Título: O julgamento das sete mortes
Ficwriter
: Kaline Bogard
Beta:
Akemi Hidaka
Classificação
: yaoi, sobrenatural
Pares
: YohjixKen
Resumo:
O que parecia um inocente pedido de ajuda transforma a vida de Yohji numa corrida contra o tempo.


Records of 2004 a.C.

O julgamento das sete mortes
Kaline Bogard

Capitulo 09
O Domador de Almas

(Aya) Isso não faz sentido nenhum.

(Shouji suspirando) Ninguém disse que você deveria acreditar ou assimilar o que falamos.

(Aya) Eu desconfiava que vocês haviam morrido, mas...

Apesar de tudo não era fácil aceitar que mortos andassem por aí! Parecia coisa daqueles filmes norte americanos classe C...

(Enrico) As regras são diferentes quando se morre. Todas as coisas que você supunha serem corretas caem por terra. Não posso dizer que a transição é simples, mas é uma questão de ser realista.

(Shouji) A culpa é da 'religião'. Os homens acreditam que isso lhes trará respostas e conforto, mas estão errados. Essa coisa criada pela humanidade serve apenas como um limitador, impedindo que o ser humano encontre a derradeira explicação para questões profundas como o porque de estarmos aqui, neste 'mundo'.

(Carlo) Nós precisamos sempre ter respostas que expliquem o que não pode e não deve ser explicado.

(Enrico) Devíamos aceitar os mistérios da vida, sem medo. E isso é o contrário do que fazemos agora: buscando as questões que nos assustam, mas que são maravilhosas apenas por serem formuladas.

(Aya) Então você vai me explicar o que é esse jogo.

(Shouji sorrindo) Você perguntou isso a Karen, ontem mesmo, não foi?

O ruivo arregalou os olhos. Fora apenas ontem que tivera aquela conversa com a garota americana? No dia anterior sua vida seguia normal, com os problemas de sempre... mas... em menos de vinte e quatro horas se vira envolvido com 'jogos de vida e morte', 'paradas cardíacas inexplicáveis', 'domadores', e até 'mortos que andavam entre os vivos'.

Seria cômico, se não estivesse acontecendo com ele, e seus companheiros.

(Aya suspirando) A Weiss só atrai confusão, não é?

Shouji sorriu, e aproximou-se da cama onde Yohji estava deitado. Observou atentamente a face pálida. Sentou-se na beirada do leito, e sem desviar os olhos foi dizendo em tom de confissão, não se dirigindo a ninguém em especial. Parecia mais que sussurrava de si para si mesmo.

(Shouji) É isso o que acontece quando se reuni pessoas tão interessantes.

(Aya) Tsc.

(Shouji) Aya, sabe quem me indicou vocês?

O ruivo sentiu um arrepio gelado, e suspeitou que não gostaria de ouvir a revelação do japonês, mas a verdade é que quanto mais soubesse daquela história, melhor.

(Aya sério) Não.

(Shouji) Foi Koji.

Carlo e Enrico observaram o ruivo atentamente, querendo sondar as reações do espadachim. Shouji não desviava os olhos da bela face do Weiss loiro, aparentemente embevecido pela visão.

Mas Aya piscou, e tentou puxar pela memória, esforçando-se para lembrar quem seria aquele Koji. Talvez uma vítima das missões? Não recordava nada sobre esse cara, mas tinha aquela sensação de memórias desbotadas, de algo que aconteceu a muito tempo, e por isso temos dificuldade em reviver o que se passou...

(Aya suspirando) Não sei quem é.

(Shouji) Claro que não.

(Aya) !!

(Shouji) Setsuko foi muito eficiente em apagar as memórias de Omi, Yohji e a sua...

A ficha caiu, e Aya lembrou-se quem era aquele Koji. Na realidade ele recordou-se do episódio estranho e mal explicado que envolvera a Weiss aquela ocasião... a cerca de sete meses atrás.

(Aya) Então havia mesmo um Koji?

(Shouji) Sim, havia.

(Aya) Você vai me contar o que se passou naquele dia? Realmente Yohji, Omi e eu perdemos alguns dias de nossas vidas, e não sabemos ainda o que houve.

(Shouji) Oh, não. Apenas quem pode fazer isso é Setsuko. Eu não tenho permissão pra me envolver nas questões de pessoas vivas.

