, não agüento mais esse ar pesado todo dia de manhã! – ele reclamou, seu rosto angelical marcado pela chateação.

Bom, a culpa é desses seus colegas maldosos que ficam aí perdidos em pecados da mente... – Alena comentou, sem se alterar. Neutra, enquanto passava distraidamente manteiga no pão.

Pecados da mente? – Seiya rebateu, levemente exasperado – A culpa é de vocês, que ficam nos dando todos os motivos para pensar maldade... A gente não é surdo, sabia?

"Se fossem, seria um peso a menos nas minhas costas!" ela pensou, mas guardou esse comentário para si. Não queria que a discussão se tornasse pior, embora confessasse a si mesma que adoraria bater em alguém logo cedo. Uma seção de porrada bem cedo fazia qualquer um exultar em bom-humor.

Pois é, agora mudando de assunto: – Saori se permitiu um sorriso, não tão malicioso, embora o suficiente para que se percebesse o que ela opinava sobre aquilo – a noite pelo jeito deve ter sido boa, porque a barulheira de ontem foi infernal...

SAORI! – Hyoga berrou, se manifestando pela primeira vez na discussão – Eu estou a fim de comer, se der! – desviou os olhos de Alena, que finalmente pousara a xícara em cima da mesa com a mesma calma irritante de sempre. Não sabia se suportaria aquele olhar meio endiabrado sem ter ganas de esganá-la. Eles falavam dela o que bem entendiam e ela se quer se preocupava. Como podia ser tão imparcial, principalmente em se tratando de sua fama (ou má-fama)? Parecia que não era nem com ela que falavam... Como podia ignorar a todos daquela forma?

Bom, a conversa ainda não chegou na Sibéria, patinho. – Alena comentou suavemente, mas com uma carga sobrenatural de desagrado na voz. Todos os que assistiam a cena pararam o que faziam para olhar o russo, que se avermelhara ligeiramente. Ela o provocava deliberadamente, e conhecendo o querido e amado pato, ele não iria deixar de graça para a "pirralha".

Eu ainda não me dirigi a você hoje, se bem me lembro. – ele contra-atacou rispidamente, dando de ombros, ignorando-a como se ela não passe de uma peça de mobília – A não ser que eu esteja surdo, o nome que eu falei foi Saori, e não Alena!

Os olhares se voltaram para Alena, que tinha um brilho estranho nos olhos profundos. Um brilho quase ferino. Estava pronta para o ataque, e o primeiro que cruzasse o seu caminho, agüentaria as conseqüências.

Ainda bem, porque eu não suportaria ouvir um nome como o meu numa boca tão ridícula como a sua! –Ela respondeu ríspida, sem se quer dar-se o trabalho de fitá-lo, mostrando seu desprezo crescente.

Novamente os olhares em cima de Hyoga, que já havia se levantado da cadeira realmente irritado.

E você acha realmente que eu iria perder o meu tempo falando de alguém tão fútil e chata como você? – Ele respondeu rapidamente, sentindo-se açoitado por uma raiva homicida - Se enxerga!

Espera um pouco! – ela também se levantou da cadeira irritada – Que eu saiba, a única pessoa realmente fútil e chata aqui é você, que com certeza deve perder horas de sono tentando descobrir que tipos de barulhos são aqueles que vocês tanto consideram maliciosos!

EU perder horas de sono por mesquinharia desse nível! Qual é, pode ter a certeza de que a única coisa que eu quero é que...

QUE? – Alena berrou de volta, fazendo a toalha sob suas mãos fumegar, anunciando um princípio de incêndio.

PÁÁÁÁRAAAAAAAA! – Saori berrou, fazendo os dois a mirarem ao invés de tentar se matar com o olhar – ACABOU! CHEGA DE DISCUSSÃO! Shun, hoje mesmo você troca de quarto com a Alena e se muda para o quarto do seu irmão!

Mas isso significa que... - Andrômeda começou a falar.

