Título: O julgamento das sete mortes
Ficwriter: Kaline Bogard
Beta: Akemi Hidaka
Classificação: yaoi, sobrenatural
Pares: YohjixKen
Resumo: O que parecia um inocente pedido de ajuda transforma a vida de Yohji numa corrida contra o tempo.
Records of 2004 a.C.
O julgamento das sete mortes
Kaline Bogard
Capitulo 04
Morte
Muito irritado Yohji estendeu o braço de desligou o despertador. Já estava na hora de levantar, mas a cama estava tão quentinha! Tão gostosa... ainda mais com o moreno em seus braços...
O loiro olhou pra baixo, focalizando o amante adormecido. Geralmente os dois passavam a noite no quarto do assassino mais velho, e dessa vez não fora diferente.
Com muito cuidado Yohji desvencilhou-se dos braços do jogador e conseguiu levantar-se da cama sem despertar o namorado. Depois pegou umas peças de roupa e foi para o banheiro. Queria tomar um longo banho, mas teve que esperar um pouco, parado na porta do mesmo, já que alguém estava usando. Os quatro preferiam o banheiro de cima, cujo chuveiro esquentava mais.
Alguns minutos depois Aya saiu lá de dentro, usando uma toalha para secar os cabelos ruivos. Era óbvio que tinha se banhado também.
(Aya)...
Ergueu uma sobrancelha ao ver o playboy parado ali, feito uma estátua. Ainda mais sendo tão cedo, num dia que recebera folga.
(Yohji sorrindo) Bom dia! E sua irmã?
Aya passou pelo companheiro sem se preocupar em responder o cumprimento ou a pergunta. Não estava com ânimo.
O playboy arrepiou-se todo e pensou em dar uma ferroada atravessada naquele ruivo grosseiro, mas Omi saiu do quarto naquele momento, e o loirinho parecia ter ouvido o monologo involuntário do ex-detetive, pois tratou de alertá-lo.
(Omi) Bom dia, Yohji! A irmã de Aya não está nada bem... deixe-o em paz, por favor.
(Yohji) Ah...
Olhou na direção seguida pelo líder da Weiss, que não estava mais a vista.
Fungou e dirigiu-se ao banheiro. O ruivo que se ajeitasse com seus problemas.
oOo
(Yohji suspirando) Então vocês não podem me ajudar?
(Atendente) Sinto muito, senhor Kudou.
(Yohji contrariado) Tsc. Não se preocupe.
(Atendente) Bem, se trata de informação muito antiga. Nessa época, nossa imobiliária pertencia a outro dono. O senhor Kojiki faliu, e teve que passar a empresa para o conglomerado Tasuke & Tasuke. Nós apenas demos continuidade aos negócios antigos.
(Yohji) É...
(Atendente) Pra piorar, os dados de 1990 a 1996 foram perdidos durante o grande terremoto que ocorreu em 96.
(Yohji) Vocês foram atingidos durante os tremores?
(Atendente) Quase toda Tókio foi.
(Yohji) Então não consta nada em seu computador?
(Atendente) Eu nem trabalhava aqui na época.
Queria mostrar com isso que era jovem. Afinal estava conversando com um loiro dos mais atraentes... era óbvio que gostaria de ter a atenção dele pra si.
(Yohji pensativo) Certo...
Levantou-se e deu uma piscada para a mocinha que corou toda envergonhada.
(Atendente) Ah...
(Yohji) Você foi muito gentil. Obrigado.
Deu as costas e afastou-se. Ainda pode ouvir um profundo suspiro emitido pela jovem atendente. Em outros tempos teria dado meia volta e convidado a garota para almoçar. Mas agora não faria isso.
Claro que usara seu charme pra tentar arrancar as informações da garota, e inventara uma longa e triste história sobre parentes que não via a muito tempo e que não conseguia restabelecer contato...
(Yohji) He, he...
Não era culpa sua, ter esse ar galanteador... e não podia desperdiçar os dotes que Deus lhe dera.
(Yohji) E agora?
Ajeitou os óculos escuros na ponta do nariz e olhou para cima, observando o céu cinzento de Tókio.
Sobrava apenas a pista de Kimitsu. Talvez encontrasse algo por lá. Não tinha muitas escolhas, visto que suas informações esfriaram. O problema era se as coisas em Kimitsu dessem erradas. Se não encontrasse nada por lá...
(Yohji) Mas é a única pista que eu tenho.
