Título: O julgamento das sete mortes
Ficwriter: Kaline Bogard
Beta: Akemi Hidaka
Classificação: yaoi, sobrenatural
Pares: YohjixKen
Resumo: O que parecia um inocente pedido de ajuda transforma a vida de Yohji numa corrida contra o tempo.
Records of 2004 a.C.
O julgamento das sete mortes
Kaline Bogard
Capitulo 05
A Weiss se une
Karen estava sentada no fundo do quarto. Olhava para o leito do hospital, sentindo a consciência pesada. Era sempre igual... ao fim da sentença, Shouji discava para um hospital, e geralmente o socorro vinha rápido.
Nesse caso o procedimento fora o mesmo. A ambulância chegara e levara Yohji, claro que Shouji e Karen seguiram juntos, para dar mais informações.
Por muito pouco não perderam o loiro, mas os médicos eficientes recorreram a ressucitação, e agora tudo ficaria bem.
A ruiva estava sozinha no quarto com Yohji. O ex-detetive permanecia muito quieto, olhando pelo vidro da janela, observando a noite lá fora. Karen não sabia o que dizer. Esses momentos eram sempre desagradáveis.
Shouji havia ido a recepção, ligar para a Koneko e avisar o que tinha acontecido.
Depois de alguns minutos o garoto surgiu no quarto. Olhou para Yohji, depois para Karen.
(Shouji baixinho) Como ele está?
(Karen baixinho) Acho que fisicamente está bem.
(Shouji)...
(Karen baixinho) Conseguiu falar com alguém na Koneko?
(Shouji baixinho) ... com o Aya...
(Karen baixinho) Isso não é bom...
O garoto de longos cabelos negros olhou mais uma vez para o playboy. Pelo pouco que conhecia do Weiss ruivo, sentia que não fora o mais acertado, mas... não conseguira localizar Ken em lugar nenhum... e o jovem Omi não parecia ter idade para tomar esses tipos de decisões. Shouji sabia que o loirinho não fazia as coisas apropriadas para a sua idade, mas talvez o médico não aceitasse a presença apenas dele... então não tivera escolha, a não ser recorrer ao Aya...
(Shouji baixinho) Tudo o que ele menos precisa agora é recriminações... e o que você vai fazer?
(Karen baixinho) Vou dizer a verdade a Aya.
(Shouji baixinho) E se ele não acreditar?
A garota deu de ombros e suspirou. Não estava agüentando mais a sensação de culpa. Não tinha um coração cruel, mas acabava quase perdendo a consciência das coisas quando se dedicava a vencer esse jogo.
(Karen baixinho) Vou dizer mesmo assim.
(Shouji baixinho) Consciência pesada é terrível, não é?
(Karen baixinho) Se é...
(Shouji baixinho) A culpa é sua... não tem noção de quando deve parar... não pense que vou aliviar sua barra com palavras de consolo. Essa culpa você vai carregar por toda a eternidade.
(Karen) !!
(Shouji baixinho) Você sabe que tem de indicar o próximo jurado. Quem você escolhe para continuar com o julgamento?
A garota piscou preocupada. Sabia que era parte do jogo, indicar uma pessoa para continuar, mas não estava com ânimo pra isso. O Weiss loiro não havia nem mesmo saído do hospital, e parecia fragilizado... sua consciência a atormentaria mais ainda se indicasse alguém impiedoso como ela...
(Karen baixinho) Eu tenho mesmo que...
(Shouji baixinho) Claro.
(Karen) Mas... ele...
(Shouji baixinho) As regras não vão mudar só porque você quase o destruiu de uma vez. Escolha.
A garota pensou um pouco. Nenhum dos outro cinco era tão cruel quanto ela, no uso de palavras... mas eles podiam ser cruéis a sua maneira.
(Karen baixinho) Eu escolho... os gêmeos...
Shouji fechou os olhos e suspirou. Finalmente uma boa notícia. De todos os jurados, os gêmeos eram os mais gentis. Eles testariam o playboy em uma área que com certeza o loiro venceria... e isso poderia restabelecer a confiança de Yohji.
(Shouji baixinho) Obrigado...
(Karen baixinho) Eu devo isso à ele...
Desviou os olhos verdes na direção do leito, mas Yohji nem mesmo se mexera.
(Shouji baixinho) Primeiro veredicto: culpado. Que o julgamento continue. Vou comunicar os gêmeos de sua decisão. Adeus.
(Karen baixinho) Adeus.
Observou o garoto de longos cabelos negros sair. Depois suspirou. Esperaria por Aya, e tentaria expiar seus pecados. Não estava nem aí, pro fato dele acreditar ou não.
