Capítulo 3- Mãos à obra
Notas da autora: Este é mais curtinho, só que é o principal. Agradeço á todas que deixaram reviews pra mc aqui,isso com certeza acelerou o capítulo!Como é uma short,devo dizer que ela vai constar apenas de 4 capítulos, e que o último vai sair o mais breve possível. Obrigada meninas!
X-X-X-X
- Siiiiiiiiirius!PÁRA-PÁRA-PÁRA-PÁRA-PÁRA-PÁRA!- Remo metralhava as costelas do amigo desferindo uma paulada atrás da outra com uma colher de madeira.
-O que?Mas eu não to fazendo certo?-Sirius finalmente parou de aumentar a temperatura do fogão.
-Sim, mas já chega!
A panela de pressão finalmente decidiu soltar seus bofes: começou a apitar freneticamente, enlouquecidamente, soando tão autoritária e estridente como soaria um alarme de bomba em Bagdá. Tiago deu um salto digno de Pontas dois metros para trás, empunhando um rolo de macarrão. Pedro, pálido feito um osso, zuniu para esconder-se atrás do amigo, segurando as pontas de seu avental.
-VAI EXPLODIR!-urrou Sirius, puxando Remo para longe. O lobisomem ainda lutou para se livrar, tentando alcançar a panela e ver se conseguia baixar a temperatura, mas era tarde demais.
O pino bufava, girava e se contorcia como se estivesse vivo. A panela chiava conforme atingia sua pressão máxima, se esgoelando como quem diz "Sai de pertoooooooooo!", dando pulinhos frenéticos sob sua base no fogão. Rabicho se aproximou para abrir a tampa e ver se "toda a fumaça saía de uma vez", seu dedo gordo já prestes a tapar a válvula de escape quando os outros três marotos voaram pra cima dele:
-Sua mula, nããããããooooooooo!-Sirius agarrou-se nas pernas de Pedro com tanta força e determinação que acabou arrancando as calças do infeliz. Caiu no chão junto aos pés de Rabicho segurando os jeans, largos como uma tenda de circo, firmemente entre os dedos. Os demais só não gargalharam com a visão da cueca de bolinhas e das pernas grossas do baixinho porque o clima ali estava frenético demais para qualquer outra coisa.
Apesar de tudo, nem mesmo o gesto mal pensado de Sirius pôde mudar o triste destino daquela cozinha: Pedro fora eficiente demais em seus movimentos, e em sua tentativa desesperada de ser útil já levara as mãos rechonchudas para a tampa da panela, impedindo o alívio de pressão...
-AHHHHHHHHHHHHHH!-Tiago correu e se jogou atrás da mesinha de madeira que ficava no centro da cozinha, se entrincheirando ali da maneira mais segura possível, mantendo a mesa posicionada de lado, as pernas apontadas para o fogão. Lupin correu para se proteger também, agarrando Sirius de maneira violenta e o fazendo tropeçar.
Agachado atrás da muralha improvisada, Sirius espiou cuidadosamente pela beirada da mesa e viu um atrapalhado Pedro que, graças às calças largadas em suas pernas, agora pulava desesperado na direção dos amigos. Ele ainda tentou no meio do caminho puxar as calças para cima, agarrando seu cinto, mas o nervosismo fazia suas mãos tremerem compulsivamente. Sentia-se exposto, mas tudo o que tinha em mente era alcançar a mesa e se proteger, todo o seu corpo se esforçava para alcançar o esconderijo, mas ele não chegaria a tempo...
FUUUUUIIIMMMM!
Tiago esticou-se para fora rapidamente e agarrou o gorducho... a panela berrou sua última declaração antes do momento fatídico chegar: estufada, enlouquecida e desgovernada, ela explodiu.
Todas as batatas que cozinhavam lá dentro foram lançadas para o ar como balas de canhão, acompanhadas por água fervendo. Os quatro se encolheram atrás de sua trincheira, o que foi de grande utilidade, pois as batatas se chocaram violentamente contra a mesa enquanto outras se espatifaram em diversos cantos da cozinha, se esmigalhando ao final de seu gracioso trajeto.