O loiro respirou fundo. Pensou em seus antigos contatos. Não era mais detetive, mas não havia rompido com os parceiros daquela época. E pra falar a verdade eles poderiam lhe ajudar com o caso. Deviam saber de algo.
(Yohji) Hum... Emiko ainda está no quinto distrito... ele deve ter trabalhado nessa época...
Referia-se ao investigador chefe de um dos distritos policiais de Tókio. O cara era veterano no departamento. Seria uma boa chance de saber algo sobre o caso.
Readquirindo a confiança, o loiro chegou ao local onde estacionara o carro, e logo deu a partida, rumando para o sul da capital, indo de encontro ao quinto distrito policial.
O local era uma correria danada, como a maioria das instalações policiais.
Yohji era muito conhecido na delegacia, e não teve problemas em ser recebido pelo amigo.
(Emiko sorrindo) Yohji! Há quanto tempo!! O que o traz a mim? Algum caso, sem dúvida... você só vem aqui quando precisa de ajuda...
O playboy sorriu para o outro.Emiko tinha quarenta e oito anos, olhos negros e cabelos castanhos. Era muito alto e forte, de músculos potentes. A primeira impressão podia se achar que Emiko era muito pesado e lento... mas era uma aparência enganadora. Emiko se tornara mestre em Kung Fu, e além de agilidade, tinha reflexos invejáveis. Yohji estava frente a frente com um dos melhores policiais de Tókio, se não do Japão.
(Yohji) Er... olá, Emiko.
(Emiko) Não fique acanhado. Sei que você não é! Esse tipo pode convencer as garotas, mas eu sou imune ao seu charme.
(Yohji)...
(Emiko) Você não mudou nada. Apenas emagreceu um pouco... tem se cuidado, garoto?
(Yohji sorrindo?) Claro! Não comece a agir como se fosse meu pai!
(Emiko) Não posso evitar! Se eu tivesse filhos sei que os trataria assim.
(Yohji)...
(Emiko) E saber que você não tem um mínimo de juízo ou noção não diminui minha preocupação em nada...
(Yohji) Obrigado pelo 'sem noção'...
(Emiko sorrindo) Vamos almoçar. Assim podemos conversar melhor.
O loiro concordou com o investigador. Seria bom conversar com ele.
Dirigiram-se a um restaurante que ficava nas proximidades. Depois de fazer os pedidos, iniciaram uma conversa mais séria.
(Emiko) Então... no que se envolveu dessa vez?
(Yohji) Um caso de rapto. Ocorreu a onze anos atrás.
(Emiko pensativo) Hum... faz tempo.
(Yohji) Família Yasutaka. O filho único foi raptado. Tinha quatro anos e se chamava Shouji Yasutaka.
(Emiko) Ah... me lembro desse caso.
(Yohji surpreso) Como pode se lembrar? Já são onze anos...
(Emiko) Mas é difícil esquecer um caso desses.
(Yohji) Como assim 'um caso desses'?
Fez um sinal a garçonete, pedindo uma segunda latinha de cerveja.
(Emiko sério) Yohji, ainda continua um alcoólatra?
(Yohji)...
(Emiko suspirando) E aposto que fuma mais que uma chaminé!
(Yohji) Ora, Emiko, não começa!! Fale-me sobre os Yasutaka. Como você pode se lembrar de um caso que ocorreu a mais de dez anos? Sei que sua memória é excelente, mas...
(Emiko pensativo) O caso não foi bonito, sabe? O garoto sumiu, e parecia mais um fato corriqueiro. Mas os pais não nos davam sossego. Exigiam uma solução imediata. Depois começaram a ir aos jornais, TV, esse tipo de coisa.
(Yohji) Repercussão negativa...
(Emiko) Muita. Opinião pública afetada... mas ficou pior. Os pais saíram com uma história de que o governo havia raptado seu filho... acusavam a realização de experiências terríveis... foi um prato cheio pra mídia.
(Yohji) Governo... vocês investigaram?
(Emiko) Claro. Não havia base para uma investigação profunda, lembro que os detetives encarregados tentaram descobrir se havia verdade nas acusações do casal, mas não havia...
(Yohji) Vocês investigaram as instalações em Kimitsu?
(Emiko surpreso) Kimitsu? Não... investigamos as instalações em Endo.
O loiro piscou surpreso. Essa informação não condizia com o que ele sabia.
