Título: O julgamento das sete mortes
Ficwriter
: Kaline Bogard
Beta:
Akemi Hidaka
Classificação
: yaoi, sobrenatural
Pares
: YohjixKen
Resumo:
O que parecia um inocente pedido de ajuda transforma a vida de Yohji numa corrida contra o tempo.


Records of 2004 a.C.

O julgamento das sete mortes
Kaline Bogard

Capitulo 13
Uma oferenda de amor.

Margareth piscou, ainda não querendo acreditar no que via.

(Margareth) Não era bem isso que eu estava pensando, Aya... mas... confesso que fiquei surpresa!!

Aya estava usando um belíssimo terno azul escuro, que realçava os olhos violetas. O casaco estava aberto, revelando uma camisa branca de seda, com corte impecável. Por último estavam a gravata borboleta e o par de sapatos sociais, ambos negros.

Na mão esquerda, o líder da Weiss segurava um botão de rosa, vermelho como sangue, de pétalas aveludadas e macias.

(Aya) Fiz reservas em um Akabeko. Podemos almoçar, enquanto você me conta sua história.

(Margareth) Ah...

O ruivo percebera que ela estava mesmo surpresa, ou seja, finalmente saberia toda a história da jovem inglesa.

Pra terminar, Aya estendeu a mão e prendeu a rosa entre os fios de cabelo loiro, logo acima da orelha esquerda de Margareth.

(Aya) Pronto.

A jovenzinha fechou os olhos e abaixou a cabeça. Ficou alguns segundos em silêncio.

O espadachim apenas observava, respeitando a reflexão de Margareth.

Quando a garota ergueu os olhos e fitou Aya, o ruivo percebeu que as íris negras estavam carregadas de tristeza e dor.

(Margareth) Eu... nunca ganhei uma flor antes... se eu pudesse, eu choraria agora... obrigada, Aya.

(Aya)...

(Margareth) Você venceu. Vamos ao tal Akabeko.

oOo

Ken desceu do carro e adiantou-se indo abrir a porta da Koneko. Finalmente estavam livres do hospital, e logo após a alta do Weiss loiro, os três companheiros se reuniram e partiram.

(Yohji suspirando) Como é bom voltar pra casa.

Olhou em volta, sentindo falta da rotina diária. Começava a se dar conta do que estava em jogo: sua vida. Claro que sempre se arriscava, ao participar das missões, mas nesse caso era muito diferente. Ele sentia como se estivesse com a corda no pescoço... e se deslizasse um milímetro sequer... viraria história.

(Omi) Faltam quinze minutos pras dez...

(Yohji) Daqui a pouco os gêmeos chegam... acho que da tempo de tomar um banho rápido...

(Ken) Vou com você.

(Omi corando) Isso não vai ser rápido...

(Ken) !!

(Yohji) Ken, depois que eu passar por isso, temos que tirar um tempo só pra gente...

(Ken sorrindo) Com certeza!!

(Omi) Er... enquanto vocês tomam banho, eu vou preparar um café. Acho que mais algumas horas e o código estará descoberto. Então saberemos o que eles escondem com tanto afinco.

(Yohji) Obrigado, chibi.

(Omi)...

(Ken) Anda logo, Yohji!!

Agarrou na mão do loiro e o puxou pra dentro de casa.

Omi sorriu e olhou para seu laptop. Decidiu que deveria transferir os dados para o seu micro. O computador portátil estava a muito tempo ligado. Melhor dar um descanso à máquina.

oOo

Aya e Margareth estavam sentados em uma das mesas ao fundo do Akabeko, bem afastados dos outros clientes. Apesar do restaurante de ótima qualidade, nenhum dos dois estava comendo nada. Margareth por motivos óbvios, é claro. E o ruivo bebericava um copo de suco de laranja.

O silêncio entre os dois era absoluto. De vez em quando a inglesinha levava a mão até a cabeça e tocava a rosa vermelha quase com reverência.

