Ao
entrar na cozinha, Harry deparou com o mesmo espetáculo de
todas as manhãs: o tio Válter e Duda comiam que nem uns
famintos, enquanto a tia Petúnia que, provavelmente, já
tomara o café-da-manhã, olhava embevecida para o filho,
cujas banhas saíam por tudo quanto era buraco da cadeira onde
ele estava sentado.
-Até que enfim! - Exclamou a tia
Petúnia, ao dar de caras com Harry. - Pensei que você
tinha decidido não tomar café. Infelizmente, parece que
me enganei.
Harry encolheu os ombros, feliz demais para responder
à tia e não pode esconder a sua satisfação
quando, ao olhar para a mesa, viu um pote cheio de um delicioso doce
de morango.
Foi óbvio que Duda reparou no olhar de gula de
Harry para o doce, porque imediatamente pegou o vidro, disposto a
guardá-lo com a própria vida, se preciso fosse, e, com
ar de troça, exclamou para Harry:
- Nem pense nisso!
O
tio Válter e a Tia Petúnia não puderam evitar
umas sonoras gargalhadas, enquanto Harry rolava os olhos e se sentava
à mesa, na frente de Duda.
Foi então que se ouviu
um sonoro "ploc" e um homem alto, magro, ruivo e meio
careca surgiu do nada, no meio da cozinha. A tia Petúnia
soltou um grito abafado, o tio Válter exclamou "Oh!"
e Duda deu um pulo na cadeira (ou melhor, com a cadeira), de
susto. A cadeira balançou, balançou e caiu no chão,
com Duda preso nela.
- De novo! - Perguntou Harry ao primo, sem
esconder o riso, para logo ser fulminado pelo olhar furioso da Tia
Petúnia, que correu para tentar retirar o filho da cadeira,
gemendo:
- Meu querido! Queridinho da mamãe, você
está bem?
- Me tire daqui! - Berrava Duda, furioso.
-
Eu estou tentando! - A tia Petúnia estava realmente aflita. -
Válter, me ajude aqui!
O marido, que continuava
embasbacado, olhando o recém-chegado, saiu do seu estado
catatônico e correu para junto da mulher, tentando ajudá-la
a arrancar o filho da cadeira, enquanto Harry, ignorando o que se
passava entre eles, abraçava o homem que aparecera do nada:
-
Sr. Weasley! Que surpresa boa!
- Olá, Harry! - Disse Artur
Weasley, pai de Rony, sorrindo. - Que bom te ver!
- É
mesmo muito bom vê-lo também! - Concordou Harry. - Que
belo presente de aniversário! Mas... me diga, o que o trás
aqui.
- Oh, sim! Isso! - A expressão do rosto do Sr.
Weasley se alterou por completo, de alegre para preocupada. - É
que... bom... o Rony... ele...
Foi a vez de Harry se preocupar:
- O que foi que houve com o Rony? - Inquiriu. - Me fale!
Artur
pigarreou, antes de falar:
- O Rony está doente. Ele
precisa de você.
Harry empalideceu, branco como cera, como
se todo o seu sangue tivesse fugido e só conseguiu murmurar:
- Eu vou até lá, agora!
- Venha, sim, Harry. -
Pediu Artur. - Vamos pela rede de Flu. Trouxe o pó comigo.
Quando eu soube que os seus tios tinham resolvido destapar a lareira
e ter uma normal, não hesitei em vir dessa forma!
- Bom...
quando eles fizeram isso, estavam certos de que o senhor jamais
voltaria a repetir a proeza... - Respondeu harry, com um leve
sorriso, embora muito preocupado com o estado de Rony.
Quando o
Tio Válter, finalmente, conseguiu arrancar Duda da cadeira e
se voltou para destratar o recém-chegado, ele e Harry já
haviam sumido dentro da lareira.
Harry já não lembrava muito bem da sensação
de viajar pelo método do Pó de Flu, mas, naquele
momento, percebeu que não era muito agradável. Uma
sensação estranha no estômago e... e finalmente
ele estava na casa dos Weasley.