Uma fumaça densa encobriu todo o ambiente após o ataque da panela de pressão, embaçando os vidros e sufocando os rapazes:
-Cof!Cof!Cof! –um Sirius estupefato tentava abrir espaço para respirar, abanando a fumaça escura com as mãos. -Todo mundo tá vivo ainda?
-É, é, eu to bem.
-Cof, cof! Eu também!
-Pontas?
Tiago ficara cego como uma toupeira: seus óculos estavam embaçados e o rapaz foi obrigado a levar as lentes até a ponta de seu avental para limpá-las. A peça de roupa feminina nunca lhe parecera tão útil e agradável como parecia agora e, após recolocar os óculos, Pontas checou suas vestes para ver se estava tudo em ordem. Notou que água fervendo tinha respingado em seu avental, e que graças a ele não houvera ferimentos. Ficou tão agradecido ao pedaço de pano que começou a alisá-lo:
-U-hum. Estou bem.
-O que aconteceu?-a voz trêmula de Pedro perguntou. O maroto agora ajustava suas calças novamente ao redor de sua cintura, prendendo as banhas.
-O que aconteceu, seu animal inútil? Você quer saber o que aconteceu?- já berrava Sirius, enquanto Remo se erguia e ia marchando abrir uma janelinha para deixar o ar escapar- Você entupiu o negócio! Tiago devia ter te deixado pra morrer!
Apesar de Pedro começar a considerar como culpado o fabricante da panela, o cozinheiro, o alimento e até forças de caráter sobrenatural, a verdade é que a física por trás do fenômeno era imbatível.
A válvula de vapor havia sido entupida e não foi capaz de aliviar a pressão de dentro da panela, que ultrapassou o limiar suportado...
-Mamãe vai ficar uma fera quando ver essa cozinha assim.- comentou Tiago, pisando numa poça de água no chão. Sirius recolheu uma batata semi amolecida que se chocara contra a mesa deitada:
-O que é que essa receita dizia mesmo, Aluado?-perguntou,examinando a batata espetada em seu garfo.
Remo, ainda furioso com o que tinha acabado de acontecer, abriu o livro de receitas que havia sido abandonado em meio à confusão:
"Para o purê: cozinhe as batatas e passe-as no expremedor. Hum... volte para a panela e adicione os demais ingredientes e mexa em fogo baixo por 3 minutos. Misture todos os ingredientes do molho e reserve. Grelhe os filés e sirva-os com o purê e o molho de pimentas."
-Podemos fazer o molho, você grelha a carne e deixamos as batatas pro final.- sugeriu Sirius após ouvir a voz um pouco trêmula de raiva do amigo ler as instruções.-Eu é que não mexo mais nessa coisa!Essa panela é uma ameaça pra raça humana!
-Não seja bobo, Sirius!-Remo fechou o livro com força, desferindo seu nervosismo naquele ato. - Cozinhar com uma panela de pressão é mais rápido do que com uma panela comum!
-Só que é perigoso pra diabo!-alfinetou o animago.
-Nas suas mãos, qualquer coisa fica perigosa.-retorquiu o lobisomem.
-Tá bom gente, parem com isso!-interferiu Tiago, afastando Remo de Sirius com seu rolo de macarrão. - Vocês sabem que é só por a culpa no Rabicho!
-Heeei!-Pedro cruzou os braços e corou seus bochechões.
Àquela altura grande parte da fumaça já se esvaía pela janela aberta. Os esfomeados marotos decidiram então fazer primeiro o molho e a carne, e só assim se voltarem para o purê, rezando e fazendo promessas para todos os santos de todas as religiões que conheciam para que tudo desse certo.
Tiago abriu o guarda-louça para pegar uma xícara de chá conforme o amigo pedira, mas acabou espatifando-a no chão com um "Ooooops!" baixinho.
-Traz logo essa xícara, Pontas!-Lupin pedia enquanto organizava sobre a pia azeite, pimentas e uma bacia. Sirius escolhia alguns limões na fruteira e, sem que Aluado visse, começou a brincar de fazer malabarismo com os frutos verdes, os derrubando várias vezes no chão.
-Já vou...humm...eu estou escolhendo uma cor de rosa pra combinar com seu avental!-ele ganhou tempo, enfiando a cabeça dentro do guarda-louça em busca de outra xícara.
