Título: O julgamento das sete mortes
Ficwriter
: Kaline Bogard
Beta:
Akemi Hidaka
Classificação
: yaoi, sobrenatural
Pares
: YohjixKen
Resumo:
O que parecia um inocente pedido de ajuda transforma a vida de Yohji numa corrida contra o tempo.


Records of 2004 a.C.

O julgamento das sete mortes
Kaline Bogard

Capitulo 03
As regras do jogo

(Karen) O objetivo do jogo é muito simples.

Observou atentamente Yohji, que havia se aproximado do patamar da escada, e à Shouji, que permanecia parado no meio da sala empoeirada, encarando a ruiva, como se tentasse adivinhar-lhe os pensamentos.

(Yohji) Continue.

(Karen) Você terá que encontrar os pais de Shouji. E você terá apenas um mês pra isso.

(Yohji sorrindo) Há. Isso será fácil.

(Karen sorrindo) Se fosse tão fácil, nós seis não teríamos falhado...

(Yohji) Vocês seis, quem?

(Karen) Você vai conhecer. Enquanto você faz as investigações, os seis jurados vão tentar impedi-lo, Yohji. É uma aposta de alto risco. O juiz escolheu você, mas nós não acreditamos que você complete essa missão. Então fizemos uma aposta: se você não for bom o suficiente, não passará pela provação e vai morrer. Se você conseguir... nós perdemos nossas almas...

(Yohji) Não compreendo o que quer dizer com isso.

(Karen) Se chegar ao fim do jogo, você vai entender. Mas eu sei que você é fraco... não vai conseguir passar nem pela primeira morte!

(Yohji)...

(Karen) Eu vou ser a primeira jurada. Meu veredicto é "culpado" até que se prove o contrário...

(Yohji suspirando) Não seria 'inocente até que se prove o contrário'?

(Karen) Por aqui as regras são diferentes... e então? Você aceita? Ou vou ter que pedir pro Ken?

(Yohji irritado) Que intimidade toda é essa?

(Karen) Não mude de assunto. Está tentando me enrolar? Cada segundo pode ser crucial, pra VOCÊ. Eu não estou brincando, e o preço será alto, se não acreditar em mim...

(Yohji) Certo. Eu tinha concordado em encontrar os pais de Shouji, mesmo sem toda essa palhaçada. Não sei por que tanta graça. Pra que essa história de 'jogo', 'morte' e 'alma'...

(Karen sorrindo) Fico muito feliz! Quero que assine aqui.

(Shouji sério) Karen... está passando dos limites...

(Karen) Não interfira, Shouji. Não tem poderes pra isso quando a decisão é unânime.

(Shouji) Vocês andaram tramando as minhas costas... não vou esquecer disso...

(Karen) Não tenho medo. Estamos cansados de sua enrolação, e não vamos correr riscos dessa vez.

Desceu a escada e parou próxima a Yohji, abrindo o livro em uma página em branco.

(Yohji) Você quer que eu assine um papel em branco?

(Karen) Sim. De-me sua mão...

Meio desconfiado, o playboy obedeceu, surpreso ao ver que a ruiva pegava um punhal de prata do bolso do casaco.

(Yohji) Ei!

(Karen) Vou fazer um corte pequeno, é apenas um pacto de sangue!

(Shouji)...

(Yohji) Espero que esse punhal esteja desinfetado... não quero pegar nenhuma infecção...

(Karen)...

Suspirou, como se estivesse tratando com uma criança impertinente. Depois segurou na mão esquerda do detetive. Yohji sentiu um arrepio, ao ver como a mão da ruiva era gelada.

(Yohji) Fria...

(Karen rindo) "Mão fria, coração quente", não é o que dizem?

(Yohji desconfiado) Você não é uma vampira, é?

A garota arregalou os olhos.

(Karen) Defina vampira.

(Yohji) Ora, você sabe... seres das trevas... se alimentam de sangue e têm medo de cruz... essas coisas...

(Karen) E não saem à luz do sol... seria isso?

(Yohji)...

Sentiu-se um completo idiota. Devia ter ficado de boca fechada...

A garota riu mais um pouco e apertou a mão do playboy entre seus dedos frios. Depois fez um pequeno corte no polegar do detetive, pressionando o punhal de leve. Uma gota de sangue pingou sobre a página incrivelmente branca.

Ao tocar no papel, o sangue se moveu, e tomou a forma de uma impressão digital. Surpreso, Yohji imaginou que deveria ser a sua digital, marcada em sangue naquele livro.

