A
multidão se aglomerava na estação ferroviária
de King's Cross e Harry suspirou fundo ao entrar por entre as
plataformas nove e dez e surgir em seguida na plataforma mágica
nove e três quartos, onde se reuniu, junto com Ron, Hermione,
Gina e Neville (seguidos por Artur, Molly e a Srª Longbottom) a
uma população exclusivamente bruxa, composta por alunos
de Hogwarts e respectivos familiares e amigos, que queriam se
despedir antes da partida para mais um ano na escola de Magia e
Feitiçaria.
Os olhos de Harry se detiveram nuns rostinhos
desconhecidos, aparentando certa de dez ou onze anos e logo deduziu
que aqueles seriam os novos alunos, prestes a começar o seu
primeiro ano de aprendizagem. Suspirou, com um laivo de nostalgia no
pensamento. Lembrou do seu próprio primeiro ano, de como
conhecera os amigos, os professores… colegas intragáveis,
como Draco Malfoy, filho de um terrível Comensal da Morte, que
fora parar a Azkaban e acabara sendo misteriosamente solto de novo…
professores intragáveis, como Severus Snape, estranhamente
membro da Ordem de Fênix,… de como descobriu que era famoso…
e que a sua vida estava terrivelmente ameaçada pelo maior
feiticeiro negro de todos os tempos…
Um arrepio percorreu a sua
espinha, à medida em que, na sua mente, passavam flashes de
aventuras que vivera… e o rosto de Lord Voldemort, seu inimigo
mortal…
Os seus pensamentos foram interrompidos por uma voz
desagradavelmente conhecida:
- Hei, Potter! – Um sorriso
malicioso bailava nos lábios de um rapaz esquisito, de nariz
de batata e cabelo amarelo, quase branco. – Tinha uma certa
esperança de não encontrar você por aqui. Julguei
que, talvez, você tivesse decidido deixar Hogwarts, quando viu
que, sem a protecção do seu querido Dumbledore, a
escola não é assim tão agradável para
você.
- Vá morrer longe, Malfoy! – Resmungou
Harry, irritado. De fato, desde que, no quinto ano, Dumbledore fora
destituído do cargo de Director de Hogwarts, as coisas tinham
mudado bastante. Ele achara que tudo ia voltar ao normal, quando
Dumbledore voltara para Hogwarts, mas logo as coisas mudaram de novo,
por imposição de um estranho Ministro da Magia...
Draco soltou uma gargalhada maldosa:
- Coitadinho do
Potterzinho! Nem tem família para acompanhá-lo ao trem.
Tem que vir com os pobres Weasley! – Acentuou
propositadamente a palavra "pobres". Embora a situação
financeira dos Weasley tivesse melhorado substancialmente nos últimos
tempos, não poderia, decerto, se igualar à de Malfoy ou
do próprio Harry, cuja herança dos pais estava guardada
no Banco de Gringotts.
Ocupados com uma conversa com a avó
de Neville Longbottom – o menino que estava junto de Harry, Rony,
Hermione e Gina -, Artur e Molly Weasley não se aperceberam do
insulto de Malfoy, mas Rony e Gina se mostraram ambos
verdadeiramente irritados, com as orelhas vermelhas de raiva. No
entanto, foi ela quem avançou:
- Retire o que você
disse, Malfoy! – Exclamou Gina, furiosa.
Draco deixou escapar
nova gargalhada:
- Hei-hei-hei, Weasley! – Disse, olhando para
Rony. – A sua irmãzinha é dura… e, por incrível
que pareça, nada feia, também! É assim que eu
gosto delas!
Harry sentiu uma onda de revolta invadi-lo. Como se
atrevia Malfoy a falar assim de Gina?
- Não se atreva a
tocar com um único dos seus dedos nojentos na minha irmã!
– Rosnou Rony, tentando controlar a sua fúria latente.
-
Deixa, Rony! – A irmã segurou-o por um braço. – Eu
sei me defender muito bem… e você tem razão: os dedos
dele são nojentos. – Lançando um olhar de
desprezo a Draco, Gina voltou as costas, rumando para junto dos pais
e da Srª Longbottom.