(Yohji) Existe uma instalação do governo em Endo?
(Emiko) Sim, naquela época existia. Bom, depois o assunto foi esfriando na mídia. Você sabe como são essas coisas. Logo perdeu o poder sobre o público e os Yasutaka tiveram que aceitar a investigação no ritmo da nossa polícia.
(Yohji) Então se mudaram...
(Emiko) O garoto nunca foi encontrado. Não que eu saiba.
(Yohji) Obrigado, Emiko. Você me ajudou muito. Acho que vou dar um pulo em Endo...
(Emiko) Vai perder seu tempo... o laboratório de lá encerrou suas atividades acho que em 1993 ou 1994...
(Yohji) O laboratório fechou?
(Emiko) Sim.
(Yohji) Droga.
Era uma complicação a mais. Claro que isso não o impediria de ir até Endo.
O playboy ergueu-se e agradeceu as informações com uma reverência.
(Emiko) Vê se aparece mais vezes, viu, Yohji?
(Yohji sorrindo) Claro! Preciso ir agora.
Ia se afastando, mas a voz debochada de Emiko o fez parar.
(Emiko) Moleque, você está perdendo o jeito, hein!
(Yohji confuso) Ora... vai pegar no meu pé?
(Emiko sorrindo) Você diz que o caso aconteceu a onze anos, mas a verdade é que foi em 1989, ou seja a quinze anos atrás.
(Yohji surpreso) Quinze... não pode ser...
Empalideceu muito ao ouvir isso. À quinze anos atrás Shouji nem tinha nascido!! Se a informação de Emiko estivesse certa, ele teria no mínimo dezenove anos!
(Emiko) Tenho certeza que ocorreu em 89. Eu fui promovido nesse ano. Investiga as coisas direito, garoto.
(Yohji)...
Perdeu o rumo por um segundo. Precisava sentar e fazer as contas com muita calma.
oOo
(Karen sorrindo) Posso agir?
Shouji desviou os olhos e observou a frente da Koneko, apesar de saber que o loiro não estava lá.
(Shouji) Dou-lhe permissão para agir.
(Karen) Você ainda tem confiança nele, não é, Shouji? Não se esqueça que eu NUNCA julguei alguém inocente...
(Shouji) Existe uma primeira vez, Karen.
(Karen) Então você acha que Yohji vai me fazer mudar a sentença? Você acha que pela primeira vez eu vou pronunciar "inocente" num veredicto?
(Shouji) Sim.
(Karen) Como você é crédulo. Vou pegar um pouco mais pesado dessa vez.
(Shouji) Karen...
(Karen) Mas não se preocupe. A mente humana pode ser destruída em um segundo, e a recuperação pode ser frágil e demorada... por outro lado, se você tem tanta fé em Yohji, não devia temer, não é? Pensa nisso.
A ruiva sorriu e afastou-se. Era hora da ação.
oOo
Yohji saiu do restaurante e foi caminhando, sem destino certo. Estava concentrado pensando em suas informações. Talvez Emiko tivesse se enganado, afinal, eram muitos casos parecidos. Mas ele parecia ter muita certeza do que estava falando...
(Yohji) Shouji disse que tem treze anos... aparenta quinze, mas é até aceitável, já que essa juventude de hoje é muito precoce... mas daí a ter dezenove anos... é impossível!!
Realizou todas as contas novamente. Shouji lhe dissera que não via os pais a mais de dez anos, e que fora seqüestrado aos quatro... logo, se estavam em 2004... ele deveria ter sido raptado em 1993 e nascido em 1989.
(Yohji) Ah, entendi. Emiko deve ter se confundido aí: 1989 foi o ano do nascimento de Shouji, não de seu rapto. É muito tempo pra que ele decore todas as datas.
Avistou uma pequena lanchonete e resolveu tomar algo pra se refrescar. Pediu uma cerveja gelada, e foi bebendo devagar, enquanto fumava um pouco. Aquelas investigações não estavam ajudando muito. Estavam sim lhe dando um nó no cérebro.
(Yohji) Bem que eu gostaria de falar com Shouji agora.
Onde poderia encontrar o garoto? Não tinha idéia. No fundo não estava mais zangado pela história do pacto de sangue e da tal aposta. Com certeza o garoto de olhos azuis estava desesperado pra encontrar os pais, e não sabia mais o que fazer.