(Yohji) Como... como fez isso?

Mas Karen não respondeu, continuou observando o livro, onde pequenas letras vermelhas começaram a surgir. O playboy tentou ler o que estava escrito, mas ele não reconheceu a linguagem.

(Karen) Obrigada! O jogo começa agora! Que vença o melhor!! Ah, não se esqueça que eu lhe dei três dias de lambuja. Ao por do sol da próxima lua cheia o primeiro jurado vai se pronunciar. Espero que esteja preparado...

(Yohji) Garota estranha...

(Karen) Estranha? Vou me lembrar disso, na hora de testá-lo.

Ela afastou-se do loiro, e aproximou-se de Shouji. Depositou a mão sobre o ombro do rapaz, e deu um apertão.

(Shouji)...

(Karen) Ele é fraco, mas é bonito! Pelo menos você favoreceu as garotas dessa vez! No entanto não pense que eu vou pegar leve com ele por causa disso, Shouji.

(Yohji) !!

(Shouji) Karen, vocês vão me pagar por essa insolência.

A garota observou os olhos frios de Shouji por um instante, depois deu de ombros. Sabia que estava brincando com fogo.

(Karen) Desculpa, mas você sabe de quem partiu a idéia, não é?

(Shouji) Sei... aquele desgraçado se diverte com isso tudo.

(Karen baixinho) Shouji, você não escolheu bem dessa vez! Mas agora é tarde pra mudar sua opinião. Esse garoto aí não vai conseguir, e você sabe disso, não é?

(Shouji baixinho) Ele vai conseguir sim.

(Karen baixinho) Yohji precisa sobreviver pelo menos quatro vezes, pra ser aceito, e nesse caso... não creio que ele consiga...

O loiro tentava escutar o que eles diziam, mas os dois estavam sussurrando muito baixo.

(Shouji) Deixa que EU me preocupo com isso.

(Karen) Sei... mas nossas almas também estão em jogo, Shouji.

Não esperou a resposta, e afastou-se, saindo para a cozinha. Yohji voltou os olhos verdes para o garoto, demonstrando sua raiva por tudo aquilo.

(Yohji) Vai se explicar agora?

(Shouji) Acho que Karen já explicou tudo, não é?

(Yohji) NÃO. Que papo foi esse?

(Shouji) Vença o jogo e vai descobrir. Você está irritado. Não deixe que seus sentimentos atrapalhem seu raciocínio. Vamos embora.

Afastou-se, ganhando o caminho em direção a cozinha. Yohji suspirou, e olhou para o polegar esquerdo, que ainda sangrava de leve. Levou o dedo aos lábios, sugando devagar. Uma dorzinha chata percorreu seu dedo, mas nada insuportável. Já tivera ferimentos piores.

(Yohji) Essas crianças... agora me vêm com um pacto de sangue... eu não preciso de mais nada mesmo...

Acabou indo embora.

oOo

(Ken) Yohji!! Você parece estranho... não encontraram nada dentro da casa mesmo?

(Yohji) Hn...

Não se sentia disposto a revelações. De vez em quando o loiro olhava para Shouji através do espelho retrovisor, mas o garoto de olhos azuis estava entretido observando a paisagem da rodovia deserta.

(Ken) E porque demoraram tanto?

(Shouji) Revistamos cada cômodo da casa...

(Ken) Ah...

Olhou surpreso para o rapaz. Quase se esquecera de que ele estava ali atrás, tal era o silêncio em que Shouji mergulhara.

(Yohji) Desconfio que estava perdendo nosso tempo...

Os olhos verdes novamente buscaram Shouji pelo retrovisor, e então o playboy descobriu que era fitado intensamente pelos olhos azuis. Parecia que o garoto o estava repreendendo... Yohji estreitou os olhos de maneira desafiadora. Estava começando a se encher daquela história.

(Ken) E o que vamos fazer agora?

(Yohji pensativo) Vou entrar em contato com a imobiliária, talvez eles tenham alguma informação sobre os pais de Shouji.

O loiro lembrou-se da segunda peça do quebra-cabeças: um vilarejo chamado Kimitsu... mas era cedo demais para procurar se envolver com isso... tinha que esgotar as opções antes de ir atrás de uma pista tão conturbada.

(Ken) É... parece uma boa idéia. Eu posso ligar amanhã se você quiser...

(Shouji) Não faça isso.

(Ken)...