O ruivo suspirou exasperado. Detestava rodeios inúteis. Shouji devia ir direto ao assunto.

(Aya) Então pra que isso?

O garoto japonês desviou os olhos do ex-detetive, e fixou-os em Aya.

(Shouji) Eu te disse que sou um Domador, Aya. Um Domador de Almas. E uma das almas que mais me atraiu foi a de Koji. Meu ser nunca havia sentido tanto ódio e rancor em um único espírito antes. Foi... intrigante.

(Enrico) Então nos aproximamos dele. E tentamos aliviar sua dor.

(Carlo) Foi difícil, e cansativo. Mas finalmente descobrimos o motivo de tanto ódio: Koji não queria se afastar de seus anjos.

(Aya) Maldição.

Aquilo soava familiar. Era frustrante não poder se lembrar dos detalhes.

(Shouji) Uma forte ligação o mantinha preso as ruínas de uma mansão a beira do mar... encontramos ali não somente o espírito de Koji, mas de outros catorze jovens, todos tinham as almas leves, mas o ódio de Koji os mantinha na Terra.

(Carlo) Oh, como alguém podia desejar tanto uma coisa? Ele realmente amava seus anjos!

O italianinho agarrou-se ao irmão, apertando-o com força.

(Enrico) Eu amo meu irmão, e é isso que nos une. Mas Koji estava obcecado pelos 'anjos' e em seu ódio pela Weiss.

(Shouji) O ódio era tanto, que o fez recusar nossa oferta de ajuda. E o espírito dele continua preso nas ruínas. Tivemos que desistir de resgatar-lhe a alma.

(Enrico) Koji direcionava sua raiva contra a Weiss e contra Setsuko, porque vocês causaram a morte dele. Shouji achou que valia a pena investigar mais a fundo, esse grupo de assassinos treinados.

Shouji voltou os olhos para Yohji, e depositou as mãos sobre os macios fios loiros, numa carícia quase reverente.

(Shouji) Confesso que fiquei indeciso no momento em que encontrei vocês quatro. Não sabia qual escolher... no entanto, a medida em que ia conhecendo-os melhor, foi fácil decidir.

(Aya) Gostaria de fazer mais uma pergunta: porque você recolhe essas almas?

(Shouji) Como é mesmo aquela frase? É... ah, sim: "existe muito mais entre o céu e a Terra do que julga a VOSSA vã filosofia"... quando uma pessoa morre, sua alma ganha a oportunidade de nascer outra vez, gerando um ciclo infinito de reencarnação, que já dura milhares de anos.

(Carlo) Mas uma alma machucada, não tem forças pra se libertar e renascer.

(Shouji) Eu apenas domo almas enfurecidas, e tento dar-lhes a redenção, através do julgamento. Se o réu é julgando culpado e recebe a morte definitiva, todos os jurados podem renascer, completando o ciclo mais uma vez.

(Aya) E se o réu é declarado inocente?

(Enrico) Então vamos atrás de outra pessoa. Até que tenhamos a chance de vencer, e recebamos finalmente o direito de nascer outra vez.

O ruivo passou a mão pelos cabelos. Imediatamente uma dúvida nasceu em sua mente, e ele não teve receio de indagar:

(Aya confuso) Então, porque não escolhem alguém fraco de verdade?

(Shouji sorrindo) Hum... tentar trapacear as regras? Você é terrível, Aya. Mas o jogo prevê golpes sujos assim. Por isso sou eu quem escolhe o réu. Se Yohji perder, eu também perco: perderei minha vida definitivamente, e terei que renascer, começando minha jornada do zero. Se Yohji vencer, finalmente eu estarei livre de ser um Domador, e poderei renascer como uma pessoa normal.

(Aya) Como uma pessoa normal?

(Shouji) Sim. Durante milhares de anos, eu venho nascendo e morrendo, como um Domador de Almas, aquele que pode caminhar livremente entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Mas, tudo o que eu quero é uma vida normal.

O líder da Weiss ficou em silêncio por um instante. Depois cravou os olhos violetas na face pálida do garoto japonês.

(Aya sério) Você vem fazendo esse julgamento durante milhares de anos? Quer dizer que Shouji nunca venceu nenhum jogo?

Shouji olhou para Aya, de maneira pensativa.

(Shouji) Correto. Eu nunca venci um desafio.

(Aya)...

