Capítulo 2 – Preparando o cenário

"Tiago?Sirius? Alguém em casa?"

Pedro sobressaltou-se com a súbita voz vinda de uma das alas despovoadas da casa. Sirius ergueu os olhos acinzentados para o alto, curioso:

- Deus? É você?

-É a minha mãe, seu imbecil!

- Ah é, tava mesmo familiar...

Com a dedução instantânea, Pontas deu um salto da poltrona para o chão e de lá para a direção dos chamados. Os demais o seguiram instintivamente, deixando para trás um raio fulgurante rasgar as nuvens cinzas que planavam na paisagem além da janela fechada. A agora vazia sala de estar foi subitamente iluminada pela descarga elétrica.

Em meio às chamas da lareira ornamentada por detalhes esculpidos em mármore preto, planava a cabeça da senhora Potter. As chamas lambendo sua face lhe davam um ar mais endiabrado do que o normal, fator contribuinte para a recepção cordial que recebeu:

-Olá tia Judy!- acolheu Sirius de modo carinhoso.

-Como vai senhora Potter? –sorriu Remo educadamente.

-Oi! -guinchou Rabicho laconicamente.

-Fala, mãe! –sorriu Tiago de modo brejeiro.

A cabeça da mulher os analisava como se tentando descobrir o que diabos eles estavam aprontando antes de sua chegada, pois nunca tivera uma recepção tão calorosa. Os oclinhos delicados patinavam em seu nariz afilado quando ela meneou a cabeça, questionadora:

-O que estavam fazendo?

-Nada! - foi a exclamação do quarteto, Tiago subitamente lembrando-se do papelzinho colado em sua testa e o arrancando curioso. Os demais fizeram o mesmo; Sirius fazendo uma careta ao ler o seu. Pela primeira vez na vida eles estavam sendo sinceros...

-Bom... -ela forçou-se a acreditar, esticando o pescoço para tentar enxergar além dos robustos rapazes e checar algum pedacinho ínfimo de sua casa. -Eu vim aqui avisar para vocês que não vou voltar pra casa muito cedo hoje. Para ser mais sincera talvez volte depois da meia noite, o hospital infelizmente está ficando cheio graças a essa chuva...

Os quatro ouvintes expressaram suas indignações de modos totalmente diferentes: Tiago esbugalhou os olhos, espantado. Sirius abriu a boca e adotou uma expressão revoltada, Pedro levou uma das mãos rechonchudas ao coração,como se estivesse à beira de um ataque cardíaco, enquanto Remo fez um gesto de compreensão um tanto deprimido.

-Não me olhem desse jeito!- pediu a mulher, com pesar- é culpa do Henry que foi viajar a mandos do Ministro e não vai poder estar aí com vocês há tempo. Mas isso não quer dizer que eu vou deixar meus garotinhos morrerem de fome...

-Vai nos mandar uma coruja?-iluminou-se Rabicho.

-Mandar um jantar por corujas?E nessa tempestade?-gargalhou a bruxa. -Não, não meu querido, receio que não. O que eu ia sugerir era algo bem mais simples.

-Vai nos mandar jantar fora?-alegrou-se Sirius, que estava louco para sentir o sabor do ar do lado de fora, mesmo que para isso tivesse que se ensopar feito um pato.

-De jeito nenhum!-a mãe de Tiago ficou assombrada com a idéia de largar quatro jovens irresponsáveis vagando pelas ruas de Londres, debaixo de uma enorme tempestade, em busca de um restaurante. -O único jeito é deixar vocês cozinharem o seu próprio jantar!

Desta vez as reações foram exatamente iguais: os quatro marotos caíram na gargalhada.

- Eu posso saber o que é tão engraçado?-censurou ela, arqueando uma sobrancelha ameaçadoramente. Seu filho, ainda ofegante, tentou clarear suas idéias:

-Acontece que nós não sabemos nem beber água sem derramar mãe, imagine preparar um jantar!