Aya começava a achar que Margareth não lhe contaria nada. Talvez ela estivesse envolvida demais em suas memórias do passado para começar uma conversa sobre o que acontecera.

Mas Margareth suspirou, e voltou os olhos negros para Aya.

(Margareth) Você quer mesmo saber minha história, não é? Não creio que ela seja pior do que as de meus companheiros... espero que não se decepcione...

(Aya) Não se preocupe.

Normalmente Aya não era curioso, mas aquela não era uma situação corriqueira. Por outro lado o espadachim queria saber que histórias de dor e lágrimas rodeavam aqueles garotos, crianças na verdade.

(Margareth) Acho que no fim, eu paguei o preço por correr atrás de meus sonhos, de ter coragem de dar o primeiro passo.

(Aya)...

Ouvia atentamente. Não vestira aquele terno nem fizera a reserva a toa.

(Margareth) Eu sempre sonhei em ser uma noiva... usar um vestido dos sonhos, e ter um belo rapaz me esperando no altar... bem, o noivo eu já tinha...

(Aya surpreso) Um noivo?!

Com apenas treze anos? Parecia incrível.

(Margareth) Oh, eu não o conhecia... na Inglaterra ainda é comum o casamento por conveniência.

(Aya) Aqui no Japão também existe isso, apesar dos tempos 'modernos'.

(Margareth sorrindo) Ah, você sabe do que estou falando. Fui prometida ao filho de um fazendeiro. Ele era um ano mais velho , e na verdade eu não o conhecia.

(Aya) Seus pais arranjaram o casamento.

(Margareth) Apesar disso eu estava satisfeita, e sonhava dia e noite com meu futuro marido... imaginando como ele seria... como seria nossa vida juntos...

A garota suspirou, e seus profundos olhos negros se perderam em lembranças distantes, deixadas na Inglaterra a muito tempo atrás. Sonhos de uma criança que nunca se tornariam realidade. Desejos de uma noivinha que jamais se tornaria mulher.

(Margareth) Minha mãe me ensinava a ser uma mulher perfeita, eu queria muito me casar logo, contava os dias, as horas!! Não conhecer meu marido não era empecilho. Afinal, foram meus pais que o escolheram, e eu sei que meus pais nunca desejariam o meu mal.

(Aya) Ele a matou?

A garota arregalou os olhos.

(Margareth) Não! Claro que não! Chegou o dia em que eu conheceria meu noivo, e parti em um navio, mas... nós nunca nos encontramos...

oOo

(Yohji sorrindo) Viu, chibi, eu disse que seria rápido!!

(Omi)...

Olhou pros dois companheiros que se aproximavam, e sustinham o ar mais satisfeito da face da Terra.

(Ken) A necessidade controla nosso tempo!

Antes que Omi respondesse, os Weiss ouviram batidas na porta, e deduziram que se tratava dos gêmeos. Acabaram se entreolhando. Mas não havia muito que fazer.

(Yohji) Eu vou abrir a porta...

Deu de cara com os jovens italianos.

(Enrico) Preparado?

(Yohji suspirando) Na verdade não muito...

(Carlo sorrindo) Não tenha receio. Vamos pedir apenas uma coisa de você...

Ken e Omi aproximaram-se também, parando a certa distância.

(Yohji) E vocês vão fazer o julgamento aqui, no meio da sala?

(Carlo) Sim. A menos que você tenha algo contra.

(Yohji) Não... só achei estranho...

Lembrou-se que os outros dois julgamentos haviam sido executados na rua... e em um terreno baldio. Pelo menos ali em casa ele se sentia mais seguro.

(Ken) E nós dois podemos ver?

Queria estar a postos, para o caso de Yohji precisar de apoio. Não tinha intenção de invadir o teste que os gêmeos executariam, pois estava tranqüilo quanto a isso: eles afirmavam que seria um teste fácil de se vencer... não existiam motivos para duvidar.