Aquilo não era bom.

oOo

Omi olhou pela vidraça da porta, notando que um grupo de garotas havia se formado em frente a Koneko outra vez. Suspirando, ele abriu a porta e explicou que não abririam naquele dia.

O loirinho já estava cansado daquilo.

Tentava desvendar os códigos dos arquivos, mas ficava difícil com as garotas interrompendo a cada cinco segundos.

Num primeiro momento, ele tentara ficar na cozinha, mas as infelizes batiam na porta de tempos em tempos, só pra perguntar o porque da floricultura estar fechada.

Então Omi decidira ficar na Koneko, permitindo que as fãs o observassem, mas a multidão ia aumentando, aumentando... até que o loirinho saia lá fora e as espantava.

Mas sabia ser coisa de minutos, para que aquelas doidas voltassem a se aglomerar na frente da Loja.

Ao ouvir as palavras gentis do chibi, explicando que não haveria expediente, as meninas gemiam desanimadas, mas se espalhavam por aí, sempre se mantendo nas redondezas.

Na terceira vez que a cena se passou, todas as garotas sumiram, com exceção de uma delas. Omi e a garota se entreolharam por um segundo. Aquela menina era alta, magra, deveria ter uns treze anos. A pele parecia ser de porcelana delicada. Os olhos eram negros e frios, mas não hostis. Os cabelos extremamente loiros estavam presos em um coque, no alto da cabeça.

O que impressionou o loirinho foi a postura rígida, e as maneiras aparentemente educadíssimas. Sem dúvida aquela garota era britânica.

(Omi) Não vamos abrir hoje...

Meu nome é Margareth Young, eu... sinto que você está preocupado com algo.

(Omi)...

(Margareth) Será que... você teria tempo para uma xícara de chá?

O chibi ficou intrigado com aquela garota. Olhou fixamente para ela, e suspirou. Algo não estava certo, mas sua intuição dizia para aceitar o convite da garota.

(Omi) Você quer um chá?

(Margareth) Todos os problemas se dissolvem com uma boa xícara de chá... e é nesse momento que se encontra várias respostas para os problemas.

(Omi sorrindo) Sei.

A garota ficou séria, e observou o loirinho atentamente.

(Margareth) Eu não vou pedir de novo...

Mais uma vez sua intuição o avisou de que deveria aceitar aquele convite. Apesar de estranho e fora de lógica, tinha algo obscuro naquela garota. Omi sentia quase como se estivesse na frente de um dos jurados.

Abriu a porta, dando espaço pra que ela passasse.

(Omi) Venha comigo.

(Margareth sorrindo) Obrigada.

Seguiu atrás do chibi, que se lembrou de pegar o palm.

(Margareth) Eu adoro fazer chá. Por favor, não se incomode com nada.

(Omi) !!

O jovem Weiss sentou-se numa das cadeiras, e observou surpreso que aquela garota inglesa movia-se pela cozinha como se já conhecesse cada detalhe do local.

(Margareth) Também vou fazer bolo. Chá sem um bolo não é a mesma coisa.

(Omi indeciso) Acho... que não temos chá...

A garota balançou a cabeça, e abriu a bolsa que trazia a tira colo, retirando um pequeno vidro.

(Margareth) Minha mãe sempre diz: uma verdadeira dama tem que estar preparada para tudo. Se você vai sair pra comprar sementes de flores, garanta que algumas estejam na bolsa, pra mostrar ao vendedor e conseguir as qualidades certas. Se você for ao dentista, leve sempre uma revista na bolsa, pro caso do consultório estar muito cheio, e todas as revistas já estarem sendo lidas.

(Omi surpreso) Oh...

(Margareth) E se for tomar chá na casa de alguém... cuide para que realmente tomem chá, e não aquela coisa horrível que chamam de café...

(Omi) Eu gosto de café.

Mas a garota ignorou o comentário. Começou a reunir ingredientes para fazer o bolo, enquanto a água para o chá não fervia.

(Margareth) O segredo de um bom bolo inglês, é colocar três colheres de vinagre na massa. Não fica gosto, mas o resultado final é quase a consistência de pão-de-ló. Parece que derrete na boca.

(Omi) Sério?

(Margareth) Sim! O chá das três pede um bolo... a gente pega essas manhas. Ah, se colocar algumas raspas de limão, você vai ter um sabor muito mais definido.