-Ora Tiago, não seja infantil! É claro que quatro rapazes de praticamente dezessete anos sabem se virar numa cozinha!- e lançando um olhar esperançoso para Lupin, a médibruxa completou - e eu aposto que seu amiguinho bem educado sabe algumas coisinhas.

Remo corou furiosamente, mas ainda assim deu um sorrisinho para ela. Sirius girou os olhos em total desprezo.

-Então está combinado. - ela finalizou, estalando os lábios. -Boa sorte, meus meninos!

O fogaréu se agitou numa dança eufórica e luminosa, fazendo os quatro se afastarem: a cabeça da senhora Potter desapareceu da lareira. Um silêncio constrangedor perdurou por quase um minuto no hall da casa, até que Tiago, passando as mãos nos cabelos negros de modo a atiçá-los, concluiu:

-Estamos liquidados!

-Bem, nós temos duas escolhas...-Sirius jogou os braços displicentemente para trás da cabeça.- Ou nós morremos de fome, ou assaltamos um restaurante...

-Ou preparamos o jantar. - alfinetou Remo.

- Estamos fritos do mesmo jeito! – traduziu Almofadinhas, num tom de conformismo - Eu é que não como uma coisa feita por mim!

-Não seja exagerado, Sirius!-continuou o maroto mais sensato, sempre num tom calmo e despreocupado. - Fazer a própria comida não é tão difícil assim. Basta arranjarmos um livro de receitas.

-Ohh, seja como for eu preciso comer alguma coisa!-gania Pedro, encurvado sobre o próprio estômago. -qualquer coisa!

-Bem, eu tenho um estoque de ração de coruja lá no...

-Ainda não cheguei a esse ponto, Tiago!

E assim, sem muitas opções, o quarteto rumou para a cozinha dos Potter, meio que torcendo para encontrar alguma coisa interessante na geladeira e se livrarem da difícil tarefa de cozinhar. Mas o mundo parecia estar conspirando contra eles: não havia nada ali que estivesse totalmente preparado, aguardando para ser comido...havia apenas ingredientes. Ovos, leite, farinha, açúcar. Coisas desse tipo: sozinhas e inúteis.

Tiago arrastou uma cadeira para o lado de um grande armário e, depois de subir nela e esticar-se todo como um bom apanhador, conseguiu alcançar um grosso livro de receitas. Saltou para o chão suavemente, gesto que fez seus amigos se lembrarem muito do ágil Pontas:

-Ok Aluado; acho que isto aqui serve. - e entregou o livro nas mãos de Remo, como se estivesse entregando um objeto misterioso a um detetive.

-Pfff...-Sirius surgiu por detrás de uma das portas de um outro armário tomando o cuidado de manter suas mãos atrás das costas - E eu acho que isto aqui também vai servir!-e lhe estendeu um avental ridículo, branco e cheio de babados, estampado por diversas corujinhas.

Tiago e Pedro caíram em gargalhadas estrondosas enquanto Sirius, com uma expressão cômica, tentava amarrar a peça em um corado Remo:

-Pare de brincar Sirius, isso é sério!-ele disse esforçando-se para controlar a voz e não rir junto.

-Eu sei Aluado, eu sei. E é por isso que eu estou preocupado com a sua segurança e vim aqui, humildemente, te dar esse avental e impedir que você se queime e se suje. -ia dizendo o maroto de olhos cinza, passando e apertando os cordõezinhos brancos ao redor da cintura de Lupin, que continuava atônito.

Pedro sentou-se sobre a mesa redonda no centro da cozinha e, balançando os pés no ar, perguntou gulosamente:

-E então?Quando vai começar?

-Esperem um minuto; vocês acham que eu vou fazer tudo sozinho?-Remo balançava em uma das mãos o livro de recitas dado por Tiago e, com a outra, tentava desabrochar a parte do avental que Sirius amarrava em seu pescoço. Mas o nó feito ali era intenso e impossível de desmanchar.