A gente teria... – Hyoga continuou, estupefato.

De DORMIR NO MESMO QUARTO! – Alena finalizou, incrédula com a atitude da deusa.

Isso é para vocês dois baixarem a bola de uma vez com essas discussões infantis! – Saori explicou, de cara feia. Um meio sorriso se formando nos lábios. Parecia um daqueles sorrisos de louco que acaba de ter uma idéia genial. Faltou pouco para a Deusa gritar "Eureka! Eureka!".

Ou no mínimo a coisa vai piorar... – Seiya murmurou para si mesmo.

Os dois brigões se entreolharam, ainda sem acreditar no que ouviam. Ambos desviaram o olhar em seguida, ainda ignorando-se mutuamente.

Mas nem morto que eu aceito uma coisa dessas! – Hyoga protestou, indignado. Parecia que haviam injuriado sua mãe tamanha a raiva que sentia.

Saori, pensa bem, se você realmente preza a pele desse traste é melhor desistir dessa idéia ridícula! – Ally parecia raciocinar com um pouco mais de clareza após o choque.

Assunto encerrado! – a deusa foi irredutível, o sorriso havia desaparecido. Ela queria mostrar o quão firme estava sobre o que decidira – A não ser que eu tenha de levar isso a um tribunal de Athena, e o Kamus não ia gostar nem um pouco disso se estivesse vivo, não é, Yukida?

Hyoga engoliu em seco diante daquela ameaça e saiu realmente zangado da sala, sentindo dois malditos olhos de fogo a medirem seus passos, quase que odiosamente. Entrou feito um tufão em seu quarto, jogando-se de qualquer jeito na cama de lençóis azuis, a cabeça ainda latejando com a nova realidade. Será que a maldita não podia ter ficado quieta apenas uma vez e engolido a provocação? É claro que se ela não o tivesse provocado, eles não estariam naquela situação... Era tudo culpa dela!

Iria ter de se acostumar com a presença repulsiva dela, com o fato de que acordaria todos os dias e daria de cara com ela na cama ao lado... Era isso ou apostar na justiça de Athena, a quem ele recorreria apenas em último caso, por se tratar de uma mulher e cavaleiros egocêntricos narcisistas, na opinião dos cavaleiros de bronze.

"Droga, por que esse tipo de coisa só acontece comigo?" ele pensou aborrecido antes de cair no sono, ignorando o borrão de tons de vermelho e marrom que pareceu tomar a sua vista. Não sabia, mas os dias que se seguiriam seriam de pura adrenalina...

Alena havia o seguido logo após o cavaleiro deixar a mesa, igualmente a fervilhar de raiva, mas havia se dirigido diretamente para o quarto do pato, a fim de prosseguir com a discussão, mais acaloradamente do que nunca. Ao se aproximar da cama, porém, constatou com decepção que ele havia dormido de novo. Balançando a cabeça em desaprovação, fechou a porta do quarto, indo cuidar dos preparativos para a mudança fora dos planos.

Algumas horas depois, Hyoga sentiu que despertava, mas a lembrança de tudo o que se passara de manhã o fez ficar de olhos fechados na cama, tentando dormir de novo. Estava quase alcançando seu intento quando um burburinho de vozes o fez despertar por completo.

Uma das vozes, ele identificou ser de Shun.

Essa noite vamos poder dormir em paz ou não, Ally? – ele perguntava em voz baixa. Num tom peculiarmente maldoso.

Bom, isso vai depender dos fatores em volta. – a garota respondeu, bastante passiva – Em resumo, eu estou elétrica demais pra dormir.

Entendo, tomar uma bomba dessas logo no café da manhã... – suspirando, Shun prosseguiu – Mas tira uma curiosidade minha: qual era o real motivo da barulheira, porque mal-intencionada ela não foi ao todo!

Uma risada baixa. Hyoga aprumou-se ligeiramente, a fim de ouvir tudo o que diziam. Admitia que estava levemente curioso. E não deixaria passar aquela oportunidade de descobrir do que se tratava os ruídos estranhos no meio da noite.