Aquilo estava parecendo um sonho. Omi estava na cozinha, com uma total desconhecida, recebendo dicas de cozinha... o que deveria pensar de tudo isso?

Depois de colocar o bolo no forno, a inglesa derramou a água fervente em um bule, terminando de preparar o chá.

(Margareth) Enquanto o bolo assa, o chá esfria um pouco. Não é delicado servi-lo muito quente, para que ninguém queime os lábios. Enquanto isso, que tal uns sonhos?

Não esperou resposta. Pondo-se a misturar trigo, ovos, leite e todos os ingredientes do bolinho conhecido como 'sonho'.

(Omi) Por que você está fazendo isso?

(Margareth) Oh, há anos que não tenho chance de preparar um chá inglês. Completei treze anos, mas minha mãe sempre me ensinou muitas coisas na cozinha. Ela diz que uma esposa de verdade deve ser perfeita em tudo. E eu adoro cozinhar.

(Omi) Sei. Mas, porque aqui?

(Margareth pensativa) Boa pergunta. Acho que... nunca tomei chá com um garotinho tão bonito quanto você.

(Omi corando) Ah, deixa disso.

(Margareth) É verdade. Espero ter chance de repetir isso, mas com os outros garotos também. Oh, aquele Aya é tão lindo... acho que ele seria o esposo perfeito!

(Omi)...

Não gostou nem um pouco de ouvir aquilo.

Margareth terminou de fritar o último sonho, ao mesmo tempo em que o bolo ficava pronto.

Ela desligou o forno, e arrumou a mesa, colocando pedaços fatiados do bolo inglês, assim como os bolinhos fritos e o chá quase morno.

(Margareth) Ah, o mais importante...

Abriu a bolsa novamente, e tirou um saquinho que estava cheio de canela em pó.

(Omi) O que é isso?

(Margareth) Sonho sem canela e açúcar não é a mesma coisa.

Um cheirinho agradável preenchia a cozinha. Só então o chibi deu-se conta de que estava com fome, e que não podia viver apenas de café. Sua boca encheu-se de água, ao observar os belos pedaços de bolo, e os grandes sonhos dourados, feitos por Margareth.

A garota sentou-se, e encheu uma xícara de chá para Omi, depois colocou um pedaço de bolo e dois sonhos sobre um prato, e entregou para o chibi.

(Margareth) Experimente.

O loirinho não se fez de rogado. Mordiscou o bolo, notando que estava mesmo macio, com um sabor muito leve de limão.

(Omi) Delicioso!!

A garota sorriu ao ouvir o elogio sincero. E colocou mais um pedaço de bolo sobre o prato.

(Margareth) E o chá? Prove e veja se eu não adocei demais...

Omi obedeceu, bebericando da xícara, e verificando que o gosto estava muito agradável, não estava doce demais, nem quente demais. Estava perfeito.

(Omi) Muito bom! Você tem dom pra cozinhar.

Margareth sorriu amplamente, abandonando a postura rígida pela primeira vez desde que chegara na Koneko.

(Margareth) Fico feliz em ouvir isso. Então eu vou ser uma boa esposa um dia. Você acha?

Piscando, Omi olhou fixamente para a garota. Ela o fitava de forma ansiosa, como se essa resposta fosse muito importante.

(Omi sorrindo) Nenhum homem pode dizer que vai passar fome ao seu lado. Você é prevenida e entende mesmo de cozinha, apesar da pouca idade. Mas, não vai experimentar também?

A menina balançou a cabeça dizendo que 'não', depois se levantou, pegou a bolsa e fez uma pequena reverencia para Omi.

(Margareth) Muito obrigada por me deixar usar sua cozinha, e apreciar sua agradável companhia. Você tem um bom coração, Omi. Mas bons corações pertencem a pessoas tolas.

(Omi surpreso) Não concordo com isso.

(Margareth) Tem todo o direito. Mas, preciso ir agora.

(Omi) E é só isso? Qual a razão de... quem é você, Margareth? Você é um dos jurados, por acaso?

A menina ergueu as sobrancelhas, demonstrando surpresa. Sem responder, deu as costas para o chibi e foi se afastando. Omi levantou-se e correu até ela.

Ambos seguiram em silêncio até a porta da floricultura.

(Margareth suspirando) Como o tempo passa depressa, quando estamos nos divertindo. Eu adoro cozinhar e perco a noção, na frente de um fogão.