- Pega qualquer uma!
Tiago pegou outra xícara e, desviando dos cacos provenientes de sua vítima anterior, seguiu na direção de Remo. Caminhava livre, leve e solto, mas é claro que ele não contava com os limões de Sirius: o rapaz derrubara um em meio ao seu malabarismo, e agora a bolinha verde vinha rolando pelo chão. Tiago tropeçou no fruto e desabou ruidosamente no piso da cozinha, se estatelando junto com a segunda xícara de chá de sua mãe.
-Ah, foi mal...-Sirius se adiantou para ajudá-lo a se levantar, quando pensou melhor- Ah, quer saber?Foi bem feito! Isso é pela panelada que você me deu!
Pedro ria em guinchos estridentes, mas Remo sentia toda a sua paciência escapar pelas narinas, que bufavam e esfumaçavam como fizera a panela minutos antes. Ele revirou os olhos para o céu pedindo que forças divinas o ajudassem.
- Vamos fazer um ovo frito e acabar logo com isso?- Sirius ofereceu ajuda para que Tiago se levantasse. O rapaz, enraivecido, pisou despreocupadamente sobre os cacos de sua xícara, que agora se estilhaçava em pedacinhos ainda menores.
-Não senhor!- protestou Pedro- Eu quero comida de gente!- e pegando ele mesmo uma xícara de chá, Pettigrew completou-Tome, Aluado. Vamos fazer logo essa carne.
-Ok, meia xícara de azeite. –avisou Remo, despejando o líquido grosso dentro da xícara e desta para a bacia.-Uma colher de suco de...vamos ter que fazer suco de limão!
- Suco de limão? – repetiu Sirius como se falasse um palavrão.
-Água, açúcar, limões e liquidificador. –disse Remo sem erguer os olhos para Sirius, pois estava compenetrado em adicionar 4 colheres de sopa de pimentas variadas.
-Cuméquié?
-É o que você vai precisar pra fazer o suco.- Remo explicou calmamente.-O que está esperando?
Sirius pensou numa quantidade infindável de comentários para retrucar, mas ao em vez disso foi em busca de tudo aquilo para sua limonada. Tiago foi buscar a carne congelada, além de uma faca e um martelinho de madeira- ele só pôde agir daquela maneira porque se lembrara vagamente de sua mãe, que sempre pegava, junto com a carne, uma faca e um martelinho de madeira. Ele não entedia o porquê daquilo, só podia imaginar a faca e o martelinho como sendo itens padrões, inseparáveis da carne, assim como são leite e cereais.
-Oh Aluado...- a voz de Sirius soou do outro lado da cozinha. Remo ergueu os olhos para ele- O que é um quilidicafor?
-Eu sei lá! Quili- o que,Sirius?
-Quili...pera,sei que consigo! Dicafi...ah,droga, eu falei agora a pouco! Cafidoli...
-Liquidificador?
-Isso, essa geringonça aí!
Remo deu risada. Tiago,olhando à sua volta, encontrou o objeto trouxa:
- Minha mãe usa isso aqui só porque é metida mesmo! Parece que foi presente dos amigos meio trouxas dela! -ele entregou ao amigo com o mesmo olhar confuso- Ela pode fazer magia, pode espremer limões sem um quificoladir, mas prefere usar alguns equipamentos...sabe , nossos vizinhos são trouxas e ela tem amigas também que vem pedir isso aí... Mas não sei por que mamãe insiste em forrar nossa casa com essas bugigangas! Não que eu não goste de trouxas, vocês sabem, adoro trouxas! – ia discorrendo o rapaz– Minha Lily por exemplo é uma mestiça, só que acho eles complicados. Uma vez eu e meu pai tentamos usar aquele...
Tiago era a criatura mais tagarela que Sirius já conhecera em toda a sua vida. Quando começava a falar algum assunto interessante, desembestava euforicamente e então não parava mais. Funcionava a todo o vapor 24 horas por dia, e o pior de tudo é que ele não vinha com um botão de desligar. Sua pilha durava por tempo indeterminado, durava tanto, mas tanto, que Sirius desejava ficar surdo por uns instantes.