-Ah Aluado, sabe como é...você tem um certo lado feminino para essas coisas. Eu acho que...

-Olha Tiago, você vai ver o meu lado feminino te esbofeteando se não calar essa boca!- por uma fração de segundos a fera lupina que adormecia sossegada no íntimo de Remo, aguardando as luas cheias, empinou as orelhas e o fez rosnar ameaçador; até mesmo seus olhos cor de avelã faiscaram com um brilho amarelado.

-Tá bom,ta bom...eu só quis dizer que você leva jeito pra coisa.-concertou o animago, passando os dedos novamente pelos cabelos espetados como chifres.

-Tá legal Remo, eu te ajudo!- Sirius puxou o livro de receitas para si, folheou-o diante dos olhos maldosos, assoprou alguns fios de cabelo que atrapalhavam sua visão e finalmente opinou- Aqui!Achei o prato perfeito pra você fazer!- agora enfiou o livro aberto diante do rosto de Remo. -Prontinho; ajudei a escolher o jantar! Meu trabalho aqui está feito.

Aluado, estonteado com o livro que o amigo arreganhara diante de seus olhos, procurava alguma coisa para dizer. Tiago aproximou-se, apoiando-se nos ombros do lobisomem e enxergando as páginas escolhidas por Sirius:

-"Filé Mignon picante"-ele leu o título da receita. -Ah, tinha que ser né Almofadinhas?

-O que?Quer comer capim, Pontas?- Sirius defendeu-se, cruzando os braços e finalmente concluindo, o tom agora malicioso- e eu aposto que o Aluado aqui também adora carne vermelha!Não é Aluado?

Remo ainda estava quieto,mas pelo movimento de seus olhos dava para perceber que ele estava lendo as etapas de preparação para a sugestão de Sirius minuciosamente,tentando procurar alguma falha, ou qualquer outra coisa que impedisse a preparação daquele jantar. Pareceu bastante satisfeito por não encontrar:

-Bem, acho que temos todos os ingredientes daqui...se ninguém fizer objeção...

-Não, não,nenhuma!- berrou Pedro desesperado, agora massageando a parte de sua barriga onde se localizava seu gordo estômago. Em tom de suplica, disse.- Pode ser qualquer coisa, desde que seja comida!E rápido!

-Então mãos á obra, Remo!- Tiago, sorrindo todo traquinas, fez menção de se retirar, cantarolando em tom ardiloso- E não se esqueça: pra acompanhar faça um suco de abóbora e...

-Aonde é que o senhor pensa que vai?-Lupin agarrou-o pelo colarinho, largando o livro de receitas para,com a outra mão livre, também puxar Sirius (que assim como Pontas se retirava do recinto sorrateiramente).-Ou todo mundo ajuda, ou não tem jantar!

-Pega leve, cara!-pediu Sirius, agora tentando empurrar para longe os dedos que apertavam sua camiseta.- Eu e o Tiago vamos mais atrapalhar do que ajudar!Confie em mim: a gente não sabe fazer nada!

-Então acho que já está na hora de aprender. – retrucou Remo num tom sério. Dava medo olhar para ele naquele momento, que foi passageiro, pois logo em seguida ele soltou os amigos, agachou-se para apanhar o livro no chão e voltou num tom mais sereno - Humm...Rabicho, vê se tem mais alguns aventais ali naquele armário.

Pedro apressou-se em obedecer o amigo, dando grunhidos para tentar disfarçar a risada. Sirius e Tiago trocaram olhares de indubitável pânico antes de suplicar:

-Meu sensato Aluado...-começou Almofadinhas, forçando uma ternura cheia de auto defesa.- Você não está insinuandoque nós vamos ter de usar esse vestido,está?

-Sua cabeça deve estar mesmo na lua, amigo...-Tiago lhe deu tapinhas amigáveis no ombro, como se estivesse consolando um doente mental que acabara de se convencer de que era Napoleão Bonaparte.