Aya chegou no hospital pisando duro, e sustentando seu olhar mais irritado possível. Primeiro porque ele não gostava de hospitais. Depois porque tinha certeza de que o playboy tinha aprontado alguma.
Aquele tal de Shouji fora muito reticente ao relatar a Aya o que tinha acontecido. Não entrara em detalhes, e o ruivo não queria pensar no que Shouji estava fazendo ali...
(Aya) Espero que Yohji não esteja saindo com crianças agora!
Alcançou a recepção e se dirigiu ao balcão de informações.
(Recepcionista) Boa noite, pois não?
(Aya) Quero informações sobre Yohji Kudou.
A garota piscou, um pouco ofendida pela falta de educação daquele ruivo, mas ele era bonito, então a irritação foi substituída por uma grande vontade de agradar e ser útil.
(Recepcionista) Um momentinho só, por favor.
Digitou algo no computador e esperou que o aparelho lhe mostrasse o que queria saber.
(Recepcionista) Ah, claro...
Pegou o interfone e solicitou a presença de um tal doutor Masaru.
(Recepcionista) Aguarde um momento por favor. O doutor logo estará aqui. A noite está calma hoje, e ele não se demorara.
Aya abriu espaço e encostou-se na parede.
Não teve que esperar muito. Logo um jovem que deveria ter se formado de pouco, se aproximou e viu a hora que a recepcionista lhe indicou Aya com a cabeça.
(Masaru) Ah, você que veio atrás do senhor Kudou.
(Aya) Sim.
(Masaru) Vocês são parentes?
(Aya) Não.
(Masaru)...
Achou melhor se conformar com isso. Não julgava muito ético se aprofundar em detalhes que visivelmente irritavam aquele cara já meio irritado.
(Aya suspirando) O responsável por ele não pode atender. Eu vim no lugar. Meu nome é Aya Fujimiya.
(Masaru) Ok. Venha comigo.
Foram até um dos elevadores. Assim que a porta se fechou, Masaru correu os olhos pela prancheta que carregava em suas mãos.
(Masaru) Um caso muito curioso, sem dúvidas... veja bem. O senhor Kudou deu entrada em nosso hospital no meio da tarde... o quadro indicava parada cardíaca... eu digo indicava... mas... depois dos exames preliminares, comprovamos que ele não apresentava os sintomas típicos de uma simples parada cardíaca. Não é espantoso?
(Aya suspirando) O que isso quer dizer?
(Masaru) Veja bem... o coração dele parou de bater. Só isso... sem causa aparente...
(Aya)...
(Masaru) Encontramos um maço de cigarros entre os pertences do senhor Kudou, mas não parece ser a causa do problema. Veja bem, não estou dizendo que o fumo não é prejudicial, estou dizendo apenas que NESSE caso não foi por causa do cigarro.
(Aya) Então...
(Masaru) Fizemos todos os exames de rotina, e inclusive alguns a mais... eu pedi um EEG, mas não encontramos nada de errado. Pedi mais alguns exames de sangue apenas de precaução... pra ter certeza, mas só vão ficar prontos amanhã.
(Aya) Ele está bem?
(Masaru) Sim. Apesar do coração ter parado de bater por alguns minutos. Nosso socorro foi rápido, por isso não precisamos temer nada grave... e como não vejo motivos para prendê-lo mais, vou assinar a alta para amanhã de manhã... por acaso o coração do senhor Kudou já parou antes?
(Aya) Não.
(Masaru) Veja bem... que curioso... aparentemente inexplicável. Vou ser sincero... nem desconfio do que motivou essa "parada cardíaca". Não é fácil admitir isso... em todo caso, vou recomendar muito repouso, e suspender o uso do cigarro... algumas vitaminas... mas o senhor Kudou parece forte como um touro... não fosse por isso...
Aya percebeu claramente que o jovem médico estava tentando enrolá-lo. O doutor não tinha respostas, e não era fácil pra alguém que acabou de sair da faculdade admitir que não sabia do que se tratava.
(Aya) Você não sabe o que aconteceu.
O médico olhou para Aya, admirado pela calma que o ruivo aparentava. Mas soube que não enrolaria aquele garoto.
(Masaru) Não.
(Aya) Tem certeza de que pode deixá-lo ir amanhã?
(Masaru) Sim. Não há garantias de que o coração dele não vá parar de novo, mas também não há a certeza de que isso vá ocorrer, já que não encontramos sintomas que confirmem alguma patologia, entende?
(Aya) Sim.
(Masaru) Não temos motivos para mantê-lo internado.
O elevador parou no quarto andar. Masaru esperou a porta se abrir e saiu, seguido por Aya.