(Enrico) Claro. Podem observar tudo.

(Carlo sorrindo) Yohji, o seu julgamento começa agora. Você é inocente, até que se prove o contrário.

(Yohji)...

Os gêmeos se aproximaram do playboy, e esticaram os dedos indicadores da mão direita, tocando a testa de Yohji ao mesmo tempo.

(Enrico e Carlo) Seu coração está na balança.

No mesmo instante o Weiss loiro ficou imóvel, com os olhos fechados e as mãos fortemente cerradas.

(Ken preocupado) Yohji...?

(Carlo) Ele foi para os Campos da Sinceridade. Nós também vamos pra lá agora, mas antes de iniciarmos, precisamos de uma oferenda.

(Enrico) Uma oferenda de amor...

Os italianinhos olharam fixamente para Ken, que sentiu um arrepio.

(Ken)...

(Omi) O que querem dizer?

Como resposta, os irmãos se aproximaram do jogador, e tocaram-lhe na testa igual haviam feito com Yohji.

(Ken) Ahn...

O moreninho virou os olhos e caiu sem sentidos nos braços dos italianinhos.

(Omi surpreso) Ken!! O que vocês fizeram?!

Carlo passou a mão sobre o rosto de Ken e suspirou.

(Carlo) Nosso teste exige uma oferenda... um cordeiro que deve ser sacrificado em uma prova de amor sincero.

(Enrico) Percebemos que Yohji gosta muito de Ken, e o amor é correspondido... agora queremos ver se esse sentimento é forte o bastante para vencer a tudo.

(Carlo) Yohji terá coragem de matar Ken, para continuar inocente? Ou ele será julgando culpado, por não ter essa coragem?

O coração do loirinho disparou. Então AQUELE seria o teste dos irmãos tão gentis? Eles exigiriam Yohji escolhesse entre matar Ken ou receber a terceira morte?! Cruel... muito cruel!!

(Omi) Oh, não!!

Os gêmeos fecharam os olhos, ainda com Ken entre seus braços, e se paralisaram. O chibi observou a cena por um segundo: Yohji estava em pé, próximo ao sofá, com os olhos fechados e punhos cerrados. Mais ao meio da sala estavam os gêmeos, imóveis, com Ken em seus braços, desmaiado. Parecia cena de um quadro...

O jovem Weiss sentiu que observava quatro estátuas humanas.

(Omi suspirando) Deus... e agora?!

Sentou-se no sofá, e ficou apenas aguardando.

Flashback – Lembranças de Margareth

Liver Pool – 1999

Margareth andava apressada pelo porto, costurando entre as pessoas que iam e vinham de todas as direções. Sua mãe seguia logo atrás, às vezes tendo que correr, pra não perder a animada jovenzinha de vista.

(Margareth) Oh, mamãe! Não posso conter a ansiedade!! Será que meu noivo vai gostar de mim? Rezo para que sim!! Quem sabe ele não decide logo marcar a data do nosso casamento.

(Mãe) Acalme-se Margareth! Isso não é comportamento de uma dama.

(Margareth sorrindo) Desculpa! Mas não posso evitar! Sonhei tanto com isso!

(Mãe) Qual é o nome do navio mesmo?

A inglesinha leu o bilhete e sorriu.

(Margareth) "Estrela do Leste". Vai estar no Píer 05.

(Mãe) É ali, veja.

Apressando mais ainda o passo, a loirinha alcançou a prancha e aproximou-se de um marinheiro que vigiava o local.

(Margareth) Cheguei muito cedo?

O marinheiro olhou para ela, e fez uma careta, que parecia um sorriso as avessas.

(Marinheiro) Não. Bilhete.

Margareth voltou os olhos brilhantes para a mãe e abriu os braços, pedindo um abraço. Viajaria sozinha pela primeira vez na vida. Sua jovem mãe estava um pouco preocupada, mas confiava na menina. A loirinha iria de navio até a cidade natal do noivo, e lá um criado do rapaz estaria esperando por ela. Seria tudo muito seguro.