Mas Lupin, ao contrário de qualquer retardado internado num hospício,mantinha uma expressão tranqüila e óbvia no rosto, pois botava muita fé em suas próprias palavras. Sua convicção fez Tiago perder a calma:

- Você não pode estar falando sério!

-Não só posso, como estou, Pontas. –respondeu Remo, ainda de um modo irritantemente calmo. Pelos guinchos satisfeitos vindos do outro lado da cozinha dos Potter, Pedro parecia ter encontrado alguma coisa. O maroto de cabelos castanhos e organizados pediu com um aceno brando para que ele trouxesse sua descoberta, o que fez tanto Sirius quanto Tiago congelarem, horrorizados.

-ISSO É PRA MULHER!- urrou o primeiro, a expressão lívida.-Eu não vou usar isso NEM MORTO!

-Isso é unissex, Sirius Black!- Remo gritou em resposta, perdendo um pouquinho a sua paciência. –E se eu tiver que usar todo mundo vai também!

-Ótimo! -completou o rapaz de cabelos desgrenhados e óculos quadrados. -Mas eu não visto essa coisa e, conseqüentemente,não cozinho.

Pedro, durante toda a discussão, balançava-se sobre os pés, divertindo-se. Em seus braços pendiam dois aventais (um azul bebê, o outro verde claro) tão femininos e ridículos quanto o que estava ao redor da cintura e pescoço de Remo, que parecia disposto a fazer os amigos pagarem o mesmo mico que ele estava pagando a todo o custo.

-Que pena...- um sorrisinho cínico tomou conta do sempre tão bondoso, sincero e gentil lobisomem, que agora meneava a cabeça como se realmente sentisse muito- Então, infelizmente, eu vou ter que contar pra Lily aquela sua estranha mania de...

-Me dá isso aqui!- ao ouvir a ameaça Tiago empalideceu por milésimos de segundos e, no instante seguinte, arrancou com violência um dos aventais dos braços de Rabicho, que ficou assustado com a repentina colaboração. Remo, por sua vez, sorria vitorioso.

Sirius observou pasmado Tiago amarrar desajeitadamente os cordões daquela peça de pano ao redor de sua cintura e pescoço. Fitava o humilhado companheiro com explícito desgosto:

-Ah meu caro Pontas...finalmente você se entregou. Sempre estranhei o fato de você se transformar num veado, mas agora ficou claro...

-Sirius, seu infeliz, cale a boca antes que eu mude de idéia e soque esse avental pela sua garganta!- retrucou Tiago em tom baixo, mas ameaçador, desamassando seu avental com desgosto.

Uma vez vestido, Tiago lançou um olhar maldoso para o companheiro animago. Remo parecia compartilhar aquele mesmo sentimento desalmado, pois também lançou a Sirius uma expressão predatória. Pedro avançou lentamente com a peça de pano azul bebê em mãos, murmurando:

-Só falta você, Almofadinhas...

Sirius foi recuando de costas enquanto os amigos avançavam em sua direção, sempre em passos calculistas. O rapaz moreno lançava olhares surpresos de Tiago para Remo e deste para Pedro, mudando sua expressão de descrença para apreensão:

-Acho que o cérebro de vocês derreteu depois de tanta monotonia...

-Se foi isso que aconteceu...-e Tiago trocou um olharzinho cruel com Remo, afinidade que nunca acontecera entre os dois marotos- Você está em perigo, Almofadinhas.

-Pontas, acorde...- e Sirius sentiu as costas se encontrarem com a pia gelada de mármore e com a despensa. Ele freou seus passos e se viu acuado, finalmente. –Você...você não pode estar compartilhando da mesma loucura que esses dois...eu sou Sirius,lembra?Sirius Black, seu amigão...você, você não pode fazer isso comigo!

-PEGA!

-AMARRA!

-SEGURA!

-Ahhhhhhhhhhhhhh!