E não foi mesmo, os seus colegas é que são um bando de pervertidos! O seu irmão queria saber se eu lutava ou não, aí insistia em ficar me testando todas as noites, e no quebra-quebra a gente se empolgava, e fazia mais ruídos do que o sensato... –Alena respondeu, a voz soando despida da irritação crescente habitual.

Testar você? – Andrômeda continuava confuso – Como assim?

Oras, meu colega, você realmente acha que eu não sei me virar na hora de uma boa luta? – riso de desdém – Não creia que eu ganhei o título de criminosa de rua mais procurada à toa!

Eu sei... vai ficar por aqui? –Ele perguntou, por fim.

Talvez. Não tem mais nada pra fazer agora à tarde, de repente até dê pra tirar um cochilo. E você? –Ela pensou um pouco, mas foi inconclusivo. Talvez fizesse mesmo o que dissera.

Vou ajudar o pessoal na reforma daquele singelo quartinho no fim do corredor. – a voz de Shun tinha um certo tom irônico – A destruição foi total...

Som de uma porta batendo. O cosmo de Shun já havia se afastado, ficando apenas aquele cosmo sufocante, quente demais pro seu gosto. Não pode deixar de notar o quanto ele lhe era familiar, mas de onde seria? Altivo, poderoso, instável, oscilando entre a calmaria e a explosão... Virou-se na cama para observar a cama vizinha, onde Alena tinha se esticado e já cochilava tranqüilamente.

"Ah, pelo menos dormindo ela aparenta a idade que tem..." ele pensou sorrindo, apoiando-se nos cotovelos para olhar melhor o corpo ao lado, a uma cama de distância. Seu olhar se desviou então para o mostrador do relógio de cabeceira, onde marcava uma hora da tarde. "Caramba, dormi tanto tempo assim? Que fome..." finalmente reuniu forças para sair da cama e procurar alguma coisa pra comer. Lançando um último olhar para o interior do quarto, fechou a porta.

Kiki! Eu já estava ficando com saudades! – Minu exclamou, abraçando com força o pequeno ruivinho recém-chegado, três semanas depois.

Eu também! As coisas lá em Jamiel estavam meio pesadas, realmente muita coisa pra fazer. – Kiki se libertou do abraço sorrindo, e olhou em volta – Cadê aquela outra garota que trabalhava aqui, a Eire?

O sorriso de Minu de desfez.

Sumiu faz uns meses. – Sentou-se num dos bancos, subitamente desanimada – Ninguém tem notícias do paradeiro dela.

Puxa, por que você não nos avisou, Minu? – Shiryu questionou, surpreso. Mal acabara de chegar de viagem, levara o pequeno diretamente para o orfanato, a pedido de Saori – A gente teria procurado por ela mais cedo...

Não é preciso. – ela ergueu-se de repente, tentando parecer despreocupada, mas com um quê de tristeza brotando nos olhos – Tenho impressão de que a essas horas ela está muito bem.

Mas... Mas sumir assim de uma hora pra outra não é normal. – Seiya redargüiu, levemente revoltado – É muita falta de consideração dela, na minha opinião.

Bem, falta de consideração ou não, eu estou morrendo de sede, então com licença que eu vou procurar um bebedouro. – Kiki abriu a porta do refeitório, não querendo se meter na conversa. Sabia exatamente o que a garota desaparecida significava para os cavaleiros, sobretudo para um certo russo. Até a achara legal a princípio, mas nada que ultrapassasse uma certa desconfiança sua, brotada da convivência a antiga com os cavaleiros de ouro.

"Uma pena que ela tenha resolvido abandonar o Hyoga, mas bem que ele merece coisa melhor" pensava distraidamente, esbarrando sem querer em uma figura saída de um corredor lateral. Caiu ligeiramente no chão e ergueu os olhos para protestar, mas tomou um choque ao reconhecer a sua "atropeladora".