(Masaru) De qualquer jeito, gostaria de ver o senhor Kudou, e acompanhá-lo durante algum tempo. Pode não ser nada, mas pode ser tudo.
(Aya) Entendo.
Não era nada mais nada menos que o fascínio do ser humano diante do inexplicável.
Quando pararam em frente ao quarto 617, ouviram o nome do doutor Masaru ser requisitado pelo interfone. O jovem fez uma careta. Queria muito presenciar aquele encontro, afinal era um caso curioso, só que não podia ignorar o chamado.
(Masaru) Ele está aí. Eu volto assim que for possível.
(Aya)...
Observou o médico dar meia volta e entrar no elevador. Depois suspirou irritado, e abriu a porta do quarto. Pelo jeito Yohji não havia aprontado nada (Aya esperava algo do tipo 'bateu o carro porque estava embriagado'), mas ainda assim o ruivo já preparava uma frase do tipo "Você só dá trabalho mesmo", quando entrou no quarto, e observou o leito branco.
As palavras morreram em sua boca antes mesmo de iniciar a frase descuidada.
Yohji estava deitado na cama, coberto com um lençol branco. As mãos depositadas sobre o tórax de modo relaxado. Havia um tubo de soro preso ao pulso direito. Os olhos do playboy estavam voltados para a janela escura, que exibia a noite profunda, era época de lua cheia, mas o quarto ficava num ângulo contrario, por isso não era possível ver o satélite natural.
O líder da Weiss franziu as sobrancelhas, demonstrando preocupação pela primeira vez desde que saíra de casa mais cedo. Tinha algo muito errado ali! Aquele era mesmo Yohji? Ele se assemelhava mais a um fantasma... estava pálido e... parecia que alguma coisa dentro dele tinha se apagado.
Definitivamente não era momento de recriminações.
(Aya) O que aconteceu?
O playboy não deu mostras de ter registrado a pergunta. Nem mesmo pareceu notar a presença do frio líder da Weiss.
(Karen) Eu explico.
Só então Aya percebeu a garota ruiva sentada ao fundo do quarto. O espadachim estava tão impressionado pelo aspecto do companheiro que nem se preocupara em olhar o restante do local.
(Aya) Quem é você?
Fixou os olhos violetas naquela desconhecida.
Karen ficou impressionada pela frieza que aqueles belos olhos ostentavam. Aquele garoto ruivo sim, era forte... ele seria perfeito para enfrentar o julgamento... mas Karen entendeu que aquela força o protegia. Havia um muro quase intransponível ao redor de Aya... e provavelmente fora por isso que Shouji não o escolhera.
Mesmo assim, aquilo a impressionou, e ela não se conteve em fazer um comentário descuidado.
(Karen) Oh... você sim é forte!
(Aya)...
(Karen) Como eu queria poder desafiar você! Provavelmente eu não o venceria e você seria declarado inocente... mas eu ficaria feliz, se pudesse enfrentar uma pessoa realmente forte e não... meu Deus!
Olhou em direção a cama, disposta a fazer uma comparação entre Aya e Yohji, e só então se deu conta de que o loiro havia escutado cada palavra sua.
(Yohji) Um fardo...
A primeira palavra pronunciada em muitas horas veio acompanhada de grossas lágrimas.
(Aya) !!
Não estava entendendo nada.
(Karen) Perdão Yohji! Eu não queria falar isso!! Eu... eu...
Levou uma das mãos até o rosto, cobrindo os lábios, como se com isso pudesse remediar o mal causado ao playboy. Karen se preocupara tanto com o que Aya pudesse dizer, e no fim fora ela mesma que estragara tudo.
(Aya) O que está acontecendo aqui? Quem é você? Kudou, porque está chorando? Está com dor?
O líder da Weiss era regido pela lógica, e um censo prático muito forte. E não sabia como cuidar de duas pessoas que estavam chorando copiosamente!
Karen também começara a chorar. Agora não estava mais julgando Yohji, e não queria ser cruel com ele... não tinha esse direito. Cometera uma gafe imperdoável ao comparar Yohji com Aya... ainda mais depois de todas as coisas maldosas que dissera...
(Karen) É minha culpa! Foi tudo minha culpa!! Perdão!
(Aya) Sua culpa?
(Karen fungando) Vamos lá pra fora. Não poderemos conversar a vontade na frente dele!
A garota sabia que durante sua confissão teria que repetir todo o discurso que fizera a tarde, e não tinha certeza de que o playboy agüentaria ouvir duas vezes aquelas 'verdades'.
(Aya) Mas... ele não parece bem.
(Karen) E não está. Mas não é o que você pensa. Venha comigo e você vai entender tudo.