Tiago não parecia ter dado ouvidos para Almofadinhas, pois assim como Remo e Pedro ele tinha se atirado para cima do acuado rapaz, que não viu outra saída a não ser berrar. Os quatro despencaram no chão: três deles agarrando um desesperado e enlouquecido Sirius, que faria tudo o que estava ao seu alcance para manter sua masculinidade e honra. Se cozinhar já era humilhante, ele não tinha palavras para expressar o que era ter de cozinhar usando um avental...pior:um avental com bordadinhos e ilustrações!

Sirius podia ser forte, mas não era páreo para os outros três marotos unidos. Tiago montou sobre ele (que desabara de bruços no chão frio da cozinha) agarrando seus braços e os prendendo nas costas. Remo segurava suas pernas, que não paravam de chutar, enquanto Pedro lutava para conseguir passar dois dos quatro laços do avental pela sua cabeça. Sirius não facilitava a tarefa: ele se defendia violentamente, arduamente, como se previsse que de alguma forma a escola inteira ia acabar sabendo do incidente.

-Desista, Sirius!- ofegou Tiago, que tentava se manter sobre as costelas do amigo como um peão montado nas costas de um boi de rodeio.

-Nunca! -bradou o outro, que começava a encontrar dificuldades para respirar naquela posição. Seus amigos estavam pegando pesado, mas por mais que fosse difícil, talvez impossível, se defender naquele estado ele continuaria tentando.

Seu peito fraquejava, suas costelas se encontravam incomodamente com o chão...até que de repente, alimentado pela idéia fixa em sua cabeça, o rapaz livrou seus braços de Tiago ao começar a mudar de forma...

Com as patas felpudas de Almofadinhas, ele pôde apoiar-se e se soerguer, derrubando Tiago, que rolou para o lado. Pedro levou uma mordida quando aproximou as mãos gorduchas de seu pescoço novamente, o que explica o ataque frenético que o levou para longe do amigo entre ganidos e soluços. Por fim, o frágil Remo não conseguiu conter Sirius sozinho, e logo foi empurrado para longe: o ágil cão negro que fazia sempre um escarcéu nos terrenos da escola saiu veloz e derrapando pelo incinerado chão de cozinha.

Teria alcançado a porta aberta e convidativa que o levaria de volta para a sala de jantar, e de lá para a sala de visitas, se não fosse pelo sempre persistente Tiago, que arreganhou as portas do guarda louça, agarrou uma panela pelo cabo e a lançou obliquamente em sua direção:

Péiiiiinnnnnnnnnnnnnnnn!

A vasilha acertou a cabeça do cachorro reboando num som metálico, deixando o animago zonzo e cambaleante. Almofadinhas, ganindo, se rendeu à sua dor e tropeçou nas próprias patas antes de largar-se no chão,com a panela sobre a cabeça. Os demais marotos caminharam até ele, largado exausto aos seus pés.

Com facilidade Pedro vestiu o avental vergonhoso em Almofadinhas que, de modo um tanto ébrio, voltou à sua forma humana. Massageava a cabeça agora. A panela foi atirada no chão:

-Macacos me mordam, Tiago! Pra quê a violência? Você devia ser batedor do time da Sonserina!

-Na verdade eu poderia ser qualquer coisa... –orgulhou-se o melhor apanhador de Grifinória, estufando o peito todo imponente.

-Ah, cala a boca!- Sirius via estrelas navegarem em órbita ao redor de sua cabeça.- Acho que estou vendo a constelação de Cão Maior! Ah, será que essa estrela brilhante e magnífica sou eu?-e tentou apalpar algo inexistente diante de seus olhos desnorteados.

-Nossa, a porrada foi feia!-Tiago alarmou-se.-Foi mal, cara.

-Não, ta tudo bem!-mentiu o rapaz.-Agora eu vou provar pro Régulo que Andrômeda não é mais cintilante do que Sirius!-ele piscava ainda tentando focar sua visão. Tiago afagou sua cabeça cheio de pena:

-Te deixei mais lelé do que você já era!