Ai! Droga, foi mal, baixinho... – Ally se virou para ajudá-lo, mas também congelou ao vê-lo – KIKI?

Eu não acredito! Você por aqui, Alena? – Kiki apoiou-se no braço que ela estendeu para ajudá-lo, mas teve a boca imediatamente coberta ao sentir-se novamente em pé.

Fala mais baixo! – ela sibilou nervosamente – Está querendo que todo mundo aqui saiba que você me conhece?

Mas que paranóia é essa? – ele reclamou, escapando das mãos dela – Você sempre afirmou que nunca ia se esconder de ninguém!

É, mas o caso é que eu não estou necessariamente me escondendo, apenas adiando as responsabilidades. E o que me diz de você? – cruzou os braços, desconfiada – Não me diga que ele te mandou um recado do além pra vir pra cá só pra me vigiar?

Para seu governo, ele não faz a mínima idéia de onde você est�, e se quer saber, ficaria muito feliz em saber que você finalmente tomou jeito e vive de modo justo! – Kiki rebateu, andando ao lado de Alena pelo corredor.

Hunf! Temporariamente, você quer dizer... – Ally resmungou, estancando no corredor – Me faz um favor, Kiki? Finja que não me conhece! Eu não vou agüentar ninguém pegando no meu pé por eu ser...

Por você ser o quê, Senhorita Alena? – uma das portas laterais se abriu, dando passagem a Saori, Ikki, Shun e Hyoga, que haviam chegado a instantes no orfanato, com o propósito de fazer uma visita.

E-eu? – pela primeira vez, eles tiveram a oportunidade de vê-la corar e gaguejar por não saber o que dizer, logo ela, a mestra da língua-afiada... – Eu não sou nada não...

E o que me diz de você e o Kiki serem relativamente conhecidos, pelos gritos que ouvimos no corredor? – Hyoga disparou com um sorrisinho vitorioso, recebendo um olhar fatal em resposta.

Nós, conhecidos? – Kiki fez-se de desentendido, sentindo a pressão psicológica que a jovem impunha sobre ele – Não, eu só esbarrei nela no corredor e... e...

E possuem até mesmo pessoas em comum – Ikki meteu-se na conversa, doido pra ver o circo pegar fogo (literalmente!) – Ah, conta outra, vocês dois! Tá na cara que vocês se conhecem, e não é daqui, nem de agora!

Kiki mirou Alena resignado, encarando sem muita convicção os olhos negros que o fuzilavam.

Alena, não acha que é melhor você falar a verdade logo de uma vez, ao invés de ficar prolongando? –Kiki disse sem ver mais saída da situação.

Ela mirou o pequeno grupo com certa rebeldia, desviando do olhar indulgente do ruivo. Não precisava dar satisfações a ninguém de sua vida, ela era dona do seu próprio destino! Cerrou ligeiramente os punhos.

não preciso partilhar a minha vida pessoal com ninguém. – ela murmurou friamente – Isso não está em nenhuma cláusula do contrato que eu assinei, senhorita Kido.

Mas no contrato diz que você não pode questionar ordens de Athena, Ally. – Saori redargüiu, sem perder a calma – E a minha ordem agora é que você fale tudo.

"Não se pode contrariar uma ordem de Athena... onde é que eu já ouvi isso? Ah, sim. Meu mestre, como sempre..." ela refletia, sentindo os olhares caírem cada vez mais inquisidores sobre si. "Não, ele não gostaria que eu desse um bolo desses... tudo bem..." – Certo, já que vocês querem saber todos os meus podres, eu vou satisfazer a curiosidade de vocês – sorriu – claro que não no meio do corredor.

Então por aqui, por favor. – Saori indicou uma sala de aula à direita.

Bem, eu vou lá chamar o Seiya e o Shiryu, se me permitirem. – Shun avisou antes de sumir pelo corredor. Os demais entraram na sala, acomodando-se nas cadeiras diminutas. Ally permaneceu de pé, parecendo muito tranqüila. Dez minutos depois, os cavaleiros restantes irromperam porta adentro.