Eles compraram uma passagem para um navio de segunda classe, visto que não tinham dinheiro sobrando para pagar um luxuoso cruzeiro. Mas o navio "Estrela do Leste" parecia seguro, e resistiria bravamente a qualquer eventualidade.

A mãe terminou o abraço, e olhou a filha de alto a baixo. Assentiu diante do vestidinho rosa claro, bem passado. Os cabelos loiros estavam presos em um coque rígido.

(Mãe) Muito cuidado minha filha. E comporte-se, está bem?

A loirinha concordou com a cabeça e deu as costas, rumando para o navio.

Sua mãe não foi embora enquanto o grande cargueiro não partiu, levando sua menininha embora. Discretamente a jovem senhora enxugou uma lágrima que teimava em escorrer por sua face.

Em um determinado momento Margareth apareceu no tombadilho, junto com outras garotas e começou a acenar com um lencinho branco, em despedida.

A mãe também acenou com um lencinho azul, sentindo-se totalmente emocionada e orgulhosa da filha que criara com tanto carinho e cuidado.

Seu marido não pudera vir, pois estava em uma viagem de negócios, mas ele estaria ali para receber a garotinha de volta.

(Mãe) Muito cuidado, Margareth. Volte logo pra gente.

Deu as costas e foi embora, desistindo de observar o navio que se perdia no horizonte.

Foi a derradeira vez que viu sua filha.

oOo

Yohji apertou os olhos com força. A última coisa que se lembrava era de estar na sala de sua casa, junto com Ken, Omi e os gêmeos. Depois disso não se lembrava de mais nada.

Respirando fundo, o playboy abriu os olhos e mirou em volta. Surpreendeu-se por notar que estava em uma espécie de campo. Um campo cheio de girassóis. Enormes girassóis, a grande maioria quase da altura do Weiss loiro, e uns poucos mais altos ainda.

(Yohji) Que... lugar é esse?

O céu aberto mostrava que era noite, pois a negritude celestial estava pontilhada de milhares de pequenas estrelas. No lado sul era possível admirar a bela lua cheia.

Apesar de ser noite, todos os girassóis se encontravam abertos e apontavam para o lado direito de onde Yohji se encontrava.

(Yohji)...

Decidiu avançar na direção indicada pelas flores. Foi abrindo espaço entre os girassóis, afastando-os gentilmente com as mãos. O playboy tentava seguir em linha reta, apesar de ser difícil caminhar entre aquelas flores altas. Ele não podia ver o que vinha pela frente, nem se orientar direito.

Finalmente depois de caminhar quase meia hora, ele finalmente saiu em um campo aberto, limpo, coberto com um grama baixinha e verdinha.

No meio do campo, havia uma espécie de altar de pedra, coberto com uma longa toalha de renda branca. Do lado direito do mesmo, estava Carlo, e do lado esquerdo estava Enrico. Ambos vestiam roupas idênticas: um modelo de manto branco, com detalhes em vermelho e dourado.

(Yohji) O que eles estão fazendo?

Percebeu que havia alguma coisa sobre a mesa... na verdade era alguém e parecia muito com...

O playboy aguçou a vista. Foi então que sentiu o sangue gelar nas veias.

(Yohji surpreso) Ken...

Caminhou a passos largos, aproximando-se do altar. Realmente era o jogador que estava deitado, sem sentidos sobre a mesa de pedra.

(Enrico) Que bom que está aqui.

(Carlo) Veja, Yohji, essa é a nossa oferenda de amor.

(Yohji)...

O playboy fixou a vista nos irmãos italianos. Pode ver que Carlo segurava um pequeno cântaro de ouro. Enrico segurava um longo e afiado punhal dourado em suas mãos.

(Carlo sorrindo) Aproxime-se.