O ruivo lançou mais um olhar na direção da cama, onde o loiro continuava chorando. Não tinha certeza de que seria certo abandoná-lo naquele estado... mas por outro lado, queria saber o que estava acontecendo.
(Aya) Certo, mas seja rápida!
Saíram do quarto, tendo o cuidado de encostar a porta. Karen sentou-se em um banco de madeira, localizado em frente ao quarto, enquanto Aya permaneceu em pé, encostado na parede, com os braços cruzados e os olhos violetas fixos na garota desconhecida.
E durante um bom tempo Karen falou, contando tudo, sinceramente, desde o momento em que ela e seus companheiros chegaram a Tókio, se concentrando nos arredores da Koneko, iniciando a escolha de quem passaria pelo julgamento das sete mortes, até o ocorrido durante a tarde, onde ela testara o Weiss loiro, e o derrotara sem piedade.
Aya não fez nenhum comentário durante a longa explanação. Não havia nada em sua expressão fria, que indicava se o ruivo acreditara nas palavras de Karen ou não...
(Karen) E foi isso.
Aya meditou por um segundo. A primeira vista parecia ser difícil acreditar nas palavras da garota americana, mas atuando como um Weiss ele já havia visto e vivenciado tanta coisa bizarra e extraordinária, que no fim, aquilo que Karen dizia não era tão impossível de se engolir.
(Aya) Então você tem algum tipo de poder?
Precisava saber mais sobre sua inimiga. Sim, aquela garota havia atacado e provocado morte temporária em um de seus companheiros, logo, deveria ser uma inimiga.
(Karen) Não exatamente. Eu consigo ver o mais profundo de um coração, inclusive o seu, Ran...
(Aya surpreso) Ora, sua...
(Karen) Calma. Não vou passar disso, você não está sendo julgado. Respondendo a pergunta: eu não tinha esse dom antes de fazer parte do jogo. Eu estava perdida e confusa, quando Shouji me encontrou e me desafiou. Mas ele é invencível. Nem mesmo eu pude com ele. Depois da derrota, eu não tive escolha a não ser participar do jogo como jurada.
(Aya) E que jogo é esse?
(Karen) É um jogo de vida e morte onde nós apostamos nossas...
(Aya irritado) Isso você já disse. Quero saber que jogo é esse... Quem o criou, com que propósito?!
(Karen) Não posso dizer. Para saber, Yohji precisa vencer. Ele vai enfrentar mais seis jurados... se tiver quatro veredictos 'culpado' a morte vai ser definitiva, e ele será obrigado a fazer parte do júri... então será escolhida outra pessoa para ser julgada, ou seja, Ken. Mas Ken também é fraco, e vai perder... o próximo seria...
Desviou os olhos, achando que falara demais. Mas Aya entendeu perfeitamente. Lembrava-se de que ela dissera o quanto ele era forte, então pela lógica, atacariam primeiro a Omi... e ele jamais permitiria isso.
Sem contar que eliminando Yohji, Ken e Omi, aqueles garotos estariam eliminando seus companheiros, a própria Weiss.
(Aya) Pelo que eu entendi, o julgamento continua, não é?
(Karen) Sim. Eu tive que indicar os próximos jurados, e escolhi os gêmeos.
(Aya) Os gêmeos?
(Karen) Não se preocupe com eles. Será um ataque duplo, mas eles são gentis e dificilmente pegam pesado.
(Aya) Mas será um ataque, não é?
(Karen)...
(Aya) Quanto tempo temos?
(Karen) Não sei. Pelas regras do jogo eles podem agir agora mesmo. E se fosse qualquer um dos outros, tenho certeza que agiriam... mas os gêmeos talvez dêem algum tempo... algumas horas...
(Aya) E pra ajudar, temos que descobrir os pais desse Shouji?
(Karen)... temos não... Yohji tem. A tarefa é dele, não da Weiss.
(Aya) Existe alguma regra que proíba qualquer tipo de ajuda?
A ruiva pensou um pouco. Depois deu de ombros.
(Karen) Não. Não existe nenhuma restrição. Mas não pense que pode tomar o lugar dele. Vocês podem até ajudar a reunir as peças, mas o julgamento apenas Yohji pode enfrentar... e isso é imutável.
(Aya) Tsc.
Apesar disso, Aya sabia que acabaria ajudando, não apenas para preservar Omi, de futuras enrascadas. Só quis tirar mais uma dúvida.
(Aya) A pessoa não é obrigada a aceitar esse julgamento, não é?
(Karen sorrindo) Não, de jeito nenhum. Nós fazemos um convite, e como no caso do Yohji, a pessoa pode recusar... mas... quando Shouji escolhe alguém, ele usa de todas as táticas para convencê-lo. O argumento mais forte é ameaçar alguém querido. Quando eu sugeri que Ken poderia ser o próximo, Yohji aceitou no mesmo instante... e você também aceitaria, Aya... se eu ameaçasse sua irmã...