Era um grande mistério o fato de Shouji saber sobre a Weiss... se as informações começassem a vazar... não poderia ser bom, ainda mais se queimasse o filme dos quatro assassinos. Daqui a pouco a cidade toda estaria sabendo sobre eles!
Yohji decidiu que depois de encontrar os pais de Shouji, exigiria que ele lhe dissesse como havia descoberto sobre a Weiss. E queria saber de nomes, isso sim era importante.
(Yohji suspirando) Mas uma coisa de cada vez. Nem consigo encontrar um casal que...
Seu celular tocou, cortando-lhe os pensamentos.
(Yohji) Alo.
(Emiko) Yohji? Você trocou de celular de novo! E não me deu o número, não é? Quanta consideração tem por mim, seu tratante!
(Yohji)...
(Emiko) Eu já devia ter me acostumado!
(Yohji) Como conseguiu esse número?
(Emiko) Liguei pra Koneko e um tal de Aya me passou.
(Yohji suspirando) Ah, o Aya... o que aconteceu?
(Emiko) Você me deixou curioso com essa história, e eu resolvi dar uma conferida nos arquivos... mas adivinha só: todas as informações foram perdidas.
(Yohji) Perdidas? Durante o terremoto de 1996?
(Emiko) Não. Tivemos uma infiltração no ano retrasado. A maioria dos arquivos embolorou e se perdeu. Alguma coisa tinha sido digitalizada, mas os arquivos mais antigos ainda não.
(Yohji)...
(Emiko) Você está sem sorte. Adeus.
Yohji olhou para o pequeno aparelho em suas mãos. Depois guardou no bolso da calça apertada com alguma dificuldade.
(Yohji) Acho... que estou mesmo sem sorte.
Saiu da lanchonete e voltou a caminhar.
Tinha agora duas pistas: Endo e Kimitsu... ambas relacionadas a laboratórios do governo. Só que não tinha de se envolver nesses assuntos. Seu objetivo era apenas encontrar os pais de Shouji. E porque todos os caminhos cruzavam com esse obstáculo?
Considerou a questão um pouco. Resolveu que visitaria a cidade de Endo primeiro. Se a instalação de lá não estava mais em operação, significava menos dor de cabeça. Não entendia a ligação entre Endo e Kimitsu. E porque os pais de Shouji mencionaram Endo... sendo que o garoto afirmava que havia sido levado para a pequena vila.
(Yohji) Mas não havia como os Yasutaka saberem disso... talvez eles tenham se mudado para Endo... atrás de uma pista falsa!
Animou-se um pouco. Não queria criar esperanças em cima dessa possibilidade, mas não negava que era um bom palpite. Seu instinto lhe dizia que havia alguma coisa ali...
Estava dando a volta, com intenção de ir buscar seu carro, deixado em um estacionamento, quando percebeu que Karen estava parada poucos metros à sua frente.
(Karen) Boa tarde!!
(Yohji)...
(Karen) Tem feito progressos? Acho que não...
(Yohji) Não me enche.
Ia passando pela garota, quando ela esticou a mão e segurou em seu braço. Ambos estavam em uma pequena praça, que surpreendentemente se encontrava vazia.
(Karen) Acabou o tempo de vantagem. Eu vim dar meu veredicto.
(Yohji irritado) Insiste nisso?! Se você vai me fazer perder tempo, eu não vou concluir a tarefa.
(Karen) Esse é objetivo do jogo, Yohji. Você está começando a entender... durante esses dias, eu o observei atentamente. Queria saber se você era mesmo a pessoa que imaginei que era...
(Yohji) !!
(Karen sorrindo) Não fique surpreso. Tirei minhas conclusões...
(Yohji)...
Havia algo no tom de voz daquela garota que causou arrepios no playboy. Apesar disso não conseguia desviar os olhos, ou soltar o braço.
(Karen) Conclui que sua existência é completamente inútil, Yohji.
(Yohji surpreso) O que?
(Karen) Você não passa de um fraco, cuja vida não poderia ser mais desperdiçada. Assumir essa postura indiferente e despretensiosa é apenas colocar uma máscara sobre seu coração. Qual o propósito disso? Você não quer me dizer?
(Yohji irritado) Se é tão metida a espertinha, porque não me diz você?
(Karen sorrindo) Perder uma parceira... e uma garota desconhecida que estava sobre sua proteção... você julga isso como dor? Você enfrenta essas atribulações como se algo importante lhe fosse arrancado, e tenta se isolar de tudo por tão pouco... por isso eu disse que era um fraco. Pessoas fracas são um fardo para a humanidade.