- Decididamente, ela é mesmo
dura! – Draco assobiou, para depois se voltar para Harry. – A
única companhia minimamente decente que você conseguiu
arrumar, Potter… apesar de ser uma Weasley. De resto, olha só
para você: Longbottom, o palhaço; Weasley, o pobretão
e Granger, a Sangue Ruim! Que figuras!
Era demais para Rony. Já
aguentara tempo demais. Hermione era filha de Trouxas e "Sangue
Ruim" era o maior insulto que poderia ser dirigido a uma bruxa ou
feiticeiro nessa situação. Com o rosto quase da cor do
cabelo ruivo, Rony agarrou Malfoy pelos colarinhos, bradando:
-
Nunca mais a chame de "Sangue Ruim", entendeu!
Foi a vez de
Mione o puxar pelo braço, dizendo:
- Deixe, Rony, não
dê bola para ele. É isso mesmo que ele quer.
Rony
largou Draco, bufando, exatamente antes de dar de caras com o pai
dele, Lúcio Malfoy, que se aproximou do filho, inquirindo:
-
Draco, o que é que você está fazendo junto dessa
gentinha? O Crabbe e o Goyle estão procurando por você.
Vamos embora! – Mr. Malfoy deu meia volta e rumou na direção
oposta, sem olhar para Harry e seus amigos. Draco o seguiu, não
sem antes olhar para o grupo com ar de desprezo e lançar:
-
Depois continuamos a conversa, Weasley furão.
- Não
queira continuá-la… - Resmungou Rony, entredentes, de forma
que só Harry o escutou.
Malfoy era pior do que Duda! Harry
deu consigo pensando nisso e uma estranha sensação algo
parecida com nostalgia o surpreendeu deveras. Nostalgia ao
pensar nos Dursley? Iria ter saudade deles? Seria possível?
Recordou o momento em que Hagrid fizera crescer em Duda uma cauda
de porco, a tia Guida esvoaçando no tecto, a descoberta de que
a tia Petúnia era um aborto, o desgosto de Duda ao perder um
campeonato de boxe e afogar as mágoas na comida, se tornando
mais balofo ainda do que já era antes de praticar esporte…
Lembrou, também, as fúrias dos tios, as roupas em
segunda mão, a forma como era maltratado… Não,
decididamente não iria ter saudades dos Dursley!
Mais uma
vez, os seus pensamentos foram interrompidos, dessa vez pela voz de
Hermione:
- Vamos?
O Expresso de Hogwarts brilhava na sua
frente. Estava na hora de partir para o seu último ano na
escola.
O que o aguardaria desta vez? Por onde andaria Voldemort,
que, no ano anterior, após um grande ataque, fizera uma
retirada estratégica?
Com uma imensa amálgama de
pensamentos e sentimentos misturados, Harry se despediu de Molly,
Artur e a Srª Longbottom; os amigos fizeram o mesmo e, em
seguida, entraram todos numa carruagem, juntando-se a Luna Lovegood,
uma estranha garota de olhos protuberantes, cujo coração
parecia balançar entre Harry e Rony.
Na qualidade de
monitores, Rony e Hermione tiveram que orientar os novos alunos e
encaminhá-los para algumas carruagens vazias. Pouco depois,
porém, estavam de volta.
Era a última viagem para
Hogwarts.
O Castelo se erguia na frente
dos olhos de Harry, imponente como sempre… mas Hagrid não
parecia o mesmo. Harry sentiu um aperto no estômago, ao
perceber que o amigo meio-gigante estava impedido de falar com ele.
As carruagens puxadas por Thestrals (que, desde a morte de Cho
Chang pelas mãos dos Comensais da Morte, no ano anterior, já
quase todos conseguiam ver) fizeram o seu caminho até ao
castelo, transportando os alunos…
O
céu da Sala Comum estava estrelado e tudo parecia demasiado
calmo. A Professora MacGonnagal, ladeada pela Professora Umbridge,
fez o discurso de abertura e Harry pensou em como era tão
estranho não ouvir o discurso pela boca de Dumbledore.
No
ano anterior, presenciara aquela cena pela primeira vez e fora um
grande choque, apesar de já saber o que se passava… Agora,
ainda não tinha se conformado e sabia que jamais se
conformaria. Suspirou. Ao menos, seria a última vez que
assistiria a tal injustiça.