Oba, vamos ter uma tarde de revelações? – Seiya se animou, puxando uma das cadeiras. Parecia uma criança que iria ouvir sua história infantil favorita.

Por onde quer começar? – Saori perguntou, sentada na mesa de professor.

Bem, acho que pelo meu nome em si. – Alena pegou um giz na beira do quadro-negro e escreveu em letras de fôrma:

ALENA CLARISSE ROVENNE SAMOYA

Os espectadores leram o nome em silêncio, surpresos. Ally esfregou as mãos, respirando fundo.

Bem, pra começar, eu sou a herdeira mais velha de uma maldita geração de totalitaristas provenientes de Nova Délhi, capital da Índia. A família Rovenne, como o nome denuncia, é uma mescla de ingleses e franceses que se mudaram para lá na época neocolonialista, antes da Índia ser declaradamente um estado independente, claro. – pigarreou – Isso pelo lado da minha mãe apenas, já que pelo lado do meu pai, o sobrenome Samoya, eu também seria dona de uma verdadeira fortuna em artefatos locais, provavelmente agora em museus ou nas mãos do tráfico negro.

Ally fez uma pausa, esperando alguma declaração, mas já que permaneciam em silêncio, tomou fôlego e continuou:

Os Rovenne possuem uma cadeia de indústrias tecelãs no país, e absolutamente dominam todo o mercado indiano com seus produtos. Essa cadeia é comandada pela minha querida avozinha, Anne Mignoretti Rovenne, a mulher mais impiedosa que se tem notícia. – suspirou amargamente, sentindo o peso do nome de acabara de pronunciar. Odiava pensar na maldita! Por mais que ela tivesse seu sangue, era por culpa dela que ela não tivera a infância que toda criança tem direito, ao lado dos pais. Tudo agora era culpa daquela... Daquela...

Anne Mignoretti... – Saori repetiu em voz baixa, pensativa – A dona das empresas Saint Riches?

A própria. – Alena confirmou, ainda com o sorriso amargo – Pelo visto teve o desprazer de conhecê-la.

Ela mantém relações diplomáticas com a Fundação Kido. –Saori respondeu como se o fato fosse corriqueiro.

Hum... ah, sim, é mesmo! – Ally escorou-se no quadro – É, eu lembro do meu avô já ter comentado alguma coisa relacionada a Mitsumasa Kido... Mas voltando: ela tinha cinco filhas, a mais velha delas minha mãe, Beatriz Rovenne. As outras quatro, infelizmente minhas tias, viviam em pé de guerra com ela, justamente por ser a mais velha e a indiscutível herdeira das empresas. Para piorar, minha avó detestava a mamãe. Pra ela, era a ovelha negra da família.

Cruzes, parece até filme de cinema! – Shun comentou, aprumando-se na cadeira.

Bom, só mesmo a minha história pra ser assim... E a minha vida realmente igualou-se a um filme americano barato quando meus pais se envolveram. Meu pai era um ex-rico, falido por culpa da minha família, aliás. Teria virado um romance do tipo Romeu e Julieta se minha avó não o tivesse mandado executar às escuras. – balançou a cabeça tristemente – Fez isso mais para magoar a minha mãe do que por querer o bem dela...

Você então praticamente não conheceu o seu pai? – Seiya indagou, internamente penalizado.

Nem minha mãe, mas isso só vem mais lá pra frente. – Ally andava de um lado para o outro – Imaginem vocês, quando a minha avó se achava vitoriosa em arruinar a vida da filha, descobre que o meu pai deixou marcas um pouco mais relevantes do que o esperado. – sorriu ironicamente – Nove meses de espera, e nasce essa renegada que vocês vêem a sua frente, sem defeitos a legítima herdeira de uma fortuna estonteante... Foi a gota d'água para abrir-se uma verdadeira rixa interna entre as irmãs, só que eram quatro contra uma. Minha mãe só contava com o pai, meu avô. – os olhos assumiram um ar sonhador, nostálgicos e até emocionados – Ele impediu que mamãe fosse expulsa de casa com uma criança de dias no colo, enfrentou minha avó de um jeito que ninguém mais além de mim teria coragem nos dias de hoje.