O playboy estava estático. Como ela poderia saber de tanta coisa?
(Karen) Comparado com Aya, Omi e mesmo Ken, você não teve problema nenhum. Não tem motivo pra chorar, e muito menos para colocar essa máscara de forma descuidada.
(Yohji)...
(Karen) Quem é você na verdade? É mesmo isso que tenta demonstrar? Claro que não. Tem apenas medo de ser como é... porque você sabe que é um fraco, e cometeu erros por ser tão desprezível.
(Yohji irritado) Cale a boca. Não tenho que escutar isso!
(Karen) E quando for repetir os erros?
(Yohji irritado) Não vou repetir meus erros! Jamais vou repeti-los.
(Karen) Isso é impossível: é como um vício. Você é um fracasso. E seu ponto fraco é não poder proteger as pessoas que são importantes em sua vida. já aconteceu duas vezes, e vai acontecer de novo. Porque está em você, Yohji. É mais forte do que tudo. Sua máscara vai quebrar-se e seu coração vai estar exposto outra vez. As pessoas morrem por que não é bom o suficiente. Você não é forte o bastante, entende?
(Yohji)...
Aquilo soava bem convincente. Parecia mesmo um quadro de sua vida. Tivera que amargar a perda de Asuka e Makie. Duas pessoas que estavam sobre sua proteção... elas morreram por que não fora forte o suficiente, e o loiro sentira sempre que tinha falhado com elas.
(Karen) Todo mundo comete erros, mas... suas falhas resultam na morte de outro ser humano, Yohji. Já refletiu sobre isso? Toda vez que você erra, alguém inocente e que deveria ser protegido, morre.
(Yohji) Não é verdade...
(Karen) Sua parceira confiava sua vida a você, e o que ganhou em troca?
(Yohji)...
(Karen sorrindo) Porque não responde? Porque foge da realidade? Você nunca será bom o bastante... nunca foi!! E essa... "máscara" que você usa não vai proteger seu coração, quando você falhar de novo... por que você vai falhar, Yohji.
(Yohji) Cale a boca!!
O loiro soltou o braço e levou as mãos aos ouvidos, tentando impedir a voz de Karen de chegar a sua mente. Aquilo que ela estava dizendo machucava demais! E ele não queria acreditar em nenhuma palavra...mas...
Era impossível resistir. A voz da ruiva soava hipnótica, convincente... e tocava em pontos que o ex-detetive tentava esquecer desesperadamente. Não podia permitir que Karen continuasse com aquele discurso tão cruel, mas cada palavra ecoava em sua mente como uma chicotada.
Cada sílaba destruía um pedacinho de suas defesas... e se continuasse assim, teria que encarar a verdade da qual fugia a tanto tempo: falhara com a pessoas que amava...
(Karen) Está entendendo finalmente... você precisa estar preparado: mais cedo ou mais tarde sua fraqueza vai fazer com que sacrifique Ken Hidaka. Ele acredita em você, e confia em você, Yohji, como Asuka e Makie já confiaram... e elas estão mortas agora... como Ken estará um dia...
(Yohji) Porque você está fazendo isso? Porque não me deixa em paz?!
Tinha que tentar pará-la! Mas...
Não conseguia simplesmente seguir em frente. Apenas ficava ali, escutando aquelas ofensas. Era como se uma força desconhecida o pregasse no chão, impedindo-o de sair correndo... ou melhor, fugindo dali o mais rápido possível. E talvez não existisse nenhuma força, apenas o sub consciente de Yohji, obrigando-o a encarar a dura realidade. O playboy começava a acreditar que teria de enfrentar aquilo que tanto temia... infelizmente não estava pronto... não devia ser ESSE o momento... ninguém está preparado na hora de prestar contas...
(Karen) Porque eu sou uma das juradas. Sou aquela que julga a mente, e a sua, está contaminada. Você está corrompido, Yohji. E não tem salvação. Já pensou que sua morte seria um beneficio para todos os que vivem com você?
(Yohji) NÃO!!
(Karen) Não? Acredita nisso? Seus olhos estão brilhando... é por descrença e dúvida. Você está vacilando...
(Yohji)... não...