Afinal de contas foi graças à falação de Tiago que anos atrás, ainda no Expresso de Hogwarts, os dois se conheceram. Sirius se lembrava de ter se sentado na mesma cabine que o jovem Potter e que o estranho de óculos quebrara o gelo com um discurso sobre quadribol. Sirius se interessara de início, mas após umas boas três horas nas quais não pôde dar nenhuma opinião além de acenos de cabeça e uma ou outra exclamação, se inquietou no banco. Tiago pausara seu monólogo apenas para perguntar "O que foi?" ao que ele se lembrava de ter respondido "Nada. Só estou tentando descobrir como é que faço pra desligar você".
Agora, com o liquidificador em mãos, Almofadinhas se afastou para descobrir como se preparava uma limonada. Remo pediu a Tiago (que teoricamente conhecia melhor aquela cozinha) uma frigideira e um pote de manteiga, pois naquele momento começara a cortar a carne.O molho só aguardava o suco de limão.
-Psiu! Rabicho, vem cá!-chamou Sirius pelo canto da boca, apoiado no balcão da cozinha. Pedro se aproximou com cara de interrogação. -Você sabe como é que esse treco funciona?
-Porque não joga tudo aí dentro e aperta "Ligar"?-sugeriu o animago roedor. Sirius ponderou por alguns instantes, até que:
-Boa...então lá vai:água.- e despejou a água.-Erm,açúcar...isso é açúcar?
-Deve ser. É branco.-Pedro deu de ombros, sem nem ao menos sugerir ao amigo que ele provasse. Sirius também não se lembrou do simples detalhe, e por isso foi logo despejando o suposto açúcar logo atrás da água.
-E limões...
-Inteiros assim?Com casca e tudo?
-Deve ser!- disse displicentemente, atirando as ácidas esferas verdinhas dentro da solução.
Orgulhoso de seu trabalho, Sirius apertou o botão. Mas nada aconteceu.
-Ahh...é assim?
-Assim como?-Pedro fitou ariscamente o liquidificador cheio de ingredientes, que permanecia solenemente quieto .-Oh Aluado, como é que liga isso?
-Na tomada.- foi a resposta enigmática. Remo estava de costas para ambos, sendo observado por um Tiago muito interessado em assistir filés de carne sendo grelhados.
-Ele disse "na tomada".- fez Pedro.
-É, hum...certo. Tomada...aquilo ali é uma tomada, não é?-Sirius apontou para dois furinhos inseridos num quadrado de cor diferente da parede. Com um dar de ombros de Pedro, ele ligou o liquidificador, em seguida pressionando o botão.
Truuuuuuuuuéééééééémmmmmmmmmm!
E o objeto destampado girou enlouquecido, o botão marcando sua velocidade máxima, cuspindo seu conteúdo pela boca enquanto sambava sobre o balcão. Limões e água salgada começaram a voar pelos ares, tão frenéticos quanto as batatas atiradas pela panela. Pedro, horrorizado, correu para Remo e Tiago, urrando um "Está vivo!Está vivo!" enquanto Sirius, agarrando uma colher de pau que descansava calmamente ao lado, começou a desferir ataques violentos em todas as partes que conseguia alcançar do liquidificador:
-TOME, TOME, TOME SUA COISA HORROROSA!- ele avançava corajoso, mas seu inimigo reagia às colheradas trepidando numa dança desenfreada, vomitando um grotesco suco de limão e intensificando o seu ataquefuriosamente. Jorrava limonada e cascas verdes no rosto, cabelo e olhos de Sirius, o que só o instigava a atacar com mais força.
-VOCÊ ENLOUQUECEU, SIRIUS? DEIXE ELE EM PAZ! -no desespero, Remo passou para Tiago sua frigideira untada por manteiga. Mas Tiago, desastrado,acabou se queimando. Com um esganiçado "Ai!" largou a frigideira untada por manteiga e correu, empunhando seu rolo de macarrão, para socorrer Sirius.
A carne, que jazia naquela mistura, saiu planando pelos ares e foi pousar com um ruidoso e liso "Plaf!" no piso já ensopado e batatoso do que um dia fora uma cozinha, enquanto o pano que seguravam voou para cima do fogo. A frigideira, seguindo piamente as leis de Murphy, desabou no chão voltada para baixo.