Remo aproximou-se para mexer nos cabelos negros de Sirius que, indignado, pulou para trás:

-Hei, hei!

-Calma, Almofadinhas.- pediu o lobisomem, suspirando-Eu só vou ver se você ficou com um galo na cabeça.

-Não fiquei.- teimou o rapaz.

-Deixa ele ver,Sirius.-pediu Tiago.

-Pra quê?-o moreno sentia-se subestimado pelos companheiros. Além de estar revoltado pela porrada.

-Deixe de ser tonto!-agora Lupin aproximou-se sem mais explicações. Contrariado, Sirius pendeu a cabeça na direção dos dedos do amigo, que começou a apalpar seu couro cabeludo até tocar num recente calombinho. Sirius sufocou um gemido e fuzilou Tiago com o olhar:

-Você abriu uma cratera na minha cabeça!

-Foi é?-Pontas também tentou se aproximar, mas Remo fez um gesto impaciente:

-Você não conhece os exageros do Sirius? É só um galo! Pedro, vê se tem gelo por aí...não podemos fazer magia pra cuidar disso.

-Eu, porque sempre eu?-o redondo e sonso maroto decidiu se rebelar. -Tá achando que sou seu elfo doméstico? "Pedro faça isso, Pedro faça aquilo..!"

-Quer usar meu avental, Rabicho? –ameaçou Tiago, já levando as mãos para o nó ao redor de sua cintura. Pettigrew nunca mudou de idéia tão rápido: zuniu para procurar gelo pela cozinha meio trouxa e meio bruxa da família Potter.

"Eu devo estar parecendo um palhaço mesmo!" constatou um amargurado Tiago, percebendo o temor imediato do companheiro.

Com uma flanela e os cubos de gelo trazidos por Pettigrew, Remo pôde improvisar uma compressa para Sirius, direcionando-a com precisão sobre o galo dolorido e fazendo o rapaz protestar veemente:

-Cuidado aí ! Isso dói!- e tomou o pano volumoso das mãos de Lupin, que cruzou os braços:

-Ok, faça você então. Mas tem que pressionar Sirius, senão demora pra abaixar.

-Tá, tá bom. –o animago gesticulou como quem diz "eu já me cansei de seus conselhos irritantes!" e com um ar de amor próprio ofendido afastou-se de Remo, cuidando com amargura de seu mais recente ferimento. Aluado pareceu desapontado com o modo grosso, e até rude, de seu amigo canino. Afinal, ele só queria ajudar!

-Sirius, não fique nervoso. –Tiago notou os resmungos do animago e os olhos decepcionados do lobisomem. -O Remo só ta querendo ajudar, ok?

O rapaz voltou os olhos frios para o amigo de cabelos castanhos, que agora procurava dar as costas para aquele assunto e começar logo com o maldito jantar.

-Bah... –Sirius disse gesticulando de modo selvagem- Ok, eu não vou mais descarregar minha raiva em você Aluado, me perdoe.

Remo sorriu um pouquinho triste:

-Você sempre diz isso.

-Não, não, dessa vez é sério!

-De novo; você sempre diz isso. -Remo disse seco. Pedro, que os assistia com impaciência, pediu com implicância:

-Dá pra vocês pararem com essas frescuras e prepararem logo minha comida?

- Que folga é essa Rabicó?- Tiago, que agora alisava seu avental novamente (ele parecia estar começando a aceitá-lo agora) achou inesperada e até engraçada a exclamação do baixinho, que torceu a cara:

-Não é folga Pontas, é fome!FO-ME!

-Então mãos à obra, companheiros!-Sirius puxou Tiago com um braço e Remo com o outro, ambos pelo pescoço, fazendo-os sufocar- Temos que matar quem está nos matando, e rápido, antes que passemos de quatro para três marotos!

-Até que não seria uma má idéia...-Pontas deu risinhos infames enquanto olhava de maneira significativa para Pedro.