O ruivo arregalou os olhos e deu um passo a frente, desencostando-se da parede.
(Aya) Como você...
(Karen) Calma. Estamos falando de um futuro que pode ou não acontecer. Tudo depende de como Yohji vai se sair nessa história, não é?
(Aya)...
Agora tinha mais que interesse em que o loiro vencesse esse desafio.
Não estava questionando o porque de tudo aquilo, mas no fim ia espremer aqueles moleques, e descobrir tudo sobre esse tal julgamento das sete mortes.
(Karen confusa) Temi que você fosse dizer algo terrível ao chegar aqui... mas... você não disse, e pra minha surpresa demonstrou muita preocupação no olhar...
(Aya)...
(Karen) Você se preocupa com seus amigos, não é? Não apenas com o Omi, mas com o Ken e o Yohji também... você é muito bonzinho, Aya...
(Aya) Não é nada disso. Vou ajudar pelo bem da equipe.
(Karen) Como eu gostaria de julgá-lo! Você usa uma máscara interessante! E protegeu seus próprios sentimentos de um jeito tão cuidadoso, que me é muito difícil visualizar seu coração. O que eu precisaria dizer para quebrar sua proteção?
(Aya) !!
(Karen) Acho que no fundo eu diria coisas como as que eu disse pro Yohji. Vejo um peso em seus ombros... e você se culpa pelo que ocorreu com sua irmã mais nova...
(Aya) Pare com isso...
(Karen sorrindo) Oh, desculpa! É a força do hábito!! Quando vejo pessoas como você e Yohji... e mesmo Ken e Omi... não resisto a uma 'análise' de seus corações... as pessoas acreditam que apenas trancar o sofrimento dentro de si vai fazê-las mais fortes! Como estão erradas... fugir da dor vai apenas aumentar as conseqüências, e mais cedo ou mais tarde será preciso enfrentar todo o mal... o resultado disso? A mente se quebra em mil pedaços... como o que aconteceu hoje a tarde...
(Aya) Você é um demônio!
(Karen) Mas... eu nem precisei fazer muito esforço... meu erro foi não parar na hora certa... nunca mais vou repetir essa gafe... tão cruel... ainda tenho consciência, sabe? Oh... É melhor você ir se preparando...
(Aya) Pra que?!
(Karen) Ora, eu te disse: Yohji é um fraco, e não vai vencer... mais cedo ou mais tarde, você vai ser o réu...
(Aya) Não sonhe tão alto. Vocês estavam enfrentando apenas ao Kudou. Agora vai ser uma luta contra toda a Weiss.
(Karen sorrindo) Eu sabia! Você é mesmo muito bonzinho, Aya... mas se a Weiss se unir, talvez vocês tenham uma chance... quero ver no que vai dar...
Nesse momento Shouji surgiu no fim do corredor e lançou um olhar nefasto para Karen. Ele ainda não havia perdoado o ataque cruel realizado pela companheira.
(Shouji) Não terminou ainda?
(Karen) Ah, já sim! Estava esperando você. Aya, adeus. Meu tempo aqui acabou, e vou voltar para junto dos outros. Você é muito gentil, mas mesmo que queira, não pode fazer as coisas no lugar de seus companheiros, você vai vê-los morrer um por um...
A ruiva levantou-se e afastou-se, diante do olhar mortificado de Aya. Ao chegar ao lado de Shouji, a ruiva voltou-se e acenou um adeus, virando a direita no fim do corredor.
Shouji ainda olhou para Aya por um segundo, e suspirando disse:
(Shouji) Yohji não é fraco, Aya. Eu tenho fé nele.
Deu as costas e ia afastando-se, mas a voz de Aya o deteve.
(Aya) Porque? Porque escolheu a Weiss?
(Shouji) Agora vocês quatro vão tentar vencer o jogo não é? Talvez eu lhe conte tudo... ou talvez não. Faça as perguntas corretas e as respostas virão à você, Aya...
Foi embora sem olhar pra trás.
Aya suspirou e passou a mão pelo cabelo ruivo. As vezes se questionava se tinha algo errado com ele. Talvez fosse um problema seu, ou talvez fosse a própria Weiss... mas os quatro assassinos pareciam atrair encrenca assim como mel atrai mosca!
(Aya) Que saída?
Voltou para o quarto. Notou que o playboy não estava mais chorando.
(Aya pensando) E essa agora...