O playboy deu alguns passos, e acabou dando a volta no altar. Tinha os olhos verdes presos em Ken. O moreninho respirava tranqüilamente, e aparentava apenas dormir de modo suave.

(Yohji) O que aconteceu com ele?

(Enrico) Ken te ama tanto, que aceitou dar a vida por você, Yohji. Nosso teste exige uma oferenda de amor, e Ken é o cordeiro perfeito. Ele entregou-se de corpo e alma, dando a vida em troca da sua absolvição.

(Yohji) !!

O loiro empalideceu muito e sentiu uma vertigem. Não entendia o que estava acontecendo ali.

(Carlo) Tudo o que você tem que fazer é matá-lo.

(Yohji) Ah, apenas isso?!

O deboche estava presente em cada letra. Yohji simplesmente não podia acreditar no que ouvia. Achou que fosse uma brincadeira de mau gosto, mas pelas feições sérias dos dois gêmeos, percebeu que não era.

(Enrico) Estamos falando sério. Tudo o que tem que fazer é usar o punhal. Assim será julgado inocente, Yohji.

(Yohji) Esse era o julgamento 'fácil' que vocês me prepararam? Acham que eu vou causar mal ao Ken, apenas pra me safar dessa encrenca? Claro que não!

Nunca faria mal a Ken!! O amava demais pra isso!! Era absurdo apenas considerar a hipótese contrária.

(Carlo) Oh, não seja tolo, Yohji. Não é de verdade. Você vai matá-lo apenas aqui, em nosso cenário. Quando o teste acabar, ele estará bem, esperando por você na Koneko.

(Yohji desconfiado) Então esse não é o Ken de verdade? É apenas uma ilusão?

(Enrico) Está enganado. Este é o verdadeiro Ken. Ele foi trazido com você, para fazer parte do julgamento. Procuramos um amor que seja tão grande quanto o nosso. Sabemos que Ken é capaz de morrer por você, e é isso que ele vai fazer aqui.

(Carlo) Quando o teste acabar, ele ficara bem. E você será declarado inocente.

(Yohji) NÃO! Nem pense nisso. Meu amor por Ken sem dúvida nenhuma é MAIOR que o de vocês. Não vejo como MATAR Ken vai provar isso.

(Carlo) Você não seria capaz de matar por ele, Yohji?

(Yohji irritado) CLARO! Eu mataria e morreria por esse garoto. Eu o amo mais que a minha vida!!

(Enrico) Então... se você mataria por ele, faça.

(Yohji furioso) EU MATARIA POR ELE E NÃO A ELE!!

(Carlo) Mas... esse é o nosso teste. Aceite matar Ken, Yohji. Aceite a oferta de amor que nós lhe fazemos. Queremos que você continue inocente, e sua vida depende disso.

(Enrico) Se você não matar Ken, será declarado 'culpado' por duas vezes, por mim e por meu irmão. E você vai receber a morte definitiva depois disso.

(Yohji)...

O loiro empalideceu e silenciou. A morte definitiva... pra não receber a tal morte definitiva tinha que... precisava...

(Carlo) Faça. Ele não vai sentir dor nenhuma, e você ficara inocente.

(Enrico) Ken seria capaz de morrer por você. É uma prova de amor.

(Yohji) Mas... não preciso que ele me prove nada. Eu o amo de qualquer jeito... não quero que ele faça parte disso...

(Carlo) É impossível o amor vir apenas de um lado. Uma pessoa sozinha não ama. Queremos ver o tamanho desse sentimento. Já sabemos que o limite do amor de Ken é a morte... e agora o seu limite, Yohji? Até onde vai o seu coração?

(Yohji)...

Observou as faces pálidas dos jovens italianos. Eles não estavam brincando. Era muito sério... queriam mesmo que matasse Ken com aquele longo e afiado punhal... como era possível isso? Porque eles exigiam tal prova de amor?

Se ele não destruísse aquele que amava, mesmo que num 'cenário' receberia a morte definitiva. Morte... significava que nunca mais poderia ficar junto de Ken outra vez, nem beijá-lo e sentir seu calor...