(Shouji) Yohji tem um compromisso comigo. Não é, Yohji?

(Yohji)...

(Ken) Mas... só quero ajudar.

(Shouji) Você pode ser envolvido em acontecimentos que não pode controlar... acho que Yohji não vai querer isso...

Lembrava-se do fator decisivo que fizera o playboy aceitar receber o julgamento das sete mortes...

(Ken) Se Yohji vai se envolver em algo perigoso, quero estar junto dele!! Não vou deixar que faça nada arriscado...

(Shouji) Tolo...

(Yohji irritado) EI!! Não discutam como se eu não estivesse presente!!

(Ken)...

(Shouji)...

(Yohji) Ken, eu não vou fazer nada perigoso, não se preocupe! Shouji, eu já aceitei ajudá-lo, estou seguindo as suas regras, então não seja audacioso... e não pense que pode me dizer o que fazer.

(Shouji ofendido) Estou tentando ajudar...

(Yohji) Certo, mas pra me ajudar você não precisa falar desse jeito com o Ken, não é?

(Ken) Yohji...

(Shouji) Dois tolos. Por favor, vou descer aqui...

(Yohji) Ainda estamos em Shibuya...

(Ken) Não precisa ficar nervoso.

(Shouji) Eu tenho que falar com algumas pessoas... depois a gente se vê.

Yohji não discutiu mais. Estacionou o carro e observou enquanto o garoto saltava, indo embora sem se despedir. Depois saiu cantando os pneus, meio indignado com tudo o que se passara.

Até entendia que fosse importante para Shouji se encontrar com os pais depois de tanto tempo.

Aquilo tinha um certo ar tragicômico. Talvez Shouji e aquela garota ruiva, Karen, achassem que sendo pressionado, ele trabalhava melhor... dar o prazo de um mês... essa era ótima.

(Yohji pensando) E se eu não resolver tudo em um mês? Eles vão me matar?

Olhou para Ken, que estava ao seu lado. Querer envolver o moreno nisso era muita pretensão. Usá-lo como objeto de chantagem. Mas porque o playboy aceitara aquela brincadeira toda?

Porque no fundo, sabia que algo estava errado. Não sabia o que poderia ser... mas... os olhos de Karen eram muito... reveladores... não havia o brilho divertido como seria de se esperar no caso de uma brincadeira...

Apesar daquele 'pacto de sangue' ser muito infantil, tinha um que de assustador... ainda se impressionava ao lembrar do sangue assumindo a forma da sua digital esquerda... e aquelas letras que surgiam no papel branco... muito estranho mesmo!! Se fosse um truque... era por demais bem feito, tinha que admitir...

Bem que ele gostaria de ter entendido o que estava escrito... parecia latim, mas o playboy não poderia ter certeza, já que não tivera tempo suficiente para ler com calma...

E Karen mencionara 'outros'... mais crianças sinistras participando da peça a ser pregada?

Talvez devesse apertar Shouji um pouco mais, tentar arrancar a verdade disso. Acabou por suspirar exasperado. Tinha certeza que mesmo se torturasse o moleque não lhe arrancaria nada. Isso lhe dizia sua apurada intuição...

(Ken) Yohji... ta tudo bem?

(Yohji)...

Percebeu que se distraíra, e ignorara o amante sentado ao seu lado.

(Ken) Achei que você voltou da casa meio pálido...

(Yohji) Er... você não viu ninguém enquanto vigiava a casa?

O moreno pensou por alguns segundos.

(Ken) Hum... tive a impressão de ver uma garota ruiva escapando pelos fundos, mas... quando dei a volta, não tinha nada. Acho que foi imaginação...

(Yohji) Ah...

Não fora imaginação. E não diria nada sobre aquele encontro ao amante ainda. Queria reunir mais fatos, antes de sair por aí revelando desconfianças ridículas. E no fundo, talvez não fosse mais que uma brincadeirinha de crianças.

Uma brincadeira de muito mal gosto, diga-se de passagem.

Com alívio, ambos perceberam os contornos da vizinhança onde se localizava a Koneko. A floricultura parecia como um abrigo, do qual sentiram falta.

(Yohji pensando) Um abrigo? Não preciso de abrigo. Nem estamos em uma tempestade...

Então um pressentimento lhe fez imaginar que talvez o mau tempo se aproximasse...

oOo

A segunda feira passou tão depressa e foi tão atribulada, que Yohji e Ken não tiveram tempo de se dedicar às investigações. Aya estava no hospital desde cedo, acompanhando os métodos do novo médico... Omi saíra em uma excursão com a turma da escola para estudos práticos, e ficaria o dia todo fora.