Fazia uma pálida idéia do que tinha sido aquele 'confronto' entre o companheiro e a garota americana. Ele mesmo fora pego de surpresa, ao ouvir Karen mencionando sobre seu verdadeiro nome, e sua irmã... a surpresa lhe roubara a ação por alguns segundos e não teve resposta a altura pra dar. Não queria nem pensar no que aconteceria se ela desse prosseguimento em tal assunto...
Ele sabia que era culpado pelo que tinha acontecido a Aya chan... não havia sido bom o bastante... era seu dever proteger sua irmã caçula e ele falhara... falhara miseravelmente e...
(Aya pensando) Não! Chega... não pense nisso... não pense nisso!!
Era difícil não se condenar... proibir a mente de aumentar a culpa e acabar sofrendo cada vez mais. Ele era assim, sua natureza era essa e não mudaria, usando uma máscara ou não... mesmo que criasse um muro intransponível ao redor de seu coração... sabia que estava vulnerável, porque a culpa não vinha de fora... a sensação de culpa vinha de si mesmo, do mais profundo de seu ser... uma parte de "Ran" que podia ser assustadora e implacável, tanto para amar, quanto para odiar e... condenar. E no entanto 'condenar' era o que Aya fazia melhor. Condenar a si próprio é claro.
Então pra que se proteger do mundo lá fora, quando seu pior e mais terrível inimigo é a CULPA que carrega dentro de si? Queria acreditar que podia... mas pensar em Aya chan o fazia se sentir fraco e doente...
Era uma merda de conflito causado pelas palavras de Karen que ecoavam em sua mente, tanto as ruins quanto as boas.
Você é forte...
E Aya sabia que era o mais forte dos quatro. Sabia que apesar de passar por poucas e boas, e por enfrentar toda a mágoa, ainda assim ele tinha uma estrutura muito resistente... um pilar de sustentação criado com lágrimas... muitas lágrimas de desesperança...
Mas não podia dizer o mesmo de Ken, Omi e Yohji. Às vezes vislumbrava relances de tristeza na face dos três companheiros, que faziam um esforço titânico para apenas esquecer, para apagar tudo da consciência e seguir com a vida...
O ruivo deu uma olhada em direção a cama, onde Yohji estava deitado, muito quieto. Não estava chorando, mas isso não significava que tudo estava bem.
(Aya pensando) Não queria estar no lugar dele...
Porém sabia que estava na lista. Não fazia a menor idéia, sobre o motivo de tudo aquilo, mas se era pra entrar num jogo de vida ou morte, que fosse pra valer e que conseguisse ajudar seus companheiros.
Ele sabia que sairiam vitoriosos dessa, porque ele era Aya Fujimiya, e havia feito uma promessa: não morreria até que tivesse vingado sua irmã. Uma promessa precisa ser cumprida custe o que custar. E se o preço dessa vez era ajudar o playboy a enfrentar seus próprios medos... então paciência.
(Aya pensando) Estou enrolando...
"Você é muito bonzinho"...
(Aya) Ah!
Como queria apagar a voz daquela garota de sua mente! Aquela voz maliciosa e sedutora... ecoava por seu cérebro, atormentando ao jogar em sua cara coisas que existiam em si, e que ele fazia questão de esconder...
Porque era tão difícil admitir que se preocupava com os companheiros e queria ajudá-los apenas por amizade...?
Ficou com pena do Weiss loiro. Deveria ter sido um ataque e tanto. Se apenas algumas frases trocadas com aquele demônio de formas femininas mexera com ele assim... imagina o mingau que deveria ter sobrado da mente de Yohji.
Dando um suspiro profundo, Aya aproximou-se do leito, notando que Yohji fechava os olhos, evitando encará-lo. Por um segundo teve medo de que os danos causados pelas palavras de Karen fossem profundos demais. Ficou em dúvida sobre o que fazer... seria bom tocar no assunto?
A imagem do playboy estava tão... débil... Aya achou que era melhor não falar nada. Provavelmente Yohji não ia...
"Yohji não é fraco, Aya. Eu tenho fé nele".
Lembrou-se das palavras de Shouji. O garoto acreditava cegamente em Yohji... e Aya pensou que 'fraqueza' não combinava em nada com aquele playboy.
Ainda relutou um pouco, não querendo expor-se, e mostrar aquele lado 'bonzinho' que Karen ACHAVA que ele tinha... mas, se a Weiss ia mesmo entrar no 'julgamento', então que fosse de corpo e alma... e que os quatro estivessem bem. Aya não gostava de perder, e se precisasse se expor pra provar que nenhum dos quatro Weiss era fraco... merda... então que fosse!!
(Aya) Kudou...
Percebeu que o loiro se encolhia um pouco. Sua voz saíra mais áspera do que pretendera.