(Omi) O mesmo acontece comigo, mas na frente de um computador.

Sorrindo, a inglesinha segurou nas mãos do jovem Weiss, e deu um apertão gentil, cheio de confiança.

(Margareth) O vento sopra do leste. Isso é um bom sinal.

(Omi) Você é inglesa, não é?

(Margareth sorrindo) Sim, sou inglesa.

(Omi) Ingleses também são boas pessoas.

(Margareth) Ser boa pessoa, não significa ter bom coração.

(Omi)...

(Margareth sorrindo) Eu conheço um garoto, que também é muito bondoso, e incrivelmente tolo. Ele quer apenas ajudar os outros, mas não pensa em si mesmo... Omi, o jogo está sendo trapaceado... isso tem que acabar.

Soltou da mão do chibi e se foi, caminhando apressada rua abaixo.

(Omi) Espera!!

Então ela era mesmo uma das juradas. E ela dissera que o jogo estava sendo trapaceado?!

Isso era muito ruim.

oOo

(Aya) Mas... se Yohji vencer o desafio, e você ficar livre, Shouji, o que acontece com os jurados?

(Shouji) Eu escolherei um deles, para ficar em meu lugar. E eles continuam o jogo do zero.

(Aya) Quem criou esse jogo?

O garoto de olhos azuis deu de ombros.

(Shouji) Sei lá.

(Aya) !!

(Shouji) Talvez tenha sido Kami sama, talvez tenha sido Buda, ou Shiva... não me peça explicações que sua mente limitada não pode entender... você não aceitaria as verdades que só descobre depois da morte.

(Aya) Isso parece uma fuga. Você não vai mais responder minhas perguntas?

(Shouji) Aya, você já sabe demais. Sabe mais que qualquer pessoa nunca soube antes. Não está satisfeito?

(Aya) Não.

(Shouji suspirando) Céus. Vivos são mesmo inconvenientes. Mas... quero te pedir uma coisa.

(Aya) O que?

(Shouji) Não conte nada disso para Yohji.

(Aya surpreso) Porque?

(Enrico) Porque ele poderia entregar o jogo.

(Aya) !!

(Carlo) Assim como você, Aya. Se estivesse no lugar dele. Vocês podem se influenciar pelas tragédias que deram fim as nossas vidas. E querer nos dar uma nova chance.

(Aya irritado) Eu nunca entregaria o jogo.

Tinha certeza de que não aceitaria morrer, antes de levar a cabo sua sede de vingança.

(Carlo) Não tenho tanta certeza, Aya.

(Enrico) Você diz isso com muita firmeza. Porém, uma coisa é falar, outra bem diferente é por em prática.

(Aya) Se não vão revelar mais nada, é melhor ir embora.

O garoto de longos cabelos negros se pôs em pé, e afastou-se do leito.

(Shouji) Se é sua vontade... mas... você vai deixar seus amigos sozinhos?

Antes que Aya respondesse, seu celular tocou. Era Omi.

(Aya) Pronto. Sim, você diz que Emiko ligou? Em Endo? Entendo. Vamos pra lá o mais rápido possível.

Desligou o telefone, e olhou pra Shouji.

(Shouji) E então?

(Aya irritado) Estou indo agora. Espero que cumpra sua palavra.

(Carlo sorrindo) Oh, confie em nós. Não vamos sair desse quarto, não é, irmão?

(Enrico) Sim.

(Aya) É a única opção do momento.

(Shouji) Boa sorte, Aya.

(Aya) Não preciso de sorte.

Saiu do quarto de forma decidida.

Shouji sorriu diante de tanto mau humor. Aya era mesmo único. Mas apesar disso, o garoto japonês preferia muito mais a Yohji.

(Shouji) Será que o final acontecerá como planejei?

Os gêmeos olharam para o companheiro, depois se entreolharam. A eles não interessava qual seria o desfecho de tudo aquilo. Perdendo ou vencendo, tudo o que importava é que pudessem permanecer juntos.

oOo

Aya chegou na Koneko, e encontrou tudo pronto, para a relativamente longa viagem para Endo. Omi havia organizado algumas coisas no porche, e apenas esperava que o ruivo chegasse.

Partiram em direção ao oeste da ilha nipônica. Endo ficava um pouco além de Kyoto.

(Omi) Você está tão calado, Aya. Aconteceu algo?