Truuuuuuuuuéééééééémmmmmmmmmm!
-AGUENTE FIRME, ALMOFADINHAS! URRA!-Pontas golpeou com violência e força um estridente, vitaminado, melado, ruidoso e desenfreado liquidificador com seu rolo de macarrão. O objeto desprendeu-se da tomada e finalmente cessou seu malabarismo, ainda vomitando um líquido grosso constituído por limões inteirinhos, água e o que Sirius pensava ser açúcar.
-Você o matou!- ganiu o rapaz de cabelos sedosos e negros, agachando-se ao lado do derrotado, mas feliz objeto trouxa.- Eu não pretendia ser tão cruel!- e largou sua arma de defesa, a colher, tristemente.-VOCÊ O MATOU, TIAGO POTTER!
-Oh, o que foi que eu fiz!- Pontas atirou seu rolo de macarrão para longe, enojado-Pobre Fiqualidor!
Pedro observava tudo ainda trêmulo e cada vez mais ansioso, enquanto Remo tinha um ar desesperado impregnado no rosto:
-A tampa! Você simplesmente se esqueceu da tampa, Sirius!- ele sacudia a peça complementar que provavelmente teria evitado aquilo tudo diante dos olhos abalados do cachorrão- É claro que tudo ia pros ares com o negócio aberto!
-Mas a culpa não é só minha!-protestou um limonado Sirius, se pondo de pé junto com Tiago (este ainda embalando o objeto assassinado em seus braços)- Olhe só o fim que levou a carne!
Os olhos de Lupin seguiram a direção que o dedo firme de Sirius apontava: no chão, estrebuchava-se o medalhão de filé mignon.
-Tiago Potter!-Remo ia se aproximar do estrago, quando escorregou no pote aberto de manteiga que se utilizara para untar a frigideira e acabou desabando no chão,enquanto a maléfica manteiga saiu deslizando pelo encharcado, batatoso, limonado e fedorento chão de cozinha, que além de tudo estava repleto por cacos de xícaras quebradas.
-Hei, sabe de uma coisa?-Pedro passou o dedo numa das poças da limonada e, provando-a, concluiu- Aquilo ali era sal, não açúcar!
-A é?-Sirius lambeu o próprio rosto, que mantinha os cuspes de seu valente combatente.-Ih, verdade! Mas cadê o açúcar?
-Aqui, Almofadinhas! Porque não pediu antes?- Tiago enfim largou o liquidificador, pensando em enterrá-lo nos jardins mais tarde, e correu para abrir um dos armários sobre suas cabeças.
Foi com esforço que puxou um gordo saco branco já rasgado para fora, sem perceber apontando sua abertura para baixo. Quilos de açúcar jorraram no chão, como neve, só que fina e delicada. Remo (ainda no chão), Sirius (se lambendo) e Pedro (bebericando a nojenta limonada) observaram em silêncio a grande proeza de Tiago, que estupefato, manteve o saco de ponta cabeça até vê-lo murchar. Diante de seus pés formou-se um montinho alto de açúcar refinado.
-Erm...tá vendo?Eu disse que esse era o açúcar.- Tiago finalmente obrigou sua voz a sair.
-É...-Sirius fitava o cobertor branco e cintilante que agora fazia parte daquela imunda decoração- Eu notei.
Remo se ergueu perigosamente calado. Tiago mantinha o saco vazio de açúcar em mãos enquanto Pedro, com a língua coçando e o estômago lhe corroendo por dentro, foi afundar as mãos no monte doce que jazia no chão. Sirius agora limpava o rosto com seu próprio avental azul-bebê e, depois de limpo, sugeriu novamente:
-Ovo frito?
Mas antes que qualquer um deles pudesse concordar, ou não, com a sugestão de Sirius, um cheiro inconfundível de alguma coisa queimando tomou conta de todos os demais odores daquela cozinha. Lupin voltou os olhos para o fogão:
-Ah não!
-Acuuuuudam!- Rabicho começou a arrancar os cabelos, parando de comer sua montanha de açúcar.