Alena parou pela segunda vez, respirando fundo. Não poderia deixá-los ver o que se passava por dentro de si... Não sem despejar a história toda. Ela não queria se emocionar! Ela era a mulher de aço. A senhorita fria e sem emoções que não se importava com nada além de si mesma!

Minha... minha mãe morreu quando eu tinha um ano de razões desconhecidas. Não cheguei nem a conhecê-la, não me lembro nem do rosto dela. Vovô dizia que eu não pareço com ela fisicamente, mas que ele sempre a via nos meu olhos... – desviou os olhos para o quadro, engolindo em seco. Chega! Não era hora para sentimentalismo barato. Ela carregara aquela cruz durante todos os dias de sua vida. Não era hoje que iria se emocionar por nada... Ao menos era nisso que ela queria acreditar...

Alena, se não quiser continuar... – Saori começou, vendo o quanto se tornava difícil falar do passado.

Não, eu to bem... – limpou o rosto escondido, não permitindo que eles vissem qualquer sinal de fraqueza – Bem, minha avó bem que tentou me colocar em um orfanato, mas foi quando ela e meu avô brigaram mesmo, a ponto de fazer tremer os alicerces da casa. Ele fugiu comigo para o interior do país, para a região da fronteira com o Nepal. Eu fui criada no meio do mato até os quatro anos, na minha opinião o melhor tipo de infância que eu poderia ter. Tudo bem que era uma das regiões mais pobres do país, mas o modo com que a gente levava a vida, sempre no improviso, fez com que a situação se tornasse bem mais suportável, no meu ver de criança de quatro anos. Mas novamente a maldita sociedade deu um jeito de estragar a minha vida... – o rosto tomou feições duras – Meu avô foi brutalmente assassinado por maníacos religiosos, seguidores da religião brâmane e adoradores fanáticos da Deusa da Morte. Na minha frente.

Quê? – Seiya ergueu-se da cadeira, estupefato.

Na... Na sua frente? – Shiryu perguntou horrorizado, recebendo um aceno afirmativo como resposta. Todos os presentes estavam ligeiramente chocados.

Mas que tipo de gente é essa que mata inocentes em nome de deuses? – Hyoga questionou, não deixando de admitir que ela tinha sim um passado dignamente sombrio para alguém daquela classe. Nem ele podia ser tão arrogante quanto a isso. Talvez agora não a culpasse tanto por ser tão arrogante e auto-suficiente. Ela tinha seus motivos. E dos bons.

Gente sem cérebro, posso garantir. – Ikki mexeu-se na cadeira, mirando o nome no quadro-negro.

Até hoje eu ainda me lembro da cara sem feições daqueles idiotas... – os olhos flamejaram de raiva com as lembranças. Uma folha que ela mirava do lado de fora da janela se pulverizou.

Por Deus, Ally, como foi que você saiu dali? – Shun estava mais curioso do que aterrorizado.

– Eu era a próxima da lista a ser executada, ou mais precisamente, eles já tinham partido na minha direção com as espadas levantadas, quando eu fui milagrosamente salva por um misterioso homem... – ela olhou na direção de Kiki, que estava sentado mudo a um canto, e sorriu misteriosa – Que me criou pelos dez anos seguintes no meio do nada que as pessoas chamam de Jamiel...

... obviamente pelo meu mestre, Mu de Áries... – Kiki sorriu de volta.

Quer dizer que você foi treinada pelo MU! – Hyoga levantou-se num pulo – E como a gente nunca percebeu isso?