O líder da Weiss piscou, sem saber se deveria contar tudo para Omi. Acabou revelando a conversa da tarde. Shouji pedira que guardasse segredo de Yohji, mas não de Omi ou de Ken.

(Aya) Foi surpreendente. Mas eu já esperava algo do tipo

(Omi sério) Você espera que eu acredite que eles estão todos mortos?

(Aya) Acha tão difícil assim, Omi?

(Omi)...

É, talvez não fosse tão difícil de acreditar. Já enfrentara cientistas que faziam experiências terríveis, criando verdadeiros monstros. Lutava contra a Schwarz, e seus membros dotados de poderes especiais... conhecera na pele toda a maldade que o ser humano era capaz de fazer...

Agora enfrentava mortos vivos. Não faltava mais nada.

(Aya) Lembra-se daquele dia, em que fomos parar naquela praia afastada, e encontramos Ken falando de coisas estranhas e pessoas fictícias com os nomes de 'Setsuko', 'Koji' e 'Seita'?

(Omi pensativo) Aquela vez em que perdemos a memória?

(Aya) Sim.

(Omi) O que é que tem?

(Aya sério) Shouji sabia disso. Ou melhor, ele sabe, e pelo jeito conhece cada detalhe do caso.

(Omi surpreso) Você acha que ele pode estar envolvido?

(Aya suspirando) Sinceramente não sei o que pensar disso.

(Omi) Também me aconteceu uma coisa estranha...

Enquanto Aya manobrava pela rodovia, livrando-se do intenso trafego de veículos, o chibi ia revelando tudo o que se passara durante a tarde, e a inusitada visita de Margareth.

(Aya) E você desconfia que ela é uma jurada?

(Omi) Sim, não há outra explicação. Aya...

(Aya) O que foi?

(Omi preocupado) Ela me disse que um garoto de bom coração está trapaceando no jogo...

(Aya) Não deve ser Miguel. Esse não tem bom coração.

(Omi) Você não acha estranho que Shouji nunca tenha vencido um julgamento? Se ele faz isso por séculos e séculos... seria de esperar que pelo menos uma vez ele escolhesse um réu que ganhasse, não é?

Aya estreitou os olhos. Pensando bem, era mesmo muito suspeito...

(Aya) Você acha que Shouji perdia de propósito? Não faz sentido... porque ele faria isso?

(Omi suspirando) Não sei. Tudo isso é estranho, esse jogo, ou julgamento, seja lá como chamam. É suspeito que Shouji nunca vença.

Silenciando, Aya começou a pensar, mas até que Omi tinha razão. Seria de se esperar que Shouji tivesse experiência em escolher réus, mas se fosse assim, ele já teria vencido, e ganhado o prêmio de uma vida normal, que ele tanto queria...

Porque ele trapacearia para perder?

(Aya pensativo) O que exatamente Margareth disse?

(Omi) Bem ela disse: "Conheço um garoto, que também é muito bondoso, e incrivelmente tolo. Ele quer ajudar os outros, e não pensa em si mesmo... Omi, o jogo está sendo trapaceado... isso precisa acabar" bom, foi mais ou menos isso que Margareth falou.

O frio líder da Weiss franziu a sobrancelha. Ajudar os outros? Mas... se Yohji perdesse, os únicos que se beneficiariam disso eram os jurados, que ganhariam uma nova chance de...

(Aya surpreso) Não pode ser!!

(Omi assustado) O que foi?

Shouji estava preocupado com os espíritos rebeldes... e queria que eles nascessem outra vez, com uma nova vida e novas esperanças, e por isso estava trapaceando no jogo, sempre escolhendo réus que não passariam no julgamento?! Repetia essa trapaça através dos séculos?

(Aya sério) Então... Yohji não vai passar no julgamento, e Shouji sabe disso.

Se as desconfianças dos dois Weiss se confirmassem... seria terrível!

Foi então que uma outra dúvida surgiu na mente de Aya. O ruivo descobrira muitas coisas, mas esquecera de perguntar algo de extrema importância: ele sabia que se Yohji perdesse, o Weiss loiro receberia a morte definitiva, mas então... o que aconteceria com a sua alma?

(Omi) Oh, Aya...

O loirinho desejou que eles nunca tivessem se envolvido com aquelas coisas sobrenaturais, mas agora... era tarde demais.

Continua...