Na sua frente, toda a família,
incluindo Rony com o ar mais saudável do mundo e Hermione
também, exclamaram em uníssono:
- Feliz
Aniversário, Harry!
Todos correram para abraçá-lo.
Harry abraçou Rony com toda a sua força, falando, entre
risos:
- Achei que você estava doente, cara! Vim correndo,
morto de preocupação... O seu pai me paga!
Artur
soltou uma gargalhada:
- Não me culpe. - Disse ele. - A
ideia foi da Gina.
Harry ficou olhando para Gina, que acabava de
presenteá-lo com um beijo em cada bochecha. Ela crescera muito
desde o primeiro dia em que ele a vira. Gina se tornara uma
adolescente linda, com os seus olhos azuis contrastando com os longos
cabelos cor-de-fogo e umas sardas engraçadas, lhe salpicando o
nariz.
- Culpada! - Riu Gina. - Mas foi por uma boa causa... Se
você visse a sua cara quando olhou para nós, Harry! Você
estava tão engraçado!
Harry continuou olhando para
Gina. Em tempos, ela fora apaixonada por ele. Coisa de criança,
claro, havia passado... mas... e ele? O que sentiria ele por Gina?
Decididamente, a beleza e impulsividade dela não o deixavam
minimamente indiferente.
- Harry! - Uma floresta de cabelos
castanhos, rebeldes, lhe tapou a visão de Gina, quando
Hermione o abraçou. - Feliz Aniversário! Bem-vindo! Me
diz uma coisa: você recebeu o presente que eu te mandei? Olhe
que vai ser muito útil! A gente tem que planejar direitinho o
nosso futuro! - Como sempre, Hermione falava sem parar... e sem
largá-lo, quase o sufocando no meio do abraço.
-
Pára, Mione! - Exclamou Rony, meio irritado. - Deixa o Harry
respirar um pouco! Que coisa!
Rony e Mione viviam brigando desde
o primeiro dia em que haviam se conhecido e ele não entendia
como é que a sua melhor amiga, que ele admirava e defendia com
unhas e dentes, podia deixá-lo tão irritado, às
vezes.
Na verdade, os dois eram polos totalmente opostos e Harry
funcionava como o ponto de equilíbrio entre eles... Mas será
que eles precisavam desse ponto de equilíbrio? Não
seria melhor que se entendessem sozinhos? Assim como estavam, sempre
ficavam lacunas por preencher nos assuntos que os faziam brigar. A
maior parte das brigas era composta por bobagens, mas...
A voz de
Molly Weasley, mãe de Rony, arrancou Harry, quando ela disse a
ele:
- Bom, meu querido, agora vem a melhor parte: você não
está pensando em voltar para casa daqueles Trouxas sem
educação, está? - Antes que Harry pudesse abrir
a boca para responder, abismado por ela, finalmente, cuspir o insulto
que sempre guardara em relação aos Dursley, a Srª
Weasley continuou. - É claro que não está... e
não vai voltar mesmo. Você vai passar o resto do Verão
aqui.
- Mas... - gaguejou Harry. - E... e... as minhas coisas?
Tenho que pegar as minhas coisas lá em casa.
- Tolice! -
Exclamou Molly. - O Artur vai até lá de novo e trás
as suas coisas, não é Artur?
- Claro, querida. -
Foi a resposta.
De repente, Molly parou de falar (algo raro) e
começou a pensar durante uns segundos, após os quais
disse a Harry:
- A menos que você não tenha se
despedido dos seus tios. Aí, então, vai ter que voltar
lá, porque eles são uns mal-educados, mas você,
meu querido, não é.
Harry perdeu o sorriso que
tinha no rosto. Voltar para junto dos Dursley, nem que fosse apenas
por dois minutos, era a última coisa que ele queria. Olhou
para Artur, com cara de quem pede auxílio e recebeu em troca
uma piscadela de olho.
- Não se preocupe, Molly. - Disse
Artur para a mulher. - Ele se despediu da família.
Harry
suspirou de alívio, sentindo que aquele era o melhor
aniversário da sua vida.