Bom, talvez pelo fato de que vocês não se interessam por coisas tão frívolas, não é? – Alena voltou ao costumeiro ar de malícia – Senão, talvez tivessem se perguntado por que eu praticamente não tenho sobrancelhas... – e ergueu a farta franja, revelando dois pontos roxos no meio na testa.

Eu não acredito nisso... – Seiya se sentou novamente no lugar, com um trejeito de riso – Quer dizer que, esse tempo todo, você era realmente uma amazona...

de Prata, para seu governo. – Alena o interrompeu presunçosamente – Pela constelação do Cruzeiro do Sul, que sempre guiou a minha mãe, embora não tenha armadura de verdade.

E ainda por cima de prata! – Ikki começou a rir abertamente – Mas isso explica o dobro de poder se comparado a um de nós, a velocidade impressionante...

E a chatice também, com certeza! – Shiryu começou a rir também – Só podia ser isso...

Pelo menos agora entenderam por que não dá pra ficar contrariando toda hora? – Kiki cruzou os braços atrás da cabeça – A gente sempre corre o risco de se queimar. Embora o Mestre Mu a tenha proibido de usar os poderes de psicocinese em benefício próprio.

Bom, e agora que eu falei a minha vida inteira pra vocês, me dêem licença porque eu tenho mais o que fazer! – Alena desencostou da parede e saiu da sala, ignorando os olhares zombeteiros em sua direção, mas ainda assim com um fundo de simpatia.

N/A: Voilá, está aí! O passado completo da Ally! Bom, já deu para acharem onde está o segundo furo dessa história, não é? (e olha que demorou, já que aquela bendita tubulação estourada já foi até consertada... em compensação, choveu pacas por aqui nos últimos dias...) Eu não sabia que um dos soldados de Éris era da constelação do Cruzeiro do Sul (para piorar, era feio pra burro!), mas acho que não vai interferir muito no andamento das idéias, já que nem armadura de verdade ela tem. Aí vocês me perguntam: mas por que ela tem de ser justamente dessa constelação? Bem... ( sorrisinho pretensioso ) vocês vão ver em breve...

A idéia de ela ser da Índia me veio do nada, já que eu precisava de um país do Oriente bem quente (em ambos os sentidos) pra justificar de ela ser treinada pelo Mu (aguardem, eu já tenho meus pauzinhos à postos...), mas eu não sabia que o Shaka também era de lá. Ele e a Ally são parentes distantes lá pelo décimo grau ou vigésimo por parte de pai, o que não conta também. Bem, qualquer idéia picareta (mais do que esse cap, impossível!), mandem rewiews, por favor... (e pedido: quem souber falar "por favor" em francês me mande uma rewiew também, porque eu estou querendo saber como é que se diz... sabem como são as coisas, eu me amarro num francês...)

N/E: Prefiro gregos... Aioria, Aioros, Saga e Kanon (se não me engano) e acima de tudo e de todos: o MILO! Muito gostoso, Inteligente, Lindo e Orgulhoso! Baby, I love MILO!

Sinto muito Thiago, meu namorado imaginário (só assim pra mim ter um), mas eu te trocaria pelo Milo! Uma apertadinha no traseiro dele e eu já ficava feliz!

Sobre esse capítulo, a Ally pode muito bem não ter ficado até o fim do treinamento e não querer a armadura... Escolha da veneta que é sua personalidade, oras.

Gente, as musas sumiram...

Euterpe (musa da poesia lírica) – É que estamos ocupadas. Por causa de vocês, o serviço de Afrodite está atrasado, e estamos trabalhando dobrado! Mas a Érato falou que vai dar um help no próximo capítulo... Sei que ele tá quente! Polínia se recusa a lê-lo!

Fighter- Bem, está certo. Gente reviews, por favor... Ah, Brigada pela homenagem, Mari... Pô, a Alena se chama Rovenne... Quase igual ao meu nome... Thank you! Meu peito está inchando de orgulho... (Até demais pro meu gosto... Deve ser a maldita virose que peguei...)