Yohji e Ken estavam fazendo dupla jornada cada um, o ruim era que estavam passando por uma fase atribulada. A novela exibida atualmente era um extremo do romantismo, e marcava as pessoas pela importância das flores na trama. Logo 'flores' se tornara uma das novas manias nipônicas. Era moda nacional mandar e receber buquês de flores...

Isso era bom e ao mesmo tempo não era...

(Yohji suspirando) Poderíamos ficar ricos com isso...

(Ken) Sei... se não morrermos de exaustão antes...

(Yohji) Graças a Kami sama terminamos por hoje...

(Ken) Amanhã Aya e Omi vão cobrir nossos turnos, pra compensar, não é?

(Yohji) É.

(Ken) Poderíamos sair um pouco e...

(Yohji) Não. Amanhã eu preciso investigar a imobiliária. Eles não quiseram me dar nenhuma informação por telefone.

(Ken) Ah... tinha me esquecido disso.

(Yohji) Pois eu não.

E como poderia?

(Ken) Se quiser eu te levo de moto.

(Yohji) E estragar meu penteado ou correr o risco de cair da moto... do jeito que você corre?... Não, obrigado.

(Ken irritado) Não enche, Yohji!!

(Yohji sorrindo) Eu vou de carro.

(Ken) Ok. Eu também vou, mas quero dar uma olhada nas peças de reposição daquela loja.

O playboy riu, e puxou o moreno para um abraço apertado.

(Yohji) Vai torrar seu salário com a moto de novo?

(Ken sorrindo) Sim!

(Yohji) Bobo...

(Ken) Olha quem fala! Mas... é melhor fechar a Koneko antes que chegue mais alguém...

O loiro concordou e logo se entretinham em fechar a floricultura, e mais tarde, se divertiram ao preparar o jantar.

oOo

(Karen suspirando) Você vê, Shouji. Ele não está nos levando a sério.

(Shouji)...

O garoto de longos cabelos negros não perdoara seus companheiros. Eles haviam desconfiado de sua escolha, agido às escondidas e preparado tudo aquilo. Claro que não era contra as regras revelar o jogo ao escolhido, mas...

(Karen) "Não se diz ao rato que ele está no labirinto", não é?

(Shouji) Isso pode atrapalhá-lo.

(Karen) Você tem um coração generoso demais. Vai ser sua perdição.

(Shouji) Não deveria dizer isso. Afinal, fui eu quem escolheu e derrotou cada um de vocês seis.

(Karen) E nós somos mais fortes que Yohji, não é? Por isso todos se preocuparam. São as nossas almas que estão em jogo, Shouji.

(Shouji) Nossas almas... em troca de mais uma vida?

(Karen) Já devia ter se acostumado. Nós somos seus inimigos, Shouji. Mas... não entendemos porque você escolheu alguém tão fraco.

(Shouji) Se engana. Yohji não é fraco. Ele vai vencer o desafio. Eu sei que vai.

(Karen) Você está sendo arrogante. Fez uma má escolha, admita.

(Shouji) Entendo. Vocês vão arriscar tudo, apenas pra provar que eu me enganei, não é? Só querem rir as minhas custas!!

Ambos estavam parados em frente a Koneko, percebendo que a mesma estava sendo fechada ao fim do expediente. Sabiam que Yohji e Ken estavam lá dentro, mas os dois se mantinham na penumbra, para não serem reconhecidos.

(Karen) Talvez.

Estendeu a mão para tocar em Shouji, mas o garoto afastou a mão dela com um tapa irritado.

(Shouji) Não me agrade. Nem você nem esses traidores malditos. Vocês querem rir de mim, não é? Mas eu que vou rir por último.

Saltou, desaparecendo por meio das trevas.

(Karen) Pobre Shouji. Não sabe perder...

Falava agora com os outros personagens da história. Não podia vê-los, mas sabia que estavam ali. Eles nunca se afastavam muito.

(Karen sorrindo) O prazo acabou. Amanhã eu vou entrar em ação... e não vou facilitar as coisas.

Esfregou as mãos de modo ansioso. Não se agüentava de expectativa... queria provar pra Shouji, que o integrante daquela tal de "Weiss" não passava de um pobre fracote.

(Karen) Ele é um fraco, e vai morrer... eu juro!

Continua...