Enrico e Carlo se entreolharam. Estavam preparando o terreno para o momento do sacrifício final.

O gêmeo mais alto pegou as mãos de Yohji, e depositou o punhal sobre elas.

(Enrico) Faça.

(Carlo) Mate-o.

(Enrico) Carlo vai recolher o sangue de Ken naquele cântaro de ouro.

(Carlo) Mas você precisa fazer isso.

(Yohji)...

(Enrico) Ou prefere receber a morte definitiva?

(Carlo) Se você não passar no teste, vai receber a morte definitiva.

(Yohji) !!

oOo

Margareth logo fez amizade com sua companheira de cabine. Em pouco tempo tocavam confidências como se fossem amigas de longa data.

A jovem inglesa fez questão de mostrar os panos de prato que havia bordado manualmente. Elisa, a companheira de Margareth mostrou-se surpresa com o empenho que a jovenzinha demonstrava em ser noiva.

(Elisa suspirando) Criança, eu tenho pelo menos dez anos mais que você, mas nem metade do seu entusiasmo em casar.

(Margareth sorrindo) Algumas pessoas sonham com fortunas, ou viagens... esse tipo de coisa. Eu só quero uma família, cuidar do meu marido e ter alguns filhos.

(Elisa) Seu noivo é um homem de sorte, meu bem.

A inglesinha sorriu e corou, diante do elogio sincero.

Tudo ia bem, até o terceiro dia de viagem. Então a terrível verdade se revelou: o "Estrela do Leste" era um navio de tráfico de escravos, que agia no norte europeu, enganando pessoas e raptando-as. Nessa viagem os bandidos estavam recolhendo uma carga humana de escravas brancas.

Por esse motivo a passagem era tão barata. Eles agiam sobre disfarce e muito cuidadosamente. Apenas uma vez a cada dois meses transportavam algum tipo de carga ilegal. As outras viagens trabalhavam com mercadoria limpa.

Margareth, Elisa e as outra oitenta moças não tiveram sorte.

Armados com rifles e revolveres, os marujos controlaram todas as mulheres e as reuniram no tombadilho.

(Margareth confusa) O que... está havendo?

(Elisa chorando) Estamos encrencadas, meu bem!

(Margareth) !!

(Elisa) São mercadores de escravas brancas.

(Margareth) Oh...

A jovenzinha sentiu muito medo, ao entender o que acontecia. Mercadores de escravas brancas proliferavam a Europa, visto que se tratava de um comercio extremamente lucrativo.

Garotas seqüestradas sumiam por uns tempos, e logo retornavam, surgindo em paises distantes, sob total controle de seus cafetões. Não havia mais saída, quando se caía nessa vida.

Elisa abraçou Margareth.

(Elisa chorando) Deus... você é tão jovem... uma criança ainda! Que destino maldito!!

Todas as jovens assustadas foram levadas para o compartimento de cargas do navio. Depois disso os marujos as separaram, e fizeram com que entrassem em grandes caixas de madeira. Cada caixa continha cinco garotas, e possuíam grandes buracos redondos, talvez com intenção de deixar o ar entrar.

As três jovens que foram presas com Margareth e Elisa estavam tão assustas quanto desesperadas. Mas não havia nada que pudessem fazer.

Por mais profundas que fossem as preces de Margareth, elas não foram ouvidas. Decididamente era seu destino e das outras jovens, perecer naquela viagem.

No segundo dia após a prisão, o capitão do navio descobriu que uma outra embarcação se aproximava, e levava a marca da frota imperial.

(Capitão) Aqueles cães ingleses sentiram nosso faro. Uma inspeção agora seria fatal.

(Imediato) A corda nos espera, capitão. Seremos enforcados.

(Capitão) Quantas garotas temos dessa vez?

(Imediato) Oitenta e duas, senhor.