(Karen) Você só dá trabalho! Só dá trabalho ao Omi, que precisa cuidar de coisas mais importantes que você... perturba o Aya, que já tem muitos problemas... e agora... está condenando Ken a morte certa... fazendo-o crer que vai protegê-lo... quando não pode garantir isso. Não pode garantir a segurança do garoto. Você está mentindo pra ele e pra si mesmo.
(Yohji)...
(Karen) Não se cansou de ser um fardo que todos têm que carregar? Estou aqui para julgá-lo, mas também para abrir seus olhos. Vou ser justa, Yohji. Prove-me... mostre que você não é um fraco. Diga-me que estou errada e me convença que você não vai cometer o mesmo erro do passado...
O playboy sentiu uma tontura, e caiu de joelhos no chão. Ainda tampava os ouvidos com as mãos, mas a voz de Karen parecia ir direto a sua mente. Não estava pensando direito. Não queria ser um fardo na vida dos três companheiros, mas... mas...
As palavras surgiam nos lábios da garota, como se ela soubesse, adivinhasse, quais frases feriam mais, o que dizer para tornar a dor quase insuportável. Dor que não era física, mas destruía tanto quanto. Na verdade destruía mais, porque pegara sua vítima totalmente de surpresa. Não dera avisos antes, e os que dera, não poderia prepará-lo jamais para o que viria...
(Karen) Vamos... diga que não é um fraco. Mostre que sua mente não está corrompida por todo esse tempo que mentiu pra si mesmo, usando uma máscara tão frágil que chega a ser ridícula...
Karen sabia perfeitamente que estava destruindo a mente do detetive loiro, mas não ia parar. Não estava ali pra brincadeiras, e muita coisa dependia daquele jogo. Se pra vencê-lo ela precisasse se rebaixar ao nível de um verme, então ela o faria. Mas ia até o fim.
Nenhuma mente agüentaria um jogo desses. Ter todos os medos e inseguranças apontados ao mesmo tempo, e enfrentar as próprias falhas... era demais para qualquer pessoa.
(Karen pensando) É o momento de terminar com ele de uma vez.
(Karen) Não pode rebater meus argumentos não é, Yohji? Você é um fracassado, sempre vai ser. Se as pessoas que te amam morrem, é por sua culpa. Porque elas confiam que você será capaz de protegê-las, mas acabam pagando com a vida por essa confiança injustificada. Não seja um fardo no caminho de quem te ama. Por que você não morre?
Os olhos verdes da garota viram que Yohji se encolhia, atingido em cheio pelas palavras duras. Aquela partida já estava ganha.
Karen ajoelhou-se no chão, e colocou a mão na face do detetive. Yohji mantinha os olhos desviados, sem coragem de fitá-la. Desconfiava que se machucaria mais, se o fizesse.
Mas a garota foi impiedosa. Obrigou Yohji a encará-la.
(Karen) Fraco. Você é um fraco... agora tem consciência disso, não é?
A ruiva sentiu que o corpo do playboy estremecia, permanecendo trêmulo. Chegara o momento do golpe final.
(Karen sorrindo) Você perdeu.
Tomou os lábios do playboy entre os seus, beijando-o sem nenhuma emoção. O loiro arregalou os olhos, tanto de surpresa quanto de incredulidade. Seus olhos perderam o brilho, e ele tombou pesadamente para frente.
Karen passou a língua sobre os lábios. Podia sentir o gosto salgado das lágrimas de Yohji... ela não se dera conta de que ele estava chorando. Olhou para o corpo caído no chão.
(Shouji) Nunca é bonito, não é? Você destruiu a mente dele...
A ruiva olhou para cima. Shouji estava em pé, em uma das árvores da praça. Havia observado toda a cena, desde o primeiro instante. Karen sabia disso, porque fora o garoto de olhos azuis que mantivera as pessoas afastadas daquela pequena praça.
(Karen) Eu...
Apertou as mãos contra o peito. As lágrimas de Yohji pareciam estar queimando seus lábios, fazendo-a sentir toda a dor que o playboy havia sentido, ao enfrentar aquele impiedoso ataque verbal.
Quando ela começava um julgamento, perdia a noção da realidade, e podia ser cruel ao extremo. Quando voltava ao normal, sempre se arrependia de suas palavras, mas aí... era tarde demais. Desde que se juntara ao corpo de jurados, Karen nunca pronunciara uma sentença positiva. Todas as vezes havia destruído os réus.
(Shouji) Qual é o veredicto?
(Karen chorando) Culpado... Yohji está morto.
Continua...