(Aya pensando) Droga!!
Respirou fundo, e tentou controlar um pouco a voz, evitando que a mesma saísse muito fria ou irritada. Isso sim era difícil, depois de tanto tempo se condicionado a ser rude... enfim...
(Aya) Yohji, escute bem o que eu vou falar, porque eu vou falar apenas uma vez...
O playboy abriu os olhos, e encarou Aya nos olhos. O ruivo percebeu que o companheiro o fitava como se esperasse golpe de misericórdia. Era como se já aceitasse que o líder da Weiss estava ali pra terminar o que Karen havia começado durante a tarde.
Aquele olhar cheio de desesperança e receio foi tão profundo, que Aya engoliu em seco.
(Aya pensando) Aquela garota é mesmo um demônio!!
(Aya) Você não é um fardo, Kudou.
(Yohji)...
Agora as íris cor de esmeralda refletiam perplexidade.
(Aya) Sei o que Karen te disse. Ela mesma me repetiu cada palavra, mas espero que você saiba que nada do que ela disse é verdade. Não existem fracos na Weiss. Se você fosse um fracassado, e nos atrapalhasse, eu mesmo já teria te eliminado a muito tempo.
(Yohji) Eu...
Estava surpreso, por saber que Aya poderia reunir mais de duas palavras, em uma frase de conforto.
O playboy piscou, imaginando logo que o ruivo teria mesmo eliminado-o, se fosse um fraco e atrapalhasse a equipe.
(Aya) Tive uma mostra do poder daquela menina. Ela me lançou umas poucas na cara, e foi o bastante pra me balançar.
(Yohji) Você também...
(Aya) Isso é um jogo psicológico poderoso. Não se culpe por coisas que não pode controlar. Ou você se julga tão importante que pode decidir o destino de pessoas que estão próximas?
(Yohji)...
(Aya) Não controlamos tudo o que acontece nessa vida.
O playboy teve impressão de que Aya tentava se convencer com esses argumentos.
(Yohji) Foi horrível...
A voz tremeu um pouco e ele quase começou a chorar de novo, mas não o fez. Se Aya estava lhe dizendo que não era um fardo, então deveria ter um pouco de verdade nisso.
(Aya) Não duvido. Agora espero que você não se entregue, e saia logo desse estado deplorável. O julgamento não acabou, como você deve saber.
(Yohji)...
(Aya) Segundo Karen, o próximo jurado já foi escolhido, e você tem que continuar com o jogo.
(Yohji) Como você...
(Aya) Karen me contou tudo.
O loiro desviou os olhos e suspirou. Só de pensar em enfrentar algo parecido com o 'confronto' daquela tarde, tinha arrepios por todo o corpo!
(Yohji) Não tenho escolha, não é?
(Aya) Não.
(Yohji)...
(Aya) Pelo jeito eles não vão dar o próximo passo tão já, mas você deve estar preparado. Já tivemos uma mostra de quão cruel eles podem ser, e não vão mais nos pegar desprevenidos...
Yohji fitou Aya, não entendendo porque ele usava as frases no plural.
(Yohji) Nós?
(Aya) Sim. A Weiss está nessa, junto com você.
O ex-detetive suspirou. Queria manter Ken longe de encrencas, mas pelo jeito não conseguira.
(Yohji) Mas...
(Aya) Não encontramos Ken. Omi disse que ele foi atrás de peças pra moto, e não tinha voltado. Logo que ele chegue, os dois virão pra cá. Não se preocupe. Karen foi bem clara, ao dizer que apenas você vai passar pelo julgamento. Nós vamos dar apoio, nada mais.
(Yohji)...
Menos mal. Não queria que Ken corresse nenhum perigo.
(Aya) Aproveite esse tempo pra pensar. Essa é a primeira e a última vez que digo essas coisas. Espero que seja inteligente o bastante para compreender. Não suporto fracos ao meu lado, e se aceitei conviver com Omi, Ken e você, não foi por acaso.
Yohji balançou a cabeça concordando. Conhecia Aya o bastante para saber que ele não gastava palavras com coisas desnecessárias. E depois desse 'discurso' vindo do iceberg ruivo, até mesmo um verme sentiria como se fosse dono de super poderes.
O loiro suspirou de leve. Quando Aya chegara em seu quarto mais cedo, Yohji logo imaginara que o ruivo ia acabar com sua raça... depois não fora nada disso... pelo contrário... o líder da Weiss estava até lhe dando apoio... e esse apoio se bem que um tanto rude, não tinha preço.
(Yohji) Obrigado, Aya...
(Aya) Tsc.
Deu as costas e foi sentar-se na cadeira onde antes Karen estava sentada. Logo Yohji caía em um sono tranqüilo, e Aya se permitiu repensar em toda aquela história.