(Capitão) Uma carga razoável. Precisaremos de pelo menos um ano pra recuperar o prejuízo...

(Imediato sorrindo) O senhor está dizendo...

(Capitão) Aliviar a carga, marujo. Estamos sobre o ponto 315, se não me engano existe um abismo abaixo de nós...

(Imediato) Sim, senhor, capitão.

'Aliviar a carga' era a expressão usada pelos bandidos quando queriam livrar-se de uma mercadoria em momento de perigo.

Aquele navio era equipado com compartimento de cargas capaz de se abrir em alto mar e assim despejar todo o conteúdo em plenas águas do oceano.

Com grande susto, as garotas perceberam que as caixas em que estavam presas pareciam se mover... todas foram lançadas ao mar.

(Elisa desesperada) Oh, Deus!! O que eles fizeram?!

Quantidades de água salgada entravam pelos grandes buracos, inundando as caixas e levando-as para o fundo do mar.

(Margareth) Oh!!

Todas tentavam forçar as paredes de madeira, mas a água continuou invadindo de maneira nefasta.

Em poucos segundos estavam submersas, sem poder respirar. Elisa e as outras três se debatiam, mas não agüentaram muito tempo. Logo seus pulmões se encheram com a água salgada, e elas pararam de respirar.

Margareth agüentou um pouco mais, graças aos pulmões jovens. Horrorizada, ela observou os corpos de suas companheiras, sabendo que teria o mesmo destino delas... jamais veria um novo dia... nunca mais poderia encontrar seus pais, nem... conheceria seu noivo!!

Todos seus sonhos morreriam, naquele momento.

Sem poder conter a respiração por mais tempo, Margareth sentiu a agonia de ter seus pulmões preenchidos pela gélida e implacável água do mar.

A vida tão cheia de sonhos e desejos se esvaiu... tomada pelo mar que tragava a caixa de madeira inevitavelmente para o profundo abismo negro.

As garotas estavam mortas, e as provas dos crimes contra aqueles marujos, destruídas...

oOo

(Enrico) Esperamos muito de você, Yohji. Acreditamos no seu amor por Ken.

(Carlo) Nosso teste é tão fácil...

(Yohji)...

O playboy olhou para a face de Ken. O amante estava tão tranqüilo... tão sereno... observá-lo daquela maneira apenas fazia o amor que sentia crescer. Era bem o jeito do jogador, agir de modo impulsivo, e acabar se envolvendo naquele julgamento.

O ex-detetive voltou os olhos para a arma que tinha nas mãos.

Yohji sabia que o amor de Ken era grande o suficiente para jogá-lo nas garras da morte, apenas para tentar salvar quem tanto amava... mas... estaria o amor de Yohji a altura? Pra provar isso tinha que matar aquele moreno magnífico?

(Yohji sussurrando) Não posso...

Lágrimas quentes rolavam soltas pela face pálida. Deu-se conta de que nunca faria mal a Ken, não importavam quais fossem as conseqüências. Soltou o punhal, parecendo sentir asco do contato com o mesmo. A arma caiu sobre o chão de terra, cravando-se verticalmente.

(Carlo) Oh... não...

(Enrico) Porque?!

O Weiss caiu de joelhos no chão e escondeu o rosto com as mãos.

(Yohji) Podem me condenar, e me dar a morte definitiva, mas eu nunca faria mal ao Ken apenas pra salvar meu pescoço.

(Carlo) Por favor, Yohji...

(Enrico) Você TEM que passar nesse teste, ouviu? Se você não consegue fazer isso, eu faço.

(Carlo)...

(Yohji) !!

Abaixou-se e recolheu o punhal, diante da surpresa de Yohji e Carlo.

Horrorizado, o Weiss percebeu que o italiano erguia a mão, e já começava a baixá-la com intenções homicidas.

(Yohji) Pare!!

(Carlo) Enrico!!

Mas a mão com o punhal descia velozmente com um único alvo: o coração do moreninho.

Continua...