-ÁGUA, ÁGUA!-Sirius correu para encher um balde até a boca com água da torneira e trotou na direção do fogão.
O fato era que no momento em que largara tudo para os ares, Tiago atirara o pano com que segurava o cabo da frigideira dentro da chapa acesa do fogão, enquanto manteiga, frigideira e carne foram parar no chão. Remo desligou o fogo o mais veloz que conseguiu, mas o problema agora não era mais o fogão e sim o infeliz pedaço de pano, que agora estava em brasas.
-Ahhhhhhhh! Fogo!Fogo!-bradava Pontas, chegando para perto das chamas altas e furiosas que contorciam o tecido: ele as abanou convulsivamente usando seu saco murcho de açúcar, o que foi um grande erro...ao improvisar uma ventania o rapaz conseguiu fazer as chamas incandescentes aumentarem de tamanho e ira. Remo puxou Tiago para longe da iluminada tocha, sentindo o calor em seu rosto com grande intensidade.
-Cuidado!
-FOGO!FOGO!-continuava Pedro.
-ESTOU INDO,ESTOU INDO!
CHUÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!
Num movimento solene Sirius lançou toda a água de seu balde no pano incandescente, na chapa do fogão e, inclusive, nos amigos. Silêncio.
-Hehe,pelo menos o fogo apagou.-disse o rapaz por fim, escondendo o balde vazio atrás das costas com um imenso sorriso no rosto. À sua frente, absolutamente encharcados, ofegavam Pontas e Aluado.
Os cabelos de corvo de Tiago pingavam em seu rosto, levemente caídos mas ainda espetados. Seus óculos com várias gotículas de água tornaram-se inúteis, e da cintura para cima suas roupas grudavam na pele. Remo não estava muito diferente; seus cabelos castanhos caiam em sua testa e olhos, lisos e escurecidos pela água. Seu rosto gotejava, seu avental sugou toda a água gelada e, torcendo a manga de sua roupa, ele disse serenamente:
-Parabéns, Almofadinhas.
Novamente o silêncio. Neste intermédio, o pano deformado e contorcido sobre a chapa do fogão suspirou uma fina risca de fumaça. Tiago trocou um olhar ensopado com Sirius, que sorriu em o encarou também, o rosto desnorteado. Pedro os fitava de longe. De repente, os quatro caíram na gargalhada.
Riram como riem os malucos quando se conformam com sua bizarra situação. Riram como riem os derrotados e insanos, numa onda tão grande de abestalhação que Sirius teve que se sentar sobre seu balde vazio, Remo teve que se encostar em uma parede e sair deslizando até o chão e Tiago se apoiar em Rabicho, este roxo.
Ao redor dos rapazes: caos total. Sobre a pia uma bacia com pimentas misturadas a azeite providenciavam um odor azedinho que iria muito bem com limão, servindo como molho para um filé. No entanto, o dito filé mignon jazia arreganhado no chão, se é que ainda podia-se chamar aquilo de "chão".
O piso tomara um banho de água fervente além de uma chuva de batatas cozidas. Outros ingredientes que serviriam para o purê estavam ali, ao lado da panela de pressão desfalecida. Eram estes: leite, queijo parmesão ralado e salsinha picada, todos também molhados. Ao redor, além de individuais massas de purê de batata e um pedaço de carne, havia um rastro de manteiga, um montinho alto de açúcar, cacos de vidro e pedacinhos mutilados de limões melecados por água salgada, que também pingava incansavelmente de dentro de um liquidificador abandonado sobre o balcão.
A mesinha de centro mantinha-se na mesma posição em que fora deixada no início daquela batalha: deitada de pernas pro ar, posicionada para servir de escudo contra o fogão...não podemos nos esquecer também do rolo de macarrão e da colher de pau, do pedaço de pano queimado, e muito menos do teto da cozinha, que graças à explosão da panela sofrera com tudo aquilo e agora estava umedecido, franzido e um pouco descascado.
Um novo ruído vindo do Hall interrompeu as risadas dos marotos. Uma voz feminina ecoou um "Chegueeei!" satisfeito da sala da lareira, enquanto, na devastada cozinha, os quatro se entreolharam levemente sem cor...