Por muito pouco Karen não destruíra o Weiss loiro... e pelo jeito não iriam parar... aqueles garotos não estavam pra brincadeiras...
E se Yohji perdesse quatro vezes... seria a morte definitiva...
Mas...
Aya franziu a sobrancelha... algo estava lhe incomodando... tentou lembrar-se de uma coisa que Karen lhe dissera, e que o ruivo não havia dado a devida importância. Até agora...
(Aya pensando) O que foi mesmo que ela disse?
"Yohji vai enfrentar mais seis jurados... se tiver quatro veredictos 'culpado' a morte vai ser definitiva, e ele será obrigado a fazer parte do júri... então será escolhida outra pessoa para ser julgada, ou seja, Ken."
(Aya pensando) Mas... ela disse que também foi julgada.. e que enfrentou Shouji e perdeu...
"...se tiver quatro veredictos 'culpado' a morte vai ser definitiva."
(Aya pensando) Karen recebeu o julgamento e perdeu? Então ela teve a "morte definitiva"? Mas... então... como pode ser?
As coisas não estavam se encaixando...
(Aya pensando) O que isso quer dizer?
Shouji terminou de descer as escadas que levavam ao hospital e parou embaixo de um poste de iluminação cuja lâmpada estava quebrada.
Depois colocou as mãos no bolso e observou a grande lua cheia. Ainda não estava preocupado. Começara mal o jogo, mas era apenas questão de estratégia. Sua fé no playboy não diminuíra nem um pouco.
Mas agora, era sua obrigação dar continuidade ao julgamento.
(Shouji) Carlo... Enrico... agora é a vez de vocês... têm total liberdade de ação...
Dois rapazes apareceram ao lado de Shouji. Eram gêmeos idênticos. Ambos eram altos, magros, possuíam grandes olhos negros. Tinham os cabelos curtos e negros, de fios rebeldes, parecendo despenteados. A pele dos gêmeos era pálida, como se não tomassem sol com freqüência. Obviamente tinham descendência italiana.
A aparência era de juventude e fragilidade. Shouji sabia que tinham catorze anos, mas a palidez da tez delicada fazia crer que eram mais jovens do que isso.
(Enrico) Não vamos agir hoje...
(Carlo) Karen não tem jeito... quando ela passa dos limites, joga a batata quente nas nossas mãos...
(Enrico) Ela foi muito longe dessa vez... o que acha, irmão?
Enrico era apenas meio centímetro mais alto. Preocupado, abraçou e apertou o irmão com carinho.
(Carlo) Vamos dar dois dias... para que ele se recupere mais, e para que a Weiss possa fazer avanços.
Shouji sorriu, satisfeito com a bondade daqueles dois. Talvez as coisas melhorassem daqui pra frente.
Então ouviram uma imprecação, e uma voz raivosa de alguém que se afastava. Carlo estremeceu nos braços do irmão, que depositou a mão sobre os cabelos negros do gêmeo, num gesto de conforto.
(Carlo) Ele está nervoso...
(Enrico) Não posso entender... porque ele odeia tanto os réus...
(Shouji) Ele não odeia os réus...
(Enrico)...
(Shouji) Ele odeia a mim.
(Carlo) Shouji... ainda bem que Karen não o escolheu...
(Enrico) Mas deixar os piores pro final não ajuda muito, não é, irmão?
(Carlo) Apenas adia o inevitável.
(Shouji) Sejam... sejam... gentis com Yohji... por favor.
O gêmeo mais baixo passou a mão pelo rosto de Enrico, numa caricia extremamente delicada.
(Carlo) Nós somos sempre gentis, não é, irmão?
Enrico apenas sorriu em resposta.
Shouji observou a cena encantado. Havia muito amor entre aqueles dois. Amor que nem mesmo a morte seria capaz de separar... ou destruir. No entanto... recorrer a eles era como Carlo havia acabado de dizer. Era como 'adiar o inevitável'.
Mais cedo ou mais tarde seria a vez daquele cara... e então...
(Shouji pensando) Eu me preocuparei com ele no devido tempo. Por enquanto...
Olhou em direção ao hospital e suspirou.
(Shouji pensando) Seja forte, Yohji. Seja forte para a hora de enfrentar o pior...
Continua...
Profile: Zero Two
ENRICO ALBARELLO
Nasc.: 21/04 Idade: 14 anos
Local: San Marino, Itália
Desaparecido desde: Setembro/95
Profile: Zero Three
CARLO ALBARELLO
Nasc.: 21/04 Idade: 14 anos
Local: San Marino, Itália
Desaparecido desde: Setembro/95
